Gypsetters: conheça a turma que busca autenticidade viajando para destinos pouco disputados
Fonte: O Globo
17 de março de 2013 - 11:05
 
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    Jade Jagger: musa do estilo em sua casa/hotel em Goa, na �ndia Foto: Divulga��o
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    O estilo vendido pelas revistas " Foto: Divulga��o
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    O estilo vendido pelas revistas " Foto: Divulga��o
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    O livro "Gypset Style" � basicamente uma colet�nea de fotos do padr�o editorial das revistas de luxo " Foto: Divulga��o
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    Parte interna do livro " Foto: Divulga��o
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Jade Jagger: musa do estilo em sua casa/hotel em Goa, na �ndia Foto: Divulga��o

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(Abaixo a matéria publicada originalmente no jornal O Globo)

Eles odeiam área VIP, evitam lugares da moda, trabalham para ter (muito) tempo livre em viagens, adoram uma estrada de terra, não aturam música alta, carregam uma mala micro e misturam peças de marcas como Marni com acessórios locais. São fãs e amigos do músico Devendra Banhart, da designer Jade Jagger e da estilista Isabel Marant. Estes são os gypsetters (gypsy + jetsetter), termo inventado pela jornalista americana Julia Chaplin para descrever a tribo que atualizou as aspirações dos hippies 60’s para o novo século. Como repórter da revista de viagem “Condé Nast Traveler”, Julia notou que, mesmo em uma cidadezinha do interiorzão, tinha sempre um grupo que misturava a vibração nômade dos ciganos com o olhar refinado de ver a vida do jet-setter.

— Percebi um padrão de pessoas que iam contra a maré do caro, dos grandes hotéis e de boates da moda como as de St.Tropez. Eles eram em sua maioria surfistas, artistas, músicos, fotógrafos, designers e estilistas que estavam sempre numa casa cool no melhor ponto do surfe — explica Julia, frisando que os gypsetters acham o luxo comprável pouco interessante, priorizando a experiência. A Jade Jagger (que tem até uma casa em Goa, na Índia) é uma referência do estilo.
A cena que fez a própria Julia simpatizar com essa vida aconteceu em Sayulita, vila de pescadores no México, quando ela conviveu com a família Mignot, dona de um estilo despreocupado que conquistou a moça. Os Mignots eram uma trupe de pessoas bonitas que viviam com uma coleção de pranchas de surfe e um monte de quartos sem dono — quem chegasse primeiro podia se deitar. E isso bastava.

— Era totalmente alternativo, simples, e todos estavam felizes — encantou-se.
Mas Julia tinha uma predisposição ao estilo. Filha de pais hippies, ela sempre conviveu com um tipo de vida fora dos padrões tradicionais.
— Mesmo assim, sou gypsetter pela metade. Estou em Nova York, uma cidade enorme e cheia de luxos, e nem sempre posso sair daqui — diz.

Depois da primeira edição do livro “Gypset Style” (ainda sem tradução no Brasil), em 2009, o termo virou queridinho de quem curte modismo (os gypsetters de verdade raramente o usam, apesar de saberem descrever muito bem como é essa vida pé no chão), foi tema de editorial de moda e serviu de inspiração para figurinos. Hoje existe até o gypset de butique, aquele que só incorporou as roupas, deixando a essência de lado.

Com o sucesso da estreia, Julia acaba de lançar o “Gypset Travel”, pela editora francesa Assouline, com uma lista dos bons destinos que essa turma escolheu para passar uma semana, longas temporadas ou até viver. O Brasil, oba!, não ficou de fora. A aposta é Alto Paraíso, uma opção para quem quer sair da confusão, mas entende que luxo não é um travesseiro com pena de ganso em um resort.

— O estilo não está centrado no valor, e sim no gosto adquirido por quem conhece tanto os prazeres da alta cultura quanto os mais simples — avisa Julia. — Por isso, eles procuram passar temporadas em cidades com pouca infraestrutura, mas com qualidades naturais únicas.
Entre os bonitos lugares listados no livro estão Montauk (Estados Unidos), Filicudi (Itália), Lamu (Quênia), Ilha de Déia (Espanha), Todos os Santos (México) e Cabo Polonio (Uruguai).
Inês Coelho, brasileira que mora em Nova York, incluiria ainda Comporta, cidade na costa litoral do Alentejo, em Portugal.

— O mar é azul turquesa, com golfinhos; as casas são todas brancas, de madeira com telhados de palha, como se fossem de pescadores; e a região é protegida pela Unesco — descreve. — Quase tudo pertence à família Espírito Santo, mas ainda existem alguns poucos terrenos à venda, que eles escondem a todo custo. A família real de Mônaco vai para lá em todos os verões, e Christian Louboutin tem casa — reforça.
Inês, que estudou Fine Arts na Sotheby’s Institute of Art para virar leiloeira, e trabalhou para revistas de viagens por ter o olhar apurado para encontrar pequenos paraísos, hoje comanda a The Conect Club, uma rede privada de contatos de que só participam pessoas bem relacionadas. Vestida com um lenço Marc Jacobs usado como bata e um saião preto (“Meu estilo é boho”), ela conta que adora andar descalça, avisa que Capri já era e explica que para ser um gypsetter é preciso sair dos holofotes.

— Fama não interessa ao gypsetter — garante.

Uma das parceiras nas viagens de Inês é outra brasileira que vive fora. Cleyenne Lazzarotto, que foi para Londres estudar Belas Artes e por lá ficou, consegue aliar viagens com trabalho. Metade do ano ela compra, reforma e venda de apartamentos; na outra, faz o que mais gosta — se desconectar de tudo, imergindo numa nova cultura. Ao lado do namorado Robert Norton, CEO e cofundador da Saatchi Online, ela esteve recentemente na Ilha de Pantaleria (Itália), em Formentera (Arquipélago Baleares, na Espanha), em Lamu (Quênia) e em Alto Paraíso.

— O “viajante per se” se difere do turista por assimilar o lugar, os nativos e os costumes locais, enquanto o turista busca destinos que oferecem os confortos a que já está acostumado — distingue ela. — O prazer de viajar está em provar o raro, o incomum, o de difícil acesso. Não é encontrar um espaço modelado para o turista em massa. Entre os meus próximos destinos estão Serra Grande (Bahia), Patmos (Grécia), Tulum (México), Goa (Índia) e ainda os festivais Burning Man no Deserto de Nevada e Festival du Desert, em Timbuktu, no Mali — enumera, com o fôlego característico dessa turma.

O artista plástico carioca Antonio Bokel se cansou de ver pedacinhos de culturas em museus. Quis buscar a origem.

— Dá para ter contato com esculturas africanas ou monumentos indianos antiquíssimos no Louvre, mas você só entende o que de fato aquilo representa quando vai ao local para sentir o cheiro, ouvir a música e se misturar com o povo. Isso é a experiencia real — percebe Bokel, que acaba de voltar de um giro por Índia, Nepal e Sri Lanka. — Quero sensações reais, experiências que me tirem da zona de conforto, porque assim eu evoluo.
A designer de joias carioca Vanessa Robert é do time. Suas últimas experiências foram em Bali, Mont Saint Michel, Hong Kong, Índia e Lençóis Maranhenses.

— Sempre tive fascínio por culturas diferentes. Tenho curiosidade de entender mais, de ver como funciona. E aí naturalmente acabei atraída por lugares mais originais, e portanto menos badalados — conta ela, que nunca tinha escutado o termo gypset, apesar de representar bem a classe.
Então está entendido: edredom pode, mas de preferência numa cabana de palha.


Desmembrando o termo gypset:
• gypsy = cigano
• jetset = termo criado nos anos 50 por um colunista de fofocas que queria expressar as pessoas de alto poder aquisitivo que viajavam de avião a jato. Termo popularmente utilizado no Brasil como Patricinhas ou Mauricinhos.



OPINIÃO DO EXTREMOS
Nós apoiamos que pessoas de todos os níveis sociais tenham acesso ao mundo outdoor. Na verdade isso sempre foi assim, na maioria dos roteiros que fazemos encontramos opções de turismo tanto para aquele mochileiro que viaja de carona, como para aquele que viaja de jato particular. O que não gostamos é de rótulos criados pelo mundo editorial da moda, simplesmente para preencher a pauta de uma revista.