Extremos
 
COLUNISTA LUCAS SATO
 
Proteções fixas
 
texto: Lucas Sato
21 de junho de 2017 - 03:25
 

Lucas Sato. Foto: Eduardo Cotrim
 
  Roberta Abdanur  

Antes de falar de proteção fixa, devemos esclarecer alguns pontos sobre a ética na escalada em rocha.

• Sempre que houver a possibilidade, devemos usar uma proteção móvel ou natural antes de instalar uma fixa.

• Nunca adulterar uma via de escalada, seja adicionando ou subtraindo proteções fixas.

• O responsável pela instalação, manutenção e substituição das proteções fixas será sempre o conquistador da via.

• Excesso de proteções fixas também é considerado antiético.

 

Estão nesse grupo os grampos, chapeletas e ancoragens químicas. São produzidos basicamente em aço carbono e inox. No Brasil tivemos algumas proteções fabricadas em titânio, evitando assim a corrosão à beira mar por exemplo.

Batedor manual   Martelete
   

Grampos

Historicamente, os grampos existem desde o século passado. Alguns, como os da conquista do Dedo de Deus (1912), estão fixados até hoje. Conhecidos no Brasil como grampos P’s, nada mais são do que uma barra de aço soldada a um olhal.

Um grampo pensado para servir para escalada em livre deve ter meia polegada de espessura, o que equivale a 12,7mm. Grampos de 3/8 ou 9,8mm já foram utilizados, mas caíram em desuso por entortar muito fácil e até mesmo quebrar em caso de queda de fator alto. Grampos de ¼ ou 6,3mm são utilizados apenas em artificial fixo.

Para os grampos P’s, não existe uma certificação já que foram inventados e fabricados manualmente por brasileiros. Sua construção faz com que sua força seja tracionada sempre em cisalhamento e nunca em arrancamento, pois ele não contém um chumbador de expansão, entrando com pressão no furo feito.

A grande facilidade do grampo P está na hora de abandonar uma via, como seu olhal possui uma superfície arredondada, podemos passar a corda direto no grampo.

Grampo P
 

Chapeleta

Somente com uma chapeleta não conseguiríamos proteção alguma, é preciso furar a rocha e instalar um parabolt, que pode ter de 10 a 12mm de espessura. Instalado o parabolt na rocha, coloca-se a chapeleta e fecha-se os dois com uma porca, na parte rosqueada do parabolt.

A vantagem do parabolt é que ele se expande dentro do furo, garantindo assim mais segurança. As chapeletas geralmente têm certificação e suportam cargas de 2200 a 2500 quilos.

O grande ponto negativo da maioria das chapeletas simples é que não se pode passar a corda para um possível rapel direto em seu olhal, pois a superfície é muito fina, danificando assim a corda. Nesse caso realizamos o abandono de material, que pode ser uma fita, cordelete, malha rápida ou mosquetão.
Nas paradas (pontos de reunião dos escaladores e lugar onde realizamos o rapel) normalmente são instaladas duas proteções ‘’rapeláveis’’, isso quer dizer que pode-se passar a corda diretamente no olhal. Existem modelos que são duplas, ovaladas e com argola.

Como a chapeleta é usada em conjunto com um parabolt, ambos devem ser fabricados do mesmo material. Isso quer dizer que não podemos combinar o aço carbono com o inox. Evitando assim a corrosão galvânica, processo que acelera a degradação do material mais fraco, fazendo com que se enferruje mais rápido.

Chapeleta Pingo da Bonier   Parabolt   Chapeleta Simples e com Argola - JGariglio
     

Ancoragem Química

Existe também o que chamamos de ancoragens químicas, muito comuns em arenitos, como no Morro do Cuscuzeiro. Esse tipo de proteção normalmente é composto por um tipo que grampo que não possui solda, o que o torna muito mais resistente. O sistema de fixação muda totalmente pois aqui inserimos um tipo de cola muito resistente e de secagem rápida. Instalar uma ancoragem química requer tempo e muita habilidade.

Bat'inox   Wave Bol   Colas Químicas
     

Minha opinião

Particularmente não tenho muita experiência com grampos, sempre usei as chapeletas para proteger as vias que conquistei. Isso não quer dizer que eu não aprove o uso do grampo, muito pelo contrário, sempre escalei em lugares com grampos P’s. Acho que uma proteção bem colocada depende muito mais do conquistador do que da proteção em si.

Outro ponto importante é deixar claro que existem duas maneiras de se ‘’equipar’’ uma via, muito simples: de baixo ou de cima!

Em vias esportivas é comum montar um rapel, descer, marcar os possíveis lugares das proteções fixas e depois instalar. Dessa forma a ancoragem química se torna super útil, tendo em vista que você estará preso na corda que vem de cima.

Diferente de quando se conquista de baixo, onde estamos guiando a via. Exemplo: Se a última proteção que coloquei está a 10 metros abaixo de mim e preciso instalar outra, devo seguir o seguinte procedimento:

1 - Bater o martelo na rocha para checar se esse pedaço da rocha está firme
2 - Fazer o furo e assoprá-lo para retirar as impurezas
3 - Instalar a proteção
4 - Apertar a porca no caso de parabolt
5 - Finalmente passar a costura e me proteger


Agora nesses 5 pontos eu estou literalmente escalando, muitas vezes usando uma mão apenas para fazer tudo isso, quase impossível usar uma ancoragem química, não?

Talvez essa pequena parte do texto sirva para mostrar a importância e ‘’trabalho’’ dos conquistadores. Sem conquistadores investindo tempo, dinheiro, suor e muita dedicação não teríamos vias para escalar.

Termino o texto agradecendo as duas marcas que me apoiam e acreditam na escalada brasileira. Sem elas muitas das vias que conquistei estariam apenas na mente.

Âncora Sistemas de Fixação

Empresa 100% Brasileira com sede em Vinhedo/SP, líder e especialista em sistemas de fixação.

http://ancora.com.br/site/

JGariglio

Empresa criada por escaladores da região de Belo Horizonte/MG, especializada em proteções fixas como chapeletas e grampos. Líder no mercado nacional equilibrando produtos de qualidade com preço justo.

http://jgariglio.com.br
 

Esse post não substitui um curso, ministrado por um profissional da escalada.

Lucas Sato
www.extremos.com.br/Blog/Lucas_Sato/

 
comentários - comments