O mais jovem sul-americano a completar os 7 Cumes
Carlos Santalena
23 de janeiro de 2014 - 9:30
 
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  • Foto: Carlos Santalena
    Desembarcando do avi�o russo "Ilusion" no Union Glacier, Ant�rtida. Foto: Carlos Santalena
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    O interior do avi�o russo "Ilusion"." Foto: Carlos Santalena
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    A bela estrututa do Union Glacier, de onde partem a maioria das expedi��es na Ant�rtida." Foto: Carlos Santalena
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    Voando em um pequeno avi�o do Union Glacier para o acampamento base do Vinson." Foto: Carlos Santalena
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    O BC (Acampamento Base) com o Vinson ao fundo." Foto: Carlos Santalena
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    Primeira caminhada de aclimata��o." Foto: Carlos Santalena
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    O maci�o Vinson. " Foto: Carlos Santalena
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    Os dias de espera no acampamento base. " Foto: Carlos Santalena
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    No Acampamento 2 do Vinson." Foto: Carlos Santalena
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    Essa � a vista do banheiro. " Foto: Carlos Santalena
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    Dia de ataque ao cume..." Foto: Carlos Santalena
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    Dia de ataque ao cume... " Foto: Carlos Santalena
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    Dia de ataque ao cume... " Foto: Carlos Santalena
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    �ltima parte da escalada. " Foto: Carlos Santalena
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    Na �ltima aresta pr�ximo ao cume." Foto: Carlos Santalena
  • Foto: Todd Passey
    Aresta do cume. " Foto: Todd Passey
  • Foto: Jerome
    Aresta final do cume. " Foto: Jerome
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    Finalmente no Cume. Finalizando o Projeto 7 Cumes. " Foto: Carlos Santalena
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Desembarcando do avi�o russo "Ilusion" no Union Glacier, Ant�rtida. Foto: Carlos Santalena

 

“Dia 2 de dezembro de 2013, hoje comecei a viagem que pretende me levar para completar o projeto dos 7 cumes (escalada da maior montanha de cada continente), que foquei como objetivo nos últimos 2 anos e meio.
Sai de Guarulhos as 7h, fui a Santiago do Chile, fiz escala em Puerto Mont, até chegar à Punta Arenas às 18h30, horário local, desta vez viajo só. Nestas condições, temos que aprender a lidar com o silêncio.
Ficar em silêncio, não ter conhecidos por perto, não ter pessoas amadas por perto e ainda estar em um país desconhecido, buscando ir para um dos lugares mais inóspitos do planeta, faz com que eu tenha de enfrentar sozinho todos os meus pensamentos, julgamentos e angústias.
O investimento foi altíssimo em todos os sentidos: financeiro, temporal, energético e de pensamentos, por isso acredito no sucesso da expedição, mas sempre mantendo a mente serena, aceitando qualquer resultado que minhas ações gerarem nesta empreitada. A única certeza é que certamente terei inúmeros momentos felizes na montanha, momentos estes que hoje caracterizam o ser humano que sou”


De Punta Arenas, pegamos o enorme avião Russo chamado Ilusion e sua tripulação, para um voo de 4h30 que nos levou ao Union Glacier (Grande base para turistas diversos, com enorme infraestrutura), este lugar é escolhido pela excelente área e condição climática para pouso, dali saem voos e carros para o polo sul, para o campo base do Vinson, para montanhas virgens, para quem vai esquiar na Antarctica e até mesmo para pesquisadores. É possível ver figuras bizarras e pitorescas que pagam milhões para apenas sobrevoar aquele ambiente, colocar nomes em montanhas virgens ou até mesmo chegar de carro ao polo sul, este último nem sequer eu imaginava ser possível.


“Pousar no continente gelado a bordo do Ilusion é uma sensação indescritível, frio, vento, horizontes infinitos e a coloração da terra e do céu, fazem deste um momento ímpar na vida de qualquer aventureiro ou amante da natureza. Sabendo que ali residiu uma série de historias de sobrevivência e conquistas dos maiores desbravadores de nosso planeta, traz ainda mais emoção a viagem, porém meu objetivo estava claro, queria logo chegar ao campo base do Maciço Vinson e com o tempo desfrutar da escalada.”

Do Union Glacier, no mesmo dia pegamos um avião menor, com capacidade máxima de 10 pessoas, e tivemos mais 40min de um alucinante e belíssimo voo que nos levou ao campo base. Além da beleza singular, o que mais me chamou atenção inicialmente foi a estrutura e organização logística da empresa americana contratada - ALE, a qual fui muito grato.

Como chegamos à data prevista no campo base, lá ficamos durante o todo o dia - 06/12, desfrutamos da boa estrutura com água quente, excelentes barracas e organizados espaços para higiene pessoal, existia um buraco para xixi e a sacola de dejetos para parte sólida, o melhor de tudo era a privilegiada visão panorâmica do banheiro.


“No dia 7 de dezembro de 2013, partimos para nosso primeiro dia de caminhada, saímos da base às 13h50, caminhamos sobre o enorme glaciar sem muita inclinação. O dia de atividade durou 5h e carregamos uma média de 35kg de equipamentos divididos entre o trenó e a mochila, ao chegar no campo 1 armamos as barracas, comemos brevemente e descansamos. A parte de dormir era complicada uma vez que a claridade é muito forte e por isso devemos sempre proteger os olhos com vendas para favorecer o entendimento do organismo sobre as fases do dia e da noite”

O dia 8 amanheceu e como de costume na região, contatamos os Rangers locais para atualizar a previsão de clima, desta vez a previsão veio muito ruim, com ventos de no mínimo de 70 km/h e dias nublados até o dia 12/12, ou seja, teríamos pelo menos 4 dias inteiros de espera no C1 para poder progredir ao C2 e enfim tentar o cume.

É neste momento que começa a ansiedade e o receio de perder a oportunidade de escalar por motivos climáticos, o segredo eu havia aprendido no Aconcágua, com paciência e tempo, boa análise meteorológica e pensamento positivo, sempre dará certo.

Passaram-se assim as 4 noites e 5 dias, muitas caminhadas, jogos diversos, leituras, escritas, sonhos, risadas, meditações, alongamentos, telefonemas (satelital), tensões, ventos fortes, confinamentos, frio, sol, festa, comida, invenções gastronômicas, fotos, piadas, besteiras, expectativas, grandes emoções, pensamentos diversos, entre milhões de outras coisas que fazemos quando descobrimos que não há nada para fazer durante o mal tempo.

Finalmente dia 11/12 chegou e soubemos que no dia seguinte poderíamos tentar subir ao C2 e de lá fazer a tentativa de ascensão ao topo nos dias 13 e 14 de dezembro.

“A escalada ao C2 pretendia ser a parte mais difícil da montanha, já que não utilizaríamos trenós, fazendo com que o peso da mochila ficasse maior, já que o peso do trenó passa para mochila. O dia ao C2 durou 5h15 e cheguei aqui com meu parceiro italiano às 19h45, subimos as cordas fixas, que é a parte mais íngreme da escalada e me sinto muito bem, o clima esta melhor e o otimismo sobe.”
Já que a previsão de tempo era igual para os dias 13 e 14, a decisão foi ficar aclimatando ainda mais no C2 durante o dia 13 e seguir ao cume no dia 14, nisso passamos o dia 13, contemplando a belíssima paisagem até que o meio-dia, o tempo mudou e começou a bater o arrependimento sobre a decisão tomada. O dia 14 amanheceu obscuro, estava pronto para sair, mas posterguei 1h em sair, já que podia enxergar as nuvens sendo levadas para longe, querendo aparecer o horizonte, dando pequenos sinais de melhora. Os ventos estavam medianos em torno de 40km/h de rajadas e assim iniciamos o ataque ao cume, com a incerteza completa do sucesso, um dia frio nos esperava.
“Após uma longa hidratação pela manhã, as 9h da manhã partimos e não estava muito otimista, já que ventava e havia nuvens pesadas no céu, indo contra as boas previsões de clima.
A primeira hora de caminha, pela grande massa de nuvens existente, teve a temperatura mais altas e abafadas do que eu imaginava e errei a roupagem que me fazia transpirar demais, meus óculos embaçavam, tinha calor no peito, pernas, rosto mas os ventos continuavam acelerando.
Da terceira hora em diante começaram os ventos fortes e quase chegando ao cume, o mal tempo foi divinamente soprado. No cume estava muito frio e ventoso, ficamos 15min, tiramos fotos e contemplamos o horizonte que se abriu, onde o céu e a terra parecem se confundir. As visões e sensações são indescritíveis em palavras.”

Durante a descida os ventos continuaram fortes, mas seguimos contemplando o visual. Chegamos ao C2, passamos a noite em descanso e no dia seguinte mais uma vez saímos com fortes ventos que se mantiveram até entrarmos nas cordas fixas que já estão mais abrigadas, dali para baixo tardamos 5h para atingir o campo base no retorno, onde comemoramos com cerveja, chá, água e vinho chileno. No dia seguinte de nossa descida o clima foi melhorando gradativamente e após duas noites, no dia 17/12, voamos de volta ao Union Glacier, onde paramos apenas alguns minutos até sermos levados até o Illusion que nos colocaria de volta a Punta Arenas, exatamente onde tudo começou.

“Depois de uma expedição feliz e bem sucedida como essa, nos sentimos leves. Para mim particularmente foi um momento histórico, poder ter escalado todos os 7 cumes foi uma grande realização e ser tão jovem podendo desfrutar de rica saúde para caminhar nas montanhas foi um enorme prazer. As experiências vividas e lições deixadas foram tantas que ainda nem posso mensurar, mas certamente de todas as lições as que vem em mente agora são:

1- As decisões devem ser tomadas com base apenas em si próprio, ouvir o próprio coração, ouvir os instintos.
2- Viver sempre o presente, faz a vida e as expedições ficarem mais simples e leve.
3- Duas palavras que vem da legião estrangeira mas aprendi em contato com Canellas: “Força e Honra”


Gostaria de terminar com um agradecimento aos familiares e amigos que apoiaram sempre com pensamentos positivos. À Grade6, Dardak Jeans, Noblu e Instituto Harmonia pelo apoio e patrocínio durante a trajetória.

 

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