Sobre mulheres e montanhas
Aventura & Ação: Texto de Anne Louise Salvi e Renata Vasconcelos - Fotos: Tom Alves
19 de outubro de 2011 - 11:50
 
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Conhecida por suas belas montanhas, Minas Gerais atrai entusiasmados adeptos dos esportes de aventura e, nos �ltimos tempos, muitas adeptas tamb�m.

As paisagens marcadas pela fartura de rios e cachoeiras fazem jus � popularidade do estado. Com os singulares contornos das serras verdejantes que se perdem no horizonte, alguns dos principais munic�pios mineiros exibem forte potencial para a pr�tica do montanhismo e da escalada, reunindo um p�blico diverso, desde sempre. A novidade � que, para a felicidade dos marmanjos, a presen�a feminina vem florindo cada dia mais os variados setores de escalada, principalmente nos arredores de Belo Horizonte, cidade agraciada pela proximidade da Serra do Espinha�o, que se exibe em parques e reservas ecol�gicas da regi�o.

At� os �ltimos 15 anos, por�m, os homens eram os �nicos a desafiarem as agruras das serras ou rochas calc�rias mineiras. As mulheres davam o ar da gra�a vez ou outra, quase sempre acompanhando seus namorados ou maridos. Raramente escalavam guiando e muitas acabavam desistindo por n�o se identificarem verdadeiramente com a atividade. Esta realidade, por�m, ficou apenas na lembran�a de veteranos. “Havia uma �nica mulher em Belo Horizonte que escalava quando comecei e, mesmo em outros estados, as escaladoras eram pouqu�ssimas”, afirma o bi�logo Leonardo Hoffman, de 38 anos, que escala h� 20. “Hoje, � comum ver grupos de amigas que se re�nem para escalar aos fins de semana. Algumas encontraram no montanhismo uma filosofia de vida, outras, uma profiss�o, diz”.

Essa mudan�a reflete a evolu��o das mulheres na sociedade contempor�nea. Com as conquistas femininas cada vez mais expressivas e a igualdade dos direitos e deveres, as mulheres, que j� h� algum tempo descobriram sua voca��o para os neg�cios, a pol�tica e a lideran�a, aos poucos foram tamb�m ganhando intimidade com a atividade da escalada. O esporte � conhecido pela grande exig�ncia da for�a f�sica e administra��o de riscos, o que as garotas t�m tirado de letra, seja nas academias de escalada indoor, nas rochas, ou nas competi��es de escalada esportiva ao redor do mundo. Em Minas Gerais, n�o poderia ser diferente, muitas mulheres se destacam pela dedica��o, experi�ncia e paix�o pelo esporte. Atrav�s da escalada, elas est�o reconhecendo benef�cios para uma vida mais prazerosa e saud�vel, como a supera��o de medos, a autoconfian�a, a busca pela liberdade, determina��o, concentra��o, disciplina e in�meras outras vantagens que o esporte propicia.

A jornalista mineira Branca Sales, 28 anos, � uma das adeptas do esporte e garante que fazer for�a pode ser muito interessante para extravasar tens�es e manter o corpo e a mente em forma: “� desafiante superar meus limites f�sicos e psicol�gicos”.

Mulheres no topo

Biologicamente, o sexo feminino � predestinado a gerar filhos e isto requer uma carga intensa de responsabilidade e habilidades, o que demonstra que s�o fortes e delicadas ao mesmo tempo. Ao chegar ao cume de uma montanha, a mulher quer acreditar no seu potencial e nos est�mulos que movem o ser humano.

 
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Na hist�ria do montanhismo mundial, sempre existiram mulheres escaladoras que se destacaram, como a inglesa Alison Hargreaves, a segunda pessoa a realizar ascens�o ao cume do Everest, em 1995, sem oxig�nio. Escaladores e a imprensa, na �poca, questionaram a �tica de Alison. Como podia uma mulher, m�e de dois filhos, praticar um esporte t�o perigoso? Pioneira, foi muito criticada por deixar seus filhos pequenos com o pai para escalar. Causou ainda mais burburinho por subir o monte Eiger Nordwand, nos Alpes Su��os, em 1988, quando estava no sexto m�s de gravidez.

No Brasil, acredita-se que a primeira escalada t�cnica feita no Pa�s tenha sido realizada por uma inglesa, em 1817, no Cost�o do P�o de A��car, mas n�o existem registros que comprovem essa informa��o. At� a d�cada de 90, podiase contar nos dedos as mulheres que se aventuravam no esporte. As pioneiras foram as cariocas, que se iniciaram na atividade na d�cada de 50, por meio de clubes de montanhismo. Algumas at� come�aram a atuar como guias de montanha, um grande incentivo para as escaladoras que se formaram depois.

Hoje, muitas brasileiras, assim como a inglesa Alison, conciliam o esporte com a maternidade, com profiss�es exigentes ou com os estudos, sem perder a feminilidade, a responsabilidade e, sobretudo, o equil�brio.

De acordo com Leonardo Hoffman, “n�o s� o n�mero de mulheres que escalam aumentou, como tamb�m o n�vel t�cnico das escaladoras de uma maneira geral”. Segundo ele, “a representatividade feminina nos campeonatos � cada vez maior e a participa��o das mulheres em conquistas, assim como o desempenho em vias de alto grau de dificuldade j� se fazem notar de maneira crescente no estado e no Pa�s”.

A heptacampe� de escalada Janine Cardoso, 37 anos, apesar de residir em S�o Paulo, capital, diz que, sempre que poss�vel, tenta visitar as terras mineiras para aproveitar o �timo potencial do Morro da Pedreira, na Serra do Cip�, treinar, encontrar as amigas escaladoras e curtir o visual e o astral das serras da regi�o. Segundo a atleta, que escala h� 18 anos, o esporte � muito estimulante:


“O que me motiva � o simples ato de escalar, de esquecer o mundo l� fora e viver aquele momento com uma superentrega, com foco... � um conjunto de coisas que me incentivam, mas, sem d�vida, a maior delas � o sentimento de supera��o aliado ao prazer de realizar uma atividade f�sica intensa e complexa, liberar energia de uma maneira positiva e sentir o prazer da endorfina tomar conta do corpo”.
__ Janine Cardoso


A campe� tamb�m n�o v� problemas em praticar o esporte e se dedicar � filha de oito anos: “nos fins de semana que estou com minha filha, a levo comigo algumas vezes, j� que considero a escalada uma filosofia de vida maravilhosa e, mesmo que eu n�o consiga escalar tanto, realizamos trilhas juntas, ela escala tamb�m ou ficamos curtindo o sil�ncio da montanha (ou o cantarolar dos galos)”.

Outra f� da adrenalina das paredes rochosas, a escaladora mineira Andr�a Rios, 24 anos, afirma que adora fazer boulder, uma modalidade que consiste em escalar pequenos blocos de pedras, onde os movimentos s�o geralmente de extrema dificuldade t�cnica. Seu point preferido � a Pedra Rachada, em Sabar�, a qual costuma explorar com as amigas. Para ela, o esporte � bastante feminino, apesar da for�a exigida. “� um bal� nas pedras. O equil�brio, o alongamento... � muito feminino”. A educadora f�sica e professora de escalada em academia Ma�ra Vilas Boas afirma que seu lugar predileto para a pr�tica de boulder tamb�m � a Pedra Rachada. “L�, h� v�rios projetos de vias que eu gostaria de escalar, al�m de um visual maravilhoso, uma energia especial e de ser perto de onde moro”.

Para quem reside em Belo Horizonte, em menos de uma hora de carro, � poss�vel chegar a locais como fazendas e s�tios com forma��es rochosas de alta qualidade como o calc�rio, o granito e o quartzito. A maioria n�o � t�o alta, com m�dia de 15 a 30 metros de altura, mas tamb�m h� montanhas para se fazer trekking e at� mesmo escalar picos de 2.016 metros de altitude, como o Pico do Baiano, localizado na Serra do Cara�a.

Em um raio de 100 km, h� v�rias op�es como, por exemplo, Lagoa Santa, Sete Lagoas, Pedro Leopoldo e Caet�. Os munic�pios de Contagem e Sabar� s�o os mais pr�ximos, ambos a apenas 25 km. J� os famosos picos da Serra do Cip�, Serra do Cara�a, em Catas Altas, e Pico do Itacolomi, em Ouro Preto, ficam em torno de 100 a 130 km de dist�ncia, contando com cen�rios bel�ssimos, de f�cil acesso.

 
 
   
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