Desaparecida no Himalaia
fonte: Backpacker
21 de fevereiro de 2014 - 17:51
 
 
 
Como muitos caminhantes, Aubrey Sacco entrou no Himalaia com entusiasmo. Mas ela encontrou um lado sombrio do Nepal e que todos os trekkers devem conhecer. Foto: Arquivo
 

O primeiro dia de caminhada pelas trilhas de Langtang, na região do vale central do Nepal, oferece tudo o que um bom trekker procura: pontes suspensas cobertas com bandeiras de orações, encostas verdejantes onde macacos langur balançam nas árvores de lariço e um rio de desgelo dos glaciares que flui pelo Himalaia. Isso faz qualquer caminhante pular de alegria. Mas isso faz Paul Sacco ter vontade de vomitar.

Paul, é um senhor magro, de 57 anos, pai de três filhos, deixou sua casa em Greeley, Colorado, nove dias depois que sua filha de 23 anos, Aubrey Sacco, não ter retornado de uma viagem de uma semana pelo Parque Nacional Langtang. Ela estava viajando sozinha há cinco meses pela Ásia, mantendo contato constante com os pais, até que ela começou a sua caminhada em Langtang, em 21 de abril de 2010. Depois de pouco mais de uma semana sem notícias, sua mãe ficou preocupada, Connie, entrou em contato com a embaixada dos Estados Unidos em Kathmandu. Funcionários da embaixada falaram sobre uma manifestação civil - uma revolta maoista - o que poderia ter atrasado Aubrey nas montanhas. Mas a preocupação se transformou em pânico depois de mais três dias sem notícias de sua filha. No dia 16 de maio, Paul voou para Kathmandu, prometendo trazer a sua filha para casa. Acompanhado do seu filho mais velho, Crofton, de 25 anos, juntaram-se a uma busca já em andamento. Agora Paul caminha pelo cenário idílico, mancando por causa de uma cirurgia recente, ele refuta imaginar que sua filha Aubrey esteja morta no fundo de um penhasco e tem a esperança que vai simplesmente esbarrar com ela pela trilha.

A dor física não o impede, porém diminui o seu ritmo. Semanas antes ele passou por uma cirurgia no quadril, e agora tudo dói. Ele teme que a cirurgia não resista e que ele acabe paralisado na floresta enlameada. No entanto, a busca continua com os agentes da Embaixada dos Estados Unidos, com pessoas de aldeias locais, agencias de guias, a polícia e o exercito nepalês. Com a ajuda de um tradutor, Paul pergunta aos locais se viram Aubrey, ele procura rio acima, na mata, em cavernas escuras e dentro das florestas.

Entre o dia 4 de maio e 1 de julho, cerca de 200 pessoas vasculharam o vasto vale alpino que desce abruptamente em direção à fronteira tibetana. De avião, a pé, com uma corda que percorre a trilha principal de Langtang, ambos os lados do vale, percorrendo o rio, todas as trilhas menores e os mosteiros remotos entre as colinas.

Uma americano chamado Scott MacLennan se juntou a busca. Ele já tinha liderado viagens médicas em Langtang por uma década, e disse a Paul que suspeita que Aubrey tenha sido vítima de jovens soldados do exército que atuam como guardas florestais em parques nacionais do Nepal, e que têm uma reputação de abusar de mulheres. “Nenhuma das meninas que trabalharam comigo na clínica, passariam a noite alí, pois era próximo do posto do exército”, disse ele.

Então, novamente, poderia ter sido o rio, como alguns moradores sugerem. A trilha abraça as margens íngremes em alguns locais e atravessa a água inúmeras vezes. Aubrey não seria a única trekker a ser vítima do terreno traiçoeira do Nepal.

Mas todo mundo tem uma teoria. Durante a busca inicial e, nos próximos meses, os moradores locais de Tamang entre outros, oferecem um número desconcertante de suposições. Alguns dizem que viram Aubrey a bordo de um helicóptero no vilarejo de Langtang. Outros culpam os caçadores que caminham durante a noite, matando animais e pessoas. Um ex-soldado holandês, que dirige uma organização de resgate em Pokhara, afirma que Aubrey foi sacrificada, em um trabalho as bruxas que adoram Kali, a deusa hindu da morte. Vários homens nepaleses culpam Aubrey, por ela estar se expondo sozinha, um convite a um possível estupro e assassinato. Ou ela está sendo inicializada ao budismo em algum mosteiro remoto. Ou ela foi sequestrada por traficantes sexuais e enviada ao Paquistão. Um adolescente com alegações psíquicas de Tamang, disse que três garotos enterraram ela debaixo de pilhas de pedra, na divisa da floresta com a tundra. Se ela foi agredida, não seria a primeira vez que uma mulher viajando sozinha foi atacada.

Tantas possibilidades deixaria qualquer um tonto. Paul é advogado de negócios e juiz, acostumado à ordem e regras previsíveis. Tudo o que pode pensar é por que, Aubrey? Por que você veio aqui? Ele não consegue ver as montanhas épicas que a atraiu. Onde ela se via animada com o contato com uma cultura exótica, ele vê povos primitivos que não são confiáveis. Em seu quinto dia na trilha, ele não consegue forçar goela abaixo mais uma tigela de arroz e lentilhas. Seu quadril parece que vai rasgar através da cicatriz deixada pela operação. Ele continua procurando, como os demais, mas nem um único fragmento de evidência a respeito de sua filha foi encontrado. Em 6 de junho, ele e Crofton deixam Langtang, e Crofton voa para casa no Colorado. Paul permanece em Kathmandu, realizando entrevistas, reuniões com autoridades policiais e embaixadas. Em meados de junho, ele conversa via Skype com sua esposa Connie, completamente decepcionado, pois não iria cumprir o que havia prometido, levar Aubrey para casa.

Dentro do avião da Lufthansa, sobrevoando o Himalaia, Paul olha para baixo sobre a vasta cordilheira. Ele vê nuvens brancas onduladas, quilômetros de selva exuberante, montanhas incrustadas de gelo. Ele sabe que Aubrey está lá fora, em algum lugar, e ele falhou. Ele vira seu corpo contra a janela para que ninguém possa ver, e ele finalmente chora.