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Arthur Simões chega ao Rio de Janeiro depois de passar por 46 países, durante três anos.
Ciclista conta os detalhes da aventura 'Pedal na Estrada'
 
 
Publicado em 07/05/2009 - 11h02 - da redação
Fonte: G1
 
 
 
  Ao chegar na Bolivia, descansa sobre os trilhos para relaxar. A paisagem fala por si só.
Foto: Arthur Simões
   
 
  Arthur Simões em ação: ciclista pedalou mais de 35.000 km nos últimos três anos
Foto: Arthur Simões
   
   
 
 
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Em abril de 2006, o brasileiro Arthur Simões pegava sua bicicleta e deixava o Brasil para dar início ao projeto Pedal na Estrada. Com o objetivo de dar a volta ao redor da Terra sobre duas rodas e espalhar conhecimento mundo afora, o ciclista sobreviveu até a um atropelamento para transformar sonho em realidade.

Bacharel em direito, Arthur, de 27 anos, liderou um grupo de assistência social que auxiliava a população mais carente de São Paulo. Mas ele queria ir além, e como foi. O ciclista recriou o conceito de ensino à distância, unindo aventura, esporte e educação. Com o apoio de colégios, escolas, ONGs e instituições de ensino, o "Pedal na Estrada" tornou-se uma fonte de informação para estudantes de todo o Brasil e até do exterior.

Depois de percorrer mais de 35.000km, 46 países e cinco continentes, o projeto chegou ao fim em março, em Salvador. Na sequência, porém, o ciclista seguiu pedalando pelo litoral brasileiro rumo a São Paulo, destino final da trajetória.

Na última segunda-feira, Arthur completou o penúltimo trecho do trajeto ao chegar no Rio de Janeiro. Em entrevista por telefone ao GLOBOESPORTE.COM, o aventureiro conta todos os detalhes dessa experiência inédita vivida ao longo dos últimos três anos.

GLOBOESPORTE.COM: O que é o projeto Pedal na Estrada e como ele surgiu?
Arthur Simões: O grande enfoque do projeto é a parte educacional. Eu estudei a minha vida toda em São Paulo e senti que faltava um pouco de incentivo nesse aspecto. Foi aí que eu tive a ideia de oferecer uma forma diferente de ensino. Peguei uma bicicleta e parti para algo desconhecido com o intuito de compartilhar todas as experiências e registros dessa aventura, sobre histórias, culturas e tradições de outros povos. É um intercâmbio cultural.

Como foi sua preparação para dar início a essa longa jornada?

Eu pedalava uns 50km, em média, por dia. Fiz isso durante três anos. Também já tinha feito trilhas e provas em estrada. Além disso, como professor de ioga, eu já tinha uma base emocional e física. E isso foi importante, porque eu adotei uma vida nômade e muito solitária, e o ser humano é um ser social, por natureza, que precisa se relacionar. A conversa dificilmente ia além do superficial.

Que desafios você teve de superar nessa trajetória?
Na América do Sul, houve diversas tentativas de assalto, perto do Peru, na Bolívia, mas por sorte não fui roubado. Em Dubai tive um acidente indo para a embaixada brasileira. Quase nunca chove por lá. Justamente nesse dia choveu, e o microônibus em que eu estava capotou, mas não sofri nada. Na Turquia, não escapei (risos). Eles sempre dirigem falando no telefone e, por uma distração, um caminhoneiro me atropelou na pista de acostamento. A bicicleta foi destruída, mas o quadro pôde ser reutilizado. Fui levado para o hospital, mas não quebrei nada, o que quebrou foi o meu computador e a minha filmadora. Este talvez tenha sido o ponto mais traumatizante da viagem, porque já estava no final, o meu contrato de patrocínio já tinha acabado e bateu aquele desgaste. Fiquei uma semana sem andar.

Qual foi a história mais inusitada durante a aventura?
Quando eu cheguei na África, entrei por um país chamado Djibouti, que fica do lado da Etiópia, e fui recebido a pedradas. As pessoas, inclusive crianças, corriam gritando “farange, farange” e me pediam dinheiro. Depois eu fui perceber que se tratava de uma ex-colônia francesa e eles estavam se referindo aos franceses. “Farange”, na verdade, queria dizer “French” (francês, em inglês). Eles não gostavam de pessoas brancas por causa disso. Saí de lá com medo de crianças. Fiquei traumatizado.

O que mais você sentiu falta durante esse período?

Ah, com certeza a alimentação, o arroz e feijão de casa. Quando eu saí do Brasil era vegetariano, mas, quando cheguei na Argentina, mudei meus hábitos alimentares, pois não tinha escolha. Tudo que aparecia eu comia. Para me manter forte eu precisava de uma dieta balanceada e rica em proteína. Cheguei a comer cachorro, gafanhoto, canguru e tomei até leite de camelo, no Sudão.

E daqui em diante, você pretende seguir profissionalmente a carreira de ciclista? Ou pretende dar continuidade ao projeto espalhando conhecimento Brasil afora sob duas rodas?
Talvez eu me especialize em algo relacionado à fotografia, que é o que mais me agrada no momento. Mas o futuro do projeto vai além da viagem em si. A minha ideia é espalhar esse conhecimento, divulgando nas escolas, fazendo exposições de fotos, ou até escrevendo um livro. Surgiram patrocinadores interessados em financiar o projeto, mas vou aguardar até eu voltar a São Paulo, porque ainda é preciso compilar todo o material.

Para finalizar, qual a grande lição que pode ser tirada dessa experiência?
É muito importante acreditar nos nossos sonhos, no que a gente acredita, independentemente do que seja. Briguei com muita coisa para colocar o projeto em prática. Abandonei profissão, família, amigos, namorada, mas segui a minha vontade, aquilo que me perseguia dentro de mim.

 

 

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