Piraí do Sul
da redação - Texto: Edemilson Padilha
28 de dezembro de 2012 - 8:43
 
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  • Foto: Valdesir Machado
    Escalando em Pira� do Sul Foto: Edemilson Padilha
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    Escalando em Pira� do Sul " Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Escalando em Pira� do Sul " Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Edemilson Padilha
    Escalando em Pira� do Sul" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Edemilson Padilha
    S�o Jorge e Corpo Seco" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Croqui de Pira�" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Pira� do Sul" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Pira� do Sul" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Pira� do Sul" Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Pira� do Sul." Foto: Edemilson Padilha
  • Foto: Valdesir Machado
    Pira� do Sul" Foto: Edemilson Padilha
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Escalando em Pira� do Sul Foto: Edemilson Padilha

 

Nossas buscas por paredes, na maioria das vezes, acabam em matagal, rocha cheia de mato e alguém se desculpando, falando que visto de longe parecia legal. Já estamos acostumados a dar com os burros n’água, ou melhor, dar com os burros em alguma parede horrível, no meio de algum fim de mundo. Mas em Piraí do Sul, a história foi muito diferente.

Tínhamos bons informantes, que já haviam estado no local, e que inclusive haviam começado a abertura de uma via. Eram o Eros, de Piraí e o Melchiori, que Castro. Partimos numa manhã ensolarada de Curitiba, seguindo pela boa estrada de pista dupla e pedágio caro. São 188 quilômetros que separam a capital da cidade de Piraí do Sul, passando por Ponta Grossa. Lá chegando, fomos “obrigados” a tomar um belo café da manhã na casa do Eros antes de enfrentar os 12 km de estrada de terra para chegar ao Morro do Corpo Seco. Na maior parte do tempo uma estrada em bom estado de conservação, que nos levou diretamente aos pés de um morro incrível. Nós nunca tínhamos visto nada parecido, pois era uma montanha. Sempre escalamos em escarpas. Ou seja, chegamos por cima, descemos e depois tornamos a subir pela parede. Agora chegáramos a um morro, e o melhor - rodeado de paredes intocadas e completamente limpas. Subimos uns intermináveis 5 minutos pelo pasto para ter uma surpresa ainda maior: as fissuras mais perfeitas que já havíamos visto. Ficamos com cara de bobos, pois não tínhamos botado fé no que os caras de lá falavam, e fomos postergando nossa ida. E agora estávamos ali de frente para um setor que poderia conter o melhor da escalada tradicional do estado!

Todavia, não é só de contemplação que se fazem os montanhistas. Precisamos de ação. E lá foi o Willian Lacerda, de Ponta Grossa, armado até os dentes para abrir a primeira via. Aí ficamos na expectativa para saber se a rocha era tão boa quanto parecia vista de baixo. Proteção após proteção, ele nos foi dando o status de cada peça colocada. O resultado não podia ser melhor: rocha de excelente qualidade, perfeita para escalar em móvel! Neste mesmo dia abrimos 3 vias e já visualizamos mais uma porção de fendas alucinantes.

Com o tempo fomos nos familiarizando com o tipo da escalada do Setor do Corpo Seco. Fendas de alto nível e esportivas duras. E também, abelhas nervosas. Isso mesmo, abelhas, inclusive que moram em algumas das mais belas fissuras do local. O seu Adão, que é o proprietário, mantém algumas caixas de abelha próximas às paredes. E isso às vezes pode gerar algum problema. A via Doce Veneno, um 8a de fendas perfeitas, tem esse nome porque um dia fomos atacados pelas famigeradas, após alguém desavisado matar uma delas. Elas ficaram doidas, tive de descer de um stopper, enquanto éramos trucidados. Saímos correndo e tivemos de fazer várias viagens para buscar os equipos, sempre sob fogo inimigo... No final conseguimos escapar, e depois de tomarmos algumas doses de anti-histamínico, tivemos a honra de desbravar a Doce Veneno, uma das imperdíveis do setor. Uma fenda perfeita em forma de arco, com uns 25 metros de extensão. Mas o que nos deixou meio assustados foi a fissura que havia exatamente no rapel da Doce Veneno. Fissura rasa, difícil de escalar e de proteger. Um corte perfeito na pedra, reto e amendrontador. Nome: Highway to Hell. Tivemos de colocar a corda de top e malhar a via. Ou melhor, levar uma surra da via. Não seria desta vez. Mais à direita saiu uma outra via, a No Bico do Corvo, graduada em 9a/b. FA (first ascent) do Val (Valdesir Machado). E depois também encadenada pelo Alessandro Haiduke e pelo Élcio Muliki. Deixamos um pouco a famigerada Highway to Hell de lado um pouco.

Contudo, depois de alguns meses de conquistas, já estávamos com uma quantidade grande vias por Piraí do Sul, aproximadamente 70; muitas fissuras de 7º e 8º graus, e tivemos de voltar ao antigo problema: a Highway to Hell. Pela experiência adquirida nos últimos meses, parecia que a poderíamos encadenar. Lá se foram finais de semana, lá se foram as pontas dos dedos, e por último, foi também embora a nossa autoestima... Por mais que ensaiássemos os movimentos, ela sempre nos guardava alguma surpresa. No auge da disputa o Alessandro e o Val pareciam mais próximos do FA, mas os primeiros metros da via são extenuantes, e parar para colocar as peças é muito desgastante. Sem falar no psicológico, pois são raros os pontos de proteger e nem sempre 100% confiáveis. O desafio está lá, possível 9c móvel, “de responsa”, podendo ser a via trad mais dura do Brasil! Estamos treinando para poder ultrapassar este limite.

Piraí é isso aí! Vias lindas, insetos nervosos. Já fui picado por abelhas, marimbondos, vespas e até escorpião. Mas sempre digo que vale o sofrimento. As linhas são incríveis e o potencial é gigantesco. Tem muita pedra em volta e os fazendeiros são bem receptivos. O Seu Adão, que é proprietário do Morro do Corpo Seco, cobra R$5,00 por pessoa por dia para escalar e pede para assinar um termo de responsabilidade e não mexer com as abelhas. Isso acho que ninguém vai fazer, não é?

Mais informações (como chegar, croqui) no site: conquistamontanhismo.com.br


Edemilson Padilha
www.conquistamontanhismo.com.br