Extremos
 
7 CUMES SABRINA PASCHOAL
 
Elbrus, no Teto da Europa
 
Texto e fotos: Sabrina Paschoal
8 de setembro de 2015 - 16:30
 
Sabrina Paschoal no cume do Elbrus.
 
  Tom Alves  

Aguardei muito essa expedição ao Elbrus e sonhava com o teto da Europa para que eu pudesse “sentir” a montanha e retornar a esse ambiente que eu tanto gosto. Alta montanha me alimenta a alma, porque lá eu me sinto completa, me sinto aberta a novas experiências, me liberto de convenções do mundo civil e das amarras da rotina diária. Lá eu cresço como pessoa, testo meus limites, enfrento meus medos e aprendo sempre.

Sabia que seria uma expedição grande, com 10 pessoas e mais o guia brasileiro e já conhecia 4 dos participantes, mas fui presenteada com outras pessoas maravilhosas que passaram a fazer parte da minha vida e da minha história.

Fui de coração aberto e fui muito feliz nos 12 dias em que estive na expedição. Nesse curto espaço de tempo passamos calor, enfrentamos frio, mais frio ainda, muito vento, muita neve e fomos do sol e calor da primeira aclimatação ao vento inclemente de 65 km e sensação térmica de -25°C no dia do cume. Andamos de van, subimos de teleférico, descemos de caminhão, nos esprememos no snow truck, dormimos todos juntos no container chique, caminhamos muito, carregamos marinheira com 20 kg no ombro, mochila de ataque todos os dias, usamos bastão, piqueta, cadeirinha, enfrentamos cordas fixas, encaramos um whiteout, levamos bronca dos guias russos e chegamos cansados, mas radiantes e felizes ao cume.

Lá nos misturamos a um grupo de japoneses e abracei várias pessoas achando que faziam parte da nossa equipe. Impossível se reconhecer embaixo de tantas camadas de roupa, viseira, gorro, capuz e buff no rosto, além daquela névoa branca que nos envolvia. É um jogo de adivinhação, mas ali, o que importava era a celebração de um momento muito esperado e desejado, onde todas as dúvidas se dissipam e sobra apenas o extravasar de emoções fortes, vindas de um corpo cansado e uma mente focada.

     
     

Ouvi de várias pessoas que o Elbrus é uma montanha fácil e diversas vezes me questionei o que é fácil para cada um. Foi difícil o tempo todo? Não e estaria exagerando se dissesse isso, mas sair às 03h30, encarar 40 minutos num snow truck com muito frio, num passeio montanha acima quase esmagada pela força da subida e uns sendo pressionados contra os outros, andar por 6h30 apenas na subida e em muitos momentos com a neve batendo no rosto e machucando com a força do vento, com visibilidade quase zero dentro do whiteout, um pé na frente do outro, olhar a queda muito íngreme ao lado das cordas fixas e concentrar no próximo passo, não é tão fácil assim.

Claro que isso faz parte do processo e só nos fortalece, mas continuo respeitando cada montanha em suas peculiaridades, em seus detalhes e na experiência única que cada uma me proporciona. O Elbrus me fez mais forte e posso dizer que estava 100% focada e determinada. Isso me fez “entender” a montanha e meus anseios, me fez focar lá no alto e assimilar cada passo, aproveitando o aprendizado e curtindo a paisagem durante a caminhada.

Aos meus companheiros de jornada, só tenho a agradecer a alegria, a força em todos os momentos e a presença e dizer que esse grupo foi mais que um amontoado de pessoas com o mesmo objetivo, foi um grupo de irmãos que se encontrou e se afinou em desejos, em parceria, em vontade, em carinho e união.

     
     

Vivemos cada dia fortalecidos pela vontade de vencer, mas vencer juntos, todos se ajudando e auxiliando cada um a alcançar seus sonhos e metas. Foi muito enriquecedor fazer parte desse grupo, conhecer pessoas novas, outras experiências, novos horizontes e me senti feliz todos os dias nessa montanha tão especial.

Eles me fizeram crescer, me fizeram crer na amizade, me fizeram desejar cada vez mais vencer minhas limitações, me apoiaram, me fizeram rir e me fizeram sentir em paz para chorar e me mostrar sem máscaras, aquelas que caem nos momentos de perrengue, nos ambientes inóspitos, na convivência 24 horas sem trégua e mesmo com todos esses poréns a gente ainda desejava estar junto, o que mostra que algo muito forte e importante foi construído entre essas pessoas.

Agradeço esses laços tão bonitos que construímos e que só fizeram aproximar e encher de alegria os corações que se encontraram num ponto tão especial do globo e numa etapa tão importante de nossas vidas. Obrigada a todos por trilharem parte desse caminho tão significativo da minha história.

Estive poucos minutos no cume do Elbrus, no teto da Europa, mas ele estará para sempre dentro de mim.

Obrigada Russia
Sabrina Paschoal

     
     
 
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