Noronha 13 pés
Foram 3 anos de planejamento, estudo e dedicação para realizar a missão. Só para a construção e adaptação do barco para águas oceânicas foram 8 meses - originalmente uma embarcação desse tipo é utilizada para passeios em águas mais tranquilas, como de represas e baías.
Foi depois de muita conversa com Beto Pandiani, velejador referência na área de catamarãs sem
cabine, que Antônio Pedro da Costa Filho da Tom & Cat, empresa especializada em fabricação de veleiros, foi o escolhido para a construção do barco, e assim o sonho começou a sair do papel.
Em janeiro de 2018, a expedição conseguiu realizar, com um veleiro tipo catamarã de 13 pés (equivalente a 4 metros de comprimento), sem motor e sem cabine, as travessias de ida e volta do continente até Fernando de Noronha. O veleiro Andorinha, apelidado carinhosamente em homenagem à pequenina ave marinha, saiu de Praia Bela, na Paraíba e desembarcou em Maxaranguape, no Rio Grande do Norte.
Uma travessia desse porte não poderia deixar de ter desafios, como as questões com o mastro e a perda de parte da bagagem: "Tivemos alguns problemas com o estaiamento (cabos que seguram o mastro). A primeira e a segunda vez que eles arrebentaram, o mastro quase veio abaixo. Ele começou a cair e eu tive de segurar pra impedir, enquanto o Nicola fazia os reparos. Para completar, na manhã do terceiro dia de viagem, percebemos que a bolsa do Nicola com todas as roupas e equipamentos pessoais havia caído no mar durante a noite. Nela estavam também a farmácia principal da expedição e o rádio VHF, o que foi um golpe duro para nós, pois dificultou nossa comunicação", comenta Felipe.
Para compensar os problemas, a viagem foi presenteada com momentos únicos para os dois velejadores, como a visita de um agulhão-bandeira, um dos peixes mais cobiçados na pesca oceânica (foto abaixo), e a vista do Morro do Pico, o ponto mais alto de Fernando de Noronha, logo nas primeiras horas da manhã do sexto dia. Imagens que ficarão para sempre na memória.
O mar
Estar em alto-mar não é nenhuma novidade para o velejador Nicola Miniglia. Nascido na Ilha de Tortola, em pleno Caribe, passou seus primeiros 2 anos de vida em um veleiro navegando com os pais, também apaixonados por aventura. Um sentimento que foi rapidamente passado ao filho mais velho do casal. "Aos 2 anos de idade mudamos para Franca, no interior de São Paulo. Fomos para um sítio da família do meu pai, onde produzíamos tudo o que comíamos. Mesmo ali, a tantos quilômetros da costa, ouvi histórias do mar durante toda a minha infância", comenta Nicola.
Foi em Franca que Nicola conheceu Felipe, fotógrafo e documentarista que já fotografou Fernando de Noronha em outras oportunidades. Os dois fizeram diversas viagens juntos, entre elas a Expedição Caribe, que saiu da Flórida, EUA, e foi até as Ilhas Virgens Britânicas, e várias expedições pela costa brasileira a bordo do Endurance, um veleiro de alumínio com 62 pés (20 metros), construído sob o mesmo projeto de casco do Parati II, do velejador Amyr Klink.
Felipe Ludovice
É fotógrafo, videomaker e produtor de documentários, realiza diversos trabalhos nas áreas comercial e musical. Realizou um ensaio, ainda inédito, em Fernando de Noronha, chamado "Além da Superfície", que coloca o fundo do mar como cenário para reflexões acerca do universo interno pessoal. Velejador há 5 anos, já fez a travessia do canal do golfo cinco vezes além da Expedição Caribe, que saiu de Fort Lauderdale, na Flórida e chegou em Tortola, na Ilhas Virgens Britânicas. Velejou grande parte da costa Brasileira a bordo do veleiro Endurance.
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Nicola Maniglia
Nicola nasceu na ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, e morou até os 2 anos a bordo de um veleiro durante os anos que seus pais viveram no barco. Fez a costa brasileira a bordo do seu 23 pés, saindo de Paraty e chegando até Natal. Também participou da Expedição Caribe e capitaneou o Endurance na costa brasileira. É empresário e autor do livro "Eu à vela" (2017, Fontele Publicações).
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