Um ano e nove meses sem Bernardo Collares
Texto de: Heliane Collares
6 de outubro de 2012 - 6:50
 
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O texto abaixo foi enviado por Heliane Damiano Collares, mãe de Bernardo Collares.

Uma vez, conversando com uma amiga, ficamos nessa discussão por horas: o que é mais dolorido, ter o braço quebrado ou o coração? Uma pessoa que foi rejeitada pelo seu amor sofre menos ou mais do que quem levou 20 pontos no supercílio? Dores absolutamente diferentes. Eu acho que dói mais a dor emocional, aquela que sangra por dentro. Qualquer mãe preferiria ter úlcera para o resto da vida do que conviver com o vazio causado pela morte de um filho.
Martha Medeiros


Hoje se completam 1 ano e 9 meses do acidente do meu filho

Como já disse antes, desde a época do acidente do meu filho tenho lido livros, artigos, assistido a entrevistas sobre a morte de um filho, um ente querido, a transformação que isso acarreta na nova organização da familia. Todos de psicanalistas renomados.
Existe até uma listinha de reações que deverão ocorrer.Tudo no primeiro ano que é o pior, pois será o 1º aniversário, o 1º Natal, o 1º dia das Mães, etc.. Depois, as coisas começam a se ajeitar, a entrar nos eixos. Tudo isso é dito para os que se despediram normalmente da pessoa que faleceu. Velou, enterrou ou cremou.
Não encontrei uma linha sequer para quem não pôde seguir as regras de conduta da despedida: velar, enterrar ou cremar a pessoa que faleceu.

Não encontrei nenhuma publicação que tratasse de alguém insepulto,DESAPARECIDO !!!
Impossivel se cumprir um luto de alguém que você nem sabe se realmente faleceu.
No caso do meu filho DESAPARECIDO, ninguém o viu morto!!!!
Por isso digo sempre: Ainda não estou no luto estou na LUTA !
Luta para encontra-lo e trazê-lo de volta à sua pátria, seu lar.

Dois pais que também precocemente perderam seus filhos sadios fisica e mentalmente: Bento Bento Ferreira (da Cruz Vermelha de Santos) e o dono da Nike, ambos no mar. Este disse em entrevista à Ophra: "Alguma coisa morre dentro de nós..."
Verdade !!!

Bento disse: "Depois que se perde um filho não se tem mais medo de nada ". Verdade !!!
Mas acrescento, tenho um medo absoluto hoje: PERDER MAIS UM FILHO !
Qdo tenho noticias que poderiam ser com eles , me apavoro. Há alguns meses, Leandro com sintomas que levavam à suspeita de dengue, numa época que várias pessoas morreram da Dengue 4,hemorrágica, aqui no Rio. Fiquei em pânico!!!

Se leio noticia de acidente com morte, em vias que eles trafegam comumente, entro em pânico e busco, procuro até saber o nome das vítimas.

Mas o que eu queria mesmo, é que minha fantasia se tornasse realidade: como ninguém o viu morto, será que ele morreu mesmo?
Às vezes me assusto na rua, achando que ele voltou , vendo alguém parecido com ele.

Texto de Heliane Damiano Collares.