Extremos
 
Bikes, amoras e transgressões
da redação, Guilherme Cavallari
20 de fevereiro de 2011 - 17:40
 
 
 
Borboleta 88 - Diaethria clymena Foto: Guilherme Cavallari
 

Para mim, mountain bike é transgressão. Mas deixa eu me explicar...

Segundo o pouco venerável ex-presidente dos Estados Unidos, Mr. George W. Bush, "a América é viciada em petróleo". Mas não é só a América do Norte, porque o veneno já foi exportado para o mundo todo! Meu sobrinho de três anos de idade, por exemplo, é capaz de dizer a marca de qualquer carro na rua, do jeito dele, claro... Ford é "vamos nessa" e Chevrolet "Chigolé". Tão pequeno e o mundo já fez sua parte ensinando a ele que o que importa é o carro e não exatamente o que (ou quem) vai dentro. Mas ele ainda é novo, tem tudo ainda a aprender e eu prometo que farei minha parte para reeducá-lo nesse sentido.

Nossa transgressão, como mountain bikers, começa aí... Não idolatramos o carro, o motor, a Lei do Mínimo Esforço, mas sim nossas "magrelas turbinadas"... E as siliconadas que me perdoem a facécia (vai procurar no dicionário, loira!).

Domingo de sol e pode ter certeza, se não estou explorando novas trilhas para algum dos meus livros, vou para minha trilha secreta. Todo mountain biker deveria ter sua trilha secreta... A eterna busca pelo singletrack perfeito (como os surfistas buscam a "Onda Perfeita" ou o Marcelo D2 procura a "Batida Perfeita").

Então, um desses domingos ensolarados, lá estava eu na minha trilha secreta, que é um reflorestamento proibido para ciclistas. Outra transgressão. Trilha dura, subidas íngremes e longas, técnicas, a roda da frente escapando do chão o tempo todo, suor escorrendo no rosto, batatas das pernas assando. Depois vem os muitos downhills suicidas, velozes, kamikazes, cheios de pedras soltas, erosões, galhos secos dos pinus. Uma piscada errada e é chão na certa.

Meu companheiro de domingo em Sampa é dedicado como eu. Nos esforçamos ao máximo nessa trilha proibida. Papo sério. Muitas vezes a gente dá mais energia do que temos nesses pedais, voltamos para casa acabados. Almoço e cama, sozinhos, com a permissão de nossas esposas.

Foi num desses domingos que aconteceu. Eu estava no meio de uma daquelas subidas duras. A pior. Eu havia passado um obstáculo que normalmente não consigo vencer, um degrau no meio de uma erosão em diagonal à trilha. Fiquei orgulhoso e já imaginava que completaria a subida toda sem pisar no chão. Seria a histórica primeira vez. Mas, bem nesse momento, vencido o obstáculo, vejo um arbusto carregado de amoras ao meu lado. Gordas, vermelhas, escuras, chegavam a ser peludas as safadas!

Acho que titubeei um quarto de segundo, se muito. Freei a bike, encostei apenas um pé no chão me equilibrando na sapatilha e, ainda bufando de cansaço, detonei o arbusto. Para não dizer que não comi todas as frutas, deixei uma, grandona, suculenta, gorducha, para meu companheiro apreciar.

Mountain bike para mim é coisa séria. Amoras selvagens também.

 
Abraços,
Guilherme Cavallari
clubedaaventurakalapalo.blogspot.com