A odisseia de Rick e Sandy na aresta Mazeno do Nanga Parbat
Tradução: Denis Faria - Fonte: Desnivel
29 de julho de 2012 - 10:33
 
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As duas descidas em fotos. (Foto: Arquivo Pessoal)
 

Cathy O’Dowd explica o ocorrido durante os dias incertos na odisseia de Rick Allen e Sandy Allan na aresta Mazeno do Nanga Parbat. E também a odisseia da própria alpinista sul africana, Cathy O’Dowd, que explicou como se sucederam os fatos desde que ela optou por descer e seus companheiros britânicos decidiram fazer outra tentativa. Fatos que eram uma incógnita devido à falha de comunicação, que ela também explica.

No seu último post, entitulado “What happened when the blog went blank” (O que aconteceu enquanto o blog ficou sem atualizações), a alpinista sul africana Cathy O’Dowd relata – e publica várias fotos – os impressionantes fatos que ocorreram desde que se deixou de receber notícias da montanha até que se soube que Rick e Sandy haviam alcançado pela primeira vez na história o cume do Nanga Parbat, depois de escalar a longa aresta Mazeno.

Foram no total, para Rick e Sandy, 18 dias na montanha no impressionante trajeto entre o CB encosta Rupal – cume do Nanga Parbat – CB encosta Diamir. Pelo caminho, na descida, haviam decidido ser resgatados por helicóptero, mas diante da impossibilidade – estavam muito altos – continuaram descendo, abrindo caminho na neve profunda da via Kinshoffer de Diamir e sem água durante três dias, desde o cume.

Este é o resumo dos fatos relatados por Cathy O’Dowd destes dias de cume e descida que passam de incógnita a uma grande epopeia com final feliz. Felicidades!

10 de julho. A equipe termina a aresta Mazeno e acampa na fenda, depois de 11 horas de escalada complicada pelos pináculos, o ponto chave da aresta.

11 de julho. Começam tarde, pelas 10:30h. Escalam até 7200 metros e voltam a montar acampamento para continuar no dia seguinte.

12 de julho. Saem antes de 1 da madrugada e, na escuridão, seguem reto, quando deveriam ter feito a travessia pela esquerda. Ao amanhecer, estão na base da aresta que separa as faces Rupal e Diamir. A noite havia sido de muito vento e eles sabiam disso, mas não tinham motivação, nem gás, nem comida para esperar outro dia. Às 7h, Cathy retorna com Lhaka Nuru. Os outros quatro continuam e Rangduk e Zarok chegam a cerca de 7950m, base da pirâmide do cume. Conscientes de que não têm tempo para subir e descer, retornam e se encontram com Rick e Sandy. Todos regressam a 7200m com a idéia de descer no dia seguinte pela rota Schell, da encosta Rupal.

13 de julho. Sandy e Rick estão de acordo em tentar novamente. Cathy e os três sherpas começam a descer pela rota Schell, mas depois se desviam dela. Sandy fica com o equipamento via satélite de Cathy – momento em que ela perde a possibilidade de atualizar a informação. Os britânicos passam o dia descansando.
Durante a descida, que realizaram com cordada de dois, entram no vale ocidental e um bloco de gelo atinge Cathy, que, por sorte, não sofre danos, mas sua câmera fica destruída e as fotos da aresta são perdidas. Rangduk, que desce com Cathy, torce o tornozelo e montam acampamento abaixo de uma torre de rocha, única proteção contra a queda de seracs no vale oeste. Nuru e Zarok conseguiram chegar até a morena.

14 de julho. Pela manhã, uma grande avalanche arrasa todo o vale, mas a torre de rocha protege Cathy e Randuk de ser arrastados. Chegam à morena, reúnem-se com Nuru e Zarok e, outra vez, uma avalanche inunda o vale; desta não teriam se livrado. Seguem descendo até chegar ao acampamento base que havia sido deslocado vale abaixo para esperar por eles no CB da rota Schell.
Rick e Sandy saem para o cume com um fogareiro, alguma comida e um botijão (cartucho) mas deixam a barraca. No entanto, somente chegam aos 7700 metros e fazem uma trincheira para acampar.

15 de julho. O grupo de Cathy se dirige a Chilas para esperar Sandy e Rick supondo que já estivessem descendo.
No entanto, Sandy e Rick seguem para cima, chegam ao platô superior às14h e às 18:12 alcançam o cume principal. Enviam uma mensagem de texto através do equipamento via satélite de Cathy para o de Rick, que havia ficado no CB e agora encontra-se com Cathy. Descem até a trincheira de neve, mas a partir desta noite ou da manhã seguinte – Sandy não se lembra claramente – já não conseguem derreter neve porque o acendedor ou os fósforos não funcionam e não há o que beber até o dia 18.

16 de julho. O grupo de Cathy espera em Chilas. Envia notícias em mensagens de texto, mas não são recebidas.
Rick e Sandy querem descer da elevação até o C1 da rota Kinshoffer, mas na realidade, somente descem até 7400m, onde cavam uma trincheira bastante precária. A neve é muito profunda, com muitas avalanches e Rick se sente bastante mal. No meio da tarde chamam Ali da Adventure Pakistán para falar de um possível resgate em helicóptero, mas estão altos demais. Concordam em seguir descendo enquanto Ali envia carregadores ao seu encontro. Nesta tarde as baterias acabam e cessam as notícias até a manhã do dia 19.

17 de julho. Rick, que se encontra melhor, e Sandy continuam descendo, abrindo caminho em neve muito profunda e chegam a 6500m através da descida técnica que exige a via Kinshoffer. Não conseguem localizar a rota devido à má visibilidade e passam direto por um acampamento em uma plataforma.

18 de julho. O frio faz com que Rick e Sandy saiam logo e desçam até o C2 (6100m), sobre o Muro Kinshoffer. Algumas pessoas estão subindo. Pensaram ser carregadores que subiam para ajudá-los, mas são membros da expedição checa dirigida por Marek Holecek. Eles compartilham comida e bebida (a primeira em três dias) e um acendedor para seu fogareiro. Fazem rapel no paredão e chegam ao C1 às 22:45, para dormir nas barracas dos checos.

19 de julho. Chegaram os carregadores enviados para ajudá-los e com eles descem até o CB checo.
A descida continua e entre 22 e 23 de julho todos já tomaram seus voos e estão de volta a suas casas. Como único saldo negativo, explica Cathy, “Sandy somente tinha os pés lesionados. Rick poderia ter congelamentos, mas desde que nos separamos e ele voltou a Austrália não sei mais nada a respeito dos seus pés”.