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Aventureiro escapou da morte ao achar ilhotas brasileiras
 
da Redação: Elias Luiz
fonte: O Globo: Élcio Braga
2 de janeiro de 2017 - 14:58
 

Alex Bellini. Foto: Divulgação
 

Com fome e sede, o aventureiro italiano Alex Bellini percebeu a proximidade da morte. Estava perdido na ousada tentativa de atravessar o Oceano Atlântico num barco a remo. Estava havia cinco dias sem comer quando pisou no Arquipélago de São Pedro e São Paulo, que nem figurava em suas cartas náuticas. Emocionou-se.

— Depois de 180 dias no mar, em minha travessia do Atlântico, a minha comida apodreceu. Senti a morte chegar — recorda Bellini, de 38 anos, em entrevista por videoconferência de sua casa, em Londres, dez anos após a aventura.

Bellini nunca mais voltou ao arquipélago, sob responsabilidade da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secrim). Em geral, apenas pesquisadores e estudantes recebem autorização para visitar os rochedos.

O italiano, tratado como náufrago, foi um caso excepcional. A grande dificuldade de Bellini, orientado via rádio por uma equipe de apoio na Europa, foi localizar o arquipélago. Mesmo com as coordenadas, não via os rochedos. O ponto mais alto da ilha tem só 18 metros: as dez ilhotas somam 17 mil metros quadrados. A ilha Belmonte, única habitada, é menor que um campo de futebol.

— Não conseguia achar o arquipélago: de tão pequeno, nem existia nas minhas cartas náuticas. Era como ir ao encontro do nada — resume.

O arquipélago era um ponto abandonado no oceano até 1998, quando a Marinha instalou a primeira estação científica no local, descoberto em 1511, quando a caravela portuguesa São Pedro colidiu com os rochedos e naufragou. A caravela que a socorreu, segundo uma versão, chamava-se São Paulo. Outra versão atribui o nome do segundo santo à falha geológica de São Paulo, bem abaixo do conjunto de ilhas.

A sorte de Bellini foi que experientes pescadores, contratados pela Marinha para dar suporte às pesquisas no arquipélago, avistaram o seu barquinho alaranjado à deriva na imensidão azul.

— Eu parecia mais morto do que vivo. Muito magro, cansado. Fui recebido como um náufrago pelo fato de ter ficado cinco dias sem comer — recorda.

O italiano desembarcou no arquipélago oito anos após a inauguração da primeira estação científica. Antes de 1998, não encontraria nada além de atobás, caranguejos e um farol. Lá não há vegetação nem fonte de água. O cenário seria o mesmo encontrado por Charles Darwin em 16 de fevereiro de 1832. A bordo do HMS Beagle, o naturalista inglês percorria o mundo para escrever “A origem das espécies”.

Antes de zarpar do arquipélago, Bellini fez contato por telefone com um amigo em Aprica. A surpresa veio ao revelar o nome do estranho lugar que acabara de salvá-lo.

— Quando contei que tinha chegado a São Pedro e São Paulo, meu amigo congelou. Ele me contou que, alguns dias antes, a mãe dele havia sonhado comigo na Igreja da nossa paróquia de Aprica. No sonho, eu estava agarrado ao campanário da igreja. Foi um sinal. Ou seja um pequeno vilarejo da Valtellina, na encosta das montanhas, e que tem como santos protetores São Pedro e São Paulo. E chego a um pequeno arquipélago, chamado São Pedro e São Paulo, muito feio, cheio de rochedos, mesmo assim representava um lugar para sobreviver — conta Bellini.

Outras aventuras

Alex Bellini continuou com seus projetos de aventura, em 2008 ele fez a travessia solo a remo de 18.000 km entre o Peru e a Austrália, em 214 dias. Em 2011 Bellini caminhou por 5.300 km de Los Angeles a Nova York, em 70 dias.

 

Modelo de Cápsula de Sobrevivência que Alex Bellini utilizará em mais uma aventura solo, agora a bordo de um iceberg.
 

Novo Projeto

No inverno de 2018, Alex Bellini será deixado em um iceberg próximo da costa oeste da Groenlândia e, pela influência das correntes, ele será empurrado para o sul para as águas mais quentes. A aventura será conduzida em ambiente hostil com temperatura em torno de 20 graus abaixo de zero. Será a jornada de um homem solitário e a jornada da espécie humana neste Planeta. À deriva.

Conheça o projeto que recebeu o nome de Adrift.

 
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