Extremos
 
O EDITOR ELIAS LUIZ
 
A foto fala
Texto: Elias Luiz
16 de março de 2015 - 02:00
 

Alex Txikon e seus companheiros Daniele Nardi, Ali ‘Sadpara’ no campo base do Nanga Parbat depois da tentativa de cume.
 
  Elias Luiz  

Adoro esse tipo de foto! Como fotógrafo, acho que toda foto fala, tem que falar! Toda boa foto conta uma história.

A expressão de dor, de desapontamento, de sofrimento e angústia está estampada nos rostos destes alpinistas. No Paquistão, esses bravos alpinistas tentavam chegar ao cume do Nanga Parbat (8.125m). Das montanhas acima dos 8.000 metros, restam apenas o Nanga Parbat e o K2 a serem escaladas no inverno.

Com tempo bom, finalmente partiram do Campo 4 (7.200m) para o ataque ao cume na semana passada. Durante a madrugada seguiram equivocadamente pelo caminho errado. Ao chegarem a 8.000m, às 7h da manhã, perceberam que estavam fora da rota correta e a única opção seria dar meia volta e descer para o Campo Base.

Isso é exploração, faz parte. Você errar a via escalando o Kilimanjaro é uma coisa, você errar explorando algo que ninguém nunca fez, é totalmente diferente. Não é uma escalada turística. São eles mesmos que montam os acampamentos, instalam as cordas de segurança e tudo isso no inverno do Himalaia e sem o uso de cilindros de oxigênio suplementar.

Exploração!

Quando acontece um erro desses, o único sentimento que tenho é: Respeito!
Não consigo jogar pedras.

Acho que a maioria de nós seria contra tirar e ainda mais publicar uma foto dessas depois de uma fracasso. Mas isso é história, faz parte, não se constrói um mundo apenas com sorrisos e vitórias.

É o mesmo que acontece com a história de Shackleton. Quando na Antártica o mar congelou a sua volta, seu barco naufragou e o que lhe restou foram dois pequenos botes e sua equipe. Após um ano de incursões conseguiu chegar com um pequeno grupo a ilha Geórgia do Sul e pedir socorro. Meses depois todos seus tripulantes foram resgatados sãos e salvos.

O mesmo que aconteceu com Scott que acabou morrendo com toda sua equipe de ataque ao polo após ser o segundo grupo a chegar ao Polo Sul. Um dos equívocos foi ter calculado errado a quantidade de calorias que iriam precisar a cada dia. Mas tanto Scott como Shackleton estavam explorando os seus conhecimentos e seus limites, entrando em um mundo que a maioria de nós jamais tocamos. A exploração.

     
Scott e equipe em 17 de janeiro de 1912, no Polo Sul, após descobrirem que Amundsen já havia conquistado o polo qause um mês antes.  
Chris McCandless em frente ao ônibus 142, em Stampede Trail, Alasca, onde mais tarde foi encontrado morto.

Se olharmos com atenção a foto da equipe de Scott ao chegarem no Polo Sul, conseguimos sentir a dor e a decepção deles ao perceberem que Amundsen já havia estado lá um mês antes.

Talvez seja por isso que também nos afeiçoamos com a história de Chris McCandless que morreu de desnutrição, isolado no Alasca. Mas as exploração dele não era de uma região, mas sim uma exploração psicológica. Estava tentando compreender a real natureza dos seus sentimentos que contrapunham o status quo.

Isso me faz lembrar também o filósofo Henry Thoreau, que resolveu se “isolar” do mundo em uma cabana a beira de um lago por dois anos e refletir sobre o nosso modo de vida. O mundo de perguntas e inquietações que ele explorou nestes dois anos, lá nos idos anos 1850, ecoam como um Norte ainda hoje para todos nós. Se para alguns não é um Norte, é então uma ótima provocação.

Várias pessoas julgam como fracassados pessoas como Shackleton, Scott e Chris McCandless.

Muitos julgam até mesmo a reflexão de Guilherme Cavallari em um momento de sua vida quando resolveu se desfazer de um ícone da aventura (um Land Rover) para ampliar a sua casa. As pessoas relacionam a reflexão, a mudança de ideias ou de ideais, com fraqueza ou como uma derrota. Para muitos, chegar ao cume só é possível através de um único caminho e você nunca deve sair dele, independente do que aconteça.

Eu acima de tudo, prefiro chama-los de exploradores de mundos que nunca tocamos. Mas cada um tem uma visão diferente do mundo e das situações que ele nos expõe ou principalmente as situações que nós nos expomos a ele. Essa é a minha. Qual é a sua?

comentários