Depois de 44 horas de viagem, com diversas conexões, intermináveis esperas e infindáveis vôos, desembarco em Katmandu com a bunda quadrada, mas com um enorme sorriso redondo no rosto, este é um mundo totalmente diferente de onde eu parti, São Paulo, onde lá belas mulheres de salto alto desfilavam suas elegantes malas Louis Vuitton, homens de ternos conectados em seus notebooks finalizando algum trabalho e eu me arrastando pelos corredores com as duas mochilas que juntas somavam 29 quilos. Aqui em Katmandu apesar do caos, estava me sentindo em casa, pois o que menos se via eram mulheres desfilando e homens engravatados, que deram finalmente a vez à uma multidão de aventureiros com suas pesadas mochilas e roupas casuais.
Em meio a todo esse vai e vem de turistas, mochileiros, alpinistas e guias de turismo gritando por diversos nomes, pois apenas uma placa com os nomes para eles não é o suficiente. Estou a procura do guia Carlos Santalena da Grade6 e meus companheiros de trilha, que alias não conheço ninguém, este será o nosso primeiro encontro.
Logo avisto quem eu acho que seja o guia, pois está vestido com um uniforme de aventureiro com os logotipos da empresa e gesticulando feito um italiano, seu rosto é jovial, não deve ter mais que 23 anos, magro, olhos esverdeados, cabelo castanho claro e pele castigada pelo sol, não tem mais que um metro de setenta e três de altura. Fico pensando se ele terá experiência para coordenar um grupo em meio aos seus fantasmas pessoais durante essa grande viagem. Cada pessoa é um mundo a parte, com sensações, desejos e temperamentos diferentes, o que nos une apenas é o nosso objetivo, o trekking ao acampamento base do Everest.
Meus pensamentos se esvaem pois logo que chego sou recebido com festa, gritaria, abraços e beijos, nada como estar em meio a um grupo em inicio de aventura.
- Grande Elias, então realmente você existe, estávamos anciosos aguardando a sua chegada - disse o guia.
Não há lugar melhor para conhecer verdadeiramente uma pessoa do que em uma grande aventura. Serão vinte e cinco dias de muitas privações, tormentos, felicidades, angustias e sofrimentos, onde a personalidade de cada um será exposta como o coração de um boi em um abatedouro. Mas lógico, essa também é a graça disso tudo.
Sento em uma apertada e velha van, e a primeira coisa que faço é analisar cada um, curiosamente todos estão na faixa dos 39 anos. O que estamos buscando? Será apenas a realização de um sonho, ou isso também se deve a tal crise dos 40? Será que estamos querendo provar que mesmo próximo de completarmos essa temida idade somos capazes que realizar grandes feitos? Ou apenas somos pessoas bem resolvidas que cansaram de roteiros batidos como uma viagem a praia, a Nova York ou a Paris? Não sei, não consigo nem responder por mim mesmo, quem dirá pelo outros, mas algo me diz que no final dessa aventura descobriremos. |