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Brasileiro de 14 anos sobe o Kilimanjaro
 
texto e fotos: Rafael Pluciennik
24 de março de 2015 - 14:38
 

Rafael Pluciennik no planalto entre o Mawenzi e o Kilimanjaro.
 

Nas minhas férias de 2014 para 2015, viajei para a Tanzânia para subir o Monte Kilimanjaro com minha avó Ana Maria. Na época, eu tinha acabado de completar 14 anos. Por volta de seis meses antes minha avó, que já havia tentado subir o Kilimanjaro há 12 anos atrás, me convidou para esse desafio. Como ela não havia conseguido atingir Uhuru Peak, o ponto mais alto da África (5.895 metros), sempre teve vontade de tentar de novo. O Kilimanjaro é, na verdade, um vulcão que está adormecido. Quando recebi o convite, aceitei na hora.

Eu tinha pouca experiência com montanhas, apenas tendo subido por duas vezes o Corcovado, em Ubatuba, no litoral do Estado de São Paulo. Além disso, nunca havia enfrentado a altitude.

Minha avó me ajudou muito na preparação para a subida. Nos inscreveu na expedição e cuidou dos detalhes logísticos para nossa ida ao Kilimanjaro com o grupo da Morgado Expedições.

Sem saber exatamente o que iria encontrar, comecei a me preparar para a expedição conseguindo todos os equipamentos e vestimentas necessários e treinando pelo menos três vezes por semana com a ajuda de um personal trainer. Devido a uma pequena lesão que tive no joelho jogando futebol, só pude começar a treinar em novembro, um pouco menos de dois meses antes da viagem, o que me deixou um pouco preocupado.

Nessa ocasião soube que nosso guia seria o Agnaldo Gomes e quem seriam os outros integrantes da expedição. Começamos a trocar e-mails e percebi que, como já esperava, eu seria o menos experiente e o mais novo integrante do grupo. No início, fiquei um pouco assustado mas, por outro lado, fiquei aliviado em saber que o resto do grupo já tinha alguma experiência nestas situações.

Conforme a data da expedição ia se aproximando, comecei a ficar mais ansioso, mas também cada vez mais empolgado. No dia 25 de dezembro de 2014 saímos de São Paulo passando por Johanesburgo e Dar es Salaam até chegar ao aeroporto Kilimanjaro. No último trecho, nosso vôo foi cancelado e precisamos esperar mais cinco horas para embarcar.

Chegando ao hotel no dia 26 de dezembro, conhecemos o Agnaldo e, só no dia seguinte, conhecemos o resto do grupo. Nesse dia tivemos nossa primeira vista da magnifica montanha que é o Kilimanjaro. Fizemos um pequeno safari que ficou um tanto em segundo plano por causa da expectativa de começar logo a subida.

Uma das coisas mais impressionantes da Tanzânia é a pobreza, que chega a assustar por que é muita, praticamente no país inteiro. No pouco tempo que ficamos na cidade de Arusha, vimos pessoas muito magras, construções muito precárias, pessoas tentando nos seguir para vender objetos, crianças trabalhando...Enfim, uma vida muito dura.

No dia 28 de dezembro começamos finalmente a subida no Parque Nacional do Kilimanjaro. A trilha foi pela rota Rongai, a partir de uma altitude de 1900 metros. Muitas coisas passavam pela minha cabeça. Eu estava nervoso por que, mesmo com as orientações do guia e maior noção do que ia encontrar, tudo ainda era uma grande novidade para mim. Não sabia bem como era acampar, como a altitude ia me afetar e tantas outras coisas. Algo que me preocupava bastante era a alimentação, pois sempre tive dificuldade para comer coisas diferentes ou que não gosto, mas no fim isso não foi problema. Comi o que tinha na mesa, sem saber o que era.

     
     

Subimos até 2600 metros para acampar. Neste dia ainda estava quente, apesar da altitude.

No dia 29 continuamos a subida, ganhamos mais 1000 metros e acampamos a 3600 metros. Nesse dia já fiquei mais tranqüilo, pois me sentia muito bem e a altitude ainda não estava me afetando.

No dia seguinte chegamos à base de uma montanha chamada Mawenzi, a 4330 metros do nível do mar. Foi neste acampamento que comecei a sentir a altitude. Já não tinha fome, mas comi um pouco forçado, pois sabia que se não comesse não teria energia para continuar. A partir daí precisei andar mais devagar por causa da menor quantia de oxigênio no ar.

Esse acampamento era o mais bonito de todos. Nele havia um pequeno lago e, abaixo de nós, as nuvens. Tínhamos uma belíssima vista do Kilimanjaro e o próprio Mawenzi, com seus 5.149 metros de altitude, era uma montanha espetacular.

No dia 31 de dezembro fizemos a aclimatação nas encostas do Mawenzi. Subimos até cerca de 4700 metros e depois descemos. Eu, junto com o guia brasileiro e mais um integrante do grupo, descemos correndo. Foi bem divertido, apesar de não ter sido muito bom para o meu joelho. Acampamos no mesmo lugar.

No jantar, os adultos tomaram champanhe para celebrar a passagem do ano e eu fiquei responsável pela seleção musical. Coloquei só música popular brasileira, principalmente Caetano Veloso e Chico Buarque.

No primeiro dia do ano saímos do Mawenzi e caminhamos por um longo planalto até as encostas do Kilimanjaro, a 4700 metros de altitude. Quando chegamos, almoçamos e fomos descansar. Depois jantamos e fomos tentar dormir. Foi realmente difícil dormir porque eu estava muito nervoso com o que vinha pela frente. Levantamos perto das 23 horas para tomar “café da manhã” e então saímos, à meia noite, para o ataque ao cume do Kilimanjaro. Sabendo que teria um ritmo mais lento, minha avó havia saído uma hora antes do resto do grupo.

Estava bem frio, por volta de -15 graus. Caminhamos a noite inteira. Nas primeiras horas o nervosismo me atrapalhou. Tinha dores de barriga, respirava mais ofegante e não sabia direito se eu estava me sentindo mal por causa do nervosismo ou pela altitude.

O céu estava muito bonito. Nós parávamos de tempos em tempos para dar uma descansada, tomar água e comer alguma coisa. Com o tempo, o nervosismo foi passando e a caminhada foi ficando mais tranqüila, porém a cada passo que subíamos o O2 ia diminuindo.

Quando estávamos perto da boca da cratera, encontramos a minha avó, que continuava subindo no seu próprio ritmo. Isso me tranquilizou um pouco. Continuamos a subida e minha avó ficou para trás. Este trecho foi um pouco mais complicado porque havia muitas pedras formando obstáculos e um pouco de gelo, que deixava o chão escorregadio.

Quase chegando ao Gillman’s Point (5.685 metros), primeiro ponto da cratera a ser atingido, o sol começou a nascer subindo atrás do Mawenzi, proporcionando uma vista espetacular. A partir do Gillman’sPoint a caminhada foi mais tranqüila. Apesar de ainda termos que subir cerca de 200 metros, o trecho tinha menor inclinação, facilitando o caminho. No Gillman’s, fiquei bastante emocionado, sentindo que realmente conseguiria atingir o cume. Acho que o resto do grupo também ficou. O trecho do Gillman’s até o cume era muito bonito, com neve e geleiras por toda a cratera.

     
     

Após uma longa caminhada chegamos enfim a Uhuru Peak! Por um momento, esqueci o cansaço. Estava muito feliz, era uma sensação louca e eu fiquei muito emocionado junto com o resto do grupo. Peguei minha bandeira do Brasil e tirei foto, comi, descansei, não consigo nem descrever como estava me sentindo. Acho que este foi um dos momentos mais emocionantes e marcantes da minha vida.

Quando começamos a descer fiquei preocupado, queria saber da minha avó. Fiquei muito aliviado e emocionado ao vê-la subindo perto de chegar ao cume, então dei minha bandeira a ela e acho que ela ficou emocionada de ver que eu tinha conseguido. A partir daí a descida foi tranqüila, já que íamos ganhando O2 a cada passo.

Acampamos mais uma noite na montanha. Dei minha bandeira para um dos carregadores, aos quais realmente preciso agradecer. No final da trilha fizemos os registros de que havíamos subido, almoçamos e voltamos ao hotel. Foi um pouco triste a despedida dos guias e carregadores que nos haviam ajudado. Gostei muito deles.

À noite, num jantar com todos os brasileiros que subiram comigo, recebemos nossos certificados. Assinamos nossos nomes nos versos de todos os certificados, o que achei muito legal para relembrar do grupo.

Na manhã do dia seguinte começamos a volta ao Brasil.

Essa foi uma experiência muito importante para mim, não só como uma ótima viagem e excelente lembrança, mas também como uma experiência que me trouxe muito aprendizado para a vida. A pessoa que mais tenho que agradecer por isso é minha avó.

 


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