Extremos
 
TRAIL RUNNING GO TO TRAIL
 
Fast and Furious: Be Welcome Zach Miller
 
da Redação: Giuliano Bertazzolo
20 de janeiro de 2017 - 17:46
 

Zach Miller. Foto: Ian Corless
 
  Elias Luiz  

Produzimos esta entrevista para que vocês possam conhecer um pouco mais da rotina deste grande atleta e o resultado disso foi uma imersão total no estilo de vida de um cara que respira Trail Running e paixão pelo que faz. Muito do que poderão ler abaixo com certeza poderá nos servir de exemplo, pois nos mostra como deve ser os pilares deste esporte, trazendo e confirmando algumas tendências muito bacanas que acreditamos, reforçando que é muito mais sobre um estilo de vida, que também pode ser muito mais sobre montanha e um senso de coletividade, cumplicidade e amizade do que apenas “corrida”. Apesar do tema “corrida” ou “competição” estar presente em todo o enredo acredito que conseguimos mostrar algo a mais por aqui. Leiam, comentem e passem suas percepções.

Perfil

1) Nome: Zach Miller
2) Altura / Peso: 1,68 – 61 quilos
3) Passatempos: Corrida, Aprender a esquiar.
4) Músicas favoritas: Country
5) Refeição favorita antes de uma corrida: Spaghetti
6) Bebida preferida: Leite
7) Cidade Atual: Manitou Springs, Colorado.
8) Maior inspiração no esporte: O maratonista Olímpico Brian Sel.
9) Trail Running para mim significa? É uma forma para eu me desconectar, esquecer do mundo, limpar minha cabeça e de me expressar.
10) Qual é a sua distância de corrida favorita? 100 milhas? Maratona? 50 milhas? A minha preferida é 50 milhas!
11) Qual é o melhor lugar para praticar Trail Running em sua opinião? Colorado.
12) Um lugar surpreendente para praticar Trail Running? Em um navio de cruzeiro, onde eu trabalhei por cerca de um ano e meio (confira mais detalhes ao longo da entrevista).

Perguntas

1) A primeira é clássica para as nossas entrevistas: O que mais lhe inspira a praticar Trail / Mountain Running?

Eu sou inspirado pelo meu amor de estar ao ar livre e os desafios que surgem com isso. Gosto do desafio de me tornar melhor e competir com os outros. Eu gosto de desafiar o meu “status quo” e tentar fazer coisas que eu não tenho certeza que eu sou capaz de alcançar.

2) Você vive em um local fantástico (Manitou Springs, Colorado), uma região mundialmente conhecida por ter uma cultura de esportes outdoor muito intensa, onde é possível observar pessoas praticando diversas modalidades, tanto no inverno como no verão. Você nasceu e sempre viveu no Colorado?

Não, eu nasci no Quênia, mas eu me mudei para os Estados Unidos quando eu tinha cerca de três anos de idade. Eu cresci na Pensilvânia e me mudei para o Colorado apenas em 2014.

3) Como é a sua sua rotina no Barr Camp? Quando você se mudou para lá?

Eu me mudei para Manitou Springs, Colorado, em 2014. Eu morei e trabalhei em Manitou Springs por cerca de um ano antes de me candidatar para trabalhar no Barr Camp. Inicialmente eu queria apenas viver e treinar no Colorado, mas logo em seguida, eu encontrei este trabalho no Barr Camp e me decidi dar a chance de fazer uma tentativa. Eu queria trabalhar no Barr Camp porque parecia ser um bom lugar para mim e imaginei que ali seria um ótimo lugar para treinar e viver, e assim tem sido. Minha irmã e eu conseguimos nos aplicar para o trabalho juntos e começamos a viver e trabalhar por lá em 2015.


Visite o site do Barr Camp. Trata-se de um Refúgio de Montanha fundado em 1922 e fica localizado na Barr Trail, que dá acesso ao cume do Pikes Peak.
 

4) Como o esporte foi inserido em sua vida? Seus pais lhe encorajava a praticar esportes desde que você era criança?

Meus pais são pessoas muito trabalhadoras, mas não são atletas. Eles realmente não me “empurravam” para fazer um monte de esportes, mas como sempre amei o atletismo, eles fizeram o possível para me incentivar e eu poder participar, praticar. Eu joguei muito futebol quando eu era jovem e, eventualmente, comecei a correr cada vez mais. Eu também fiz um pouco de natação e wrestling, mas os esportes principais sempre foram a corrida e o futebol.

5) Como e quando começou a sua carreira de trail runner? Uma grande proporção dos atletas americanos vêm do atletismo ou de competições universitárias de cross country. Você também começou assim? Ou talvez este seu link com esportes outdoor tenha começado de uma maneira diferente?

Sim, eu tive um caminho semelhante a maioria dos outros. Inicialmente eu era um jogador de futebol, mas eu comecei a correr em pista no ensino médio e, em seguida eu também passei a praticar o cross country. Eu continuei correndo pista e Cross-Country na universidade (Rochester Institute of Technology). Eu me graduei em 2012 e consegui um trabalho em um navio de cruzeiro. Estranhamente o trabalho no navio é o que me levou para as ultras. Eu realmente não gosto de correr na esteira, então eu passei a fazer meus treinos mais curtos na esteira enquanto estava no mar e em seguida, fazia os meus treinos mais longos e mais fortes quando estávamos no porto. Nós viajamos para um monte de lugares, lugares realmente muito legais e eu descobri que eu era capaz de me entreter e correr por um tempo mais longo. Então, durante as minhas férias eu gostava muito de treinar corrida e competir. A partir daí eu comecei a fazer algumas Ultras e rapidamente percebi que eu era muito bom nisso e fui melhorando.

6) Neste momento você pode dedicar 100% do seu tempo para as corridas?

Neste momento eu tenho uma outra rotina de trabalho no Barr Camp. Eu realmente gosto que seja desta maneira, eu sinto que isso ajuda me ajuda a me manter um pouco mais equilibrado e realizado.

7) Quais as corridas que lhe marcaram até hoje e por quê? As pernas já estão recuperadas completamente da última "batalha" com Hayden Hawks em San Francisco, assim como da última temporada?

Algumas de minhas corridas mais difíceis foram o UTMB e a Ultra Trail na Ilha da Madeira (MIUT). Os percursos destas corridas são muito desafiadores e eles realmente me testaram mentalmente e fisicamente. Algumas das minhas melhores corridas foram o CCC em 2015 e o TNF Endurance Challange San Francisco agora no final de 2016. Ambas corridas realmente muito boas para mim. Minha vitória no CCC ajudou a construir a minha reputação na Europa e a TNF Endurance San Francisco foi uma vitória dura para fechar uma grande temporada. Embora o percurso não seja tão duro quanto no UTMB ou na MIUT, minhas pernas foram realmente “batidas” após a disputa com o Hayden. A fadiga não foi tão acentuada como o que senti após UTMB, mas a dor foi muito pior. Felizmente as pernas já ficaram melhores com o passar do tempo e já estão respondendo muito bem no momento.


Vencendo o CCC.
 

8) Como você analisa as competições nos Estados Unidos e na Europa? Você gosta mais dos percursos mais técnicos ou prefere os percursos mais rápidos? Em qual tipo de terreno você costuma ser mais forte?

Eu gosto de todos os estilos e tipos de terreno, mas eu realmente prefiro algo que é uma mistura de ambos. Eu costumo me adaptar e correr bem em corridas que possuem uma grande variação de subidas e descidas. Eu também consigo me sair bem em pisos mais rápidos. Eu não sou o melhor escalador ou o mais rápido nas descidas, mas eu tenho uma tendência de me dar muito bem nas transições, quando eu tenho que subir e descer, ou descer e subir repetidamente.

9) Como foi participar do Rocky Man? Você se divertiu por aqui?

O Rocky Man foi divertido! Foi muito divertido competir na equipe e interagir com tantos tipos de diferentes atletas. O percurso foi bonito e também desafiador. Correr através das florestas foi algo diferente do que eu estou acostumado, mas foi muito divertido.

10) Quando e como começou o Team NIKE Trail?

O Team NIKE Trail começou há alguns anos atrás, quando a NIKE decidiu que queria se envolver neste respectivo mercado. Eles me pediram para estar na equipe depois que eu ganhei a corrida JFK 50 em 2013. Eu sou muito grato que a NIKE optou por me manter na equipe em 2014. Nós felizmente tivemos boas temporadas juntos e isso me ajudou a evoluir como atleta.


Nike Trail UTMB – Chamonix
 

11) Como você analisa a maior marca esportiva do mundo ter um projeto de sucesso apoiando a equipe que você também faz parte?

Eu acho a presença da NIKE no esporte algo muito bom, pois eles fazem tênis de alta qualidade e estão adicionando mais competitividade e apoio para o esporte, ajudando a desenvolver os produtos. Será muito interessante ver o que eles farão no futuro, eu sinto que eles têm um potencial enorme de trazer mais suporte para o esporte.

Confira aqui um dos documentários mais irados cobrindo uma equipe em disputa no UTMB, são imagens de tirar o fôlego das provas que a equipe participou deste circuito em 2015 e mostra como as marcas de running realmente devem fazer.


Observação: O atleta Tim Tollefson nesta temporada passou a ingressar a equipe da Hoka.One One.
 

12) Como funciona a estrutura da equipe hoje. Vocês treinam juntos?

A equipe NIKE está espalhada por todo o país. Os membros fazem a sua própria rotina e se reúnem para as respectivas corridas.

13) Você e a equipe têm ajudado diretamente no desenvolvimento dos produtos? Qual é o seu modelo favorito de tênis da marca? Poderia descrever um pouco mais cada um dos principais modelos?

A NIKE definitivamente usa os seus atletas para obter feedback sobre os produtos que eles estão desenvolvendo. Eu imagino que eles também estão atentos a diversos “imputs” de diversas pessoas, mas acredito que os atletas definitivamente têm sua voz e isso é muito bacana para nós. O meu tênis Trail favorito da NIKE é o Air Zoom Wildhorse 3. Este é um dos dois modelos que usamos na equipe. O Wildhorse é o mais robusto dos dois e é ótimo para terrenos mais técnicos e dias mais longos nas montanhas. O Air Zoom Kiger é o segundo modelo, mais leve, mais “Racing’. Seria o modelo ideal para competições mais curtas, mais rápidas e menos técnicas.


Confira aqui mais detalhes do tênis favorito do atleta, o NIKE Air Zoom Wildhorse 3.
 

14) Para você, pensando no seu estilo de corrida, o que é mais importante em um tênis: flexibilidade, proteção, agilidade, peso, ou aderência?

Todos os pontos são importantes, mas se eu tiver que escolher apenas um eu diria que seria a proteção. Seria muito difícil eu correr e dar o máximo se os meus pés ficarem muito doloridos, isso pode ser horrível em uma ultra.

15) Como você treina durante a pré-temporada e durante a temporada?

Durante a pré-temporada, que é no inverno, eu treino muito corrida com os “snowshoes” (um tipo de raquetes de neve acopladas). Eu nem sempre nestes momentos vou muito longe, os treinos são mais curtos, mas eu faço uma grande quantidade de treinos mais intensos e invisto muito tempo nisso. Durante a temporada eu corro uma quantidade maior em milhas, maior volume. Normalmente eu faço dois treinos mais intensos por semana durante este período.

16) Você tem um treinador?

Não, eu não tenho um treinador.

17) Quais são os seus parâmetros para analisar sua melhora e evolução nos treinos? Ganho de elevação? Como você constrói sua velocidade?

Meus parâmetros para melhorar basicamente são ganhar mais força, maior resistência e um melhor aptidão física geral. Eu faço isso por conseguir ser muito consistente com o meu programa de treinamento e faço meus treinos intervalados rigidamente, e estes são treinos árduos. Eu não monitoro o meu ganho de elevação, mas como eu moro em uma montanha, então naturalmente acumulo um ganho de elevação por treinar na montanha. Eu construo a minha velocidade, fazendo também treinos intervalados de uma maneira intensa, como já comentei acima.

18) Durante a preparação para uma grande corrida, quantas horas por semana você normalmente treina?

Durante o meu pico de treinamento eu geralmente corro por cerca de 20 a 28 horas na semana.

19) Como você analisa a evolução do Trail Running considerando o cenário global? Na sua opinião, já podemos considerar a modalidade como um esporte vital dentro da indústria do running performance e não somente vital para as marcas outdoor?

Acredito que o Trail Running está presente nos EUA já há muito tempo, mas sua presença na Europa parece ser ainda muito maior. Parece estar crescendo muito ultimamente em diferentes lugares da Europa. Eu não irei necessariamente considerar a modalidade como um esporte “mainstream” ainda, mas pode sim estar tomando este caminho. É um esporte que definitivamente tem sua própria personalidade. É como se fosse um esporte próprio dentro da indústria do Runnning e eu acredito que sim, que é um esporte relevante não somente para as marcas outdoor, que toda indústria do Running pode se beneficiar.

20) Quem é a sua maior referência dentro da Ultra Trail hoje? Quais outros atletas no mundo você admira e gostaria de ter uma oportunidade de competir (se divertir) juntos?

Eu realmente gosto do Alex Nichols. Ele é provavelmente um dos ultra runners mais “under-rated” (uma expressão que significa basicamente: “ele é muito melhor do que as pessoas pensam) do mundo. Ele é trabalhador e muito talentoso, e eu gosto disso, mas o que é ainda melhor é o seu caráter. Alex é muito gentil e incrivelmente humilde. Ele nem sequer comemora quando ele cruza a linha em primeiro lugar. Ele não se vangloria, nem causa uma cena, é o cara que apenas vai lá e faz o trabalho e segue seu caminho. Ele é um grande corredor e um ser humano impressionante.

Outro corredor que me inspira é o Brandon Stapanowich. Brandon não é patrocinado, mas ele é bastante conhecido em Colorado Springs, aqui no Colorado. Ele foi 6º na Hardrock em 2015 e realizou muitos outros feitos impressionantes em esportes de endurance por aqui. No entanto, o que torna Brandon especialmente grande é o seu coração generoso e seu envolvimento com a comunidade local. Ele trabalha como fisioterapeuta pediatra. Brandon também ajuda a executar o projeto Achilles Pikes Peak em Colorado Springs. Achilles Pikes Peak é um grupo que ajuda pessoas de todas as habilidades a permanecerem ativos no esporte. Eles fornecer desde o trabalho de guias a Hand Cycles. O pessoal do Aquilles Pikes Peak realmente vai acima e além para ajudar as pessoas a levarem um estilo de vida saudável e ativo.

Quanto a com quem eu gostaria de correr, algum dia eu gostaria de correr com o Kílian Jornet. Ele poderia chutar o meu traseiro, mas eu gostaria de ter uma chance de estar em uma corrida com ele.

Clique aqui e conheça e também assista ao vídeo abaixo e veja como funciona este belo projeto e como a corrida pode ser usada como um incrível ferramenta de inclusão social.

Conheça mais o projeto.
 

21) Você tem um estilo de corrida muito impressionante e agressivo. Isso ficou bastante claro quando vimos você vencer o CCC em 2015 e está última edição do TNF 50 em São Francisco há pouco tempo atrás. Em ambas provas você está sempre dando o máximo. É sempre assim, sempre “Full gas” (gás total)?

Sim, bastante! Eu gosto de correr assim. Eu gosto de dar tudo de mim e testar meus limites. Às vezes funciona. Às vezes não. Mas no final eu quero que não haja nada no tanque.

Confira o vídeo alucinante do pega entre Zach Miller e Hayden Hawks na última edição da TNF São Francisco.
 

22) Falando um pouco sobre o UTMB, foi onde você fez sua estreia em uma prova de 100 milhas e liderou grande parte da corrida. Qual foi a maior lição desta corrida? É um assunto que você ainda não terminou, certo?

A minha maior lição é saber que preciso comer e hidratar mais, melhor. Eu levei um certo tempo para descobrir a estratégia ideal de abastecimento para uma corrida de 50 milhas. Eu sinto que eu tenho um bom controle sobre isso agora, mas eu preciso trabalhar para descobrir uma estratégia de abastecimento para uma corrida de 100 milhas. E sim, eu quero voltar e correr o UTMB novamente. Não tenho certeza quando será isso, mas eu quero voltar.

23) Falando sobre esta temporada, você estará no Hard Rock? Quais são suas expectativas para esta corrida?

Eu realmente não decidi se vou correr a Hard Rock este ano. Eu vou ou para a Hard Rock ou para o UTMB. Eu ainda estou tentando decidir qual destas duas provas fazer. Um dia eu gostaria de correr a Hard Rock, para homenagear o Bill Dooper. Eu não tenho certeza se será este ano, mas um dia eu quero correr esta prova para ele.

Clique aqui e confira quem é Bill Dooper, qual é o seu trabalho em prol do Ultra Trail e saiba por que ele está à altura desta homenagem. Sua história é incrível e inspiradora!

24) Gostaria de participar de alguma corrida na América do Sul? Patagônia?

Quanto à América do Sul e Patagônia, eu adoraria correr lá. Eu teria que ser hábil para encontrar algo que se encaixe em meu planejamento.

25) Envie por gentileza uma mensagem para toda a comunidade Trail na América do Sul e para todos aqueles que tiverem a oportunidade de ler esta entrevista.

Correr é algo maravilhoso. Ele pode nos levar a lugares incríveis e ajudar a tornar-nos seres humanos melhores. Não importa o quanto rápido você é, corra por amor, corra para se divertir, para explorar, e para ser uma pessoa melhor!

26) Na Go To Trail nosso “mote” é "We Are Mountain Surfers". Tentamos manter a mesma energia, o mesmo respeito pelas trilhas se compararmos por exemplo a relação dos surfistas com o oceano. Nós somos “surfistas de montanha” porque gostamos de sentir esta energia na natureza, por respeitar este habitat praticando Trail Running, Trekking, Mountain Bike entre outras modalidades outdoor. Buscamos desenvolver pequenos eventos para promover a cultura de uma vida outdoor ativa, tentando inserir novos praticantes nestas modalidades, convidando os pais a trazerem seus filhos. Você gostaria de se juntar a nós nesta missão? Gostaria de ser um “Mountain Surfer” e se juntar nós nesta missão?

Claro! Eu adoraria ser um Mountain Surfer!

Be welcome Mr. Miller! You are the fastest Mountain Surfer in our crew!

 

 

 
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