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COLUNISTA LUCAS SATO
 
Modalidades e estilos da escalada e montanhismo
 
texto: Lucas Sato
28 de setembro de 2016 - 17:50
 

Escalada na Pedra dos Lobos - Andradas/MG Creditos: Popoh Vinicius
 
  Roberta Abdanur  

Hoje em dia falar que você é montanhista/escalador se tornou um termo muito abrangente, gosto de comentar com meus alunos que podemos comparar nosso esporte com o futebol, não no quesito de investimentos e visibilidade, mas quanto as suas modalidades. Existe futebol de campo, society, salão, areia, showball, etc. No Montanhismo e Escalada também, o objetivo desse texto é mostrar que a escalada é um esporte democrático, independente de idade, altura, peso ou gênero. Cada um vai escolher sua modalidade de acordo com seus sonhos e objetivos.

Esteja ciente que em qualquer uma dessas modalidades existirão riscos, não pense que porque está em uma academia de escalada os acidentes não acontecerão, por exemplo, pense sempre na segurança e terá grandes experiências.

Escalada Indoor

Talvez a porta de entrada para a maioria dos escaladores do mundo, inclusive eu. O próprio nome já diz, é realizada dentro de um espaço, podem ser ginásios específicos, shoppings, muros caseiros e academias. A modalidade é realizada em muros artificiais (Madeirite ou Fibra) onde são fixadas agarras de resina, gerando assim inúmeras possibilidades de vias.

Hoje em dia todos os campeonatos de escaladas são realizados em muros artificiais, não existe por exemplo campeonato de escalada na ‘’rocha’’.

Em 2020 teremos essa modalidade como esporte olímpico, então vamos treinar!

Ginásio 90 Graus em São Paulo/SP. Foto: Divulgação   Parede de Escalada em Santiago / Chile. Foto: Lucas Sato
   

Boulder

É a escalada feita em blocos de pedra, uma modalidade bem simples, utiliza-se de basicamente 3 equipamentos: sapatilha, magnésio e um colchão próprio para escalada chamado de Crash-Pad.

Mas Lucas e a corda? Não se utiliza corda no Boulder porque realmente não precisa, a maioria deles tem menos de 2 metros de altura.

Pode ser praticado sozinho, mas eu mesmo não recomendo, existe o risco de você sofrer um mal súbito, picada de inseto, ou qualquer eventualidade. Quem irá te ajudar?

Alguns Boulders são famosos pela sua extrema dificuldade física, normalmente as vias são curtas e exigem força e explosão. Existe hoje uma graduação especialmente desenvolvida para essa modalidade.

Felipe Camargo escalando. Foto: Bruno Graciano   Escalada de Boulder na Australia. Foto: James Kassay
   

Psicobloc

Também conhecido como Deep Water Soling, é uma modalidade onde não existe equipamento de segurança e deve ser obrigatoriamente praticado em cima de um generoso volume de água. Geralmente é praticado em rios, lagoas e mar. Foi criado um magnésio liquido para usar nesse tipo de ambiente e as quedas podem chegar a 20 metros. Originou-se na ilha de Mallorca – Espanha, nada década de 60.

Escalada no Cânion do Talhado/AL. Foto: Marcelo Maragni   Escalada no Cânion do Talhado/AL. Foto: Marcelo Maragni
   

Escalada Esportiva

Você já deve ter visto algum escalador na TV fazendo uma força tremenda e depois caindo metros para baixo, isso é escalada esportiva!

Em sua grande maioria são bem protegidas, isso quer dizer que o intervalo entre as proteções é próximo, reduzindo o tamanho da queda. O desafio deve ser escalar com seu corpo a via sugerida sem se preocupar com a queda em si.

Seu tamanho geralmente varia entre 10 e 30 metros, mas existem vias maiores que podem chegar a 60 metros.

Marcio Matuyama escalando a Chaminé do Carvoeira em Andradas/MG - Foto: Kemeny   Lucas Motta escalando no Visual das Águas - Piracaia/SP - Foto: Lucas Sato
   

Escalada Tradicional Brasileira

Modalidade caracterizada por vias longas, que possuem várias enfiadas/cordadas, podem ter de 50 a 1.200 metros. Normalmente obriga o escalador a escalar em diversos estilos como agarras, fendas, chaminés e aderências. Tem as proteções mais espaçadas que na modalidade esportiva, em casos extremos o escalador guia não pode cair, pois ele iria direto ao chão por exemplo.

Além de proteções fixas (Grampos e Chapeletas) pode ser que a via obrigue a proteger com proteções móveis (Friends e Stoppers). Em alguns lances a via pode ter passagens em artificial (Utilização de pontos de apoios para progredir).

O escalador tradicional tem sempre uma logística mínima e uma mochila, para completar uma via ele vai precisar de poucas ou muitas horas, dependendo do tamanho e dificuldade. Além de todo o equipamento de escalada, ele vai precisar de água, comida, lanterna, anorak, etc.

Lucas Motta na crista final da Ana Chata em São Bento do Sapucaí/SP - Foto: Lucas Sato   Pedro Zeneti e Cristian do Oliveira escalando na Pedra do Elefante em Andradas/MG
   

Big Wall

Possui duração mínima de 2 dias, é classificada pelo tempo de ascensão e não pela extensão da via. Exemplo: existem big walls de 200 metros de altura e vias tradicionais de 1000 metros. Mas como isso é possível Lucas? Como subo 1000 metros em um dia e 200 metros em dois dias? A resposta é simples, o big wall está associado com a técnica de escalada em artificial, onde subimos nos apoiando em equipamentos instalados na rocha, isso demanda muito tempo e a ascensão se torna trabalhosa e demorada.

Logística extremamente complexa, além de carregar uma infinidade de equipamentos, soma-se água, comida, roupas, saco de dormir, porta-ledge (tipo de barraca), etc.

Lucas Sato treinando em artificial para Big Wall na face sul do Bauzinho - São Bento do Sapucaí/SP - Foto: Gleison Souza   Conrad Anker escalando no El Capitain - Yosemite/EUA - Foto: Jimmy Chin

   

Conquista de Novas Vias

Eu gosto de falar que conquistar é uma modalidade a parte da escalada, pois dependendo da inclinação e grau de dificuldade, a conquista passa a ser em artificial, demandando bastante tempo e trabalho.

O comprometimento é outro também, você estará abrindo uma via para outros escaladores, vai instalar proteções fixas onde outros escaladores irão se pendurar.

Conquistar é um assunto polêmico, muitos defendem o não uso da furadeira e a retrogrampeação (Instalar as proteções fixas no rapel), mas vamos deixar para discutir esse tópico mais para frente.

Uma curiosidade é que os conquistadores podem ‘’batizar’’ a via com o nome que desejarem.

Lucas Sato instalando uma chapeleta - Foto: Eduardo Cotrim   Lucas Sato conquistando no Setor Ventania em Andradas/MG - Foto: Tadeu de Oliveira
   

Escalada Alpina

Muitos confundem Escalada Alpina com Estilo Alpino, obrigatoriamente uma Via Alpina será em Estilo Alpino. Nesse estilo de escalada prezamos por ascender a montanha da maneira mais rápida e autônoma possível, evitando serviços, acampamentos previamente montados, cordas fixas, entre outros recursos.

Modalidade caracterizada por longas caminhadas de aproximação, região inóspita, deslocamento em glaciares, grandes paredes, uso de proteção móvel. A grande maioria não tem relação com grandes altitudes, os grandes exemplos de Vias Alpinas estão nos próprios Alpes e Patagônias Chilena e Argentina.

Sérgio Tartari escalando no Fitz Roy - Argentina - Foto: Flavio Daflon   Flavio Daflon no cume do Fitz Roy - El Chaltén/Argentina - Foto: Arquivo pessoal
   

Alta Montanha

A escalada em alta montanha está diretamente relacionada com a altitude. Modalidade que exige maior tempo e paciência do montanhista, uma expedição para o Everest por exemplo pode demandar até 60 dias de viagem.

Dependendo do estilo adotado pode ter um alto custo financeiro, principalmente em expedições comerciais.

A aclimatação é fundamental nessa modalidade, e grande parte dos acidentes e resgates acontecem pela própria não adaptação a altitude.

Em altitudes extremas (aproximadamente 8.000 metros) a maioria dos montanhistas faz uso da suplementação de oxigênio.

Deslocamento Glaciar Tarija - 4.800 m - Cordilheira Real - Bolívia - Foto: Osvaldo Cortez   Everest Base Camp - Foto: Carlos Santalena
   

Lucas Sato
www.grade6viagens.com.br

 
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