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Nepal e um Dolpo
 
texto: André Moraes Barros
29 de agosto de 2016 - 17:05
 


Foto: Jeffry Oonk

 

Dolpo. A primeira vez que escutei sobre a região do Dolpo foi em Pokhara no Nepal após um mês de um longo trekking pela região do reino de Mustang. Foi quando conheci o Manoel e ele meio desapercebido me comentou deste lugar. Desde então fazer o Dolpo se tornou um objetivo claro a ser cumprido em minha vida.

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Dolpo é conhecido por ser talvez o mais longo trekking em altitude que existe e por essa razão um dos mais difíceis e belo deste planeta. Situado ao noroeste do Nepal o Dolpo, em sua topografia, faz parte das longas, acidentadas e infernais planícies Tibetanas. Um reino inteiro nas alturas do céu. É uma das últimas regiões no mundo que mantem a antiga cultura tibetana ainda viva. A cultura pré China. A região abriga o pré Budismo, o shamanistic Bom-po e o Budismo Tibetano. Formado por várias vilas independentes e auto suficientes que se interligam através dos antigos caminhos usados no comercio de sal. Durante o inverno muitas destas vilas são abandonadas em função do rigoroso frio. Conhecida por suas águas azuis ( Shey Phuksundo lake ), suas montanhas sagradas e suas longas travessias em alta altitude. O Dolpo certamente é das regiões mais lindas, ermas e fortes que existe e resistem inteiras, intactas neste mundo.

A jornada se estenderá por quase um mês dentro do Himalaia. Faremos o Lower Dolpo o Upper Dolpo e acabaremos com uma difícil travessia para Jomsom. Portal de entrada no Reino de Mustang. Só é possível se chegar ao Dolpo de avião ou pelos caminhos infindáveis de ônibus ( cumpri minhas 27 horas até Mustang ). Partiremos de avião de Katmandu até Juphel com um pernoite em Nepalgunj. De Juphel em diante não há mais apoio ou infraestrutura. É seguir caminhando mesmo. Toda a expedição é concebida e estruturada para ser completamente autônoma. É um mês debaixo do céu mesmo. Sairemos de uma altitude de 2.000 mts e subiremos para um voo de cruzeiro por mais de 10 dias a 4.000 mts (chegando aos 4.900 em algumas passagens) para depois irmos despencando até os 2.700 mts de Jomsom. A média será de 6 a 8 horas diárias em uma vegetação que vai das verdes montanhas ao insólito deserto tibetano. As temperaturas irão variar de vários graus positivos a -18 graus. Fuerte heimm...

Como sou um sujeito de muita sorte, nestes dias a incansável Micaela Lopez decidiu entrar nessa loucura. Foi um sonho que desenhamos juntos desde Bali quando nos conhecemos. Eu em Bali vindo da Papua e ela no Brasil vinda de uma temporada xamânica e quântica pela Amazônia. Durante todos estes meses houve um acordo, uma vontade silenciosa em fazermos juntos esta alucinada jornada. E mesmo na distância de nossas vidas ela cumpriu o nosso acordo. Confesso que tomei um susto com esta espanholita. Mas sei que na verdade ambos somo feitos da mesma matéria. Do mesmo signo. Dois seres infernais, totalmente intensos e completamente apaixonados pelos cafofos escondidos deste planetinha maravilhoso.

     
Dolpo.   Dolpo.
     

Dona Mica do sorriso escancarado e dos músculos de aço, em poucos dias vamos decolar para mais essa. Corpo, alma e coração. Vamos certos e firmes. Que venha mais essa em nossas vidas. Sabemos que não será molezinha mas é disso que a gente gosta. Dona Morena que façamos o que nos for e é possível fazer. Que encontremos o que ambos fomos procurar. Que deixemos pelas montanhas nossos pesos extras da vida. Que nossas crenças se entornem em verdades. Que nossas besteiras e idiotices sejam tão nossas. Que a felicidade nos sorria toda manhã e nos dê um conforto em forma de paz pelas noites. Que o vento nos cuide. Que o silencio nos abasteça. Que nos cuidemos um do outro com todo carinho deste mundo e que sejamos os melhores companheiros que precisamos e podemos nos ser neste intervalo da vida. Que o céu do Himalaia nos abençoe. Sejamos muito bem-vindos um ao outro... to contigo e inteiro. Obrigado pela sua coragem em se jogar neste sonho. E vambora fazer o nosso Dolpo...

Obrigado ao meu grande amigo Manoel Morgado que mais uma vez viabilizou esta pancadaria. Obrigado ao grande Edu por me colocar na linha durante todos estes meses. Obrigada Carla Asevedo pelo ar que aprendi a entender contigo na Flyoga and many thanks to my friend Sunir Gurung.

Mandamos notícias do lado de lá.
Nossos Namastes.
André e Mica

 
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