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Se para um profissional por vezes é difícil escolher o que vestir em
uma aventura, imagina para quem está começando.
 
 
Publicado em 20/10/2009 - 11h00 - da redação
Fonte: Marcio Bortolusso
 
 
 
  Entenda como funciona a membrana Gore-Tex®.
Foto: Divulgação
   
 
  Gráfico dos tecidos corta-vento.
Foto: Divulgação
   
 
 
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Independente se você vai escalar na isolada Groelândia ou passear com a família em Bonito, pode apostar que parte do sucesso de sua viagem dependerá da roupa que você irá usar. Acredite, da mesma forma que por estar com as roupas adequadas realizei com prazer atividades em condições extremas nos Alpes ou na Patagonia, por outro lado, também já vivenciei situações de alto risco ou grande desconforto em simples caminhadas pela Serra do Mar, apenas pela falta de vestuário apropriado.
Ok, ok, e o que escolher para a sua aventura? O importante não é a marca, mas sim avaliar a qualidade e os recursos de cada produto, considerando as necessidades prioritárias dos usuários: proteção, conforto e desempenho. Tenha em mente a atividade que irá praticar na hora de avaliar as propriedades do produto que irá usar.
Para decidir qual a roupa ideal é preciso conhecer o básico sobre os materiais utilizados na confecção das peças e as principais tecnologias do mercado, para um balanço entre os prós e os contras de cada produto.
A seguir as principais considerações para sua avaliação:

- Proteção, conforto e desempenho: O ideal é que a roupa seja confortável, para que você tenha prazer enquanto pratica sua atividade. No entanto, ela deve cumprir com as características básicas às quais foi projetada (impermeabilidade, respirabilidade, aquecimento, etc), assegurando desta forma a proteção do praticante. Afinal, é nas condições adversas (chuva, vento, frio, calor, etc) que você vai tirar a prova se a sua roupa é realmente confortável.
Como exemplo, em um gélido dia de inverno na montanha, uma blusa térmica pode aquecer o suficiente para dar conforto e segurança ao usuário, permitindo que o vapor da transpiração seja transportado para fora do tecido enquanto impede que o vento gelado penetre, ao mesmo tempo que agasalhos de qualidade inferior ou usados para fins aos quais não foram projetados podem ocasionar superaquecimento, suador excessivo e posterior resfriamento do corpo devido à umidade no tecido. Ou seja, quando deveria aquecer e proteger com as suas funcionalidades, uma blusa pode acabar com qualquer programa, gerando desde um simples desconforto, um incômodo resfriado ou até mesmo, dependendo da atividade, levando o praticante ao preocupante quadro de hipotermia. Quem se aventura há anos sabe bem do que estou falando;

- Comodidade: Já que estamos falando de conforto, vamos esclarecer alguns fatos. O que faz com que alguém sinta frio ou calor não é simplesmente a temperatura do ar, mas a alteração do sensível micro-clima existente na fina camada de ar localizada entre o corpo e as roupas, que pode ser alterado principalmente pelas condições climáticas do ambiente em que estamos, pela atividade física ou mesmo pelas roupas que usamos. Há registros de pessoas que morreram de hipotermia na tropical Rio de janeiro sob temperaturas de apenas 19 oC, enquanto moradores de cidades do Canadá vivem tranqüilamente sob temperaturas de até 40 oC negativos.
Chamamos de comodidade o estado em que nos sentimos confortáveis, independente da temperatura externa, normalmente quando tal micro-clima mantém-se entre 32 e 35 oC e a umidade relativa do ar está por volta de uns 50%. Basta o corpo começar a suar e ou gelar para começarmos a sentir incômodo, sinal de que não estamos mantendo tal micro-clima equilibrado.
E a principal forma de manter esta comodidade é com a escolha de roupas adequadas de acordo com a atividade que você pretende encarar;

- Termicidade: Faça chuva ou sol... sua roupa tem que manter a sua comodidade.
A regra do Sistema de Camadas é um tanto simples: em dias quentes basta uma Camada Intermediária de roupas leves; nos frios, use uma Camada Térmica; nos muito frios, mais uma Camada Interna deve resolver; caso ainda esteja batendo os beiços, vista uma boa Camada Protetora por cima das outras roupas.
Porém atenção, a sua roupa não vai fazer milagres caso você não se cuide. Começou a esquentar, antes de suar, comece a tirar as camadas. Da mesma forma, ao sentir que o corpo começa a esfriar, vista uma nova camada antes de perder calor.
Em dias muito frios no entanto, preste ainda mais atenção às extremidades de seu corpo (mãos, pés e cabeça), os pontos onde mais perdemos o calor corpóreo. Mais da metade do calor perdido pelo nosso organismo provém da cabeça. Basta que a nossa cabeça e o nosso peito se esfrie para que os membros inferiores e superiores tenham a circulação sangüínea reduzida, em prol do reaquecimento das partes vitais. Daí a velha máxima montanhista: “seu pé está gelado, ponha um gorro”.

- Resistência ao vento: Testes mostram que sob 10 oC de temperatura ambiente uma rajada de vento de 50 km/h (como descer uma ladeira de bicicleta) pode transmitir uma sensação térmica de apenas -2 oC! Como a maioria das roupas perde boa parte do isolamento térmico com o vento, surgiram as tecnologias “corta vento”, que impedem que o ar gelado penetre e destrua o micro-clima interno que nos dá conforto;

- Respirabilidade: Agora muita atenção a uma das mais importantes propriedades das roupas para Aventura: ela precisa respirar.
De acordo com o esforço da atividade, com a roupa usada e com as condições climáticas, em repouso nosso organismo chega a perder cerca de 0,06 litro de água por hora. Ao realizar uma pequena caminhada podemos perder cerca de meio litro por hora, em caminhadas mais puxadas até um litro e em baladas extremas até 4 litros de água por hora de esforço.
Após quase meio século de pesquisas, em 1978 o mundo conheceu o que muitos consideram como uma das maiores revoluções para as Atividades ao Ar Livre em condições adversas, a membrana Gore-Tex. De forma simplificada, cada centímetro quadrado dela contém 3,6 milhões de microporos, sendo que cada um deles é 20 mil vezes menor que uma gotícula de água e 700 vezes maior que uma molécula de vapor. Ou seja, a membrana possui incrível capacidade de repelir a água (inclusive da chuva), mas permite que o vapor da transpiração saia com facilidade.
Portanto, dependendo do uso, na hora de adquirir um casaco “corta vento” dê preferência para peças com tecnologias como a das membranas Windstopper, que graças aos seus bilhões de poros microscópicos apresenta eficaz proteção contra as rajadas de vento e excepcional transpirabilidade.
Normalmente as Camadas Internas respiram super bem, mais ou menos de acordo com o espaçamento de sua trama. Mas fique esperto principalmente com a Camada Protetora, pois de nada lhe adiantará um anorak totalmente impermeável que não permite que o excesso de calor e o suor saiam, o que provavelmente vai resultar em camadas internas encharcadas pelo vapor da transpiração aprisionado. Lembre-se que nosso organismo é como um motor, se não refrigerar ele esquenta demais e uma hora para.
Escolha a sua roupa de acordo com as suas atividades, pois em geral quanto maior a impermeabilidade, menor a respirabilidade dos tecidos;

- Impermeabilidade: Quanto à impermeabilidade, teoricamente os produtos podem ser divididos em Impermeáveis e Semi-impermeáveis, o que algumas marcas denominam como waterproof e water-resistant. Efetivamente, temos produtos: de alta respirabilidade e moderada resistência à água; de boa respirabilidade e alta resistência à água; de moderada respirabilidade e totalmente impermeáveis; e os de baixíssima ou nula respirabilidade, porém completamente impermeáveis. Teoricamente, os produtos vendidos como Impermeáveis devem ser completamente resistentes à água, neve ou vento, com membranas inteligentes ou com estrutura completamente resinada. Mas fique esperto com algumas marcas encontradas no mercado, algumas que vendem gato por lebre e outras que até são impermeáveis (tipo náilon durável coberto com poliuretano, ou PVC), mas como não são transpiráveis transformam a sua bela peça em uma micro-sauna.
Basicamente, os Semi-impermeáveis são produtos confeccionados com tecidos impermeáveis, mas por não terem as costuras seladas acabam deixando passar a umidade pelos minúsculos furos feitos pela agulha durante o processo de fabricação. Ou seja, até resistiriam a uma garoa, mas não à uma chuva mais demorada. Porém estes produtos ganham em respirabilidade em relação aos totalmente impermeáveis, sendo ideais para atividades físicas em regiões mais secas.
Os mais eficientes processos de fabricação de tecidos impermeáveis com propriedades de respirabilidade são a Laminação e a Resinagem. No primeiro, membranas são laminadas sobre bases de náilon ou poliéster (como as tecnologias Gore-tex, X-Alt ou 3-Layer Conduit) e no segundo uma camada de substâncias impermeáveis e respiráveis é incorporada diretamente sobre o tecido (Ultrex, Triple Point Ceramic e Conduit Silk).
Estes tecidos, ainda recebem acabamento hidro-repelente em sua superfície externa, que faz com que a água forme gotas e escorra, antes de ser absorvida;

- Resistência: Obviamente, atividades que envolvem situações com atrito no vestuário (escalada, exploração de cavernas, trilhas acidentadas, etc) exigem roupas mais duráveis, produzidas com tecidos hiper resistentes como a Cordura ou com sistemas como o Rip Stop, trama justa incorporada em determinados tecidos que minimiza os riscos de rasgo acidental.
As melhores roupas impermeáveis recebem ainda um tratamento extra nas áreas de maior atrito, como axilas, cotovelos e joelhos;

- Gramatura: Trata-se da espessura da roupa, que reflete diretamente o volume, o peso, a resistência e a termicidade do produto. Existem várias gramaturas para cada tipo de tecido, dos resistentes aos térmicos. Exemplos óbvios: fleeces mais espessos garantem maior isolamento térmico no frio e roupas mais finas são mais ventiladas;

- Compressibilidade: Melhor ainda se o produto desempenha bem suas funções (térmicas, por exemplo), possui pouco volume devido à sua gramatura e, além disso, ocupa pouco espaço em sua mochila, podendo ser comprimido com facilidade;

- Elasticidade: A elasticidade de alguns tecidos permite que se construam roupas leves e de pouco volume para serem usadas justas ao corpo, capazes de formar poucas dobras nas articulações. Pra quem pratica atividades técnicas, é possível encontrar roupas construídas com fios elásticos de elastano capazes de cumprir com suas necessidades básicas (proteção, termicidade, etc) e ainda minimizar o risco de entrada de ar gelado com os movimentos;

- Meio Ambiente: Sabia que você pode dar uma ajudinha ao planeta ao escolher produtos de empresas ecologicamente responsáveis? Algumas empresas investem um pouco a mais ao fazer a sua parte para preservar a natureza que você tanto ama, como a Malden Mills, que recicla embalagens PET para fabricar alguns dos seus tradicionais casacos Polartec. O mesmo faz a Patagonia na manufatura dos fleeces Synchilla.
Ainda tem dúvidas de como fazer a diferença? Analise o seu comportamento para descobrir qual tipo de roupa você precisa (durável, que não amasse, fácil de lavar, etc), desta forma você conseguirá decidir na balança se vale investir em roupas baseado no processo de fabricação (mais ou menos impactante) ou em compensações a longo prazo. Por exemplo, roupas sintéticas apresentam certo impacto ao meio ambiente quando produzidas, mas podem compensar quando calculamos a economia anual de água e energia dos produtos easy care, que dispensam os abomináveis ferros de passar e secadoras e necessitam de menos lavagens que outros tecidos.

Ahh... e que tal boicotar marcas que não merecem nosso respeito, como já fazem milhares de pessoas ao redor do mundo realmente preocupadas com o futuro do planeta? Pode apostar que são os consumidores que decidirão no futuro se uma empresa continuará ou não a comercializar produtos com penas de ganso, à base de testes com animais ou sem tratamento de dejetos químicos.
Boas aventuras!

Márcio Bortolusso é documentarista da PHOTOVERDE Produções (photoverde.com.br) e montanhista patrocinado pelas marcas GORE-TEX® e WINDSTOPPER®.


 
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