Em 5 de outubro de 1999, uma avalanche nas encostas da face sul do Shishapangma (8.027m), desceu a montanha matando Alex Lowe, 40 anos, um dos melhores montanhistas de sua geração e o cameraman da expedição, David Bridges, 29 anos.
Lowe, Bridges e Conrad Anker (melhor amigo de Lowe) estavam realizando uma caminhada de reconhecimento em uma área por fora do couloir (um barranco íngrime e estreito como uma canaleta), onde esperavam descer esquiando do cume da montanha, um objetivo que poderia tornar os membros desta expedição os primeiros americanos a esquiar um pico de mais de 8.000 metros.
À medida que a avalanche caiu, Anker correu para a esquerda, enquanto que Bridges e Lowe correram na encosta a direita. Conrad Anker foi parcialmente soterrado, teve uma costela quebrada e sofreu lesões na cabeça pelos projéteis de gelo que o atingiu. Mas ele podia caminhar. Abaixo dele, em um grupo de esquiadores que estava na retaguarda, Andrew McLean e Mark Holbrook, juntamente Hans Saari (que morreu dois anos mais tarde em um acidente de esqui em Chamonix, França) e Kristoffer Eriksen, escaparam da avalanche. Mas Conrad Anker passou os próximos dois dias a procura de Lowe e Bridges que haviam desaparecidos, e não encontrou nada mais do que uma luva.
“Da minha perspectiva houve apenas uma grande nuvem branca, e então se dissipou e não havia nada mais lá”, lembra Conrad Anker.
Após o retorno a cidade de Bozeman nos Estados Unidos, Anker começou a ajudar a viúva de Lowe, Jenni, a criar os três filhos, Max, Isaac e Sam. Os dois, em uma dor compartilhada, logo se apaixonaram e se casaram em 2001. Essa história foi tema de um livro de memórias de Jenni Lowe-Anker e narrada no documentário Meru, que foi sucesso nos cinemas dos Estados Unidos no ano passado e foi indicado ao Oscar.
Finalmente agora a morte de Lowe parece ter um final. Na semana passada, em 27 de abril, cerca de 16 anos, 6 meses e 22 dias após o desaparecimento, os corpos de Lowe e Bridges foram encontrados pelos alpinistas Ueli Steck, 39, e David Goettler, 37. Os dois parceiros estão tentando abrir uma nova rota de escalada na face sul do Shishapangma nesta primavera. (Quem está acompanhando a Cobertura Online do Everest no EXTREMOS, viu a temporada de aclimatação que os dois alpinistas fizeram no Vale Khumbu, escalando o Island Peak.)
“Tudo faz sentido ao saber que alpinistas profissionais que os encontraram”, diz Anker. “Não era um pastor de iaque. Não foi um trekker. David e Ueli são ambos moldados no montanhismo como Alex e eu.”
“Eu nunca imaginei que esse derretimento do glaciar iria acontecer tão rápido”, diz Jenni Lowe-Anker. “Eu pensei que não poderia ser minha existência aqui.”
Anker e Jenni Lowe-Anker haviam passado a maior parte desta primavera na região do Khumbu, Nepal, trabalhando no Khumbu Climbing Center (KCC), um projeto da Fundação Alex Lowe Caritable, que capacita os sherpas a realizarem trabalhos de escalada em altitude, tornados mais independentes e profissionais. Eles quase se encontraram com Ueli e David, quando estes estavam se aclimatando no Vale Khumbu, antes de partir para o Shishapangma, a 14ª montanha mais alta do mundo e a única que fica totalmente dentro do Tibet. Quando Conrad Anker e Jenni estavam se preparando para voar de volta a Bozeman, no dia 27 de abril, o telefone de Conrad tocou. Era David Goettler, na tentativa de confirmar a identidade dos dois corpos que tinham descoberto na geleira parcialmente derretida.
“Nós avistamos dois corpos. Eles estavam próximos um do outro. Usavam mochilas The North Face azuis e vermelhas e botas amarelas Koflach”, disse David.
Anker não viu as fotos, não precisava. Ele já estava convencido que eram eles, Lowe e Bridges.
Ao contrário dos alpinistas que às vezes são encontrados no alto do Everest, os corpos de Lowe e Bridges estão em um lugar onde eles podem ser recuperados. (O corpo do guia Scott Fischer, uma vítima da tempestade de 1996, no Everest, que gerou o livro “No Ar Rarefeito”, permanece na montanha de acordo com os desejos de sua família.)
Conrad, Jenni, e os três filhos, agora crescidos, estão planejando viajar para o Tibet durante a monção de verão. Eles vão recuperar os corpos, e o mais provável é voltar para Naylam, no Tibet, a cidade mais próxima, para realizar uma cerimônia.
“O certo a fazer será cuidar de seus corpos, de acordo com as práticas locais”, diz Anker. “Eles ainda estão congelados no gelo.”
“Claro que você nunca quer ver o corpo de alguém que você amava e se preocupava. Mas há uma sensação de que devemos colocá-lo para descansar, ele agora não é mais um desaparecido”, disse Jenni.
Esta primavera, como as últimas três, tem sido excepcionalmente quente e seca no Himalaia. As tempestades de vento cada vez mais comuns tem acelerado o processo de derretimento das geleiras. No Acampamento Base do Everest, no Glaciar Khumbu, no Nepal, tem surgido córregos e os alpinistas costumam ficar de shorts e sandálias, algo que não acostumava acontecer até maio. Essa é uma possível explicação do por que os corpos apareceram tão rapidamente na geleira derretida.
Para Conrad Anker e Jenni, esse evento parece ter um significado a mais, tendo em conta os recentes acontecimentos no Nepal. “Quer se trate de destino ou coincidência ou o momento, nunca se sabe”, diz Conrad. “O Vale Khumbu ainda está desprovido de turistas e as pessoas no Nepal ainda estão sofrendo”, diz Jenni. “As pessoas lá ainda estão esperançosas de que haverá uma boa temporada no Everest e que o turismo irá retornar.
Conrad Anker fez uma aparição no acampamento base do Everest, dias atrás, e que foi significativo para os sherpas e todas as pessoas que trabalham no KCC. E no último dia, ao saber do reaparecimento do corpo de Alex, foi como se ele disse. Bom trabalho. Finalizado. Eu estou pronto agora.
|