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Eric Welterlin, muito mais do que ser "O Francês"
 

por: Nelson Barretta
23 de junho de 2020 - 08:51

 
Nelson Barretta, Luiz Capovila, Karine Angelini, Zolino, Rafael Campos. Parte da equipe em reunião aos pés do Maciço dos Marins. - Foto:
 

A morte de Eric Welterlin se distingue de outros casos de desaparecimento de pessoas em montanhas por que ainda guarda segredos e mistérios, mesmo após dois anos do acontecido. O fato não deixou dúvidas sobre o óbito que fora a consequência final das limitações do corpo humano submetido à condições extremas, de exaustão e perda de calor.

Mas, qual o caminho geográfico e de decisões percorridos pelo atleta amador de nacionalidade francesa que o levaram ao encontro do seu destino final no fundo de um dos vales mais bonitos e selvagens da Serra da Mantiqueira?

Em maio de 2018 Eric levou sua esposa, a brasileira Claudia Welterlin, ao aeroporto de Pouso Alegre (MG), se despediu na promessa de manter contato e seguiu com seu carro para a região do Pico dos Marins (SP) para um treino de corrida em montanhas. E desapareceu!

Entre as últimas informações de vida e o momento do encontro do corpo passaram-se 18 dias sem vestígios ou sinais claros de onde Eric poderia estar. Nesse período houve o envolvimento de aproximadamente 400 pessoas entre bombeiros, policiais civis, policiais ambientais, especialistas do Comando de Operações Especiais, a unidade de São José dos Campos do grupo Suçuarana de apoio a situações adversas e montanhistas independentes. Todos empenhados na procura do Eric.

Ao total foram 18 dias, mais de 2 semanas que equivalem a 432 horas. Uma referência de tempo suficiente para tudo poder acontecer com a vida de alguém perdido em local afastado e sem recursos para se manter vivo. Além do tempo passado, há sim uma centena de informações relevantes que foram utilizadas nas buscas como horários, tipo de transporte utilizado até o início do percurso à pé, recursos na mochila, percurso escolhido, objetivo do treino, plano de emergência, experiência prévia na prática desse esporte, conhecimento da região escolhida para o treino e..., tudo isso já fora explorado.

     
Aproximação da equipe do Portal Extremos na Serra da Mantiqueira  
Atraente paisagem sob o Pico dos Marins.
 

Foi muito noticiado à época do desaparecimento do Eric que era quase um desconhecido no meio esportivo. De jornais impressos, passando por mídias virtuais e alcançando menções em telejornais, a notícia que tratava do mistério do desaparecimento era apresentada como forma de alimentar a curiosidade do espectador enquanto os órgãos dedicados à busca e resgate junto com montanhistas se preocupavam em prover ajuda.

Em proporção maior à quantidade de pessoas que imprimiam esforços para buscá-lo e salvá-lo, havia ao mesmo tempo o julgamento impiedoso de internautas de diferentes grupos virtuais que acusavam erros e falhas, mesmo sem sequer saberem de nada além do nome do atleta. Eu mesmo tinha opiniões que foram guardadas até hoje, razão pela qual ainda me debruço sobre o assunto.

Eric era mais do que ouvi nas mídias sociais e os fatos estavam além de palpites virtuais que passaram longe de qualquer acerto sobre ele ou sobre o que pode ter acontecido.

Desde então daqueles dias do desaparecimento, pessoas que dividem o mesmo gosto pelo esporte adotado pelo Eric até hoje se questionam sobre o que poderia ter acontecido. Questionamentos intensos, deixam a impressão de que as pessoas se propõem a se colocar em seu lugar na busca dessas respostas.

Quais experiências foram as últimas que o Eric teve? Que pensamentos teve ante situação tão extrema? Quais peças desse mistério estão faltando e onde estarão as peças desse quebra-cabeças que nos ajudariam a entender os fatos? Poderemos aprender com a história do Eric e evitar situações fatais?

Praticamente, do passado, não há mais para se falar.

O que ficou após a passagem do Eric

Do nome, nacionalidade, ocupação, relacionamento, possibilidades conjeturas... tudo foi exaustivamente noticiado pela imprensa que costuma extrair até a última informação como se extrai caldo da cana em uma máquina trituradora.

Após o período de buscas e após a exploração dos fatos noticiados, ficara então um respeito pela história, admiração por parte das pessoas que não puderam se despedir do Eric e um amor único pela parceira de vida que não era adepta de corridas e ainda assim o apoiava na prática do esporte.

Do ciclo da vida, nossa passagem é considerada o fim. É uma questão material e há também muita simbologia nisso.

 
Detalhe de uma das muitas cristas na parte baixa do Macico dos Marins. No fundo de cada vale não há sinal para telefones celulares.
 

Me pergunto como pode o nome dele ainda ecoar em questões sem respostas por diferentes pessoas que não tinham nenhuma ligação com o caso. Não há ainda uma resposta mas há claramente um pensamento comum a diferentes pessoas, como uma onda crescente.

Minha impressão é de que alimentar o assunto tem um quê de morbidez e poderia até mesmo ser desrespeitoso.

O que vem agora

No entanto, à convite de um atleta referência nos esportes de montanha, parei para ouvir sobre esse movimento crescente e saber mais. Zolino, atleta e criador de provas de aventura, propôs resgatar o assunto e transformá-lo em um documentário para televisão e um dos objetivos é gerar conscientização. Algo sobre como melhor se comportar nesses ambientes de forma a aumentar seu prazer e segurança.

Com isso foi feita uma primeira investida ao local visando buscar respostas e já captar imagens para qual também fui convidado.

É certo que há elementos suficientes para se produzir um filme, desde que respostas sejam encontradas. E do Zolino podemos esperar projetos inéditos como por exemplo, um filme que traga informações.

Também é costume do Zolino reunir pessoas de boas energias com bons propósitos. E lá estavam todos no local dos fatos, reunidos em função de um filme.

Atletas, filmmakers, resgatistas, médicos, operadores de drones, fotógrafos, organizadores... e todos com mais de uma especialidade. Nomes e profissionais de relevância do esporte.

Me perguntei onde eu estava que não vi de onde saiu tão rápido tanta gente gabaritada. Bem, provavelmente eu estava na Antártica, isolado, como de costume, enquanto, já em 2019 o projeto estava sendo elaborado.

Assumo a admiração que tenho desde outros tempos pelas pessoas ali reunidas mas, ainda assim, rondava nos meus pensamentos um tom de morbidez ao querer retomar o assunto, os caminhos, as percepções e até mesmo refazer o trajeto que um dia levou alguém à morte.

Quem procura, acha ! E ainda não sabia dizer se algumas perguntas devem ser respondidas ou respostas devem ser encontradas.

Começando a captação de imagens

Indo direto ao ponto, para saber mais e eliminar algumas perguntas sem respostas, a proposta de um filme teria que ser rodada exatamente no local onde tudo aconteceu. Ali mesmo onde estávamos, em um misto de acampamento bem estruturado com set de filmagens, encontrei a pessoa mais importante dessa retomada de assunto e quem foi que exterminou minhas impressões negativas sobre retomar o assunto. Claudia Welterlin.

Pelo sobrenome logo se descobre quem é. Para mim, a pessoa mais importante na conexão com o Eric.

Claro, agora envolvido no assunto, passei a ouvir cuidadosamente a impressão de mais pessoas e me interessei nesse momento em ir a fundo. Me propus a conversar com a Cláudia que estava ali no set se preparando para ser entrevistada pela Karine.

Karine Angelini faz parte do projeto. Atleta, diretora da empresa C4 Filmes, admiradora de tudo de bom e também do que é ruim da Serra da Mantiqueira, praticamente mora aos pés do pico dos Marins. Mas o motivo que trouxe a Karine para esse encontro foi outro diferente de sua condição de atleta ou diretora de filmes. Considerada hoje uma resgatista voluntária empenhada em ajudar pessoas, teve uma participação diferenciada nas buscas pelo Eric o que a colocou reconhecidamente como uma das pessoas mais sensíveis à situação e também com mais conhecimento dos fatos.

Karine estava à vontade. Já eu, abordei com cautela esse primeiro contato com a Claudia. E nem por isso Claudia hesitou em ir direto ao assunto e logo tratou de me colocar no meu lugar. Pegou minha pergunta mais delicada e respondeu com olhar firme que achei até que o vidro da lente da câmera tinha derretido. Ali mesmo deixou claro que toda a situação está permeada de amor.

Atentamente ouvi a parceira do Eric. Recebi o recado. Indo além... me pareceu prudente não querer ir em contra o poder do amor por ela expressado.

 
Luiz Capovila, Karine Angelini, Zolino, Nelson Barretta, Rafael Campos.
 

Sem usar as palavras da Claudia mas apresentando meu entendimento, ficou claro que Eric amava o esporte que praticava, ela ama o Eric bem como o que o ele fazia e que os sentimentos pela Serra da Mantiqueira ou Pico dos Marins estão todos relacionados aos respeito e amor. Não há mágoas e não haveria razão de não se procurar por respostas mais precisas sobre os momentos finais da caminhada do Eric.

Uma única resposta da Claudia serviu de pronto para me deixar sem palavras e também eliminar ali mesmo minha percepção de que rever os fatos poderia ser mórbido ou desrespeitoso.

De certo, Zolino já tinha percebido muito mais sobre essas questões daquela situação do que eu que muitas vezes me vejo limitado às questões de sobrevivência, buscas e resgates.

Me sinto um tosco, novamente assumo algo. Mas entendo que se tem um ingrediente indispensável para se aventurar na realização de um filme, esse é o amor. Um filme, demanda energia, recursos, parcerias e vontade que de certo vão se encontrar com muitas dificuldades e o amor entre os protagonistas é imprescindível para que algo se realize.

Tudo agora tinha mais sentido inclusive saber que Rafael Campos faz parte do projeto de um filme. Um dos melhores atletas desse segmento esportivo, senão o melhor, estrategista e diretor de provas esportivas, fareja os melhores caminhos em locais naturais onde praticamente não há caminhos. E é rápido.

Como em uma produção, todos os momentos dessa investida foram otimizados na captação de imagens e informações para o projeto. Assim, intercalamos dia de entrevistas com dia de ir à montanha em busca de informações que pudessem esclarecer detalhes da parte dessa história que permaneceu com o Eric.

A primeira repetição

Após as entrevistas do primeiro dia, o grupo Zolino, Rafael Campos, Karine Angelini e eu fomos montanha acima seguir os mesmos passos do Eric. Esse dia da primeira tentativa de repetição contava com as mesmas características climáticas do dia em que o Eric fora treinar o que contribuiu muito para o entendimento do que poderia ter sucedido naquele maio de 2018.

Com características típicas da região, independente da época do ano, havia neblina, temperatura baixa e chuva leve que contribuíram para reproduzir em um filme as condições mais próximas para quem tem como objetivo oferecer informações à turistas, caminhantes, atletas e frequentadores da Serra da Mantiqueira que crescem cada vez mais.

Não há um censo que enumere os frequentadores do local mas pelas declarações de pessoas locais, pelas observações de turistas ali habituais e pela quantidade de notícias de pessoas perdidas na região, é conclusivo que há um crescimento anual na quantidade de visitantes.

Mesmo acompanhando Rafael Campos por trilhas não existentes, é sabido que situações limites antes experimentadas, dificilmente podem ser repetidas, avaliadas ou julgadas. E seguimos.

Levamos na mochila informações adicionais aos que o Eric provavelmente tinha e também nos consideramos bem abastecidos para permanecer em campo por tempo indefinido. Ao contrário do Eric, nossa condição de segurança podia ser considerada maior e suficiente para atender outro tipo de abordagem, diferente do dele. Uma incursão com o propósito de experimentar sensações e observar detalhes.

Câmeras específicas para captação de imagens em alta qualidade compunham nosso kit de equipamentos, tanto para essa parte da equipe quanto para a parte da equipe que se encarregou de trabalhar na parte baixa da Serra da Mantiqueira procurando por possibilidades de um caminho inverso ao que se supõe que o Eric fez.

O operador de drone Felipe Moreno da OnSolve, o filmmaker Marcelo Machado e o engenheiro de comunicações Luiz Capovila da Eqpa, experientes profissionais em situações de trabalho extremas como as apresentadas pela natureza naquele dia, tinham à disposição um segundo ponto de vista, de baixo para cima, o que poderia muito contribuir para juntar as peças desse quebra-cabeças.

Como eu, o leitor pode ser perder em meio a nomes e para situar quem são os integrantes da equipe, permita-me a dica e ‘dá um Google’ nos nomes dessa gente. Estimo que dois ou três cliques sejam suficientes para o internauta se impressionar como eu fiquei assim impressionado.

De certo, além das pessoas do grupo dessa primeira tentativa há outras pessoas interessadas em contribuir para um filme documento que sirva de referência para futuros visitantes e que conhecem bem a região. Márcio Bortolusso não estava no grupo mas é fonte de consultas do projeto.

Bortolusso tem relação íntima com o lugar desde que era morador na cidade de Lorena que fica distante menos de 30 km de onde tudo aconteceu. De íntimo do local que é, silenciosamente, durante suas caminhadas, repara em detalhes das rochas e trata de reconhecer formatos em cada uma para usar posteriormente como referências geográficas em suas caminhadas. Uma técnica pode-se dizer de pessoas experientes.

Com experiências de exploração em locais não mapeados presencialmente, abriu novas rotas de conhecimentos em locais como Patagônia, durante o acompanhamento que fazia junto à atletas em corridas de montanha.

“Lá [nos Marins] é uma rasgação, só.” – assim começou a descrição do lugar do seu áudio de mais de 30 minutos de duração. Gostei do termo. Não sei exato o significado da palavra rasgação mas, estimando que possa ser rasgação da sua pele ou das suas vestes, dediquei o tempo ao longo áudio para ouvir as informações do Bortolusso à ter que procurar o significado em algum dicionário virtual.

Bortolusso se lembra a data de suas explorações iniciais daqueles fundos de vales. Pelo maciço começou a circular no início dos anos 90 e nesses vales mais profundos registrou em uma publicação impressa de junho de 2001 uma matéria sobre a exploração. Mas o que mais se lembra são de cada um dos passos conquistados. Diz que é um lugar para ir quando se é livre e concorda que, ao mesmo tempo, o lugar é repleto de riscos para a integridade física e psicológica de um visitante pego de surpresa pelo inesperado, o que entendo que pode te aprisionar em um futuro incerto.

Márcio menciona que suas explorações aconteceram muitas vezes em solitário com todo planejamento feito para visitar um ambiente natural nesse estilo e por isso alerta que não se deve nem pensar em fazer isso. Ele entende que o direito de escolha em se aventurar em solitário, é decisão de cada pessoa. No entanto, ele acha que isso pode ser feito quando há preparo.

Rápido, ponderado, preparado e ciente das limitações que um estilo solitário oferece, ele diz que aquele fundo de vale o fez desistir de seguir a exploração como nunca antes desistira de nenhuma outra incursão.

“Riscos assumidos, às vezes, saem do controle, e aí você tem que lutar com os recursos que você tem.” – complementa suas declarações como quem sabe sobre o que está falando.

Não quis se referir aos fatos ocorridos com o Eric sabendo que não há julgamentos a se fazer e mencionou apenas que, ante as dificuldades que ele mesmo Márcio passou de perto naqueles vales, pode concluir que a luta pela vida deve ter sido exigente demais como ele. “O organismo sim, sucumbiu à tantos maltratos.”

Conversar com Márcio Bortolusso e ouvir seus longos áudios me serviram como referências consistentes tanto quanto estar no mesmo lugar onde tudo aconteceu. Parecia que estava acontecendo, inclusive. E me deixou a certeza de que Eric vive na parte boa da memórias da família, dos amigos e de muitas pessoas que não o conheceram mas ouviram sua história pela televisão.

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Monitoramento em tempo real

Luiz Antônio Gambá se autodenomina um mateiro mas foi justo um mateiro que permaneceu na metrópole monitorando nossos passos a partir do escritório do Adventure Camp. Eu entendo a humildade de um mateiro bem como a grande capacidade que esse tipo de pessoa tem para conversar com a natureza de ambientes selvagens. Neste caso, além dessa habilidade, Gambá é hoje procurado por atletas, aventureiros, Forças Auxiliares, diretores de prova que estão em busca de um especialista em mapas e imagens de satélite para seus propósitos.

Profissional alinhado com os propósitos da sociedade, eu me senti bem confortável em saber que ele olhava por mim. Por nós, digo.

Um geo localizador da Spot para cada parte da equipe permitia ao Gambá saber de nossas posições em tempo real. Nós estávamos lá, por cima e por baixo, vendo o que o Gambá não poderia ver ou sentir. Mas ele tinha uma leitura do ponto de vista de satélites e poderia nos alertar sobre estarmos indo de encontro a algum obstáculo natural de maior preocupação e também identificar problemas pela nossa velocidade de movimentação.

Não chegamos perto nem dessa e nem daquela situação mas fomos avisados via rádio sobre a aproximação de um sistema de nuvens que estava já descarregando boa quantidade de água e que vinha em nossa direção.

Isso ficou registrado pelas câmeras e um grande sentido de estarmos ali se consolidou de vez por todas quando pude visualizar em assistir a um filme que me mostrasse o quanto tudo aquilo é bonito, o quanto uma experiência daquelas é exaustiva e quantas possibilidades as pessoas podem ter para se preparar bem para uma simples caminhada em meio à natureza pura ou para um treino atlético como o Eric estava fazendo.

Produzir um filme é necessário.

Outra informação preciosa para o trabalho e segurança foi um arquivo de registro de cada passo dado pelo Eric durante seu treino e que fora recuperado de seu relógio pelo também atleta Paulo Eduardo. Conhecido como Paulinho da Moove, na época do desaparecimento se deslocou de Santa Catarina até o Pico dos Marins para ser mais uma das 100 dedicadas pessoas em busca do Eric.

Ainda em 2018, logo após as buscas e resgate do corpo do Eric, foi em um evento esportivo realizado na cidade de São Bento do Sapucaí que Paulinho me contou a história de seu envolvimento no caso, com detalhes desses que cabem bem em um filme sobre o assunto.

Devido à parceria com o perito de uma das Forças Auxiliares que atuaram no resgate e com a autorização da Claudia Welterlin, Paulinho conseguiu extrair para o computador do próprio Eric os dados completos que estavam armazenados no relógio que estava em seu pulso quando ele foi encontrado. Bem, dados completos, aqui diga-se, até o que o relógio pode armazenar antes de acabar a energia da bateria ainda no meio da aventura.

Parte do mistério e dúvidas começaram na recuperação desses dados. Não eram dados públicos mas as configurações de uso dos equipamentos eletrônicos do Eric fizeram com que os dados fossem automaticamente disponibilizados na rede no momento em que foram recuperados. Do pouco que se sabe, muito foi descoberto virtualmente neste dia.

No local, em complemento aos dados virtuais, outros detalhes daqueles dias de treino ficaram expostos aos nossos olhos quando percorremos pela primeira vez o caminho indicado pelo trajeto arquivado no relógio de pulso do Eric. Também foram desvendados segredos que só na naquela natureza abundante podem ser encontrados, como por exemplo a beleza nunca antes registrada em vídeo daquele lugar.

Tudo resultou em um misto de emoção e medo que foram registrados juntos com esses segredos nas primeiras captações de imagens para o filme.

Próximo ao fim desse primeiro dia de investida eu me vi bem acompanhado mas totalmente fragilizado pela pressão daquela natureza. Nesse ponto, nós quatro estávamos em um fundo de vale, perdendo a luz do dia junto com calor do corpo.

Estávamos em uma zona conhecida como zona de sombra que é quando os sinais de telefone, satélite e rádio ficam debilitados devido a geografia desfavorável e justo aí foi quando senti vontade de me comunicar com o mundo.

Talvez, essa percepção tenha passado pela mente do Eric. Se comunicar para dividir a situação que ele estava, seja por receio, seja por prazer. Não deu para saber tudo sobre o que o Eric passou mas certamente imagens em movimento de um filme poderão dizer muito mais do que esse texto.

Essa primeira investida gerou muito conhecimento sobre o assunto e fica claro que há muito para se contar. Arrisco dizer que mesmo o assunto sendo amplo, caberia em um texto mas certamente ficará melhor se transformado em um filme. Justamente o que está sendo produzido.

Pelo Zolino entendi que o projeto iniciado o ano passado tinha prazo previsto para terminar até mesmo em 2020 mas, como estamos vivendo um período de restrições, o cronograma foi alterado em prol da segurança de todos até que se encontre uma forma segura de todos retornarem as atividades.

Seguimos aguardando o momento mais seguro para que retomem as atividades e um dia tenhamos um filme com aqueles ingredientes que só as montanhas da Mantiqueira podem guardar.

 

 
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