É só olhar em volta na fila do pedágio pra notar que a quantidade de carros levando bicicletas infantis pro litoral aumenta muito no verão. Faz sentido: pra muita gente, o mês de janeiro é sinônimo de praia, e as bicicletas são um complemento perfeito para uma viagem em família. Pedalar com os filhos pelas cidadezinhas do litoral e por areias batidas é uma combinação imbatível, que dá um colorido especial para as férias escolares.

Para ajudar as famílias a tirar o melhor proveito das bicicletas em uma viagem à praia (e fazer com que elas sobrevivam à temporada), pegamos dicas com Caetano Barreira, um especialista no assunto. Além de experiente ciclista e proprietário da Velodrome (renomada bike shop de São Paulo), Caetano coleciona longos pedais, incluindo uma cicloviagem em família (com a esposa Tricia e seu filho Gael, então com apenas um ano de idade) da cidade de Cananéia até o Parque Nacional do Superagui, percorrendo diversas praias e trechos do Circuito Lagamar, no litoral sul do estado de São Paulo e no norte do Paraná. (Ele conta sobre esta e outras incríveis vivências no universo ciclístico no seu Instagram).

A praia apresenta basicamente dois problemas para as magrelas: areia e oxidação. As pessoas se enganam achando que bikes de alumínio não oxidam – na verdade, elas podem não apresentar a conhecida ferrugem, mas oxidam sim (veja exemplos nas fotos). E as bicicletas de aço (ou "cromoly"), caso da imensa maioria das infantis vendidas no país, demandam uma atenção ainda maior.

A areia faz com que todo movimento da bike seja abrasivo – lembre que lixas são feitas de areia, então é fácil imaginar o que acontece… A primeira dica é cuidar para não riscar a bike ao raspar os pés na pedivela, e coxas e joelhos no quadro. A areia é levantada pelo giro das rodas, então reduzir a pressão dos pneus evita que a roda "cave" muito o solo, além de ajudar para que a pedalada fique mais solta. Para uma cicloviagem ou pedais mais longos, vale considerar trocar os pneus por um modelo com menos cravos ou até um pneu "praieiro" – aqueles mais grossos e lisos.

Mas os principais cuidados vêm após o pedal. A principal dica é lavar bem a bike ao fim de cada dia ou após cada passeio com água doce abundante – muita água mesmo, pois a água do mar e a maresia entram em todos os buraquinhos do quadro e das peças. Se você não tem uma mangueira à mão, sua garrafa de água pode ser útil para aplicar a água em outras direções e alcançar todos os cantos escondidos. Lavadoras de alta pressão (tipo Wap) exigem procedimentos específicos: é fundamental proteger certas partes da bike, porque a força da água acaba levando a sujeira/sal/areia pra dentro dos componentes – então é melhor não arriscar.

A relação (coroas, corrente e cassete) pede um cuidado especial, porque a areia gruda na lubrificação e cria uma camada grossa que gera muita abrasão, resultando em um desgaste exponencial. Por isso, é muito importante retirar todo o excesso de areia e resíduos destas peças após cada pedal. Um pouco de detergente neutro (daqueles de lavar louça) diluído na água pode ajudar nesta tarefa.

Quando terminar, dê uma "sacudida" na bike e gire os pedais/relação/rodas para expelir o excesso de água do conjunto, e depois seque com panos limpos para eliminar pontos de acúmulo de água. Os sulcos dos parafusos Allen, por exemplo, costumam apresentar oxidação quando ficam molhados, mesmo sendo inoxidáveis – um metal inox é muito mais resistente à oxidação, mas não totalmente. Ao final, não se esqueça de aplicar novamente o lubrificante na corrente – para explorar as praias, o melhor é do tipo "seco", que vai acumular menos sujeira; as opções "úmido" e "cera" acabam contribuindo para criar uma camada de resíduos em torno da corrente.

Na volta da viagem, é fundamental fazer uma revisão completa nas bikes em uma oficina especializada, abrindo cubos e partes móveis para uma limpeza profunda, removendo qualquer impureza que possa danificar as peças por abrasão no uso posterior. Limpar e reengraxar todas as partes móveis é importante porque a graxa dos cubos fica contaminada por água com sal e areia – a água reduz seu efeito, o sal a resseca, e a areia é abrasiva, acelerando o desgaste. Além disso, o mecânico deve ser orientado a abrir, lavar e lubrificar também todas as partes de alumínio que ficam em contato com aço, evitando que reajam quimicamente e "emperrem" no futuro. Observe que uma pretendida "economia" ao não tomar estes cuidados acabará resultando em gastos maiores, com a necessidade de substituição prematura de componentes.

Por fim, não se deve aplicar sprays de micro-óleo na bike após a lavagem. Inicialmente, este produto pode parecer útil, pois elimina uma corrosão superficial e promete proteção contra oxidação e ferrugem. Mas sua principal aplicação é limpeza e desemgripar peças travadas, então ele acaba retirando a lubrificação da corrente e pode danificar a bicicleta ou seus componentes – por exemplo, o óleo aplicado em spray estraga as pastilhas de freio, comprometendo a frenagem e a segurança da bike.

Para quem mora na praia e está mais exposto à maresia, ao sal e à areia, existem outros produtos mais apropriados para isso – um spray de silicone, por exemplo, cria uma espécie de película de proteção anti-corrosiva. Mas para quem leva as bicicletas só para curtir a temporada, lavar após cada passeio já vai ajudar bastante, e uma boa revisão no fim das férias vai garantir que as bikes seguirão em ordem para os próximos pedais do ano.

Fabio Nitschke Gomes
apaixonado por bicicleta, viagens e atividades outdoor em família – já percorreu mais de 4 mil km em passeios de bike e cicloviagens com seus filhos pequenos, incluindo a travessia dos Alpes da Alemanha até a Itália. Embaixador Thule da linha Active with Kids e um dos idealizadores do movimento #BringYourKids, compartilha suas vivências no seu blog ATIVITAE para estimular que mais famílias incluam atividades outdoor com os filhos em suas escolhas.