Russell Brice expõe as suas razões para se retirar do Everest
da redação : Elias Luiz - Fonte: Desnivel
10 de maio de 2012 - 8:50
 
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Russell Brice, chefe da Himalaia Experience decidiu retirar seu grupo de 85 pessoas do Everest. Foto: Divulgação
 

O agente responsável pela Himalaia Experience emitiu uma declaração explicando por que ele decidiu que os 85 membros da expedição deveriam a deixar de tentar escalar o Everest, Lhotse e Nuptse nesta primavera.

Russell Brice, chefe da agência Himalaia Experience, há poucos dias removeu toda a sua tropa das altas montanhas do vale do Khumbu. No total, 85 pessoas, incluindo guias, sherpas, clientes e funcionários do Acampamento Base que faziam parte das expedições organizadas pela poderosa agência no Everest, Lhotse e Nuptse.

Dada a série de especulações que surgiram na internet sobre esse anúncio, a Himalaia Experience lançou um comunicado explicando os motivos que levaram Brice tomar a decisão radical:

Nos últimos dias, muitos sites e blogs relataram sobre a decisão de Russell Brice para cancelar sua expedição, especulando sobre as suas razões. Na expectativa de boatos e fofocas entre a comunidade de escalada, aqui está uma lista de razões para esta decisão:

• Desde o início da temporada, os sherpas disseram que estava muito quente enquanto montavam Acampamento Base. Eles estavam trabalhando com camisetas de mangas curtas.

• Os nossos sherpas continuamente informaram que a Cascata de Gelo estava mais perigosa e que a área do “Popcorn” estava mais ativa este ano. Eles não estavam preocupados em correr esse risco, mas eles eram muito conscientes dos perigos crescentes.

• Em 2011, o risco da ameaça de seracs na crista oeste era mais aceitável, pois os destroços caiam em uma profunda greta entre o glaciar e a montanha. Então estávamos a uns 100 metros de onde os escombros caiam, no entanto este ano estamos apenas a 25 ou 30 metros de onde estes escombros caem e cobrem a rota.

• Cronometramos o nosso guia Adrian, que é incrivelmente rápido, e ele levou 22 minutos para ir do início ao fim da zona de perigo. Para os sherpas porteadores com uma carga pesada levou 30 minutos e para a maioria dos nossos clientes era de 45 minutos a 1 hora caminhando sobre essa grande área de risco. Na minha opinião, é muito tempo para ser exposto a tal perigo e quando vejo cerca de 50 pessoas atravessando essa área, isso me assusta.

• Quando chegamos ao acampamento base no início de abril, a fissura no bloco de gelo na aresta era muito pequena, agora é de provavelmente entre 5 a 7 metros de largura. Isto significa que a pressão entre os blocos de gelo é enorme. Até agora, só tivemos pequenos desprendimento placas, no entanto, há certamente a possibilidade de um colapso enorme, o que poderia matar e ferir um grande número de pessoas.

• Estivemos registrando a temperatura as 2h da madrugada, quando os sherpas costumam sair para cruzar a Cascata de Gelo. Em nossos registros apenas alguns dias foram de temperatura abaixo de -10ºC, o que é incomum e realmente não é suficientemente frio para estar atravessando a Cascata de Gelo.

• Agora, estamos apenas no início de maio e lagos estão sendo formados no acampamento base. Hoje, 8 de Maio, faz tanto calor como normalmente faz no final da temporada - primeira quinzena de junho - e todavia vai fazer mais calor ainda, o que significa que o perigo na Cascata de Gelo só tende a aumentar.

• Não só existe o potencial para que algo aconteça quando subimos, mas também quando descemos. Primeiro temos que conduzir os clientes através da Cascata de Gelo no final da expedição e, em seguida, os nossos sherpas terão que trabalhar mais alguns dias para limpar a montanha. Esta decisão não é apenas sobre a situação na montanha para amanhã, mas em condições, no futuro próximo.

ACIMA DO ACAMPAMENTO 1

• Tivemos uma advertência com uma avalanche há uma semana mais ou menos. Dois dos nossos clientes e um guia estiveram próximo da avalanche que desceu do Nuptse. Normalmente não vemos este tipo de enormes despreendimentos de gelo no Nuptse e nós tivemos sorte que os dois clientes decidiram ficar no Acampamento 1 naquele dia e não ir para o Acampamento 2. Este foi um dos primeiros sinais de alerta.

 

• A queda de rochas na encosta do Lhotse era também um grande perigo para todos. Nós vimos alguns acidentes causados por queda de rochas. A razão é a estação seca deste ano e, embora tivéssemos um pouco de neve acima, a situação não melhorou muito. Alguns dias mais quentes, como hoje, em combinação com grandes rajadas de vento e veremos aquelas rochas voando novamente.

 

• Quando você coloca todas essas coisas juntas, o perigo é, certamente, além dos meus parâmetros. Há indicadores simplesmente demais que o tempo não está bem nesta temporada, como a grande quantidade de gelo que caiu no lago na região de Annapurna e causou inundações.

 

PRÓXIMO ANO
• Falamos com os "Doutores da Cascata de Gelo" sobre uma rota melhor e mais segura para o próximo ano. Eles podem ver que há uma possibilidade para a direita, o que reduzirá o risco de avalanches e eu serei feliz de voltar a enviar os meus sherpas, guias e clientes pela Cascata de Gelo.

• Os clientes não receberão o reembolso dos $ 43.000 euros que pagaram pela expedição. O dinheiro já foi gasto com salários, logística, alimentação, cordas, equipamentos, licenças de transporte, hotéis, etc. Há pequenas economias, como oxigênio, alguns sacos de comida e de higiene e clientes que quizerem vir conosco no ano que vem certamente terão um desconto.

No momento em que escrevo este texto, a maioria de nossos clientes deixaram o Acampamento Base. Alguns deles voaram de volta para Kathmandu, de helicóptero, na manhã de terça-feira, alguns deles caminham de volta para Lukla e alguns estão prestes a escalar o Island Peak de 6189 metros. Nossa equipe permanecerá no Acampamento Base até 12 de maio quando partirá o nosso último grupo.

Os nossos sherpas limparam completamente o Acampamento 3 e logo farão o mesmo no Acampamento 2, há muito material que ainda precisa ser baixado para o Acampamento Base e posteriormente para Lukla.