O brasileiro Ricardo Baltazar escala a agulha Poincenot
texto: Eduardo Nacul e Ricardo Baltazar - fotos: Ricardo Baltazar, Toni Ponholzer e Lui Krenn - edição: Orlei Jr.
18 de novembro de 2011 - 22:58
 
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NO TOPO - Ricardo Baltazar no topo do Poincenot
 
 

Ricardo Baltazar manda notícias da Patagônia, onde se encontra para uma segunda temporada nas montanhas da região.

Uma conversa no ônibus (a caminho de El Chaltén) e um dia de escalada nas imediações da cidade renderam um convite para escalar a Agulha Poincenot (3.000m) com dois experientes e respeitados escaladores - os austríacos Toni Ponholzer e Lui Krenn. O trio chegou ao cume da Agulha Poincenot no dia 07 de novembro, pela via Whillans-Cochrane. Para os austríacos, a escalada foi um aquecimento para o objetivo desta temporada, que é realizar a primeira ascensão integral da face norte do Cerro Torre. Para Ricardo, uma oportunidade de alcançar mais um cume importante na Patagônia e aperfeiçoar suas técnicas alpinas acompanhando a rotina de quem conhece o ofício. Ele mesmo dá mais detalhes da escalada e do início da temporada, em mensagem enviada aos amigos, alguns dias depois da ascensão.

Trepei na Poincenot!!!

Não escrevi antes porque estava escalando. Ontem fiz um trabalho perto de Calafate! Fui arrumar uma antena. Graças a mim, Chaltén tem internet de novo!!! :) Um señor (que se chama Ricardo também) passou pelo camping e me contratou para escalar e arrumar uma antena que o vento havia derrubado. Fica numa montanha próxima a Calafate, chama-se Cerro Meseta. Foi fácil! Era subir e parafusar de novo. Mas levamos o dia todo - é longe. A rapaziada aqui do camping se abriu para mim! Um dia antes, havia escalado uma das agulhas mais emblemáticas daqui e, no outro, já estava trepado numa antena! Pode isso?

Cheguei aqui só com 100 pesos no bolso! Maluco, cheguei pela bola oito! Me deixaram ficar no camping sem pagar (eles não tinham outra opção). Paguei excesso de bagagem no Brasil, mas consegui passar por Buenos Aires sem pagar de novo (menos mal). Encontrei quase toda a galera do ano passado, trabalhando. O tempo estava bem aberto. Vocês tinham que ver o Torre com uma capa branca de gelo e céu azul! Reloco! O Fitzroy e cia branquitos. Era uma janela! Mas eu tinha que me organizar antes.

Depois destes primeiros dias o tempo não foi dos melhores. Mas assim é a Patagônia! Deu uma janela de uns dias no primeiro final de semana, mas ventava muito e as montanhas estão ainda carregadas com gelo do inverno. Andei escalando com 2 austríacos que chegaram junto comigo no voo e no ônibus, eles estão no camping também. Um se chama Toni e o outro é o Lui. O Toni já abriu e repetiu uma pá de vias por aqui. Ele tem uns 50 anos! O Lui, um pouco menos, 45 anos. Eles vieram tentar repetir a Maestri-Egger, na face Norte do Torre. Nos anos de 93 e 99, o Toni esteve quase no cume (faltou 200 m!). Agora eles vieram patrocinados. Os caras escalam muito! Fui com eles para um setor esportivo aqui de Chaltén e escalamos um dia inteiro, sem parar. Os véios mandam 7b à vista! Mais do que eu! :)

Mas vamos ao que interessa ...

Acertei na mosca por ter vindo mais cedo! Foi muito boa a abertura da temporada!

Acabou que fui com os austríacos para a Poincenot. Os caras são uns mutantes! Mas não desgrudei dos garrão. Segui parelho com eles. Acho que foi a banda mais pegada que já fiz! Mais do que a escalada do Fitzroy. Arrancamos sábado, a tarde, para o Passo Superior. Chegamos quase a noite, com vento e neve. Cavamos uma cova de gelo e nos metemos. Domingo amanheceu melhor e terminamos a cova para três ou quatro pessoas, com armário, porta, ... Descansamos o resto do dia e, às 18:00, fomos dormir.

Acordamos às 2:00 de segunda-feira, bem como havíamos planejado. Às 4:00, o Lui já estava trepando na rimaia. Subimos pela Rampa Whillans - 800m, escalada mixta, 70º de inclinação e 6º em rocha. Aí foi que foi. Gelo, neve, rocha, em um bom dia frio, mas com Sol e sem vento.

Lá pelas 16:00 do dia 07/11, chegamos no cume!

Mal deu tempo de tirar boas fotos e já começamos a descer para pegar a rampa de dia. Os rapéis são todos em travessia e meio perigosos. Tivemos que fazer uns dead mens (com cordeletes amarrados em pedras enterradas na neve) para poder rapelar alguns trechos da rampa que estavam com meio metro de neve fofa. Os rapéis são meio sinistros! Tem que ir muito na diagonal para escapar do glaciar e voltar ao pé da via.

Chegamos na cova de gelo lá pelas 22:00 de segunda. Daí foi só bater queixo mais uma noite e, na terça, já estávamos descendo para Rio Blanco e para o Sol.

A noite, tomamos tudo o que encontramos pela frente! Os austríacos são viciados em ginebra e cerveja! Os caras parecem ter saído daqueles desenhos tipo He-Man! São uns brutamontes! Todos guias de montanha, gente fina para caramba, ...

Fiz altos vídeos com uma Go Pro! Só que, no cume, ela congelou e não deu para gravar mais. Logo devo editar as imagens.

Por enquanto é isso. Vem nova ventana semana que vem! Agora tenho que focar no Cerro Torre, canalizar toda a energia e tempo para ir lá e ver no que dá. Talvez eu já comece a carregar as minhas coisas para o bivaque Niponino nesta semana. Quero dar uma olhada mais de perto no carozo!

Para falar a verdade, escalar tem sido a parte mais fácil da gauchada. Difícil é chegar até aqui e tentar sobreviver no melhor estilo pêlo-duro.

Baaamooo!!!

 

Fonte: montanhismogaucho.blogspot.com

 
 
   
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