Extremos
 
COLUNISTA ALÊ SILVA
 
Para morrer basta estar vivo...
 
Texto: Alê Silva
26 de novembro de 2014 - 13:10
 

Davi Marski Filho (30.06.1972 - 19.11.2014).
 
  Agnaldo Gomes

Nesta última quarta feira (19/11/2014), depois de escalar a via Nirvana na pedra do Pantano em Andradas, Silverio Nery e Davi Marski, dois experientes montanhistas, estavam rapelando, quando foram ferozmente atacados por abelhas.

Silvério ainda conseguiu descer e pedir socorro, Davi infelizmente morreu no local e seu corpo resgatado posteriormente pelos bombeiros de Poços de Caldas.

A causa da morte, choque anafilático e asfixiamento. Davi já tinha sido atacado por abelhas em novembro de 2013 no Col do Baú, e após consultar um amigo médico, descobri que existe a possibilidade deste ataque anterior ter aumentado sua sensibilidade ao veneno, porém isso é apenas uma especulação.

Na quinta feira quando confirmado o acontecido, eu publiquei uma nota de falecimento no Instagram da @casadepedra utilizando uma das últimas fotos que o Davi tinha publicado em seu perfil do Facebook. Com o passar das horas, diversos “comentários” de pêsames foram deixados na foto, mas dentre eles um me chamou a atenção: “Meus sentimentos! Há dois dias também morreu um escalador venezuelano ao não se clipar em uma parada e soltar as mão para tirar uma estúpida foto” @anarquito.

Não tenho mais detalhes, mas vê-se que independente do grau, tipo e exposição, um erro bobo tirou a vida de mais um escalador.

Não passadas 24 horas, hoje ao abrir o computador pela manhã, vejo uma nota no site da revista Rock and Ice. “Escaladora Chilena de 28 anos morre decorrente de uma queda no Gunks em Nova Iorque”. Heide Duartes, uma das escaladoras mais fortes e experientes do Chile, estava a pouco mais de 6 metros do chão na via clássica Yellow Wall (5.11c) onde ainda não havia colocado nenhuma proteção, quando seu pé escorregou e ela caiu, falecendo no local.

Foram 3 mortes em menos de 3 dias. Em todos os casos nenhum deles estava se expondo arbitrariamente ao perigo, escalando algo extremo ou mesmo eram iniciantes ou inexperientes. Mesmo assim tiveram fins trágicos.

Quando amigos, não escaladores, me perguntam se eu não tenho medo, ou se nunca me acidentei seriamente, geralmente respondo com a seguinte frase: Nestes mais de 20 anos na montanha, eu só ralei os joelhos e torci um tornozelo; mas já perdi diversos amigos.

Infelizmente o Davi Marski foi mais um desses amigos…

Sinto muito por essa irreparável perda, sinto muito por sua família. Meus mais profundos sentimentos para a Cintia, sua esposa e para todos os que tiveram um dia a oportunidade de cruzá-lo pelas montanhas!

Quando pensamos na relação: escalada x perigo, automaticamente nossas mentes viajam para longe, como nos cumes do Himalaia ou nas paredes rochosas dos Alpes, mas são situações como essa que nos trazem de volta a realidade.

Escalar é perigoso e a primeira lição a tirar disso tudo é a de criarmos essa consciência antes de tirar os pés do chão, mesmo que dentro da academia! Afinal para morrer, basta estar vivo…

Escale seguro!
Alê Silva
www.casadepedra.com.br

 
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