Encontro com o Minc
Texto de Cleusa, tia de Bernardo Collares
3 de julho de 2013 - 19:10
 
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Exposição Genesis de Sebastião Salgado. Foto: Lucia Hrdà
 

Esse relato abaixo é de uma tia do Bernardo Collares.
Dia 2 de junho de 2013, ela se encontrou casualmente com o Minc e não resistiu à tentação de lavar sua alma.
Abraços,
Heliane Collares


Querida Heliane,


Estava na exposição do Sebastião Salgado no Jardim Botânico quando, ao passar pela foto da montanha Fitz Roy na Patagônia Argentina, vi o Carlos Minc. Aí, me permiti falar o que estava há tempos me sufocando: a falta de atenção, de amparo e vontade no acidente em que perdeu a vida meu sobrinho Bernardo Collares.

Abordei-o dizendo que ali no Fitz Roy estava meu sobrinho. Ele perguntou: Está passeando? Eu respondi: Não. Está lá por falta de alguém que pudesse socorrê-lo, pela falta das autoridades que nada fizeram para tentar salvar a sua vida.

Continuei contando que o sr. André Ilha me ligou no dia seguinte dizendo que um helicóptero da Polícia Civil teria sido preparado para o resgate (por ser o melhor para esses casos e que eu não precisaria continuar com os contatos com a Aeronáutica), a pedido do Minc que já entrara em contato com a presidente Dilma. Ela levaria o caso à presidente da Argentina e à autoridade que daria a ordem para o resgate. Mas ele pediu que eu não falasse com ninguém porque deveria ficar em segredo para melhor ser resolvido. Ele daria apoio à Kika.

Eu, ACREDITANDO EM SUAS PALAVRAS, nada falei, nem com minha família.

E continuei dizendo que esse é o único arrependimento que tenho na vida, e não falei para ninguém porque quando eu prometo eu cumpro.

No final do dia, tentei falar com o sr. André Ilha para saber se tudo havia sido resolvido e ele não mais atendeu aos meus chamados, e nunca mais me procurou para dizer nada. Calou-se para sempre.

Dizendo isso, o sr. Minc foi se afastando como se eu fosse alguém que o tivesse importunando e a mulher que estava com ele disse: "Mas o rapaz estava fazendo o que gostava e está num lugar que ele gostava". E saíram rápido de perto de mim.

O sr. Minc passou para outra sala e eu, então, vendo a indiferença dele, fui atrás. Eu o chamei e disse: O sr. não sabe quem sou. Sou irmã do Euro, o pai do Bernardo, e devo dizer que se ele estivesse vivo, isso não teria acontecido, a Dilma teria providenciado o socorro.

O sr. Minc olhou-me com aquele olhar de nada e foi embora.

Ao descer, fui para a sala onde se vendiam os posters da exposição e lá fiquei esperando por minha filha.

Passados alguns minutos, entra pela sala a mulher do sr. Minc e, quando me vê, fica apavorada e sai rapidamente preocupada. No mesmo momento, entra o sr. Minc com o celular no ouvido e, ao me ver, fica de um lado para o outro, entrando e saindo, quando a mulher o vê e o empurra para fora.

Eu estava assentada e ali fiquei sem me mover e sem falar, mas só olhando para os dois que pareciam estar transtornados e, certamente, piores pela minha calma ao ter falado com eles e sempre em voz muito baixa, que ninguém ouviu naquela sala, mas com o olhar penetrante neles.

Lavei a metade da minha alma, mas o Rio é uma província e encontrarei com ele outras vezes... Espero que ele perca algumas noites de sono pensando no que NÃO fez.

Obrigado pela leitura e compreensão.
Cleusa.



Editoria de Arte/Folhapress