Shishapangma (Xixiabagma)
da redação, Cleo Weidlich - fotos: Kami Sherpa
17 de outubro de 2011 - 0:27
 
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PERTO DO CUME - Esse vídeo é a visão da crista noroeste, desse ponto, dependendo das condições físicas do escalador, demora entre 1.5 à 2:00 hrs até o cume principal.
 
PROTEÇÃO NO JOELHO - Cleo Weidlich escalou com uma proteção no joelho, devido ao acidente no Kangchenjunga (8586m) no ínicio deste ano.
 

Latitude: 28.35000°N
Longitude: 85.78300°E

 
C3 - No acampamento 3, depois de uma escalada difícil até os 7.500m
   
 
SHISHAPANGMA - Uma das paredes que escalamos.
   

Os Tibetanos chamam Shishapangma de "Xixiabagma" que traduz em "mau tempo". O Shishapangma foi escalado primeiramente em 2 de maio de 1964, por Hsu Ching e sua expedição com mais dez chineses. Desde então, devido o alto risco de queda na travessia da crista, o time nacional de montanhismo da China só é permitido até o antecima. Em 28 de Setembro, 2009 eu escalei o Shisha pela primeira vez na companhia do time da CTMA (China Tibet Mountaineering Association). O antecima fica um pouco antes da crista que baixa e desce até o cume da montanha. Desde o Campo Base até o antecima, a rota clássica (Crista Noroeste) não é técnica e não é necessário a instalação de cordas fixas. É altamente recomendável o uso de cordagem entre os escaladores devido as gretas serem largas e profundas. Nesta estação de outono 2011, até a data em que eu deixei a montanha em 6 de outubro, nenhuma pessoa tinha feito cume nesta montanha. Todas as pessoas que sairam para o ataque ao cume no dia 4 de outubro só alcançaram o antecima. Infelizmente, várias pessoas afirmaram terem feito cume nesta estação, mas eu posso lhes afirmar que com as condições da neve e temperatura na montanha após o terremoto, isso não foi possível. A crista estava sobrecarregada com neve. Neve muito fofa. As vezes você pode encontrar a crista com pouca neve e bem consolidada, bem firme e seguro para a travessia. Um número de pessoas já fizeram essa jornada sob tal condições e não tiveram dificuldade nenhuma.

Kami Sherpa (Makalu) e eu fomos os primeiros a dormir no C2 e C3, três dias após a nossa chegada no Campo Base. No quinto dia exploramos a rota que tínhamos escolhido: a Face Sul. A rota estava acessível, mas as primeiras duas horas seria em neve de cerca de um metro de profundidade. A temperatura estava ideal, fazia bastante frio e ventava levemente. Após essa sondagem voltamos para o Campo Base para descansar e aguardar a janela de tempo. Dois dias após nosso retorno ao Campo Base chegou uma frente fria que trouxe uma nevasca que durou quatro dias. Após essa frente fria tivemos um terremoto de 6.8 na escala Richter. Doze horas após o terremoto, Eu e Kami saímos para o ataque ao cume e nessa investida tivemos que abrir a trilha novamente desde o Campo Base até a descida da Face Sul. Acampamos no C3 alto após uma diretíssima na Face noroeste do Cwm entre o C2 e C3. Os eslovênios Ludvik Golob e Janez Levec estavam nos seguindo um dia atrás e nos acompanhavam com binóculos, ficaram chocados com nossa escalada estilo alpino da parede até as rochas onde acampamos a 7500m por duas noites enquanto fazíamos a abertura da descida na nossa rota. Chegando lá constatamos que a rota tinha mudado bastante. As avalanches após o terremoto tinham depositado muita neve e agora o nível da neve estava no peito do Kami. Acima da rota, as prateleiras de gelo e cornichas (cornices) estavam rachadas em varias direções. Debatemos bastante num vento que, de acordo com a Meteotest, atingiu 75 Km/h à noite. Decidimos descer e desistir do ataque ao cume. Tínhamos atingido 7,600m. Depositamos nossos equipamentos acima do C3 com a intenção de retornar para terminar o que começamos. Muito obrigada ao Kami pelo grande esforço nesse projeto e ao meu amigo Zoltan Szlanko (Hungaria) pela grande recepção no acampamento base após nossa tentativa e pelo picnic na cascata de gelo.

 
 
NOTA DA REDAÇÃO
A POLÊMICA MANCHETE que apareceu em alguns sites: "Brasil no Shishapangma... Maximo Kausch finalmente alcança o cume no Shishapangma!"
Primeiro engano: Como relatou a Cleo Weidlich, alguns alpinistas chegaram a antecima e não ao cume principal do Shishapangma;
Segundo engano: Maximo Kausch é guia de montanha, no site oficial da agencia em que trabalha é apresentado como Inglês (onde mora atualmente), mas durante alguns anos também morou no Brasil, mas não tem cidadania brasileira. De fato Maximo Kausch é argentino, país onde nasceu e viveu até a adolescência.
 
FIM DA POLÊMICA
Após a revelação de Cleo Weidlich, finalmente o argentino Maximo Kaush se pronunciou dizendo que de fato chegou apenas ao cume central do Shishapangma e não ao cume principal, o mais alto da montanha, como alguns sites e blogs noticiaram aqui no Brasil.