Extremos
 
COLUNISTA PAULO SACZUK JR.
 
Rafting & Kayak pelas águas do Rio Ribeira
 
texto: Paulo Saczuk Jr.
8 de maio de 2018 - 07:55
 
Tiago Lugarini - Refluxo da Cemitério. Foto: Mauro Posso
 
  Fernanda Abra  

No vasto mundo dos esportes radicais, podemos dizer que poucos deles são tão acessíveis as pessoas que não praticam estas modalidades esportivas, como o Rafting. Este fabuloso esporte proporciona, uma pratica segura de ecoturismo, que consiste em descer as corredeiras de um rio, em um bote inflável, conduzido por um guia com treinamento e capacitação para levar os que desejam aventura-se em uma modalidade esportiva, de muita emoção e adrenalina. Cercado de muita aventura e emoção, este esporte cresce a cada dia no Brasil, nas mais diversas regiões do país, proporcionando as pessoas, que buscam sair da rotina estressante do dia a dia, ou simplesmente aventurar-se em um ambiente cheio de emoção a cada remada.

Neste artigo falaremos um pouco sobre o Rafting no trecho expedição do Rio Ribeira, que tem como local de partida a cidade de Cerro Azul, um município brasileiro do estado do Paraná, pertencente ao Vale Do Ribeira. É conhecida como a terra da laranja e da ponkan, pelas inúmeras produções desse gênero de fruta. Fica a 92 quilômetros de Curitiba, capital do estado do Paraná, e conta atualmente com asfalto em todo o percurso da estrada, que liga a Cidade a Rio Branco do Sul (Pr 092).

Cercada de montanhas, seus bairros afastados, dentre os quais Lageado Grande - constituem campo para ótimo lazer ao contato com a natureza. População rural e simples, encontra na agricultura sua principal fonte de renda. Uma de suas maiores atrações é a Festa da Laranja que apresenta ao Estado os produtos produzidos pela agricultura local.

Seus habitantes, tem o privilégio do contato com o Rio Ribeira, rio este que, por sua profundidade encanta todos aqueles que se aventuram nas suas águas conhecidamente perigosas a fim de contemplar o panorama natural que ali se encontra. E é nesta pitoresca cidade, o ponto departida para as descidas no Rio Ribeira.

     
Parada para descanso - Trecho Basico. Foto: Paulo Saczuk Jr   Final do Trecho Basico. Foto: Paulo Saczuk
 

Na operação de Rafting e Kayak em Cerro Azul, destacam-se dois trechos do Rio Ribeira, conhecidos como o trecho Básico, com 10 km de extensão e o trecho Expedição com 27 km de extensão. O local de encontro para ambos os percursos, é a base da empresa Rafting Curitiba, que a anos opera esta atividade na região, contando com toda estrutura local, transporte, apoio e guias especializados.

Para o trecho Expedição do Rio Ribeira, são necessários alguns cuidados a mais, devido a sua longa logística de retorno, ou seja, existe um limite máximo de horário para se entrar no rio ( 10:00 h ), afim de não prejudicar a saída ao final do trajeto, e também número de botes fica restrito a quatro por operação, ou máximo de 30 clientes. A entrada neste percurso se da exatamente onde finaliza-se a saída do trecho Básico, no local conhecido pelos moradores de Cerro Azul como “Mato Preto”. Neste trajeto o Rio conta com corredeiras de nível 3 a 4, e dependendo do nível de chuvas, podem facilmente chegar a nível 5 em alguma delas.

A descida inicia-se com uma instrução completa, no ponto de entrada do rio, onde são passados todos os comandos de navegação aos participantes, técnicas de resgate e comportamento nos botes, checagem dos equipamentos e após tudo isso verificado e revisado, são colocados os botes na água para inicio da aventura. Neste percurso além dos botes, a equipe é formada por canoístas de apoio e fotógrafo para registro de todo o percurso.

No início as duas primeiras corredeiras são tranquilas, com um trecho de remanso onde são repassados com pessoal, os comandos de direcionamento dos botes. Logo em seguida vem a primeira de uma série de grandes corredeiras, conhecida como Elmano, que possui dois grandes refluxos na linha da esquerda que podem manter um bote travado devido a força da reversa na água.

     
 

Passado a corredeira do Elmano, vem a frente uma área de remanso e na sequência a este remanso, a segunda corredeira da série, conhecida como Praia Secreta, sendo esta a segunda corredeira mais longa do Expedição, com o início pela linha da direita e após quatro grandes ondas, deve-se mudar a direção para a linha da esquerda, pois a frente pela direta temos um região conhecida como jardim de pedra, onde só é possível passar se o rio estiver em um nível muito alto, devido a quantidade de pedras por esta passagem.

Passando a corredeira Praia secreta, temos a corredeira do Alemão, nome dado em homenagem a Thomas Schörner, instrutor da Whitewater Rescue Technician, grande amigo e parceiro de rio, instrutor responsável pelo treinamento e técnicas de resgate em águas no Brasil. Ele ministra cursos em todo país e no exterior, através de sua empresa, Agua Selvagem Rescue 3.

Seguindo a descida, passamos por mais alguns trechos de pequenas corredeiras, chegando a maior de todo o percurso, a corredeira Rolling Cover, com muitas manobras em direções opostas e com vários refluxos, que a tornam uma das mais técnicas e divertidas do Expedição no Ribeira.

Neste ponto, nos encontramos quase na metade dos 27 km, e é possível ter a sensação de completo isolamento em meio as montanhas e paisagem de muita beleza, desta parte intocada do rio Ribeira. Formam-se prainhas em margens opostas, hora pela direita, hora pela esquerda e por alguns minutos, navegamos tranquilamente até chegarmos na parte onde o Rio afunila totalmente para sua esquerda, formando a corredeira mais espetacular do trajeto, a corredeira Cemitério.

 
Inicio da Corredeira Rolling Cover. Foto: Paulo Saczuk Jr
 

A corredeira do Cemitério é formada por uma grande pressão de água devido a este afunilamento do rio que ocorre logo após um grande poço, como se fosse um reservatório, e sua entrada funcionando como um vertedouro. Ela causa enorme curiosidade em sua primeira descida uma delas claro, em função do nome, nela sempre paramos na margem a direita onde se forma uma ilha com muitas pedras, que promovem este estreitamento do rio, para fazer o Scout ( Observar a linha de uma corredeira ) e escolher o melhor caminho para desce-la. Ela tem uma entrada técnica e rápida, com uma onda muito grande que nos lança para cima com muita força, na sequencia um buraco muito grande capaz de submergir facilmente um bote grande com 8 pessoas, e outra onda maior ainda que a primeira, onde batemos de frente após a passagem neste buraco.

Após passarmos pela corredeira do Cemitério costumamos fazer uma parada de meia hora para descanso e almoço. Retomando a descida passamos na sequência pela corredeira da Figa que tem um forte refluxo a direita de sua linha e possui este nome devido a uma pedra em forma de figa que determina a área deste forte refluxo.

Seguindo passamos pela corredeira do Vento, que possui este devido a sua formação com fortes ondas em sequência que ficam numa espécie de cânion formado pelas árvores que canalizam o vento formando um forte corrente de ar durante as rajadas em dias de clima instável.

Nesta etapa, já estamos com quase 70% do trajeto concluído e chegamos a corredeira do Surf, que possui muitos locais onde as reversas e refluxos, possibilitam posicionar os botes e kayaks literalmente surfar e curtir muito esta parte do Expedição. Vale reforçar que é uma das melhores áreas para fotografia e filmagem das manobras na descida do rio.

     
 

Passando a área do Surf, chegamos uma série de pequenas corredeiras e grandes áreas de remansos, onde é bastante comum os paxs ( termo internacional para os ocupantes ) saírem dos botes e nadarem tranquilamente, inclusive descendo algumas dessas corredeiras no colete, afim de treinar algumas técnicas e posicionamento de natação no rio.

Chegamos então a ultima das grandes corredeiras conhecida como As Criminosas, ela tem este nome, devido a uma lenda de que 3 mulheres haviam cometido crimes nesta região e esconderam-se em uma casa abandona logo abaixo dela. Após sua passagem, é possível avistar esta casa do rio, que possui um visual muito sinistro por sinal, porém quanto a lenda não sabemos se é verdadeira ou não.

Continuando nossa aventura, passando por mais algumas corredeiras menores chegando a uma região do Ribeira conhecida como prainha das Borboletas, que possui este nome devido a enorme variedade e quantidade de borboletas que ficam exclusivamente neste local, e proporcionam um belo espetáculo, costumando se aproximar dos botes e kayaks, de forma muito amistosa. Após a prainha das Borboletas não se formam mais corredeiras, ficando apenas longos remansos até o ponto de saída do rio, na pedra do Morcego, encerrando assim o trajeto Expedição do Rio Ribeira.

Neste ponto saímos da água na localidade conhecida como Rocha, carregamos todo o equipamento no ônibus, e a iniciasse a logística de retorno, por estradas estreitas que possuem longa elevação, saindo do ponto mais baixo do vale do Ribeira, indo ao ponto de maior elevação. Um caminho complicado, porém de muita beleza, mas que requer muita habilidade e conhecimento do motorista para este trajeto. E assim após cerca de pouco mais de uma hora, retornamos a base da Rafting Curitiba, onde encerramos formalmente a nossa aventura.

     
 


Este artigo não visou o registro de uma única descida em especifico, mas sim relatar e mostrar, esta região tão pouco conhecida e de rara beleza selvagem. Espero que ele inspire muitas pessoas a conhecerem o Rio Ribeira, as maravilhas do vale e suas corredeiras, tanto no trecho Básico, como no Expedição. Agradecendo a toda nossa equipe: Hilário Walesko, Fernando Amaral, Mauro Posso, Gianmarco Luiz, Paulo Spinelli, Rafael Gomes, Sid, Tiago Lugarini, Gilmar Contezini, Luiz Henrique, Érico Solano e Guto Merkle.

“A História do Rafting”

A primeira viagem de barco em corredeiras foi registrada em 1869, quando John Wesley Powel organizou a primeira expedição no Rio Colorado, nos Estados Unidos. Os aventureiros não tinham técnicas para manobrar os barcos nas corredeiras e tiveram problemas de capotamentos e choques em pedras.

A história moderna do rafting teve início em 1842, quando Lieutenant John Fremont, do exército, fez suas primeiras expedições utilizando um barco desenhado por Horace H. Day. O barco possuía quatro compartimentos separados. O nome desse bote era Air Army Boats.

 
Corredeira Criminosas. Foto: Paulo Saczuk Jr
 

Em 1986, Nataniel Galloway revolucionou as técnicas de rafting mudando a direção do assento do bote, que passou a ficar virado para frente possibilitando encarar de frente as corredeiras e facilitando as manobras.

Durante as duas grandes guerras mundiais, o exército americano passou a reutilizar os botes de borracha, mas dessa vez como botes salva-vidas. Mas foi depois da II Guerra que o rafting teve um grande impulso. Aventureiros na América do Norte passaram a usar os botes excedentes no exército, muito similares aos botes de hoje.

No Brasil, a história do rafting é mais recente. Os primeiros botes para corredeiras chegaram em 1982, quando foi montada a primeira empresa brasileira de rafting: a TY-Y expedições, que no início operava no Rio Paraibuna do Sul e Rio Paraibuna, ambos em Três Rios no Rio de Janeiro.

Tornou-se conhecido na Europa e nos Estados Unidos nos anos 70, quando alguns aventureiros resolveram radicalizar e descer rios usando botes salva-vidas. A palavra rafting vem do inglês raft, que significa balsa. O rafting é um esporte radical que se caracteriza pela descida de rios com corredeiras remando a bordo de um bote inflável de borracha.

     
 

Os praticantes montam equipes, que normalmente tem entre cinco e oito pessoas, com o objetivo de superar os obstáculos naturais do percurso, como pedras, corredeiras e quedas d'água. O esporte exige espírito de equipe e de coletividade, uma vez que todos remam e, a partir desta união, conseguem superar os desafios. Os obstáculos aliados ao volume de água e a região onde se encontra o rio (serra, planalto, montanha), caracterizam os níveis de dificuldades do rafting, que vão do I ao VI, indicados para iniciantes até equipes profissionais.

No Brasil, a história do Rafting é mais recente. Os primeiros botes para corredeira chegaram em 1982 com a criação da primeira operadora de rafting brasileira, a TY-Y Expedições, cujas descidas se restringiam ao rio Paraíba do Sul e rio Paraibuna, ambos em Três Rios / RJ, que atuava na modalidade remo central. Neste período passou praticamente despercebido pelos brasileiros, pois toda a programação foi desenvolvida para atender exclusivamente aos turistas estrangeiros em férias no Rio de Janeiro. O esporte ganhou força a partir de 1990 com a criação da Canoar Rafting & Expedições e com ela uma inovação no rafting brasileiro: a modalidade com remos individuais. A novidade foi introduzida no rio Juquiá, em Juquitiba / SP. Em 1996, consolidou sua expansão no mercado brasileiro com o surgimento de diversas empresas, localizadas em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Atualmente, estima-se em 50 o número de operadoras de Rafting no Brasil, explorando descidas comerciais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná, Bahia, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

O primeiro registro de descida de Rafting no mundo data de 1869. Nesta época, John Wesley Powel – um dos expedicionários mais conceituados da história americana - organizou uma expedição no rio Colorado / EUA, em barcos de madeira com remo central. A aventura resultou em algumas viradas e batidas em pedras, decorrentes de equipamentos primitivos e da falta de técnica para manobrar nas corredeiras os barcos pesados. Já o Rafting com finalidade comercial foi realizado somente em 1909 pela Julio’s Stone’s Grand Canyon, mas os botes ainda eram rígidos, de madeira. Os primeiros botes infláveis apareceram nos EUA, em 1936. Durante os anos 60 e 70 o esporte passou por um período de estagnação, retomando o impulso a partir de 1980 com o surgimento do bote “self bailer”, confeccionado com materiais mais leves e resistentes. Hoje o Rafting Comercial conquistou definitivamente seu espaço no cenário mundial. A emoção e o contato com a natureza proporcionados garantiram sua presença nos arredores dos grandes centros urbanos e turísticos de nosso planeta, sendo uma das principais formas de conhecer as regiões onde é oferecido.

Agradecimentos

• Botas Snake – www.snake.com.br
• Atlântico Sul Caiaques – www.atlanticosulcaiaques.com.br
• Escola de Natação Amaral – www.amaralnatacao.com.br
• Thomas Schörner - www.facebook.com/agua.selvagem.9
• Portal Extremos – Elias Luiz

Paulo Saczuk Jr.

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