Escalada ao Cerro Bonete (5050m) – Aconcágua
da redação, Texto e fotos: Tainah Fonseca
22 de fevereiro de 2012 - 14:46
 
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CERRO BONETE - Tainah Fonseca e Carlos Santalena no Cume do Bonete (5050m)
 
 

Mendoza, lugar de nacionalidades e culturas diferentes, belezas, clima quente, vinhos e montanhas.
Aconcágua, a montanha que mais chama a atenção no continente americano com seus 6962m.

A vontade de conhecê-la só aumentou quando soube que minha ida estava garantida. Logo que chegamos, ficamos 2 dias andando pela cidade e conhecendo tudo de lindo que ela oferece.
Ao começarmos a caminhada, fomos até Confluência à 3400m para aclimatação. Levamos algumas horas andando sobre muitas pedras e rodeados de montanhas.

No dia seguinte estava programado para irmos ao mirador em direção a Plaza Francia, onde temos uma visão deslumbrante da Face Sul do Aconcágua, uma das escaladas mais difíceis do mundo. Porém, após ouvirmos durante toda a noite helicópteros indo de um lado a outro, soubemos que dois argentinos estavam há alguns dias tentando escalar a parede, mas que infelizmente pediam resgate, pois não conseguiam mais subir nem descer. Desta forma, até o momento estava proibida nossa caminhada.

Ainda não se sabe a verdadeira versão do ocorrido, sabe-se apenas que felizmente após algumas horas ambos saíram ilesos, quando outros escaladores conseguiram tirá-los de lá.
Assim, fomos até o mirador e ficamos alguns momentos apreciando aquela paisagem incrível!

No dia seguinte começamos nossa caminhada à Plaza de Mulas, campo base do Aconcágua (4400m). Na Playa Ancha, quilômetros de terreno plano e inacabável nos esperavam. Em seguida, após algumas subidas e descidas, está a Costa Brava, uma subida íngreme, cansativa e com muitas pedras a 4220m, o que torna a caminhada mais difícil do que imaginávamos.

Levamos 11 horas em todo trajeto para chegar ao campo base, uma cidade de barracas e montanhistas de todas as partes do mundo se preparando para subir a montanha.
Lá conheci algumas figuras capazes de passar boas lições. Como o senhor que criou uma “Galeria de Arte” em pleno campo base. Ele é o tipo de pessoa que não se contenta com uma vida comum e rotineira. Viaja o mundo todo vendendo seus livros e artes, no qual algumas delas são desenhadas no próprio cume do Aconcágua. Sem dúvidas, não há lugar mais inspirador!
Enfim, desde nossa chegada ao campo base já consideramos uma grande superação até aos mais bem preparados. A caminhada é incrível...mas exigente!

Lá, as emoções e acontecimentos passavam sem que eu parasse para refletir. O Aconcágua nos dá a nítida sensação de estarmos em um universo à parte, onde tudo possui outro significado e a vida parece bem mais simples e real, sem nenhum tipo de apego.
Depois de 1 dia de descanso fizemos o porteio à Plaza Canadá (5060m). No meio do caminho fomos pegos por uma nevasca e um frio intenso. Após 4h30 de caminhada por uma única longa subida, chegamos ao primeiro acampamento para deixar os alimentos e combustível necessários para a subida definitiva.

A viagem foi bem programada em um sistema de usar os dias de descanso em escala para que pudéssemos nos aclimatar melhor. Assim, descansamos mais um dia e nos preparamos para subir o Cerro Bonete (5050m) que está em frente ao Aconcágua, onde se pode ver de longe toda sua trilha bem marcada e íngreme que leva ao cume.
Pedras e mais pedras fizeram da subida um grande desafio. Conforme dávamos um passo, as pedras que estavam soltas escorregavam nos trazendo para baixo.
Comecei a gostar mais ainda do caminho quando percebi que cada vez que eu olhava para trás via as barracas ficando menores, e nós, mais próximos do cume.

Quando chegamos ao topo tudo valeu muito a pena. Era possível ver a Cordilheira de um lado, e do outro a face oeste do Aconcágua...enorme e imponente.
Na descida começamos a deslizar pelas rochas soltas que nos custaram subir. Logo estávamos descendo sem parar como se estivéssemos esquiando. Chegamos ao acampamento contentes e ofegantes!

Lá tive a certeza de que mesmo optando por não tentar o cume nessa primeira vez, minha viagem já estava superando minhas expectativas. Além de agora ter a certeza de que muito em breve estarei de volta para chegar ao topo das Américas!
Acredito que não precisamos chegar ao cume para tirarmos o maior aprendizado da montanha, mas sim, apreciando o modo de como ela nos mostra o verdadeiro significado da vida: Mentalizar e ter coragem de sonhar e viver nossos sonhos...

Agradeço muito aos bons companheiros dessa viagem, e também a todos que me enviaram boas energias no texto anterior!

Hoje termino este texto com um pensamento de Mark Twain:

“Viajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as idéias limitadas. Não se pode ter uma visão ampla, abrangente e generosa dos homens vegetando num cantinho do mundo a vida inteira.”
__ Mark Twain

Até a próxima.
Namastê!