Extremos
 
COLUNISTA ROSE EIDMAN
 
Trilhas de longa distância
texto: Rose Eidman
15 de novembro e 2022- 10:30
 
Rose Eidman
 
  Elias Luiz  

Meu nome é Rose Eidman, tenho 58 anos, e pratico um esporte pouco conhecido no Brasil, e talvez por isso mesmo pouco valorizado.

Até os 50 anos de vida não era esportista, fumei dois maços de cigarros por 32 anos e de um dia para o outro, sem auxílio de remédios ou qualquer outra coisa parei de fumar e aos poucos fui encontrando o que me faz realmente feliz.

As trilhas que eu faço são longas, (com mais de 500 km), não são feitas em grupos e nem tem um líder. Uso mapas e aplicativos de localização para me orientar.

Quando percorri a PCT (Pacific Crest Trail), por exemplo, saí sozinha da fronteira do México com os EUA e depois de muitas experiências incríveis cheguei na fronteira dos EUA com o Canadá!

Foi um longo passeio dentro da natureza selvagem, onde aprendi muitas coisas, como:

• tomar água direto do rio;
• não ter medo, mas sim respeito pelos animais;
• ultrapassar obstáculos que pareciam intransponíveis;
• Andar sem pressa, e apreciar a natureza;
• oferecer e pedir ajuda;
• ouvir o som do silêncio;
• passar por uma ponte suspensa balançando;
• rezar mesmo quando só precisava agradecer e não pedir nada;
• comer o que não gosto;
• dividir o meu pouco com quem não tinha nada;
• valorizar cada segundo da vida;
• olhar as estrelas antes de dormir;
• ensinar tudo que aprendi;
• sobreviver no deserto;
• subir e descer montanhas que de baixo parecem gigantes (e são mesmo);
• curar minhas dores;
• me abrigar da chuva;
• ficar muitos dias sem banho e atravessar rios mesmo com muito medo;
• acreditar que anjos me protegem e que a natureza cura a alma;
• dormir, acordar e sonhar sozinha numa barraca;
• chorar de alegria e aceitar as tristezas;
• nadar em um lago gelado;
• nunca esquecer que minha coragem é maior que meus medos;

 

Tive medo muitas vezes, mas consegui superá-los, ergui a cabeça e segui em frente!

Vivemos todos hoje em dia em um mundo que valoriza muitas coisas que para mim não são realmente importantes, e talvez por isso tenha me apaixonado tão profundamente pelas trilhas!

Lá nunca somos julgados pela nossa aparência, idade, peso, pela cor da nossa pele, ou dos nossos cartões de crédito.

Lá encontrei mulheres e homens que preferem passear na natureza selvagem a passear dentro de um shopping, Que preferem dormir numa barraca olhando para as bilhões de estrelas no céu do que num hotel que consegue no máximo ter 5 ou 6 estrelas escondidas em algum lugar.

Desde que comecei minha vida como hiker já caminhei perto de 8.000 km, e ainda tenho muitos planos pela frente.

Nunca consegui um patrocinador porque não sou blogueira, nem tenho milhões de seguidores, mas de alguma forma o universo me ajuda a encontrar uma forma de realizar meus sonhos, e assim vai ser sempre, tenho certeza!

Vivo uma vida simples, e tenho tudo que realmente preciso! Sou abençoada por não passar por nenhuma necessidade e dessa forma ter força para lutar pelo que desejo. Amo meus filhos e meus amigos, independente da cor, credo, nacionalidade ou do status social de cada um.

Minha mochila carrega cada dia menos coisas, porque acredito mesmo que carregamos conosco o peso de nossos medos, e os meus só diminuem!

E em resumo, aprendi a viver livre e carregar na minha mochila e no meu coração só o que for necessário e leve... pois como disse um dos meus poetas preferidos:

“As coisas leves são as únicas que o vento não consegue levar.”

Mario Quintana

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