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AMANDA LOURENÇO, 34 ANOS, SE PROPÔS A PERCORRER TODOS OS 3.524 KM DA APPALACHIAN TRAIL
 
 
 
 
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Elias Luiz
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16.02.2017 - 12:10

Por que a Appalachian Trail?

  Elias Luiz  

A ideia de fazer uma trilha longa me veio quando alguém compartilhou num grupo do Facebook um vídeo sobre a maior trilha do mundo, que fica pronta este ano. O percurso é gigante: mais de 22 mil quilômetros que atravessa o Canadá inteiro. No início pensei em seguir um trecho durante o verão, quando as temperaturas estivessem razoáveis. O problema é que o que eu considero “temperaturas razoáveis” me daria um total de 53h de caminhada no Canadá, muito provavelmente.

Comecei a buscar outras trilhas com climas mais amenos e logo me deparei com a Triple Crown americana. São três trilhas longas: a Appalachian Trail (3.500 km), a Pacific Crest Trail (4.200 km) e a Continental Divide Trail (5.000 km).

A PCT ficou famosa por causa do filme Wild, com a Reese Witherspoon, e mais recentemente a AT também estreou em Hollywood com o filme A walk on the woods, com Robert Redford, ambos baseados em livros. A CDT prefere manter o anonimato por enquanto. O resultado disso é que a procura pelas trilhas aumentou muito nos últimos anos. Acho que alguém deveria fazer um filme de terror nelas pra balancear, fica a dica.

Abandonei a CDT rápido porque ela é longa demais, complicada demais e não é recomendada para iniciantes. Na verdade ela nem está inteiramente pronta ainda, tem trechos que não são demarcados. Fiquei entre as duas outras, que têm características bem distintas. A PCT, apesar de mais longa, é mais rápida de fazer porque é basicamente andar em linha reta, sem tantas variações de altitude quanto a AT. Na verdade ela foi construída para que burros de carga conseguissem passar. A AT é mais curta, mas é bem mais difícil fisicamente. Os trechos sem subir ou descer montanhas são raros e boa parte do trajeto é feita debaixo de muita chuva.

Por outro lado, a PCT tem muita variação de temperatura e terreno, então é bom estar preparado tanto para neve quanto, principalmente, para o deserto. A AT (para quem for sul-norte em março/abril) começa no frio, esquenta no meio e esfria de novo no final, mas basicamente todo o trajeto é dentro da floresta, por isso é chamada de túnel verde. Outra coisa que pesou bastante na minha decisão foi a oferta de água, bem mais escassa na PCT. Acho que meu pior pesadelo é estar no meio do deserto sem ter o que beber. E também é melhor porque não é necessário carregar tanta água, aliviando o peso. Ano passado tiveram muitos incêndios na AT, então o pessoal avisou que tem menos água disponível, mas ainda sim acho que é melhor que a PCT. O acesso às cidadezinhas para reabastecer também é mais fácil na AT.

O fato da Appalachian Trail ser bem mais popular foi um fator que começou como negativo, mas que passou a ser positivo. No início eu queria ir sozinha e permanecer sozinha, ter uma aventura única e solitária. Mas daí comecei a pensar que se eu caísse num buraco ou torcesse o pé, seria legal saber que em algumas horas outras pessoas passariam por ali para me ajudar. Nunca fiz nada parecido, não tenho muita experiência, não seria uma boa ideia me isolar do mundo assim.

Ainda assim tenho uma certa implicância com a forma com que algumas pessoas encaram a AT. Tenho a impressão que é o início de uma gourmetização da trilha e que em breve as coisas vão mudar bastante. Tipo os fanáticos do ultralight, que pagam 600 dólares em uma barraca que provavelmente não vai durar uma segunda viagem, e que conseguem gastar mais dinheiro na trilha do que morando em NY. Mas imagino que tenha de tudo e basta cada um encontrar sua turma.

Fora que quando muita gente começa a fazer o mesmo percurso no meio da natureza, acaba exaustando os recursos e nada pode ser mais tão espontâneo. Um papel higiênico no mato é uma coisa, cem deles é outra. Nem pensar em deixar nada no chão nessas circunstâncias. É permitido acampar quase em qualquer lugar, mas já é recomendado que fiquem nas áreas restritas para camping, para diminuir o impacto ambiental. Não duvido que em breve seja obrigatório.

Enfim, decidi começar pelo mainstream, porque por mais popular que seja, é uma trilha de 3.500 quilômetros, ora bolas. Qualquer conforto extra é bem-vindo. Mas há várias outras trilhas pelo mundo esperando para serem descobertas. Quem sabe pego gosto pela coisa e, com mais experiência, vou bater perna em outras paragens depois.

15.02.2017 - 12:00

Apresentação

  Elias Luiz  

Sou jornalista freelancer, 34 anos, carioca. Saí do Rio com 21 anos e já morei na Austrália, África do Sul e França, onde passei sete anos. Uma partezinha de mim se assume francesa, com quase tudo que isso implica. Sou meio nômade e meu sonho é viver um pouquinho em vários cantos do mundo. Sou uma slowtravel, nada de quinze países em uma semana comigo, prefiro um país em quinze meses.

No último verão europeu velejei por três meses entre as ilhas da Turquia e Grécia trocando trabalho no veleiro por hospedagem, alimentação e viagens. Viajar gastando pouco dinheiro, mas sem perrengues, virou uma especialidade minha. Assunto para outro blog, talvez.

Minha mais nova aventura é essa trilha de 3,500 quilômetros que pretendo começar em março e terminar em setembro. Vou contar um pouco desse capítulo da minha vida aqui.

Acompanhe o diário online de Amanda Lourenço em seu blog: Duas Mil Milhas



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