Brasileira é abandonada na 3ª maior montanha do mundo
da redação: Fonte: Anselm Murphey
31 de maio de 2011 - 11:55
 
comentários    
 
ABANDONADA - Momento em que o irlandês Anselm Murphey encontrou a brasileira Cleo Weidlich caída. (Foto: Anselm Murphey)
 

A brasileira Cleo Weidlich teve uma lesão no joelho direito ainda na subida da 3ª maior montanha do mundo, Kangchenjunga de 8.586m, mesmo assim ela prosseguiu a escalada e chegou ao cume.

Na descida os problemas aumentaram, Cleo perdeu a visão, o que é conhecido como cegueira das neves, e precisou da ajuda dos seus 3 sherpas. Mas ela havia comentado que sentia uma forte dor atrás do globo ocular, o que é uma indicação de início de edema cerebral.

Ela conseguiu chegar ao acampamento 4 a 7.500m e pelo telefone satelital pediu o resgate por helicóptero. O irlandês Anselm Murphy também estava descendo a montanha e acompanhando atentamente o resgate de Cleo, pediu ao seu amigo Ted Atkins que mesmo contra a vontade de Cleo aplicasse nela uma dose de dexametasona.

Depois, ambos alpinistas resolveram descer para o acampamento 3, onde achavam que seria o melhor lugar para o helicóptero pousar. Chegando lá encontrou os sherpas desmontando o acampamento, pois já era fim da temporada e eles queriam deixar a montanha limpa. Anselm viu que eles também iriam descer vários cilindros de oxigênio e pediu para deixar uma barraca montada para Cleo e também um cilindro cheio e que lá no acampamento base ele daria um que ele tinha, assim seria apenas uma troca. Mas o sherpa negou a fazer a troca e ofereceu o cilindro por U$ 400 (normalmente custa U$ 280), não tendo outra saída Anselm disse que pagaria assim que chegasse ao acampamento base.

Neste dia Cleo tamb ém desceu, mas conseguiu chegar somente até 100 metros acima do Acampamento 3, onde os sherpas montaram uma barraca e lá ficaram. Um dos sherpas desceu até o Acampamento 3 em busca de comida, Anselm pediu para levar também à ela o cilindro de oxigênio, pois sabia que ela iria precisar.

Na manhã seguinte Cleo ainda não havia passado pelo Acampamento 3, por isso, mesmo esgotado fisicamente, Anselm Murphey decidiu subir até Cleo, pois estava desconfiado que os sherpas não estavam cuidando dela como deveriam. Chegando lá encontrou-a ainda na barraca e apesar de um pouco melhor que no dia anterior, ainda não estava totalmente lúcida. Anselm viu que ela não utilizou o cilindro de oxigênio durante a noite, e ela disse que os sherpas não ofereceram a ela (provavelmente ofereceram, mas como Cleo não costuma utilizar oxigênio engarrafado em suas escaladas ela deve ter negado e não se lembrava devido ao seu estado). Anselm precisou insistir muito até que ela resolveu usar o oxigênio.

Eles começaram então a descer e quando estavam a 7100m finalmente o helicóptero chegou, mas circulou por cima deles e foi embora, não era possível fazer um pouso de resgate naquele local. Todos ficaram em silêncio e desanimados, mas Anselm disse que não tinha problema, e que iria continuar descendo com ela. Cleo disse que estava começando a enxergar um pouco com o olho esquerdo, a melhora deve ser porque tinha baixado de altitude e principalmente porque estava usando oxigênio em 1,5 l/m. Então finalmente todos começaram a descer novamente, Anselm acompanhou até um certo momento e depois que passou pelo Acampemento 3, precisou parar para desmontar o seu acampamento, A equipe continuo descendo com Cleo e mais dois sherpas, o terceiro sherpa já havia descido tempos atrás.

Anselm levou 1h30 para pegar suas coisas no acampamento 3 e começou a descer, levava junto mais um cilindro de oxigênio, pois imaginava que Cleo fosse precisar. Depois de apenas 5 minutos de descida Anselm viu um corpo estendido na neve, de frente, com a cara na neve. Quando chegou perto reconheceu que era a Cleo Weidlich, ainda estava viva, mas respirando com dificuldades. Ele virou a Cleo e ela disse para deixá-la ali e que ele deveria continuar descendo. Anselm disse que isso não iria acontecer, e que ele iria ajudá-la. Vale lembrar que esse era o sétimo dia que eles estavam acima dos 7000m e bem desidratados.

Com muita dificuldade e com a Cleo caindo mais algumas vezes, conseguiram chegar ao Acampamento 2, mas não havia nenhuma barraca, pois os sherpas haviam desmontado e levado para baixo. Ao encontrar com um dos sherpas que havia subido com um pouco de chá, Anselm perguntou porque abandonaram ela, e disseram que ela havia pedido para eles descerem. Anselm foi confirmar com Cleo e ela disse que não se lembrava disso (provavelmente não se lembrava devido as alucinações que vinha tendo).

No Acampamento 2 armaram uma barraca e ali iriam passar a noite os 3, Cleo, Anselm e seu amigo Ted Atkins. O jantar foi uma barra de chocolate Snickers para cada um e um punhado de amendoim.

Acordaram no outro dia às 6h30 e dois sherpas da equipe de Anselm que até então não estavam participando do resgate, chegaram com sanduíches e disseram que o helicóptero estava novamente a caminho. Cleo já estava se sentindo melhor e depois de uma hora finalmente o helicóptero chegou e conseguiu resgatá-la.

Anselm e Atkins então desceram até o Acampamento Base e os problemas só aumentaram, pois eles questionaram sobre o valor cobrado no cilindro de oxigênio e Anselm também mostrou a foto da Cleo caída de bruços na neve. Um dos sherpas se irritou e começou a brigar com Atkins, Anselm ao escutar a barulheira e ver o que estava acontecendo, pegou um machado que estava próximo e correu para socorrer o amigo, mas chegando lá a turma do deixa-disso conseguiu acalmar a todos e depois disseram que estavam bravos na verdade com o Anselm, que tinha a foto da Cleo, mas atacaram Atkins porque ele começou a criticar a cobrança do cilindro de oxigênio. Nesta noite com medo de ser atacado novamente, Atkins foi dormir na barraca com Anselm.

Após voltar para Katmandu, Anselm encontrou com a Cleo e ela já estava bem, só iria precisar fazer uma operação no joelho assim que chegasse aos Estados Unidos, onde mora atualmente.

OBS: Gravamos uma sonora com Rodrigo Raineri no dia 28 de maio e antes da gravação ele disse que em Katmandu jantou com a Cleo Weidlich um dia antes, até então ele ainda não a conhecia, mas disse que ela estava super bem, feliz por ter escalado mais um 8.000m e a conversa transcorreu no bom e velho português.


As montanhas acima de 8000m escaladas por Cleo Weidlich
• Everest - 8.850m
• Kangchenjunga - 8.586m
• Cho Oyu - 8.516m
• Manaslu - 8.163m
• Gasherbrum I - 8.068m

OBS: Waldemar Niclevicz é o brasileiro que escalou mais montanhas acima de 8000m, já escalou 6 das 14 montanhas existentes.



Sobre Anselm Murphy

 
   

Depois de se formar na Universidade em 2005, propus-me a escalar o Monte Everest. Neste momento eu não tinha nenhuma prática em escalada. Treinei bastante e em 21 de maio de 2008 consegui alcançar o ponto mais alto da Terra. Ao fazê-lo eu me tornei o irlandês mais jovem, ao 24 anos, a escalar o Everest.
Apesar de ter nascido em Londres, eu tenho cidadania irlandesa devido ao meu pai que é de Rosslare em Wexford. Não me aprofundei no meu objetivo de escalada de forma sensata, fui escalando várias outras montanhas a fim de obter a experiência necessária para tentar o Everest. Outras montanhas que eu tenho cume são:

• Aconcagua, 6962m
• Mera Peak, 6476m
• Island Peak 6192m
• Cho Oyu 8201m
• Kangchenjunga de 8.586m (exatamente esta escalada da matéria acima)


 
 
PARTICIPE, DEIXE SEU COMENTÁRIO.