Extremos
 
O EDITOR ELIAS LUIZ
 
Matando sonhos
texto: Elias Luiz
12 de setembro de 2016 - 19:00
 

TAHAI é um complexo cerimonial que fica a 15 minutos de caminhada de Hanga Roa (a capital). Ver as ondas quebrando exatamente na base (Ahu) dos Moais, é incrível! Foto: Elias Luiz
 
  Elias Luiz  

Sempre foi o meu sonho conhecer a Ilha de Páscoa. Quando trabalhava para a revista Aventura & Ação por muitas vezes tentei, mas nunca deu certo.

Mas agora ao pousar em Rapa Nui, na ilha da Polinésia Oriental, o pedaço de terra mais isolado do mundo, a sensação foi muito estranha. Ainda me sinto estranho toda vez que realizo um sonho. Sinto um pouco de culpa por matar aquele sonho que sempre me alimentou de ilusões de um lugar mágico que um dia estaria, e que de certa forma sempre acabava virando uma desculpa ou uma boa companhia em uma solitária noite chuvosa de sábado.

Mas da mesma forma que aconteceu no Trekking ao Everest, no Tibet, em Machu Picchu, no Tour du Mont Blanc, na Patagônia e na Islândia, a Ilha de Páscoa também superou todas as minhas expectativas. Foi ótimo ver pessoalmente detalhes que nunca são mostrados em revistas ou documentários. Foi inesquecível caminhar até o ponto mais alto da ilha, onde é possível ver o mar a sua volta, ir a beira dos seus vulcões, conhecer dezenas de Ahu e Moais, avistar Moto Nui, a ilha que fazia parte da cerimônia do Homem Pássaro e também por mais lógico que possa parecer, mas não é, foi incrível caminhar na areia branca e fofa de Anakena, uma das duas únicas praias de toda a ilha.

Entre outros roteiros está a estonteante Rano Raraku, conhecida como "o berçario", é o vulcão de onde os polinésios esculpiam em suas encostas rochosas os Moais. Caminhar por alí é como voltar ao tempo e você presencia os diversos estágios da construção de um Moai. Um destes locais eu apelidei de "O Jardim dos Moais".

 

RANO RARAKU - Os Moais eram esculpidos diretamente da rocha vulcânica na escosta da montanha. Eles não quebravam uma rocha e a partir dela seria esculpia um Moai. Os Moais eram esculpidos diretamente na parede da escolta da montanha e ao finalizar ele se “descolava” naturalmente da montanha. Clique para ver a imagem mais ampla. Foto: Elias Luiz
 

O que faltou na Ilha de Páscoa foi uma estrutura de trilhas conectando os mais diversos atrativos como os Ahu, as cavernas, as praias e os Moais. Seria fantástico passar dias caminhando e encontrando os Moais pela trilha. Mas, ao contrário disso, a ilha tem uma ótima estrutura e uma van te leva para conhecer dezenas de Moais sem precisar praticamente caminhar. Para alguns isso é o sonho, mas eu ainda preferiria caminhar por dias e dias na ilha. Conversando com a guia local, ela me disse que se eu montasse um grupo, em uma próxima visita ela poderia criar um roteiro de trekking da forma que eu imaginei, mas ela disse que nunca fez nada parecido.

Vivenciar será sempre o grande mote de todo o viajante. O prazer de colocar a mochila nas costas, conhecer novas culturas, novos destinos e ouvir uma profusão de línguas em um pequeno grupo de aventureiros, será sempre a minha motivação de seguir por este caminho de descobertas, um caminho repleto de novos sonhos a serem desbravados, não importa se de uma forma mais fácil como foi na Ilha de Páscoa, ou de uma forma mais dura como foi no Trekking ao Everest ou no Tour du Mont Blanc, o que mais importa é vivenciar cada experiêcia e ver o mundo com os nossos próprios olhos.

O Jardim dos Moais, foi como eu apelidei Rano Raraku. Aqui alguns Moais que foram esquecidos e enterrados pela metade. Para você entender, estes Moais enterrados tem a mesma estrutura dos Moais da foto ao lado. Então veja que eles foram enterrados até próximo a altura dos ombros. Foto: Elias Luiz   Um close no Tongariki (os 15 Moais enfileirados) para mostrar o quão impactante e grande são alguns Moais. Foto: Elias Luiz


 

De certa forma matei mais um dos meus sonhos, mas como sempre, da melhor maneira, tornando-o real. Não vou mais alimentar aquela ilusão de como seria, mas agora, depois de um ano da minha volta, pelo menos uma vez por semana me pego pensando nas comidas que saboriei, nos cheiros da ilha, na beleza do por do sol, onde pela primeira vez vi um Green Flash, nas conversas que tive com os nativos e nos bate-papos alegres e descontraídos com os viajantes. Os segredos e os encantos da Ilha de Páscoa serão sempre uma boa razão para eu relembrar dos bons momentos que alí vivi.

Que todos nós possamos realizar os nossos sonhos, um após o outro!

“Cuidado para que seus os sonhos não matem a sua realidade.”

Boas aventuras,
Elias Luiz

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