Extremos
 
COLUNISTA LISETE FLORENZANO
 
Risk Takers: O que motiva pessoas a enfrentar riscos extremos?
 
Texto e Fotos: Lisete Florenzano
12 de julho de 2013 - 21:55
 
O que motiva pessoas a enfrentar riscos extremos? Alex Honnold em uma escalada solo (ou seja, sem cordas e equipamentos) no Half Dome (1.444 m), em Yosemite National Park.
 
  Lisete Florenzano  

A morte de Jane Wicker, que fazia wing walk e caiu do avião durante um show aéreo na semana passada, fez novamente aparecer a pergunta: "O que motiva pessoas a tomar riscos extremos?" Há muito tempo se acredita que pessoas que se envolvem em atividades de risco, como skydiving, back-country skiing, etc, buscam sensações, arriscando suas vidas pela descarga de adrenalina em seus corpos.

Mas um novo estudo, publicado no “Journal of Personality and Social Psychology”, descobriu que essas pessoas não são todas do mesmo tipo. Alguns participam de atividades de risco como uma maneira de controlar suas emoções e suas vidas.

Os pesquisadores da Universidade Bangor, na Inglaterra, não acreditam que o estereótipo do “buscador de adrenalina” se aplica a todas as pessoas ditas “radicais”, particularmente aqueles que se envolvem em atividades prolongadas e desafiantes, como o montanhismo.

“Quando a pessoa caminha para a base de uma alta montanha e entra na zona de risco, ela não está atrás de adrenalina”, disse Tim Woodman, chefe da School of Sports Health & Exrecise Sciences at Bangor, e autor do estudo. “Normalmente é um desafio pessoal. Nós queremos entender o que motiva esse desafio pessoal.”

Escalada de montanha é longa e árdua, e não necessariamente causa a sensação de adrenalina. De fato, pesquisas anteriores mostraram que montanhistas se engajam em risco extremo para ajudar no domínio de suas emoções. Estudos mostram que montanhistas tendem a falhar em relacionamentos afetivos, tem dificuldade para descrever suas emoções e tem menos necessidade de intimidade que outras pessoas. Eles também tendem a sentir uma falta de controle na sua vida rotineira.

Os autores do estudo teorizam que os “risk-takers” buscam situações de “caos, estres e perigo” para conseguir o controle de suas emoções e domínio de suas vidas. Uma atividade de alto risco, eles escreveram, “desafia psicologicamente os limites do self (seu eu) de uma maneira que não se pode encontrar mesmo na mais desafiante situação da vida rotineira”.

O estudo incluiu skydivers, que tendem a pontuar mais na questão da busca de sensações (adrenalina), diferente de montanhistas. Incluiu também um grupo de controle, formado por atletas de atividades de baixo risco. Todos os participantes preencheram questionários psicológicos que focavam na busca de sensações, na habilidade de moderar emoções, e “atuação”, que significa ter uma sensação de controle da própria vida.

Skydivers reportaram uma maior necessidade por sensações fortes que montanhistas e o grupo de controle, demonstrando que nem todos os “risk-takers” são motivados pela busca da adrenalina. Ambos montanhistas e skydivers declararam ter grande controle de emoções e “atuação” durante a atividade de risco, diferente do grupo de controle. Isto sugere que atividades de risco exige de seus praticantes o controle de suas emoções como o medo, e deles próprios no controle de seu destino.

“Basicamente pessoas que se envolvem nas mais árduas atividades de alto risco, como montanhismo, o fazem porque tem uma expectativa muito alta sobre o que a vida deve oferecer, ou o que a vida deve ser.”_ Tim Woodman

Entretanto, o que mais surpreendeu os pesquisadores, foi que as pessoas que se envolvem em atividades de risco acreditam que a vida deve ser preenchida com essas intensas experiências e sentimentos.

O estudo também mostrou que essa sensação de controle sobre suas vidas e emoções se aplica sobre a vida rotineira dessas pessoas quando elas voltam de suas atividades.

“Montanhistas querem empurrar o self ao seu limite em termos de experienciar emoções, e então administrar essa emoção num ambiente extremo”, disse Woodman. “Nós todos temos isso algum grau, dentro de nós; depende de cada um de nós decidir o que constitui nosso Monte Everest e se comprometer completamente com esse desafio”, disse ele.

“Todo desafio que tenha um significado pessoal tem um elemento de risco, portanto risco não é uma palavra ruim. Risco é necessário para qualquer objetivo significativo – para todas as pessoas”, complementa.

Lisete Florenzano,
Texto de Laurie Tarkan, jornalista que escreve para
o New York Times, entre outras revistas e websites.

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