Travessia do Atlântico  
 
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  27.04.2013 - 13:07

Meu último diário

Bom dia para todos…e agora? A viagem hoje chega ao fim, e o sentimento é o mesmo da mãe que da a luz ao filho e depois entra no processo de depressão pós-parto, rs. O que fazer agora que não tenho que fazer mais turnos à noite, não preciso mais me preocupar com o Picolé, não terei mais o Igor ao meu lado todos os dias, e não terei a natureza aos meus pés…

O dia da chegada é sempre um dia para lá de especial, pois é o momento que toda a realização se concretiza, e desta vez é diferente, pois nunca houve tantos amigos juntos apoiando, escrevendo e acompanhando. A vontade que tenho é de abraçar um por um, de olhar nos olhos e agradecer a oportunidade de ter vivido esta emoção tão intensa nestes últimos meses.

A viagem deu certo e o Picolé agora tem uma casa, a Ilhabela. Quero que este barco sirva de inspiração para as crianças e que ele passe a ser um barco escola, ensinando aos pequenos os valores que se precisa para ir ao mar. Preciso devolver tudo que recebi, e esta é uma das maneiras que vejo.

Tenho tanto a dizer para vocês amigos, mas confesso que estou embriagado de tanta emoção. Não sei exatamente como traduzir o que sinto.

Já fiz um diário nesta viagem que fala da amizade, e como disse me sinto muito rico por ter tantos amigos. Uma vida sem amigos seria como um mar sem água, pois quem nega este movimento natural da vida não viveu nada, não aprendeu nada e talvez quase não tenha existido em vida.

Tenho refletido muito nos últimos anos a respeito da crença de um deus, e sempre que faço este exercício tento me afastar do conceito religioso a respeito desta questão crucial na vida de todos nós. Por que falar de Deus hoje? Senti vontade de expressar o meu olhar sobre esta questão, pois eu venho buscando este entendimento dentro de mim e o mar me ajudou a sentir muita coisa. Não tenho a pretensão aqui de dizer a verdade, até porque a verdade ninguém sabe, no máximo posso atingir a sinceridade.

O que vou publicar é algo que venho escrevendo e reescrevendo, e acho que nunca irei acabar este texto, mas hoje vou compartilhá-lo com todos, pois ele trás um entendimento que tem a ver com a viagem.

DEUS

Nesta reflexão não quero dizer nada que contrarie crenças, dogmas ou religiões. Creio no livre arbítrio e respeito a história de cada um. Quero dizer o que sinto a respeito de Deus. Uma reflexão necessária diante deste momento limiar que vivemos.

Percebo Deus fora, e o reconheço dentro de mim também. Sobretudo, Deus para mim é a inspiração amorosa que nos move ao ato de criar. Olhando para o céu boreal pude ver muitas noites estreladas, e um vasto universo em movimento. Percebi que este movimento do universo segue uma ordem. Mesmo que eu ainda não o consiga compreender, algo me dizia que dentro de nós seguimos a mesma orientação.

Deus está nesta conexão, está na ação de ligarmos nosso universo interior com o de fora. Como a luz que acende quando ligamos o polo negativo com o positivo. Deus se faz presente no ato de equilibrarmos nossos aspectos negativos e positivos. Quando fazemos esta conexão dentro de nós, criamos a nossa conexão com o universo.

A ação que nos aproxima de perceber a divindade dentro e fora de nós, quando entendemos que o nosso poder de escolha é proveniente do coração, isso verdadeiramente nos leva a paz. Este movimento é Deus e não apenas um estado latente divino. A capacidade divina de transformação que nós trazemos, se não for mobilizada nos afasta da compreensão de Deus e nos aproxima das crenças, dogmas e religiões que nos colocam diante um materialismo espiritual estagnado e controlador. Bem, mas o que é controle? Controle é a tentativa bem sucedida de nos imobilizar e que vem impedindo que nosso poder criativo interaja com a inteligência divina e amorosa, nos impossibilitando assim, que reconheçamos a nossa identidade e propósito.

Religião é a tentativa de colocar toda a água dos oceanos dentro de uma garrafa, e espiritualidade é quando você percebe que tem um oceano dentro de você.

Quando a ação não se faz, a luz se esconde na sombra, e Deus deixa de existir. Pois Deus é vida, e vida é o movimento, e o movimento é transformação, e transformação é o que vejo quando olho para o céu. Quando não olho para o céu, me vejo estagnado, e me distancio de Deus.

Vejo Deus como uma ação e não como um ser. Não seria apenas a beleza da flor, mas a fotossíntese que ela faz, mobilizando a capacidade que ela tem de transformar a energia da estrela, que a enviou pelo espaço sideral. Este entendimento da flor em se transformar e crescer é Deus. Observando por este prisma, Deus é um entendimento amoroso que mobiliza a capacidade criativa de cada ser, a caminho do movimento de transformação constante.

Não vejo a flor se negar em ser flor, e se negar a se desabrochar, mas vejo isso na humanidade. O vento não nega em ser vento, e cumprir seu papel de carregar o pólen para longe, ou mesmo de empurrar meu barco para seu destino. Somos nós que nos negamos a desabrochar e seguirmos para nosso destino brilhante, viajando por um caminho de infinitas possibilidades criativas. O universo esta aí a nossa espera. Temos muito que fazer.

Esta eterna jornada em movimento que podemos criar através das nossas escolhas, provenientes da nossa capacidade de conexão, é Deus. Deus não é apenas um caminho, não é apenas quem caminha, e sim o resultado da jornada criativa.

Alguém pode se indagar a respeito de Cristo, Buda ou Maomé. Não consigo saber quem foram, só posso dizer sobre algumas de suas idéias. Prefiro me ater aos conceitos amorosos e pacifistas do que acreditar em algo que não posso saber. A personificação destes seres de luz nunca deixou meu coração acomodado.

Por isso nunca me senti bem a pergunta: Você acredita em Deus? Não acredito em Deus, reconheço Deus em mim e nos meus atos.

Tentaram me mostrar um Deus humanizado, que julga, que dá e que tira, e para quem, em orações, precisamos pedir por proteção. Um dia me dei conta que não precisava pedir nada, aliás, percebi o quanto estava sendo ingrato ao pedir.

Como posso acreditar em algo que não vivi. Como posso acreditar em algo que não experimentei. Acreditar é dar crédito a algo que não foi vivido, e isso nunca vou fazer. Jamais assinarei um papel em branco sobre o que é mais sagrado na vida de um ser. A oportunidade de trilhar a jornada do discernimento e da iluminação. Este é um caminho de solitude, que muitas vezes pode ser confundido como um abandono, mas a grande beleza desta jornada é perceber que caminhamos juntos e separados.

Não sei quando, mas sinto que um dia entenderemos que o despertar foi a decisão mais importante que a humanidade tomou, mas ainda procuramos de um conceito de Deus equivocado.

Equivocamo-nos em pensar que somos seres humanos imperfeitos. Seria melhor percebermos que pervertermos os conceitos divinos, causando sofrimento e nos distanciando de Deus.

Vejo assim. Somos bailarinos, mas insistimos em dançar a música errada. Isso não significa que não possamos voar.

Não acredito em Deus. Reconheço Deus em mim, também reconheço Deus no voo do pássaro, no salto do bailarino, no céu estrelado dos mares do sul, no ato de perdoar, na compaixão pelos desafortunados, no reconhecimento de que a jornada é longa, na alegria de estar com os amigos, na gratidão de ter sido concebido por meus pais e nos meus encontros afetivos.

A pequena viagem termina hoje, mas a grande viagem continua, e tudo que vivemos neste período foi permeado por tudo que é sagrado. A amizade é algo divino, pois trata da relação amorosa entre todos nós. O que pode ser mais importante na vida de um ser humano? Amar ao próximo como amar a ti mesmo é a maneira que temos de entender o amor a Deus.

Temos duas certezas; nascemos e partimos, e a quem cabe esta escolha? Não sei, mas o que sei é que o que fazemos neste intervalo é de nossa responsabilidade. Chama-se livre arbítrio e esta é a oportunidade que a vida nos cede para podermos criar o que quisermos. Um tempo nos foi cedido e hoje a viagem termina e quem decidiu o dia foi o vento.

A vida é assim, temos um tempo que não é nosso, mas dele podemos chegar a Deus.

Um grande abraço a todos com muito carinho.

Beto Pandiani.

 

 




  25.04.2013 - 13:07
O Picolé virou poleiro de atobá.
Estão querendo nos testar? Já sabia que os deuses iam mandar a conta, rs.
O trato foi o seguinte. “A viagem vai dar certo, mas vocês vão ter que pagar um pedágio”. Estamos pagando mesmo, pois a falta de vento está sendo a marca da viagem. Ou pancada, ou merreca. Ontem não foi diferente, e passamos o dia todo olhando para o Rio de Janeiro, e não passava, e não andava e ainda havia uma corrente contra que adiava nosso pequeno progresso.
Na hora do almoço dois atobás começaram a rondar o Picolé e é bem comum eles cismarem com o zepelim que temos no topo do mastro. Mas estavam bem baixos, até que um deles conseguiu um pouso inédito e se equilibrou na ponta do pau do spinaker bem na frente do barco. Não acreditamos na figura e com cautela começamos a fotografa-lo. Passado meia hora ele já estava em casa, inclusive fazendo cocô no pau do balão. Logo depois chegou seu outro amigo e pousou ao lado. Um atobá já era raro, dois então…
Veio o terceiro e aí pensamos; vamos fazer um poleiro. Falamos tanto em trazer ovos e acabou que nos esquecemos. Agora quem sabe um deles não vai botar um ovo, rs.
O vento rondou e tivemos que subir o balão, então acabamos com o delivery e eles saíram voando. Ainda nos acompanharam por um tempo, mas depois sumiram.
Como não podemos dessalinizar água pela proximidade da costa, nosso estoque de água mineral baixou rapidamente e pedimos que nossos amigos cariocas nos abastecessem. Às 16h30min chegaram de barco a motor o Ricardo Ermel e o Cacau Peters, meu grande amigo e vizinho em São Paulo que estava no Rio a trabalho. Grande surpresa! Ganhamos bananas e maçãs, mais doze garrafas de água mineral. Dá até para tomar banho de água doce.
Seguimos nossa epopeia para chegar a Ilhabela no sábado às 10h30min na Praia da Armação.
Entrou um ventinho melhor, mas a corrente contra estava mais forte ainda e, embora o barco andasse mais rápido, o GPS indicava que estávamos a dois ou três nós. Caramba, que paciência que preciso ter. Desde a Ilha de Trindade há dez dias estamos navegando na merreca.

Veio a noite, a Lua cheia e navegando com o balão, fomos pouco a pouco deixando as luzes do Rio para trás. Amanheceu com um vento de terra muito bom. Ficamos animados, mas o vento baixou, baixou e foi embora. Estamos aqui balançando, as velas batendo fazendo um som irritante e torrando no Sol. Haja Red Bul….é preciso muita energia pra superar tantos obstáculos.
Esta rotina é um teste mental extremo, e ainda preciso saber o que preciso aprender com esta situação. Paciência! Estamos há apenas 75 milhas da Ilha, e daqui vemos a ponta da Joatinga, perto de Paraty. Tão perto e tão longe. O que fazer? Nada, apenas cumprir o trato com Éolo e esperar que surja uma pequena brisa para nos empurrar para casa.
Quero hoje fazer dois agradecimentos a dois amigos que gosto muito. Fabrizio Fasano que doou uma foto para ser vendida no Pote. Muito obrigado Fa, estamos juntos.
Marfará, já são mais de 30 anos de amizade. Muito obrigado pelo seu eterno apoio. A Academia Reebok tem sido fundamental para a minha preparação. Um grande abraço, estaremos juntos em breve.

 

 




  24.04.2013 - 20:00

O Brasil que sonhei e o Brasil que encontrei.
Bom dia amigos. Como sempre o dia começa cedo a bordo do Picolé, e às vezes não existe começar, e raiar do Sol não significa começar em um barco a vela. As noites são arrastadas e cheias de acontecimentos no mar.
Bom dia Zé Renato, ontem me esqueci de te agradecer pela festa no Espaço Off, agradeça a todos aí, forte abraço.
Muito obrigado também à Track & Field pelas camisetas. Abraço Fred, Beto e Ricardo.
Um pouco mais sobre a chegada em terra: ontem, depois de uma manhã com pouco vento e muita correnteza, chegamos à ponta mais lançada de Cabo Frio e passando em frente a Rio das Ostras liguei para um grande amigo, o Murillo Novaes, e pedi a ele que comprasse dois cheese burgers com fritas, dois refrigerantes e nos levasse a praia.
Parar a viagem para matar um pequeno desejo que naquele momento parecia uma coisa surreal. Algumas horas antes nós estávamos com mau tempo, chuva durante toda a noite, e passado meio dia chegávamos a uma praia linda, com águas serenas e com gente. Fazia tempo que eu não via um carro, uma casa e todas as coisas urbanas.
O encontro foi sensacional e como sempre o Murillo chegou todo sorridente com água mineral e os sanduiches. De repente, aparece uma vendedora de sorvete com um carrinho escrito picolé. Pronto, já fizemos uma foto juntos e explicamos a ela que nosso barco também se chamava Picolé. Aos poucos vieram alguns curiosos ver o barco e o Murillo dizia: “ Estes caras estão chegando da África” Engraçado ver as expressões. Uns olhavam para o barco e depois para nós com cara de desconfiança.
Não resisti, andei um pouco na praia, aliás, dei uma corrida na areia, precisava sentir o chão e o espaço. Fui até uma barraca de praia destas que vendem camarão frito e todas as coisas deliciosamente gordurosas.
Ali conheci uma figura, a Helô, a dona da barraca. Uma mulher morena bem forte e muito falante. Disse a ela que queria levar para viagem umas coisinhas, tipo; camarão, isca de peixe e aipim. Ela me perguntou por que eu não comia lá e eu expliquei que tinha pressa e estava chegando de viagem e tinha que prosseguir. Ela me perguntou: “De onde você vem moço?”. Respondi: “da África”. Ela espiou o barco, me olhou e disse.”Adoro o mar, mas ele ali e eu aqui. Você é muito louco moço!” Dei risada e me apresentei. Passado uns 20 minutos a Helô apareceu no barco com a comida em duas travessas de plástico. Disse-me que as travessas eram presente dela para não nos esquecermos dela. Eu disse que não precisava das travessas para me lembrar dela. Nunca me esqueço destas paradas carregadas de tanta surpresa, e nem das pessoas que nos trataram com tanta generosidade e simpatia. Fizemos fotos juntos, mostramos o barco a ela e nos despedimos. Esta é a marca do Brasil para mim e como já naveguei toda a costa brasileira, sei bem o que é receber este afeto de pessoas simples, espontâneas e engraçadas. Quando entramos no Brasil vindos de Puerto Montt na Expedição Rota Austral em 2001, paramos os dois catamarãs em uma longínqua praia do Rio Grande do Sul chamada Praia da Solidão e lá encontramos o Seu Serafim que nos acolheu e acabamos dormindo em sua casinha que ficava atrás das dunas. O Seu Serafim era um grande contador de histórias. Era casado e tinha dois filhos mais velhos que vinham vê-lo de carro pela praia e também abastecê-lo. Ele morava no meio do nada. Na sua modesta casa havia uma pequena TV de tubo de 14 polegadas ligada em uma bateria de carro. Aquele pequeno televisor era a janela dele para o mundo. Só tinha energia para ver o noticiário e a novela junto com a sua esposa. Não sei o que ele pensou em ver quatro velejadores chegando com barcos tão desprovidos naquele lugar esquecido, mas a sua generosidade em nos acolher e insistir para que jantássemos juntos me deixou tocado. São pessoas que tem muito a oferecer, apesar de terem tão poucos recursos financeiros. Às vezes associamos coisas, bens materiais com o ato de oferecer. No fim se refletirmos acho que nós invertemos as coisas, pois ao oferecer algo a alguém, na verdade estamos recebendo. Estamos recebendo a oportunidade de oferecer, de doar ou de servir e este é um dos propósitos mais elevados da alma humana, creio eu.
Saímos da Praia do Sonho às 15h00min de barriga cheia, e o nome não podia ser melhor, pois sonhávamos com um sanduiche de verdade. Com vento leve passamos pelo boqueirão de águas azuis e transparentes, saindo para mar aberto em direção ao Rio de Janeiro. Esta rota parece uma avenida de barcos de serviço e navios da Petrobras. Eles vão e vem do Rio para a Bacia de Campos o tempo todo. Navegamos a noite toda de olhos bem abertos e pelo rádio ainda tentamos uma carona até a frente do Rio, pois o vento foi parando até deixar o Picolé bem lento. Do lado direito do barco as luzes do continente deixavam a navegação com um ar de mais segurança. O meu medo da navegação em mar aberto e longe de terra é do barco quebrar e termos que abandoná-lo no meio de um resgate. Isto seria uma grande dor para mim. Este é o meu segundo pior medo. O primeiro é cair na água à noite e morrer sabendo que vou morrer em alguns minutos. Esta situação me veio algumas vezes na mente durante a viagem e me via imaginando o que eu pensaria nessa hora. Pensaria nas pessoas queridas que não veria mais, que estava partindo sem me despedir, enfim, que seria uma morte carregada de tristeza. Mas trabalhamos para que isso não fosse um risco usando cinto de segurança e colete. Este é um alerta, pois não temos data de validade e ninguém sabe o dia da partida, portanto vamos usufruir o melhor da vida que é se relacionar bem com as pessoas a nossa volta. Pense nisso sempre, e faça tudo em vida com consciência.
O que eu sonhei este mês que fiquei velejando em mar aberto? Sonhei acordado, com muitas coisas, tive tempo de refletir sobre algumas das minhas sombras, meus medos e como a nossa vida aqui neste planeta é organizada, ou desorganizada. Quando temos tempo para reflexões percebemos o quanto nos falta ainda, o quanto temos que melhorar.
Amo o Brasil, amo a nossa cultura, aqui estão meus amigos, minha casa, minha família, meu amor e minha realização profissional. Mas falta muita coisa para eu me sentir feliz plenamente. Como posso ser feliz vendo uma porção de gente a minha volta vivendo de maneira miserável? A miséria a que me refiro não é somente a pobreza material, mas também a miséria espiritual, em ver a falta de reconhecimento de muita gente em relação a maior riqueza que temos. O mundo anda esquecido da nossa vocação que é a generosidade. Nossa educação é falha e educar no Brasil é alfabetizar. Onde andam os valores, o amor à nossa terra? Aprender a cantar o hino nacional não é ser patriota, aliás, preferiria que o nosso hino fosse Aquarela do Brasil. Tem muito mais a ver para mim.
Estou falando de educação, pois ontem à tarde o Igor e eu ficamos chocados. Quando saímos mar aberto passamos horas olhando o lixo passar ao nosso lado boiando. Milhares de embalagens por todos os lados flutuam por estas águas. Não vi nada parecido em nenhum lugar do mundo. Sei que existem ilhas de lixo no meio do Pacífico que estão presas por correntes marinhas que acabam deixando-as agrupadas. Mas depois de ficar tanto tempo sonhando com o Brasil, a minha terra amada, foi isso também que encontrei. Lixo no mar.
Este é o Brasil de contrastes, o Brasil generoso e o Brasil sem educação e sem rumo, com valores trocados. Sei que o que sonho é uma obra de todos e mesmo que eu faça o máximo, eu nunca verei pronto o que sonhei, talvez um pouco melhor. Mas nem tudo que plantamos, vemos florescer. A colheita vem de outra forma. Às vezes penso assim: um dia minha alma vai voar por aí, por universos paralelos e quem sabe eu possa olhar o planeta Terra de longe e enxergar uma pequena luz acesa e saber que eu ajudei a iluminá-la. Isso seria uma grande benção para a minha alma.
Enquanto estou aqui junto a todos, tento ser o melhor humano possível e dentro desta busca confronto minhas sombras e tento compreendê-las e por fim equilibrá-las aceitando-me como um aprendiz. Vejo que a mudança que todos nós sonhamos começa dentro de cada um, e o lixo que vi no litoral fluminense e que existe em toda a parte, é um reflexo do nosso mundo interior que anda muito poluído. O mundo exterior tem o papel de nos dar a referência dos nossos atos e da nossa índole interior. Não cabe aqui acusar ninguém, mesmo sabendo que o poder público é omisso, mas vale a pena olharmos para a nossa potencial capacidade de sermos generosos, reconhecendo-a como a nossa grande qualidade.
Precisamos aprender a receber, pois a vida já nos deu tudo, a natureza é uma prova disso. Para mim, pedir em orações muitas vezes é uma falta de capacidade de reconhecer tudo que a vida nos deu e continua a dar. Uma espécie de mau agradecimento. Entendo que as nossas orações deveriam buscar o entendimento de que a salvação vem de dentro de cada um de nós. O que criamos e não funciona deve ser recriado. O que fazemos e é injusto deve ser desfeito e feito com amor. Deus não virá nos proteger ou nos salvar de nós mesmos. O maior inimigo do Brasil é o Brasil. O seu maior inimigo é você mesmo, e o seu melhor amigo também é você mesmo.
Continuamos a velejar, e dia 27 vamos todos comemorar em Ilhabela a nossa chegada e conclusão desta longa jornada.

Por que viajar? A viagem é um pequeno exercício, uma prática, para lembramo-nos que a grande viagem é a existência.

Um grande abraço a todos.

 

 




  23.04.2013 - 23:07

Terra firme!!!

Olá amigos, depois de 34 dias no mar finalmente pisamos em terra, ou melhor, na areia rs. Missão cumprida: navegamos direto da África do Sul ao Brasil!

Chegamos à praia dos Anjos, em Arraial do Cabo, onde nosso grande amigo Murillo Novaes nos recebeu com sanduiche e refrigerante – vocês não imaginam o sabor que isso tem depois de tantas refeições liofilizadas.

Aproveitamos para retirar o lixo de dentro dos cascos, já que não jogamos na água nada que pudesse poluir o oceano e, antes de partirmos para Ilhabela, comemos mandioca frita e um peixinho feitos pela Dona Helô a quem presenteamos com nossa comida de bordo .

Depois dessa pausa zarpamos rumo a Ilhabela, velejando no mar turquesa do Pontal do Atalaia.

Amanhã próximo à hora do almoço passaremos ao largo da Baía de Guanabara – quem estiver por perto pode nos levar algumas frutas, será muito bem vindo!!

 

 




  22.04.2013 - 13:00
Falta pouco
O Picolé está de rabo abanando, louco de desejo de ver Cabo Frio esta noite. Já temos preparada a nossa garrafa de vinho do Porto para brindar. Quem sabe amanhã na hora do almoço não vamos estar em frente a Copacabana. Nossa, que ideia! Vamos parar no Porcão para comer alguma coisinha, rs.
Esta noite foi igual às outras noites. Mar de lado, sacudidas fortes, ondas quebrando em cima do barco e nos ensopando. Agora de manhã o Igor tomou três banhos sem querer. Impossível não rir. Eu tomei um, mas foi embora o meu tênis seco. Desde que fizemos a viagem do Pacífico temos um problema com a água. Ela bate na lateral do barco e sobe entre a asa, pegando em cheio no rosto ou nas pernas. Achamos que tem um pinguim safado que viaja conosco, e que apronta jogando água na cara, pois tem vezes que nem percebemos onda alguma e vem aquele jorro. Esta noite o pinguim aprontou muito.
Vimos muitos navios de container, graneleiros e petroleiros. Passaram bem próximos e sempre acho estas latas flutuantes assustadoras, pois aparecem muito rápido e por isso agora estamos de plantão a noite toda. Exatamente agora estamos vendo quatro plataformas da Petrobras e à noite era possível ver as luzes da região onde se concentram a maior parte delas. Uma visão estranha, pois vemos também a fumaça saindo delas.
O Brasil é o campeão mundial de peixes voadores. São muitos voando na proa do Picolé e ontem, velejando no fim da tarde contra a luz do Sol, o espetáculo foi impressionante: centenas deles voando em cima das cristas das ondas douradas do fim de tarde.
Estamos cansados, mas é incrível como a nossa energia é reposta em pouco tempo de sono! Acho que vocês estão mandando muitas boas vibrações para nós, pois não sei de onde vem este gás final. Só pensamos em ver terra para dar uma respirada profunda e um grande abraço.
Estamos todos no mesmo barco. Obrigado pelo carinho, dá para sentir daqui.


 

 




  21.04.2013 - 12:00
Olá Brasil, tem alguém ai?
Estamos muito próximos de ver terra, ou melhor, luzes, pois vamos nos aproximar de Cabo Frio na noite na segunda-feira. Não sei nem o que escrever, pois hoje completamos 32 dias no mar. Muito tempo mesmo, mas a memória é curta, e toda esta dificuldade vai desaparecer quando nós virmos o Brasil.
Ontem à noite velejamos com vento bom e hoje amanheceu com um mar mais baixo. Temos previsão de ventos mais fortes hoje à tarde, que só viram para sueste depois do almoço. Vamos ter uma noite movimentada e bem sacudida. Despedida!
O clima a bordo é ótimo, mas estamos mais calados, acho que é a ansiedade de chegar. Vamos diminuir o ritmo quando chegarmos no Rio de Janeiro e Angra, pois queremos chegar em Ilhabela no sábado dia 27 para a festa de chegada com os amigos. À noite tem festa na Pousada Armação dos Ventos e estão todos convidados. Vamos ficar uns dois dias parados em algum lugar para chegar na hora certa e sem atrasos, rs. Nossa, como já mudamos duas vezes a data de chegada, agora não podemos mais titubear.
Ontem vimos dois navios e a partir de agora vamos começar a pegar o tráfego na costa brasileira, inclusive as plataformas de petróleo.
Despeço-me de todos com grande expectativa de poder anunciar terra à vista.


 

 




  20.04.2013 - 9:59

Olá amigas e amigos do Brasil
Falta pouco, estamos muito próximos agora que o vento voltou. Dia 18 à noite o vento chegou com muita chuva e rajadas que fizeram o Picolé andar, só no período noturno, o que andamos em 48 horas. A chuva também trouxe a apreensão de velejar sem ver absolutamente nada. Andamos às cegas até a sexta-feira dia 19 às 9 da manhã. Com um mar um pouco desencontrado o vento firmou em sul sueste e colocamos o barco para correr.
Esta viagem está superando todas as outras em termos de desgaste mental e tem sido difícil manter a motivação lá em cima. A noite de quinta para sexta-feira foi dura, pois além da chuva o barco bateu muito e dentro da barraca a cabeça vai para todos os lugares, pois o medo de que aconteça algo errado é grande.
Sei que vocês estão mentalizando boas energias para nós, assim como as pessoas da minha família, a família e amigos do Igor, e este foi o nosso assunto ontem. Quantos amigos gostariam de estar aqui e não podem e ainda assim colaboraram com a viagem. Esta é uma motivação e um compromisso que assumimos.
Temos uma ótima perspectiva para os próximos dias, mas vou evitar falar que dia vamos ver terra, pois já nos frustramos mais de uma vez. Sei que está próxima e aqui a bordo do Picolé temos uma garrafa de vinho do Porto da África do Sul que o Manuel Mendes nos deu. Manuel, quando virmos terra vamos abri-la e faremos um brinde a você, querido amigo. Falamos todos os dias com o Manuel, que nos passa o prognóstico meteorológico. Manuel, a onda grande baixou sim, rs.
Ainda no final do dia 19 de abril. Passamos as chuvas e nosso fim de tarde nos dá uma esperança que agora vamos ter vento e mar favoráveis. Jantamos já na companhia da meia Lua e colocamos o piloto automático. Estou exausto, pois não dormi nada na noite anterior. Não consigo dormir, o barco começou a chacoalhar com a entrada de ondas cruzadas.
Lá pelas 3 da madrugada, ainda acordado, sinto o barco acelerar bruscamente e uma onda bater forte contra a minha barraca. Olho para fora e o Igor também estranhou a acelerada. Grito para o Igor pegar o leme e arribar, pois estava adernando demais e era para o meu lado. Como o piloto automático fica do lado dele a sua barraca fica quase sempre a barlavento. Traduzindo, fica do lado mais alto do barco quando ele inclina. O Igor saiu da barraca, mas era quase tarde demais, e o Picolé adernou tanto que a água entrou na minha barraca. Tinha certeza que íamos capotar o barco. Por um segundo não viramos. Resultado: minha casa inundou, molhando saco de dormir e todas as minhas roupas secas que estavam lá dentro. Baixamos mais a vela, e guiamos o barco até as nuvens de chuva desaparecerem.
Passei o resto da noite com frio e logo às 5:50 começamos a velejar com um mar bem encardido, muito curto, castigando o Picolé. Nosso sábado começou assim e não sabemos como vai acabar. Passou por nós o primeiro navio na costa brasileira, então instituímos os turnos no leme a noite toda.
Estamos a 400 milhas de Cabo Frio e isso é animador, mas temos vento contra todo o tempo. Vai ser duro este final. Estamos muito cansados e nossos estoques de café da manhã acabaram - só temos um salame, uns biscoitos, e dois muslis. Prato quente para almoço e jantar tem para mais 15 dias, mas sinceramente, antes disso quero comer um prato de comida, tomar suco de laranja e começar a recuperar o peso. Meus calções estão caindo, rs.
Vamos completar na semana que vem cinco semanas no mar a bordo do Picolé. Isso é muito tempo para um veleiro normal, para um barco aberto…
Grande abraço a todos.


 

 




  18.04.2013 - 9:59
Tempo de resistir e esperar

Bom dia amigos, como anda nosso planeta? Não leio uma linha de notícias há quase um mês, tempo que estamos a bordo do Picolé. Imagine em um mês, o que se pode fazer em terra.
Por aqui as coisas andam bem lentamente. Recordes de lentidão vão sendo batidos e registramos nossas piores 24 horas. Mas hoje à tarde ele deve voltar pela previsão e a ideia é só parar quando chegarmos próximos à Ilhabela.
Com um calor de 36 graus na sombra, ficamos confinados a um pequeno espaço no barco. Ficamos quietos, parecia que vinha uma brisa e ela morria. Falávamos um pouco e vinha outra rajadinha passageira. Esperamos a hora do almoço para fazer algo. Comemos e discutimos o que teríamos no jantar. Toma-se um banho de mar, dá uma espichada, olha para o horizonte, ouve música, e assim o dia foi passando. Como disse o Igor, parecemos dois tuaregues do deserto, que se movem lentamente de acordo com as condições. Vida de vagabundo do mar.
Ontem ouvi pela milésima vez um disco do Tom Jobim, Stone Flower. Recomendo esta obra-prima. Ele gravou este disco nos EUA no final dos anos 1960 se não me engano, e por muito tempo só era possível comprá-lo lá. O Carlos Santana gravou a faixa título Stone Flower em 1972 no célebre disco Caravan Serai, outra obra-prima. Escutei as duas versões várias vezes e confesso não sei qual é melhor. Uma das faixas prediletas do Tom neste disco é Amparo. Não sou nem um pouco saudosista, mas hoje em dia é difícil ouvirmos música de alta qualidade, e renovar esta safra de músicos parece difícil.
No final do dia lentamente o Sol naufragou atrás deste mundão de água e à sua maneira anunciou a noite, que trouxe a escuridão. Com o Sol foi-se o calor e veio um frescor. Curioso ver como a natureza se expressa, nos mostrando de maneira clara o nosso mundo de dualidades. Noite e dia, sombra e luz, medo e amor, ignorância e informação. A vida assim nos convida a dançar entre as polaridades. Outra coisa que andei pensando. O homem já foi a Lua, enviou sonda a Marte, mas ainda não sabe tudo sobre as profundezas da Terra. Vejo a nossa facilidade para olhar para fora e a nossa dificuldade para observar no nosso oceano interno.
Em minhas reflexões percebo que o que me ajuda a mergulhar é a minha sensibilidade, que me parece ser a nossa impressão digital. O que nos diferencia e ao mesmo tempo nos aproxima é a sensibilidade, e o que nos separa e nos iguala é a ignorância. Talvez seja o medo de sabermos quem realmente somos. Derrubar máscaras requer muita determinação.
Jantamos no escuro e percebemos que estávamos entrando em uma área de chuvas. Começaram alguns trovões ao longe e então cada um se recolheu. Deixamos só a vela menor da frente, a buja.
A calmaria é o teste supremo da paciência. Ela retarda o sonho e confronta a nossa determinação. Fiz um exercício de imaginação que gosto de fazer sempre que estou em algum lugar especial. Olho onde estou e depois fecho o olho imaginando que estou subindo, e bem lá de cima me vejo. Vi o Picolé como um pequeno ponto vermelho no meio de um azul imenso flutuando sem vento e a deriva. A bordo, duas vidas com toda a sua complexidade e profundidade, como dois mares. Abaixo milhares de seres não percebidos. Dentro destes mares uma trajetória vasta e diversa, que hoje vivem juntos algo único, a experiência de cruzar um oceano no Picolé e cada um poder fazer o seu mergulho. Vasto mesmo é quando dois oceanos se encontram.
Esta imersão na natureza selvagem me deixa muito sensível e por isso consigo perceber com mais facilidade o que sinto. Engraçado é que muita gente entende sensibilidade como uma espécie de fragilidade. O que sinto é que ela abre as portas para a compreensão da vida submersa. No mergulho vejo como a vida anda invertida, como os valores verdadeiros são confundidos com os dogmas e crenças. Este é um bom tema de uma boa conversa na Ilha do Tamanduá, perto de Ilhabela, e de preferência comendo uma lula grelhada que só o Juan sabe fazer. Vamos lá Fafu? Saudades de muitos amigos queridos.
Na viagem Rota Boreal quando velejei com o Felipe Whitaker de Nova Iorque à Groenlândia em um catamarã de 20 pés, já próximo do final da viagem escrevi uma carta ao mar. Tínhamos pela frente as últimas 500 milhas de mar aberto para tocar a Groenlândia e com esta viagem eu terminaria uma série de cinco expedições com roteiros que conectavam a Antártica à Groenlândia. Estávamos na Península do Labrador quando escrevi quase um pedido ao mar. Esta carta eu já publiquei no Facebook e está no meu livro, O mar é minha Terra.
O que aconteceu é que velejamos 200 milhas e o vento parou totalmente. Foram 11 dias sem vento na região. Muito antes disso tivemos que desistir e pedir um reboque no barco que nos dava apoio para este trecho de águas geladas. O Kotic II nos rebocou e acabei esta viagem muito frustrado. Aqui é diferente, pois nosso barco é um pouco maior e não estamos em uma região polar com risco de vendaval. Temos muita comida e a nossa barraca, que é uma invenção e adaptação para um barco sem cabine.
Agora chegou o momento apropriado de publicar a minha carta ao vento, que alguns de vocês já leram.


 

 




  14.04.2013 - 15:00

E La Nave Vá, devagar...
...às vezes nem tanto, e como sempre brincamos: nunca estivemos tão perto do Brasil. Esta frase eu falei para o Igor quando saímos de Viña del Mar em 2007 rumo à Austrália. Faltavam ainda 17 mil quilômetros e ele me olhou com uma interrogação no rosto. Era uma brincadeira que tinha um sentido maior.

Se considerarmos que esta viagem começou faz quase dois anos- quando começamos a idealizá-la - e depois passamos por todo o processo de captação, construção do Picolé na Alemanha, as velas na North Sails Argentina, compra de equipamentos em toda parte do mundo, milhares de e-mails, a consolidação da equipe da viagem com Maristela, Denise e Bene, e a assessoria do Doro, a ZDL. Se considerarmos tudo isso, posso afirmar que antes de colocarmos o Picolé na água em Capetown já havíamos feito 80% da viagem, os outros 20% estamos fazendo agora. Está difícil, mas nem imaginem o que foram os 80% anteriores. Quantas noites fiquei pensando que podia não conseguir captar os recursos necessários ou que o barco não ficaria pronto a tempo e coisas assim. Até o filho nascer eu não sosseguei. Todos vocês sabem como foi o final da captação, com a campanha do Pote, que demorou para encher mas no final deu uma acelerada incrível e chegamos na nossa meta. O Igor também fez uma campanha entre seus amigos e levantou mais recursos, ajudando o nosso orçamento. No último minuto do segundo tempo, veio a Certisign como um novo parceiro da viagem. Parece que passamos no teste e então nos credenciamos a colocar o barco na água. A lição para mim tem sido parecida ao longo do tempo: acreditar em mim, nos amigos visíveis e invisíveis.
Assim, partimos de Capetown com os corações cheios de esperança e muito emocionados com tudo o que aconteceu para chegarmos naquele instante.
Agora pelas manhãs, quando vemos o nosso progresso da noite anterior, o Igor fala a mesma coisa para mim com um sorriso no rosto e damos sempre uma risada de quem entende bem o isso significa. Cada milha para nós é sentida, pois velejamos olhando as ondas, as rajadas, a rodada do vento e tentamos nos aproveitar de cada coisa que possa trazer benefício à performance do barco.

Ontem tivemos um dia ótimo, como há muito tempo não tínhamos. Vento de sudeste médio com ondas a favor, por isso progredimos bem e velejamos 80 milhas de dia. À noite o vento caiu novamente e acalmou, assim andamos apenas 20 milhas. Na madrugada o vento virou como previa a meteorologia e passou a vir de nordeste e ainda deve torcer para norte e depois noroeste mais forte, ou seja, quase vento na cara. Estamos vendo que na região da costa paulista e fluminense está passando uma forte frente fria e com muito vento de sudoeste. Deve estar chovendo e fazendo um friozinho aí.Domingo de ficar em casa vendo TV, almoçando com os amigos…
Aqui faz um calor enorme, mas isso vai mudar em breve pois daqui a uns dias vamos descer apontando para Cabo Frio. Nossa latitude é 20 graus Sul e 26 graus oeste. Temos que nos manter por enquanto por nesta latitude para não pegarmos ventos contrários, então o jeito é esperar o momento certo para descer direto.
A vida a bordo segue muito boa diante destes dias tranquilos, mas devemos começar a ter mais trabalho à medida que vamos nos aproximando do Brasil. Está confirmado mesmo: chegada adiada no dia 20, e agora vamos para o outro sábado, dia 27 em Ilhabela, na Praia da Armação.

Pedrão, prepara as coisas aí na BL3, vamos chegar com fome, rs. Muita saudades dos amigos.


 

 




  13.04.2013 - 15:00

Muita dúvida e uma certeza
Bom dia amigos do país Picolé. Ontem à tarde e até a meia noite ficamos acalmados, parados no mesmo lugar. Com a aproximação de umas chuvas o barco voltou a andar e depois o vento firmou. O Igor dormia no trampolim fora da barraca, quando sentiu pingos de chuva e o vento. Ele subiu um pouco de vela e começamos a nos mexer. Acordei com o movimento e me surpreendi com a chuva, pois quando dormi não havia nada no horizonte, só um C da Lua crescente se pondo amarela no horizonte e milhões de estrelas. Saí para amarrar o resto da vela e a chuva forte me pegou em cheio. O Igor caiu na risada, pois ele só ouviu um tá tá tá, que parecia um cachorro correndo para a casinha. Foi isso mesmo, entrei igual a um foguete na minha barraca. Ele gritou do lado dele: “Pega o paninho se não vai molhar” - sempre cuidando do paninho faz tudo.
Com a falta de vento desta semana que passou não vamos conseguir chegar a Ilhabela no dia 20, portanto amigos, sinto muito se alguém se programou e sinto também por nós, que tínhamos expectativa de chegar em terra na semana que vem. Paciência, temos uma meteorologia desfavorável, com pouco vento e depois de segunda-feira com ventos contrários.
Temos comida em abundância, mas as coisas frescas se foram, comemos o último grapefruit agora de manhã. Sonho em poder tomar um simples suco de laranja, comer uma salada de tomates com alface e um prato de frutas. Já que não posso, vou me dedicar ao máximo para levar o Picolé de volta para casa. As noites tem sido difíceis para mim, pois a caminha improvisada é muito dura e passo a noite virando de um lado para o outro, igual frango de padaria, tentando encontrar uma posição melhor. Depois que comecei a fazer estas viagens, passei a amar minha cama e não tem uma noite que eu chegue em minha casa e olhe para ela com o devido valor. Isso aconteceu com o ato de beber água, comer, ter energia elétrica e ver da janela a chuva cair fora de casa. A vida aqui não é superlativa como na cidade, aqui temos um modo de vida espartano ao máximo e nosso exercício é maximizar, minimizar, valorizar, pois os recursos são finitos e é fácil de ver. Na cidade perdemos a noção dos recursos que dispomos e vivemos uma vida perdulária em todos os sentidos. Vou até mais longe, acho que perdemos muita energia em pensar bobagens que não levam a nada. Aqui toda a nossa energia consumida tem que nos levar de volta para casa. Acho que isso dá uma boa reflexão para todos. Onde queremos chegar com a energia que dispomos? Vejo a vida assim: nascemos cada um com uma cota de energia programada para chegar a um determinado lugar, como um carro que pega uma estrada e tem combustível para tantos quilômetros. Se chegarmos antes do tempo, acho que ganhamos uma sobrevida, mas se nos perdermos no caminho e gastarmos nossa energia em coisas supérfluas, podemos ter nosso plano de vôo revisto. Viva mais com menos, viaje leve e vá longe, mandamentos do Picolé.
Estamos a 300 milhas da ilha de Trindade, e mais 600 de Vitória. São três dígitos que nos separam do Brasil e isso é um grande incentivo para nós. Aqui no barco comemoramos todas as pequenas coisas, assim mantemos o ótimo humor e astral.
A nossa ideia é fazer a aproximação do Brasil por Cabo Frio e depois descer a costa fluminense e em seguida a paulista. Dependemos do vento e ainda não sabemos ao certo o que vai acontecer até quarta-feira da semana que vem.

 

 




  12.04.2013 - 15:00

Onde você mora?
Bom dia turma ai do Brasil, como vai o nosso país? São Paulo anda congestionado? O que tem acontecido de novo, alguma descoberta inusitada? O assunto futebol ainda é o tema central da mídia em nosso pais? Esqueci, tem a corrupção e as notícias pessimistas sobre a economia…
Por aqui nada mudou, continuamos a velejar com vento bem fraco, mas vamos avançando pouco a pouco. O que mudou por aqui fomos nós. A ansiedade foi embora e agora jogamos com que o vento nos oferece. Temos que nos adaptar às leis da natureza, e o jogo parece ser de paciência. Houve um tempo que havia ondas, peixes, pássaros, vento, nuvens, chuva e o movimento do Picolé. Hoje não existe nada além de céu, mar e um barco estático com horizonte a perder de vista 360 graus. Em cima dois amigos se perguntando muitas coisas. Aqui temos tempo para refletir, cada qual em seu oceano.
O dia que chegarmos está bom pra nós, tenho certeza que estamos nos empenhando ao máximo. Assim a vida a bordo no Picolé acontece, com pequenos eventos que tornam o dia alegre. Por exemplo: nossas refeições, a mudança das velas ou quando mudamos o barco de lado em direção ao vento. Um dos desafios diários é conseguir ficar na sombra e para isso temos duas pequenas varas com uma tela, que é presa atrás de nós onde quer que sentemos. No fim do dia, quando a luz fica linda, chega a hora de preparar a noite, e do banho também. Banho de toalhas umedecidas, do talco para tirar a umidade e de lavar o rosto e tirar o sal. Nos dias de mar grosso tudo isso não existe, pois não temos condições de vida a bordo. Uma coisa que parece insignificante na nossa vida, mas que aqui é muito importante é uma toalha pequena, paninhos e muito papel toalha. Tudo que fazemos, limpamos com eles. Os pratos, as mãos, o sal do corpo, nosso lugar de sentar e dormir, as câmeras e assim por diante.
Estes dias de chuva que passaram nos deram a possibilidade de lavar o barco e as nossas coisas. Vida de arrumadeira, sempre procurando deixar tudo organizado e limpo. Não é tique nervoso… rs
Ontem, depois de uma grande calmaria, começou a soprar uma leve brisa de sudeste que permaneceu a noite e a previsão diz que ficará conosco até sábado. Vento de boa direção, com mar liso, mas fraco e por isso não estamos fazendo muitas milhas. Vocês devem estar vendo isso no mapa, mesmo assim olhar a carta náutica e ver a costa brasileira mais próxima é muito gratificante.
O sentimento que tenho ao olhar para o horizonte é confuso, pois sei que um pouco mais verei a costa de um lugar tão gigantesco, tão complexo e cheio de contradições. Um lugar chamado Brasil, nome que vem de uma madeira vermelha, que é o lugar onde escolhi nascer, lugar onde fiz muitas amizades, lugar onde procuro me desenvolver, onde tento me entender a partir das atitudes alheias e principalmente onde procuro a forma de ser colaborativo com as questões da nossa sociedade. No último diário falei sobre as leis da natureza e depois fiquei pensando sobre as leis dos homens. As leis da natureza como disse são duras e claras e, sobretudo, são iguais para todos. As leis dos homens são iguais para todos? A quem interessa a lei da natureza? A quem interessa a lei do homem? A natureza pune? Não sei dizer se a palavra é punição, mas ela se impõe de uma forma tão clara e forte que acaba tornando-se um estímulo se desenvolver para poder sobreviver a ela, a natureza. Ela veio antes de nós e sinto que existe uma consonância com a nossa natureza interna. No mundo dos homens não consigo ver as leis relacionadas à nossa natureza e ao nosso desenvolvimento, mas sim à punição e ao estímulo do medo. Porque penso isso? Porque não vejo como as pessoas vão deixar de cometer erros se elas não tem a chance de aprender os verdadeiros valores morais e espirituais. Estamos sempre a um passo atrás. Imaginem se velejadores andassem pelo mundo afora despreparados para enfrentar o mar. Morreriam na certa, pois o aprendizado no mar começa desde cedo e um grande mandamento é, respeito. Mas não precisamos temer, e sim respeitar, conhecer, se conhecer, se empenhar, trabalhar e ver que tudo tem um propósito alinhado com nossos desafios pessoais. No nosso mundo muitas vezes cumprimos as leis por temor, mas não estamos bem certos sobre elas, pois sabemos também que quem é amigo do rei tem outro tratamento. A nossa sociedade não educa, ela pune.
Tenho certeza que se todos nós fossemos educados com amor e senso de justiça não precisaríamos de código penal, leis religiosas e coisas assim.
As leis da natureza estão alinhadas com as leis do universo. As leis dos homens estão alinhadas com as suas imperfeições. O que temo? Que o homem continue agredindo a natureza e que o resultado seja uma reação semelhante ao nosso sistema, e a punição seja o nossa próxima colheita.
Grande abraço a todos, saudades.
Beto Pandiani.


 

 




  11.04.2013 - 15:00

Um mundo silencioso
Olá a todos os tripulantes do Picolé. Navegantes que nos acompanham diariamente, muito obrigado pelo apoio e carinho. Espero vê-los em breve, ou em Ilhabela na chegada, ou em São Paulo. Para quem quer saber exatamente onde estamos; LAT: 21: 10 SUL E LONG: 22:10.

Ontem nosso dia foi de muita paciência, pois velejamos novamente com vento fraco, mas como o mar estava liso, conseguimos um pequeno progresso. Assim tem sido nossas vidas por aqui, pequenas vitórias e bastante persistência.
No fim do dia o vento foi caindo até quase parar. As nuvens à frente indicavam que o fim da instabilidade estaria próxima a passar, assim tivemos uma pequena chuva ao anoitecer para deixar o Picolé bem docinho. Veio a noite, bem escura. O mar um azeite, bem liso, mas as velas batiam de um lado para o outro.
Não jantamos, só comemos aperitivos. Comprei uns snacks de carne que o meu cachorro, o Picolé ia ficar louco. Um pouco de biscoito,castanhas e uma barrinha. Para fechar, uma latinha de RedBull para dar uma levantada. Ah se eu ganhasse asas…
À meia noite baixamos as velas e fomos dormir.Pela primeira vez ficamos completamente a deriva. Pelo menos dormimos muito bem.
O dia amanheceu lindo, com o mar de azeite e todas as suas tonalidades de cinza e azul. Hoje teremos banho com certeza, o Sol esta queimando e o calor é intenso.
O vento começou bem fraquinho, mas esperamos que melhore segundo a meteorologia de hoje e os próximos dias.
Um grande abraço a todos.


 

 




  10.04.2013 - 15:00

De volta online
Olá amigas e amigos, voltamos ao ar. Não escrevi ontem, pois as condições para escrever e transmitir estavam difíceis. Dias assim com mar de lado, ondas quebrando na lateral do barco, batidas fortes na estrutura e vida a bordo reduzida a um metro quadrado, fica quase impossível escrever e mirar a antena do telefone no satélite.
Estamos bem, bem cansados, mas a vida a bordo do Picolé entrou em um ritmo ótimo. Quando você não perde mais o humor em dormir molhado e grudento de sal, com a barraca úmida, com todos os eletrônicos grudando, é porque chegamos ao ponto certo. Embalamos!
Descobri uma coisa por estes dias: nuvem tem orelha e o vento também. Só porque reclamei que não tinha vento, então veio um vento norte mais forte do que o esperado e com ondas bem mexidas, fazendo o mar ficar desencontrado. Um horror para o Picolé.

Vocês leram muitas vezes que não pegávamos chuva. Pois bem, estes dois dias esgotaram a cota de chuva. Engraçado é que começam a se juntar nuvens negras, rapidamente se forma uma parede de quilômetros de chuva na sua frente, e quando entramos nestas nuvens demoramos a sair. A noite passada foi de muita chuva e hoje de manhã pegamos a mais forte, ficamos uma hora debaixo dela esperando acabar o deságue. Fizemos bastante água doce. Já estamos tomando a água da chuva e o nosso almoço foi feito com ela. Descobri nos porões do Picolé um prato inédito no cardápio de liofilizados, Fish Pie - uma delícia - amanhã mando a foto. Sei que é estranho comer peixe liofilizado no meio do Atlântico, mas…
Estamos há dez dias de Ilhabela - teoricamente, pois precisamos de uma ajuda do vento. Tem uma frente fria que pode nos atrapalhar se formando no sul, estamos acompanhando como vai ficar. Na sexta poderemos ser mais precisos.
Já escrevi bastante sobre as leis no mar e reafirmo que aqui, em plena natureza, só temos algumas opções: adaptar-nos, lermos o que a natureza avisa, estarmos preparados, entendermos que somos pequenos mas que, dentro das nossas possibilidades, existe chance de êxito. Nunca duvidamos de nós, mas nunca afirmaremos nada.
Vou colocar aqui uma bela citação do Bernard Moitessier que navegou solitário uma volta e meia na Terra no final dos anos 60:
“Sou cidadão da mais bela nação do mundo. Uma nação cujas leis são duras, mas simples, uma nação que nunca trapaceia, que é imensa e sem fronteiras, onde a vida é vivida no presente. Nessa nação ilimitada, nessa nação de vento, luz e paz, não há outro governante senão o mar”.
Outro esclarecimento: querido Quiroga, aqui no mar não há insetos, não existe nada no ar a não ser a pureza e os pássaros. Aliás, o ar que respiramos é o mesmo ar que nos empurra de volta para casa. Você deve saber que o ar simbolicamente tem a ver com o ideal. Não podemos viver sem respirar por mais de três minutos. Pergunto:quanto tempo um ser humano pode viver sem um ideal?

Grande abraço a todos.
Beto Pandiani.


 

 




  08.04.2013 - 15:00

Calmaria só no mar
Nosso domingo à tarde foi daqueles para não lembrar mais, ou nunca mais se esquecer. Vínhamos com boa velocidade, o vento compareceu na direção certa e por isso aproveitamos para fazer milhas. Por volta das 14 horas formou-se na nossa frente uma linha de chuvas com nuvens bem carregadas. Parecia um muro cinza chumbo que se perdia no horizonte e, como estava no nosso caminho, tínhamos que cruzá-lo.
Preparamos os baldes para a coleta de água, colocamos toda a roupa salgada para lavar, fechamos as barracas e preparamos as câmeras. Chegamos a 300 metros da chuva e o vento foi enfraquecendo, até terminar completamente. Toda a região ficou sem vento e aquela barreira imensa de chuvas estacionou, não nos deixando sair de onde estávamos. Ou seja, nem tomamos a chuva, nem velejamos e com a ondulação de lado o barco ficou batendo as velas e dando trancos nos estais de aço que seguram o mastro. A irritação tomou conta dos dois, misturada com a frustração de não conseguir nenhuma chuva de verdade.
O barco ficou parado até o anoitecer, e lá pelas 20 horas veio novamente uma brisa bem leve, trazendo mais nuvens de chuva por trás. O que ocorre é que estas nuvens perturbam o sistema de vento estabelecido, mudando ele de direção a todo instante. A noite foi longa, e como o piloto automático fica ao lado da barraca do Igor, ele passou a noite toda alterando o rumo do piloto automático. Jantamos no escuro, exaustos e chateados, pois não andamos quase nada nestes dias, e a viagem se torna muito cansativa por não vermos o progresso esperado.
Por um lado é maravilhoso velejar, estar no mar, mas quando penso que um projeto ousado como este pode estar fadado ao fracasso, permito que o medo e a dúvida tomem conta da minha mente, e a reação natural é querer que acabe a viagem o quanto antes. Mas sei também que não tenho este controle, e por hora o que posso fazer é rever meus medos, minha insegurança e tentar encontrar o berço desta incerteza dentro de mim. Provavelmente ele me atrapalha em outros momentos da minha vida. Chego a um ponto que acho que é crucial a todos os seres humanos. A confiança em si, na vida e de que estamos cumprindo o nosso propósito é fundamental para viver plenamente.
Imaginem chegarmos ao final da vida e descobrirmos que nossos medos nos afastaram do nosso propósito. Perceber que a falta de confiança em você gerou um fantasma, que te aproximou de falsas crenças que te controlaram e que a primavera da vida se foi, e nada mais florescerá.
Bem, este é o meu desabafo e a minha reflexão que deixo com cada um de vocês. Podemos talvez ver o medo como um subsídio necessário para darmos um salto, ou quem sabe vários. Quantos oceanos precisamos cruzar durante a nossa vida para entender um pouco mais sobre nós, sobre a origem do medo?

Grande abraço a todos.
Beto Pandiani


 

 




  07.04.2013 - 15:00

Dia 7 de abril
Por aqui nada de vento bom, quero dizer, vento com mais intensidade. Estamos passando por uns dias de vento fraco e nossa média caiu. Conversando com o Igor percebemos que tivemos quatro dias de mau tempo, seis de vento fraco e uns seis favoráveis. Para uma viagem como a nossa me parece muito alta a porcentagem de dias com pouco vento. Não nos resta nada a fazer a não ser o melhor. Ontem corremos atrás de nuvens para tomar um banho e fazer água. Uma delas, na iminência de nos pegar, mudou de direção subitamente. Alguém quer que fiquemos salgados, pois vemos chuvas ao nosso lado o dia todo. Aquelas nuvens de descarrego boas de tomar banho.

Passamos o dia pensando na vida, fazendo água, escrevendo, fotografando, conversamos e damos risada sobre as situações em que já nos metemos. O ponto alto do dia é quando chega o fim de tarde,com o espetáculo da luz do por do Sol. Ontem tivemos o mais lindo de todos.Depois vem o jantar, no momento em que as estrelas começam a surgir no céu. Romântico? Pois é, mas aqui não rola beijo na boca nem mãos dadas.

Nos próximos dias teremos mais vento, mas não queremos perder a nossa data de chegada em Ilhabela, dia 20.

Colei abaixo um texto muito tocante do Nelson Mandela e, já que saímos da África do Sul, fica aqui um registro de um homem maravilhoso que nos ensinou pela sua atitude pacífica e grandiosa.

Grande abraço a todos.


 

 




  06.04.2013 - 13:02

Deserto no meio do Atlântico
Calor intenso, pouco vento, sono, e nada para olhar. Uma sombra vale muito por aqui. Eu improvisei uma com meu colchonete inflável, o Igor com a vela mestra. Cada um na sua toca e o Picolé quase que dormindo. Tem uma forte frente fria no sul, esta que passou por São Paulo e mexeu com o nosso vento aqui para cima. Pelos próximos dias ainda teremos ventos bem fracos e variáveis. Estas últimas 24 horas foram as piores, fizemos 82 milhas.
O barco andou tão devagar que deu tempo de uns moluscos grudarem no casco. Tudo bem, não vamos reclamar, pois o barco está em ordem, nós estamos bem e tudo tem seu tempo. Na viagem do Pacífico tivemos tantas quebras, tantos problemas que a viagem foi interrompida por duas vezes.
Quando chegamos à Austrália, estávamos desgastados, e por um bom tempo não quis saber de pensar em uma nova viagem oceânica. Passou o tempo e cá estou de volta com o Igor em uma nova viagem.
Por estes dias lembrei-me muito do Amyr, pois ele remou de Luderitz na Namíbia até a Bahia, em um roteiro bastante parecido ao nosso. Foi uma viagem linda e heróica. Conhecemo-nos desde a adolescência, e quando ia para Paraty visita-lo ele me contava do plano de atravessar o Atlântico. Na época eu ainda não velejava, e o Amyr havia feito com o Herman, amigo querido, uma velejada de Salvador ao Guarujá em um Hobiecat 16. Uma noite fui ao sótão do velho casarão na praça central e lá estava o Amyr me mostrando o Alcebíades, um morcego que dormia com ele. Tudo isso foi muito inspirador para mim.
Tem muitas histórias engraçadas desta época que ontem vieram à tona. Amyrrrrr, grande abraço


 

 




  05.04.2013 - 17:58

Saudade e falta de vento provoca resignação.
Dia de preguiça por aqui. O céu está azul, o mar também, e nuvens só lá no horizonte, mas nunca se sabe o que elas decidem fazer. Nossa noite foi tranquila, mas começou com nuvens de chuva que cercaram o Picolé e apenas uma delas deu uns respingos em cima de nós. Não foi o suficiente para tirar o sal, mas ao acordar fizemos uma pequena faxina no barco. O Igor está lendo, eu escutando música e nós dois nos escondendo do Sol.
Em dias assim os painéis solares carregam bem, então tudo está sendo carregado: baterias das câmeras de foto e vídeo, computador STI, telefone via satélite, MP3, caixinha de som e o telefone Iridium.
Tentamos pescar um peixe já há alguns dias e temos um corrico puxando uma lula laranja e amarela que por enquanto não atraiu ninguém. Coitada, deve estar com a autoestima baixa, pois ninguém quer comê-la. Vamos trocar por uma verde amarela, que tem uma cauda maior, uma autêntica brasileira. Se ela fizer sucesso vamos ter nosso primeiro sashimi à bordo. Lembrando que na viagem do Pacífico em 71 dias só pescamos um dourado, porque passamos em cima de um cardume de atuns.
Como hoje é Sexta-Feira já tomei meu banho, fiz a barba, troquei de roupa e estou pronto para ir a lugar nenhum, ou melhor, para mais perto do Brasil.

Abraço a todos.


 

 




  04.04.2013 - 16:20

A bordo de um país chamado Picolé.
Estamos no meio do deserto. Faz um calor de matar, Sol a pino, a água em volta da nossa ilha não pode ser bebida. Nadar nem pensar, só banho de balde.E o vento? O vento foi para outras paragens, e assim o Picolé arrasta sua barriga preguiçosamente. A nós cabe administrar a ânsia de fazer milhas e chegar em casa.

Nos últimos três dias vínhamos batendo nossa meta de 135 milhas diárias, mas hoje vamos ficar devedores.Em um barco à vela e sem motor como o nosso é difícil fazer contas, mas também é difícil não ter expectativas. À noite quando deito na barraca para descansar fico pensando na chegada, na namorada, nos amigos, no almoço na minha mãe…Mas parece um pouco sem sentido o que estou escrevendo, pois lutei tanto para estar aqui e agora quero chegar.
A viagem para mim é como uma missão, e muitas vezes não é bem clara. Amo o mar, tenho lindas recordações das viagens, fico em paz onde estou, preciso deste tempo comigo, mas voltar para casa é muito importante, tem um sentido muito profundo para a alma.Talvez a nossa vida neste planeta seja uma parte do caminho de volta para a nossa casa. Não me refiro a nenhuma citação religiosa, mas no sentido do encontro da verdade, do lugar de origem.
Hoje o mar está lindo para ser visto, pois está liso, azul e um céu com quase nada de nuvens - só algumas bem distantes. Estes dias que passaram andaram nublados, com chuvas ao nosso redor e ainda assim nenhuma caiu no Picolé, que continua salgado.
Um forte abraço a todos os amigos que nos acompanham e muito obrigado pelas mensagens positivas.
Prato do dia: Biscoitos, atum, queijo e salame. Ontem à noite comi um delicioso purê de batata com carne moída e vegetais.


 

 




  03.04.2013 - 16:12

Saudades de árvores

Tivemos uma noite muito boa, o que foi uma surpresa, pois no final do dia havia muita ondulação cruzada e o barco parecia uma batedeira. Na hora do jantar eu que estava faminto e louco para comer um dos meus pratos favoritos - pasta com frango - deixei cair tudo no mar. Acabei tendo que comer a lasanha vegetariana, o que me deixou com sede a noite toda. Moral da história,bebi muita água, por isso tive que sair muitas vezes do sarcófago para fazer xixi.
A noite estava escura, com o céu carregado, quase não era possível ver nada, só o vulto das ondas que caíram e deixaram o Picolé feliz. O maior risco na nossa viagem é um de nós cair à noite no mar. Por isso, sempre antes de sair da barraca que fica na asa, faço mentalmente os movimentos que tenho que fazer, e depois de pensar bem, saio da toca. Desenvolvi uma maneira segura de fazer isso, e sei da responsabilidade que tenho com a minha vida. O Igor também é extremamente cauteloso. Os acidentes de gente que caiu no mar,na maior parte das vezes acontece quando a pessoa relaxa, e sente que tem muita autoconfiança. É aí que mora o perigo. Minha postura em relação a todas as viagens é a mesma: não sei muito, vim para cá aprender e por isso me sinto seguro, pois estou conectado o tempo todo com a segurança.

Passamos da metade do caminho e isso psicologicamente é muito positivo. Parece que estamos aqui já há meses. O dia é vagaroso, passamos muitas vezes horas sem falar nada um com o outro. Cada um no seu mundo.
Hoje acordei com saudades de árvores. Quero ver a cor verde na natureza. Não há nada por aqui que possa substituir a emoção de ver uma floresta. Já cheguei outras vezes em terra e sei como é a sensação de ver construções, gente andando, montanhas e até carros. Dá vontade de descer do barco e sair correndo, dar risada, conversar com as pessoas. Quando voltamos da Groenlândia, Maristela e eu desembarcamos em Halifax, Nova Escócia, e pegamos um ônibus. Tivemos um ataque de risos e felicidade em poder andar na rua e ver gente, vitrines, coisas diferentes do mundo aquático. Este mundo aqui é cercado de água e pensamentos. Sente-se tudo, ou melhor, percebe-se o que se sente. Tenho o tempo todo para mim, acho que por isso muita gente deve achar que sou rico, pois o tempo virou um bem, coisa que pouca gente sabe equilibrar. A vida na cidade é toda direcionada a fazermos coisas para sei lá quem, menos para nós. Nos esquecemos dos pequenos prazeres, das coisas simples que trazem alegria a vida. Por exemplo, andar a pé e ir até a padaria comer alguma coisa, andar com o Picolé, tomar uma chuva, encontrar um amigo para uma boa conversa, ou mesmo ler um livro em casa em um dia chuvoso. Vejo tantos amigos plugados 24 horas por dia na internet, na TV ou no trabalho, absorvidos por um tipo de informação muito rasa que não abre possibilidades para sonhar, ou mesmo para achar graça nas coisas pequenas. Se refletirmos, nossas vidas são povoadas na maior parte do tempo por coisas pequenas, e não por coisas grandiosas. Ficamos esperando que aconteça algo arrebatador na nossa vida e que isso possa nos trazer felicidade. Na minha maneira de ver a felicidade já está em volta de nós e dentro também, basta apenas reconhecê-la.
Faça uma reflexão e veja quando foi que você teve uma idéia diferente, nova, criada por você e não copiada. Algo que pode mudar a sua vida para melhor.Quanto tempo precisamos viver para criar coisas novas e únicas?

Ontem à tarde no meio dos meus pensamentos me ocorreu uma coisa. Tudo que não compreendi, ou alcancei, é porque eu não amei aquilo o suficiente.

 

Um grande abraço a todos.


 

 




  02.04.2013 - 16:10

Na metade da viagem

Estamos quase na metade da viagem, amanhã chegamos ao momento em que tudo o que andarmos se transforma em uma contagem regressiva. O Atlântico é muito grande, e eu havia me esquecido. Desde a última viagem, quando cruzamos juntos o Pacífico - que é ainda maior - eu não viajava uma distância tão longa. Na outra viagem haviam as ilhas para parar no caminho, o que nos deixava mais entretidos. Sempre havia uma ânsia de chegar pois estávamos curiosos. Agora não, temos que cruzar sem parar por quase um mês. E o que fazer a bordo? Temos nossas atividades como escrever, fotografar, filmar, dessalinizar água, fazer a navegação, comer e olhar para o nada o dia todo e a noite toda. Não consigo dormir mais do que uma hora seguida, e aqui não tem internet, TV ou qualquer outra coisa que te leve para fora. Sobra o oceano interno que, como já disse, é mais profundo e desconhecido que o que estamos navegando.
Enquanto isso, a vida em São Paulo continua e o escritório, que é comandado pela Denise, se mantém em pleno movimento. Ela continua agendando palestras para a volta, pagando contas, contratos com patrocínios, etc.

Como montamos uma plataforma tecnológica em um barco aberto como o nosso? Semp Toshiba, nosso patrocinador master fabricou o STI Extreme, um notebook a prova de água e de alto desempenho tecnológico. Com ele conectado a internet via satélite - com o apoio da Arycom -, temos como enviar e-mails, fotos, textos e filmes. Nosso parceiro a Certisign credenciou minha assinatura digital, desta forma posso assinar documentos mesmo à bordo do Picolé. Incrível tudo isso.

[Saiba mais sobre os equipamentos de viagem em nosso Infográfico]

Hoje o dia está nublado, ruim para os painéis solares, bom para nós. Chega de Sol na cabeça! O vento continua soprando pelas costas e por volta de 15 a 17 nós. Passam muitas chuvas por nós e nenhuma caiu ainda no Picolé, que carece de um banho doce, pois as ferragens estão com crostas de sal.
A noite tem sido um pouco difícil, pois a caminha pula muito, é dura e apertada. Não encontro posição, então tenho que sair alongar e voltar. Faço isso umas cinco vezes durante a noite.

Hoje o almoço foi: biscoitos, pepino, aspargos, presunto cru e umas barrinhas de carne, bem parecidas com as que eu compro para o meu cachorro, o outro Picolé. Se ele soubesse.

Grande abraço a todos.

 

 




  01.04.2013 - 13:44

Les vagabond de mer de sud.

Noite bem dormida é outra coisa. A vida a bordo está melhorando bastante depois que apontamos a proa do Picolé para o Brasil. Os ventos constantes desta região agora predominam, e o amanhecer foi espetacular. Ontem à noite fiquei ouvindo música com a cabeça para fora da barraca, vento e o céu branco de estrelas. Passou um satélite que fazia reflexo com o Sol e mais parecia uma nave rasgando o céu.
Passamos a noite com a vela balão nos empurrando na direção perfeita e assim continuamos até agora. Só durante a noite andamos 80 milhas, o que é muito bom. Dentro desta média chegaremos a Ilhabela no dia 20 de abril, um sábado. Amaria reencontrar os amigos na Praia da Armação.
Tomei meu segundo banho da viagem, o Igor nenhum, 2X0 para o Brasil contra a França, ahahaha. Fizemos um pequeno reaperto nos parafusos que seguram as travessas, lavei roupa, descarreguei fotos e hoje fizemos novamente outra receita inédita, Cuscuz a la Picolé. Uma receita rápida para um dia de verão, quando os amigos aparecem em casa sem avisar e te pegam desprevenido. Bem o nosso caso hoje…vocês não imaginam o movimento aqui no Picolé - nem peixe voador, nem pássaros, navios, nada. Faça um Cuscuz liofilizado, pique a última metade de tomate, pepinos em conservas, azeite e uma latinha de atum das boas, nada de economias neste prato, só du bão. Olivier, Rogério, Alex, como vocês são meus amigos, eu os autorizo a colocar esta deliciosa receita no cardápio dos seus restaurantes.
Agora que acabou o tomate não sei o que fazer. O que seria do planeta sem tomates, grapefruit, atum, laranjas, pêssegos e tudo que podemos comer. Quando forem ao supermercado lembrem-se de nós, que estamos a bordo da jangada distante mais de 2.000 mil milhas, e sonhamos dia e noite com o que não temos. Mas não se esqueçam daqueles que não tem nada o que comer todos os dias. Tomem água de forma sagrada, sorvam todo o gosto de toda esta imensa gama de sabores que a natureza nos propicia. Prestem atenção no que comem, nas cores, na consistência. Já escrevi algumas vezes sobre isso. (leiam o texto do Pêssego e o Gatilho na minha página).
Um grande abraço a todos.

 

 




  31.03.2013 - 22:30
Dias 29, 30 e 31

Noite longa a do dia 29. Vento de popa muito bom, mas com muitas rajadas provocadas por nuvens de chuva. O Picolé surfou a noite toda e isso sempre gera apreensão. Sabe lá o limite de rajada, e o piloto automático não entende disso.
A posição para dormir esta difícil pois, como chacoalha muito, o pescoço amanhece doído de tanta força para compensar.
Durante o dia o mar foi piorando e ficou enorme e desencontrado, como na costa da Namíbia. Novamente o Igor e eu ficamos confinados a um espaço mínimo no barco - as outras áreas ficam molhadas e desconfortáveis. Velejamos molhados e as primeiras chuvas lavam o Picolé.
Com o vento forte a noite prometia. Cozinhar no final de dia requer certa habilidade de equilibrista, ir ao banheiro nem vou comentar, rs.
Veio a noite carregada de nuvens negras e a promessa de mais vento. Deixamos só a buja, a vela menor da frente e com o mastro sem nada. A cada rajada o som do vento zunia e eu, na minha barraca, só pensava quando ia melhorar. As duas previsões estavam errando, e não apontavam nada acima de 12 nós. O mundo está ficando mesmo louco.
Dia 30 o cenário era pior, com o mar maior. O jeito era ir devagar sem forçar o barco e ficar de olho nas ondas laterais, que insistiam em quebrar no lado do barco - são perigosas, pois podem virar o barco.
Na parte da manhã ainda recolhemos todos os peixinhos voadores que bateram a noite no barco e estavam no trampolim. Havia dois bem grandinhos e resolvemos comê-los. Mas como? Qual seria a receita? Anotem a receita do dia, pois ficou delicioso, rs. Pegamos uma latinha de RedBull e cozinhamos os dois peixinhos na água. Fizemos um miojo lamen e temperamos no azeite. Saboreamos o prato debaixo de vendaval, com chuva, Sol, e posso dizer: quando se chega neste nível de achar graça em peixe voador com miojo, é porque chegamos no grau máximo da indiada - digo, programa de índio.
O dia foi melhorando e passou o sistema com as chuvas. Tivemos ontem um final de tarde melhor e uma noite mais fácil.

Hoje navegamos com vento bom, mar um pouco irregular, mas bem menos agressivo. Ainda temos a Lua para nos dar uma luz à noite. Passamos agora o meridiano de Greenwich e velejamos com a proa virada para o Brasil finalmente. Inacreditável.
Grande abraço a todos e Feliz Páscoa. Claro que coelho nenhum vem fazer entrega aqui no barco, mas em Capetown as meninas do Duncan e da Pat nos deram chocolates para hoje.

 

 




  27.03.2013 - 19:11
Sem vento

Nada como um dia de pouco vento para arrumar a casa, mas um dia basta. Quem disse que temos alguma ingerência sobre ele. Hoje estamos quase parados, andando de rajada em rajada. O mar está azul turquesa profundo, e não há nenhuma nuvem perto de nós. Aliás, não há nada perto de nós, nem pássaros. Tivemos há pouco duas visitas muito simpáticas: duas tartarugas, sendo que a primeira devia ter uns 80 cm. Ficou nadando ao nosso lado, sem perceber que de cima a víamos, e quando levantou a cabeça e deu de cara conosco, tomou um susto e mergulhou.
Fizemos um almoço mediterrâneo, Miojo Lamen frio com tomates picados, atum, azeite e sal. Podem anotar a receita para fazerem em casa, uma delícia, principalmente quando não tem outra opção.
Temos previsão de vento para amanhã em torno de 12 nós. Fazia tempo que não via um mar tão liso. Inflamos o nosso stand up para o Igor fazer uma foto do barco visto de longe. A água já está gostosa e faz um calor imenso. Tomei meu primeiro banho desde que saí de Capetown há uma semana. Já de roupa limpa o Igor me perguntou aonde ia hoje à noite arrumado.
Estamos na mesma latitude de Ilhabela hoje, mas temos que subir mais um pouco para começar a girar rumo ao Brasil.
Um grande abraço a todos.

 

 




  26.03.2013 - 15:19
Mau tempo

Rastejamos na imensidão, ninguém vem nos visitar, estamos sós no mundo? Não estou sendo dramático, apenas brincando um pouco. Depois do mau tempo tivemos ontem um dia de vento bom, mas ainda com o mar dos dias anteriores. Já estava mais baixo, mas o Picolé acelerava nos jacarés.
A noite veio com a Lua quase cheia, e o vento caiu um pouco. Fizemos nosso jantar, aperitivos e nos preparamos para a noite. Eu estava com a mesma roupa havia cinco dias. Quando tirei a bota e a meia, meu Deus, meu pé parecia de um defunto. Faço a higiene com baby wipes e talco de polvilho. Agora com cuidado, pois no Pacífico em uma noite de mau tempo eu estava dentro da barraca que era atacada pelas ondas, quando decidi passar um pouco de talco no rosto para tirar o sal da cara. O barco deu um pulo e eu joguei talco nos olhos. Não sei alguém tem idéia do efeito. Fiquei com os olhos pegando fogo durante toda a madrugada.
A noite foi longa e ainda não me acostumei com o meu novo sarcófago de múmia. Está muito apertado, as costas doem e eu não encontro posição para dormir. Para ser mais claro, imaginem uma minhoca tentando fazer polichinelo no buraco dela. É mais ou menos assim.
Hoje o dia amanheceu com cara que íamos pegar chuva. Como queremos uma chuvinha, pois o barco esta todo com pedras de sal, os casacos idem. Com a chuva podemos coletar água potável e não precisamos dessalinizar água. Até agora não pegamos nada de chuva e tivemos que dessalinizar água para beber.
Hoje tiramos a tarde para faxina e o Igor entrou em cada uma das seis gaiutas para tirar água que entrou, tirar toda a carga e reorganizarmos a bagagem. Fizemos o cardápio da semana. Hoje no almoço tivemos tomates com queijo e sardinhas acompanhado de tostadas. O café da manhã é musli com leite, presunto cru, pão e geleia. Temos aperitivos como castanhas, batatinha, coisas assim.
Chegamos a uma latitude quase igual da Ilhabela, mas do outro lado do oceano. Previsão de pouco vento nos próximos dias, mar liso como hoje. Paciência é um dos maiores predicados de um velejador.
Encontrei dentro do casco o Pote com os nomes de todos os amigos que colaboraram com a viagem. Muito gostoso saber que tem gente por aí nos lendo. Muito obrigado Ana Paula e Camila pelo apoio com O Pote.
Quero deixar aqui também um agradecimento muito especial para a Denise que coordena o projeto aí em São Paulo. Beijo grande Denise.
O Manuel Mendes de Capetown todos os dias fala conosco passando a previsão e também nos dá informações sobre navios. Hoje teremos à noite companhia de barcos pesqueiros.
Teremos pasta com salmão ao pesto, e um prato de vários tipos de arroz e vegetais. Sobremesa compota de tangerina. Hoje é a Lua cheia, portanto não teremos noite.

 

 




  25.03.2013 - 15:25
Noites no Atlântico Sul

A Lua crescente já se mostrou e do outro lado o Sol se despede atrás de uma longa e infinita nuvem negra. Para um lado o mar está dourado, para o outro prateado e o Picolé desliza entre tons e cores com sua barriga vermelha e de camisa prata. Nós dois nos deliciamos com nosso jantar, fetuccine com carneiro e de sobremesa melão. Faz um frio gostoso, mas a medida que subirmos vai esquentando. Ainda virão as noites quentes. Baixamos um pouco de vela para a madrugada, não queremos surpresas.
Passaram uns barcos pesqueiros, alguns navios, coisas pesadas de ferro que me tiram o sono. A noite ficou escura, as nuvens esconderam a Lua, não há mais estrelas, nada mais para ver, só para sentir. Não tenho medo, só uma cautela. Não podemos cair na água, isso seria fatal. Amarramos-nos. Procuro mais pescadores, nada, só escuridão. Que vida dura esta, longe de casa, da família, quantas saudades devem carregar nestes porões. Imagino isso, porque já estou sentindo saudades de quem amo.
Às 21:30 acordo com o balanço diferente do barco, acabou o vento, mas já sabemos que virá, e virá com força. Olho para a água e imagino quantos seres estão passando por baixo de nós, talvez bilhares. Ninguém vem nos visitar. De dia vieram albatrozes, atobás e um tubarão. Volto para a barraca e sinto que vamos ter dias duros pela frente. O Barco parece uma rolha a deriva, sem vento.
A noite volta a ficar límpida e fria e o vento começa a soprar às 5:00 da manhã. O vento uiva e sobe o mar rapidamente. O mar fica desencontrado e desolador. Na hora do almoço temos 25 nós e com previsão de subida. As ondas variam entre 4 e 6 metros, e o Picolé sem velas, só com um riso, mergulha em jacarés vertiginosos, acelerando muito. Uma mistura de montanha russa com trem fantasma. Alguns momentos, no vale das ondas, ficamos rodeados por paredes de água, até uma onda nos levantar e lá do alto despencarmos. As massas de água parecem montanhas se movendo, mas apesar de toda a concentração estamos calmos. Comer e dormir é difícil, e depois de dois dias assim ficamos bem exaustos.
Esta é a Costa dos Esqueletos na Namíbia, cheia de naufrágios por causa do mau tempo e um banco no fundo do mar que levanta ondas enormes.
Hoje, dia 25, o mar começa a baixar e o vento a cair, hora de recuperar a exaustão e colocar tudo em ordem.

 

 




    24.03.2013 - 15:53
4º dia

Olá a todos,

Estamos navegando pela Costa dos Esqueletos ao largo do litoral da Namíbia.

Os ventos de 30 nós e as ondas de 4 a 6 metros nos levam a navegar sem velas por longos períodos.

Amanhã tem diário completo pra vocês.

Abração

Beto

 

 




    23.03.2013 - 16:00
3º dia

Olá a todos, Estamos navegando pela Costa dos Esqueletos ao largo do litoral da Namíbia. Os ventos de 30 nós e as ondas de 4 a 6 metros nos levam a navegar sem velas por longos períodos. Amanhã tem diário completo pra vocês. Abração Beto

 

 




  22.03.2013 - 14:45
Segundo dia

A vida continua a favor, quero dizer, o vento continua a nos empurrar. A última noite foi um ótimo teste, pois chacoalhou muito. Difícil dormir mais que 20 minutos seguidos, o que não foi ruim, para ficar de olhos abertos com os navios. Foram somente três.
Escurece às 19:30 e depois de termos jantado não há muito o que fazer. O barco fica com o piloto automático e nós ficamos tomando conta dele e da meteorologia. O vento nesta noite aumentou, nos obrigando a diminuir as velas para desacelerar o barco. Mesmo assim andamos bem.
A Lua tem aparecido para iluminar nosso caminho, mas como ela está crescente, ela desaparece lá pelas 3:30 da madrugada. Ontem à noite tomei um susto, pois coloquei a cabeça para fora da barraca e vi uma luz laranja enorme ao lado, achei que era um barco muito próximo, mas era apenas uma belíssima Lua se pondo no horizonte. Alguns minutos depois estávamos no escuro total, só com algumas estrelas, mas o Picolé deixava para trás um rastro verde… A ardentia iluminava o trampolim do barco. Um espetáculo e mesmo exausto fiquei ali de pé olhando nosso barquinho flutuar neste imenso oceano.

Temos previsão de mais vento esta noite e amanhã de manhã também. O céu agora à tarde está encoberto e talvez alguma chuvinha venha lavar nosso barco. O balde já está preparado para coletarmos água para cozinhar. Acabei de comer um cuscuz com frango e o Igor comeu melão com brie e pão preto.

 

 




  21.03.2013 - 22:30
Saída de Capetown
Depois de uma despedida daquelas para nunca mais esquecer , saímos rebocados pelo canal do Waterfront. O Capitão do Porto estava vestido com seu traje de gala para nos saldar da ponte. Várias pessoas nos acenaram e reconheceram o Picolé que foi matéria no jornal local. Este Picolé continua assanhado!
Já em mar aberto o Manuel nos soltou e por uma hora nos acompanharam, fácil pois na havia vento para andarmos. Ficamos tentando encontrar rajadas de vento para nos tirar da baia. Conseguimos, inclusive com o remo do stand up que temos a bordo. Igor remou uma hora.
Quando começamos a andar deixamos para trás Robben Island, a ilha onde Nelson Mandela ficou aprisionado por muitos anos. Não senti vontade alguma de conhecer aquele lugar.
O vento melhorou, mas o mar piorou, e com ondas desencontradas sacudimos muito até às 22:00 horas. Eu para variar mareei, e fui dar uma descansada. A imagem da Table Mountain ficando para trás toda amarelada pela luz do por do Sol ficará registrada para sempre na minha memória.
Tinha me esquecido como é duro no começo, as noites são longas e frias, estômago embrulhado, nada a fazer a não ser esperar o tempo passar. Virava para um lado, para outro, saia da barraca lateral para ver se havia algum navio. Havia muitos, e aqui navio é como espinha, quando menos se espera eles estão na cara.
A noite com o mar melhor ficamos na espreita com alguns minutos de sono. Quando clareou o dia o cansaço era enorme, mas o vento que temos é muito bom e o Picolé avança bem. Passamos o dia descansando e revezando a vigia. O Igor descobriu algo único. No seu turno no leme ele percebeu que o barco estava tão equilibrado com as velas, leme e vento, que sozinho conseguia manter o rumo desejado. Ou seja, o Picolé parece que conhece o rumo de casa e sabe que do outro lado desta imensa água, tem gente que nos ama e está nos esperando.
Prato do dia: Biscoitos, presunto cru, pasta com pesto, pêssegos, maça, biscoitos de carne e muita água.
Andamos somente durante a noite, 87 milhas.
 

 




  20.03.2013 - 18:04

Foto Oficial
Travessia do Atlântico, retrato oficial da dupla Beto Pandiani e Igor Bely, 1 hora antes da partida, Cape Town.

 

 




  18.03.2013 - 21:43

Tecnologia a bordo
Olá a todos!!!

O Picolé é pequeno, mas tem quase tudo que um barco grande tem. Internet via satélite, dois notebooks SempToshiba resistente a água, dois Iridiuns, dois Epirbs ( localizador de emergência), dois GPS, Dois pilotos automáticos, um rádio VHF, 3 cameras fotográficas euma de video, gravador digital, três Go Pro, lanternas, um Mp3, mini caixa de som e dois velejadores. Amanhã conto sobre o resto.

 

 




  15.03.2013 - 15:39

Ao mar
Bom dia a todos.

Vocês sabem do que é feito um barco como o Picolé? Os barcos modernos são feitos de fibra de carbono, são basicamente feito de fios. Tudo em um barco a vela é isso. Claro, combinado com resina, espuma, e algumas peças de aço.

Mas tem outras coisas que precisam acontecer para um barco como este ir para a água. Foram quase dois anos de reuniões, milhares de e-mails, consultas, projetos, centenas de visitas, horas e horas de tráfego em São Paulo, centenas de estacionamentos caríssimos, noites e noites imaginando, envolvimento de várias pessoas, doações de amigos, parceria com empresas, boa alimentação, firmeza emocional, muita força interna, e sobretudo, não ter medo que tudo dê errado.

Pois bem, ontem foi o dia onde tudo isso convergiu, é como se eu pudesse enxergar algo vindo de várias direções em tempos diferentes aterrissando aqui em Capetown no dia 14 de março de 2013.

Subimos a bordo do Picolé depois de comer algo bem rápido, e com o reboque do barco do Manuel saímos do porto. Uma ponte abriu para nós passarmos e algumas pessoas que estavam no Waterfront olharam o nosso barco com curiosidade mas sem imaginar que dentro de alguns dias cruzaremos o Atlântico com ele.

Nos livramos da entrada do porto e subimos as velas. Por serem novas ainda foi difícil levantá-las até o topo. Se continuarem assim vamos chegar muito fortes no Brasil. O vento estava fraco como deveria ser na primeira vez. Mar liso, Sol quente e água gelada a 12 graus. A minha maior curiosidade com o Picolé era com o leme, pois ele é a alma do barco. Felizmente estava leve. O barco não ficou tão leve como o esperado, mas navegou gostoso. O barco está mais alto em relação a água, ou seja, esperamos velejar mais secos.

A vela balão assimétrica não foi usada pois está na veleria sofrendo uma pequena adaptação, chega no sábado. Só então vamos saber.

Nunca havia visto Capetown pelo mar e ai veio a grande surpresa do dia. Mais de 15 baleias francas austral vieram brincar, e a cada minuto uma levantava mostrando seu dorso, ou mergulhando e exibindo sua calda. Já no fim da velejada uma delas veio em direção ao Picolé e passou a dois metros do nosso barco. Foi lindo ver um animal daquele porte nadar tão suavemente e pertinho de nós.

A vontade era de pular na água e abraçar a baleia. O Picolé começou bem a sua vida no mar, já logo fazendo amigos. Temos muito a navegar juntos, e esperamos vivenciar muitas coisas durante a viagem.

Por enquanto a previsão para a partida é na terça-feira dia 19 de março.

Um abraço a todos.

Cardápio do dia: Pastel e bolinhos de bacalhau em uma padaria com o Manuel

Amanheceu com chuva, mas já faz Sol. Vento de quadrante sul.

 

 




  14.03.2013 - 16:52

Baleias
Na primeira velejada do Picolé fomos recebidos por muitas baleias francas austral. Ficamos tentando alcançá-las, mas o vento estava fraco mas uma mais assanhada veio nos olhar.
abraço a todos.

 

 




  14.03.2013 - 00:05

Realização
Já é noite por aqui, venta forte, e posso ouvir da minha cama as árvores torcerem tamanha força invisível da natureza. Não se vê o vento, se sente ou percebe-se o seu efeito. Tem sido muito estenuante a montagem do Picolé, pois como tenho …contado, tivemos muitos contratempos, mas valeu a pena ter apostado neste projeto. Desde 2011 estamos trabalhando nesta viagem e hoje foi um dia especial, pois agora começa uma nova viagem, a viagem de realizar o que foi idealizado. Cada nó dado, cada parafuso no seu devido lugar vai dando forma a nossa casa flutuante. Um jangada tecnológica genial que tem mostrado para nós que podemos ir mais longe do que imaginávamos e com muito pouco. Assim como o vento, muito foi feito e pouco se viu, mas agora é possível ver o seu efeito. Um barco, dois amigos e um oceano pela frente. Sem a Maris, o Bene e o Manuel por aqui seria impossível.

 

 

 




  13.03.2013 - 18:00

No mar
Hoje, 13/03, com a ajuda de uma grua numa operação que começou às 6 da manhã, o Picolé encostou enfim a barriga nas águas do Atlântico, que aqui na África do Sul estão a 12 graus.

Depois de 2 anos de planejamento e muito trabalho durante os últimos 14 dias aqui na África do Sul, Beto Pandiani e Igor Bely brindam ao barco na água, enfim. O próximo brinde será do outro lado do oceano, na Ilhabela, com muitos amigos comemorando o sucesso da travessia.

 

 

 




  09.03.2013 - 22:00

Diário de bordo dia 09 de Março. Capetown
Os acontecimentos desta semana que passou me levaram a um grande questionamento sobre a questão do tempo certo de partir ou não.

Em 1994 quando fiz a primeira viagem de Miami à Ilhabela, tivemos na época muitas quebras e pequenos acidentes. Cada vez que tínhamos que parar para consertar algo, ou mesmo, procurar alguém para nos auxiliar, conhecíamos alguém muito especial, ou íamos parar em lugares que não imaginávamos existir. Foram dezenas de vezes que isso aconteceu, mas no inicio eu não reagia bem, e ficava irritado pelo fato do nosso cronograma sair do planejamento. Com o tempo eu fui percebendo que tudo estava bem, e que eu precisava aceitar. Se houve muitas quebras, foi porque não tínhamos tanta experiência na preparação dos barcos.

No fim da viagem o sentimento foi de gratidão por ter tido tantos encontros tão significativos com pessoas que me tocaram. Isso foi se repetindo em todas as outras cinco viagens. As quebras não foram tantas mais, mas outras coisas aconteceram para nos desviar do caminho desejado.

Agora aqui em Capetown planejamos montar o barco o quanto antes para testá-lo antes de partir, mas tivemos uma surpresa a cada dia e percebemos muitas falhas na construção do barco. Falhas que hoje podemos perceber, alguns anos antes não. Ou seja, mudamos de patamar, mas ainda assim continuamos a mercê do imponderável. Esta é a palavra que eu quero fazer uma reflexão. O que é o imponderável? Será um instrumento do destino? O que isso tem a ver com a sincronicidade das coisas? Não posso dizer ao certo, mas sei dos seus efeitos, e hoje respeito o que vem para minha vida olhando com mais atenção.

Não posso dizer o que será da viagem, mas novamente começamos da mesma maneira que as outras viagens. Só temos encontrado gente muito especial que tem nos ajudado muito a fazer o que precisamos fazer para sair daqui com segurança, e sabe lá que dentro desta matemática enigmática de cronograma não sairemos na época correta. Por isso não me imputo nenhum julgamento ou avaliação a respeito do que devíamos ter feito ou não.

Tenho que voltar a falar do Manuel Mendes, este português que nos tem acolhido como filhos, se dedicando totalmente aos reparos do barco. Novamente percebo. Na vida não importa muito o que você faz, e sim como faz. Toda esta ajuda tem vindo com muito carinho e amor. Mais uma vez ganho um aprendizado com muita alegria e diversão.

Hoje finalmente acabaram todos os reforços que envolvem laminação e o Igor como sempre foi espetacular, dedicando-se totalmente a fazer o que mais sabe fazer. Se entregar de corpo e alma ao projeto.

O Bene, a Maris e eu fizemos as compras do que falta, e por conta disso rodamos Capetown atrás de vários fornecedores. A Maris ainda fotografa e o Bene além de filmar passa o dia na configuração de todos eletrônicos.

Choveu muito ontem o dia todo, mas hoje o dia foi lindo com céu azul e vento forte.

Um grande abraço a todos.

 

 

 




  06.03.2013 - 18:25

O Picolé (nome do catamarã) está no hospital recebendo todos os cuidados. O berço cinza onde vai a travessa foi reforçado por fora e por dentro. Várias camadas de carbono estão sendo laminadas dentro do casco. Só vamos sair daqui quando nos sentirmos seguros. Abraço à todos e muito obrigado pelo apoio.

 

 

 




  04.03.2013 - 18:11

Segurança.
Muitos naufrágios foram necessários para que as balsas salva vidas fossem desenvolvidas. Hoje compramos a nossa. Um modelo para 4 pessoas com kit de sobrevivência. A nossa viagem deve ser segura, para isso temos vários procedimentos e equipamentos.

 

 

 




  01.03.2013 - 15:00

Capetown.
Foram muitos meses de preparação para conseguir colocar o pé na África. Olhar o Cabo da Boa Esperança lá de cima do avião e ver o profundo azul, me conectou instantaneamente ao meu propósito; mergulhar no infinito com a nossa jangada.

Boa questão. O que leva dois amigos quererem se lançar mar aberto em um barco sem cabine? Esta é a pergunta mais frequente que recebo. Pois bem, não sei responder da mesma forma esta pergunta, contudo percebo que existe uma força interna me empurrando para o novo, o desconhecido, para um lugar que escolhi viver experiências fortes. Já tive esta sensação muitas vezes, que cada viagem equivaleu a várias vidas. Para sentir e ver o que vi em apenas uma viagem, precisaria muitos anos na vida “normal”.

Começamos agora a sétima viagem e reencontrar o Igor Bely aqui em Capetown foi sensacional. Fazia tempo que não nos víamos, e mesmo nos falando diariamente por Skype, nada como um grande abraço no meu companheiro de Pacífico. Juntos reencontramos o Duncan Ross, uma pessoa muito importante na minha vida. Fizemos três viagens juntos, Entre Trópicos, Travessia do Drake e Atlantic 1000.

Viemos acompanhados da Maristela Colucci, grande amiga e fotógrafa da Rota Boreal e da Travessia do Pacífico, e o Benê Porto, que filmou a Rota Boreal, e agora juntos novamente no Atlântico. O Benê tem habilidades raras em uma pessoa, e um excelente humor, outra qualidade imprescindível no nosso time, ou melhor, família.

Recebemos o barco, o Picolé que chegou via container da Alemanha. Passamos estes dois primeiros dias fazendo uma minuciosa avaliação do barco. Encontramos alguns pontos na construção que não nos deixaram seguros, e por isso começamos uma pequena reforma nos pontos estruturais.

O barco esta em um pequeno estaleiro em uma parte linda da cidade. O East Pier nos recebeu de braços abertos e sem a fabulosa ajuda do Manuel Mendes, um português de Angola, dificilmente sairíamos a tempo neste fim de verão austral.

Ainda temos que providenciar compras de camping, balsa salva vidas, instalar a parte elétrica do barco, configurar todos eletrônicos, a pequena reforma do barco e na próxima quarta-feira dia 6 de março vamos estar liberados para montar o barco finalmente.

Ontem o vento de sudeste soprou forte, mostrando as sua força aqui pelo sul da África. Tivemos temperaturas bem baixas para esta época do ano, cerca de 15 graus. Esperamos que em março o vento abaixe. Vamos esperar.

Por enquanto é isso, mão a obra, pois pato que não se mexe leva chumbo.

Um abraço a todos.

Comida do dia : Pasta ao pesto com frango.

Vento: Sudeste de 15 nós.

Música do dia

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