ANDRÉ DIB
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A imponente Serra Geral convida os aventureiros a experiências audaciosas de superação,
encantamento e silêncio diante de paisagens que merecem respeito dos homens
 
 
29/07/2009 - 10h16 - Matéria publicada na Revista Aventura & Ação n°152
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  Mirante da Ponte de Pedra
Foto: André Dib
   
 
  Pedal até o Morro da Igreja
Foto: André Dib
   
 
 
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O vento minuano tornava aprazível a jornada pelo caminho que se apresentava em várias subidas pelo aclive pedregoso. Durante o sobe-e-desce sem fim, atravessávamos o Parque Nacional, envoltos em uma temperatura surpreendentemente amena. O roteiro que escolhemos iniciava-se em Vacas Gordas, pequeno distrito a 20 km de Urubici, atravessando o parque por estradinhas secundárias e seguindo para o município de Bom Jardim, na outra vertente dessa Unidade de Conservação. A região dos campos altos, ou de altitude, é a própria síntese da beleza e eleva a estradinha sinuosa a mais de 1.500 metros, cortando a região e permeando a vegetação baixa composta por gramíneas douradas.
  Depois de 30 km de pedal, passamos por várias fazendas no interior do Parque, cruzando de um lado a outro o Rio Canoas com certa frequência. Chegamos à entrada do Cânion Laranjeiras e demos uma esticada até a grande depressão geológica que se abre diante dos olhos em vales profundos ladeados por paredes abruptas esculpidas caprichosamente pela ação das águas, sem dúvida o ponto alto do passeio. Voltamos então à estrada, já de noite, e fechamos o ciclo de 40 km envoltos na neblina que se abria momentaneamente descortinando as estrelas.
  A agência Caminhos do Sertão, responsável pela logística do passeio, organiza a “Travessia dos Cânions”, que dura cerca de cinco dias, em um roteiro que inclui a visitação do Cânion Laranjeiras e segue para o Rio Grande do Sul, passando pelos Cânions Monte Negro e Itaimbezinho, em Cambará do Sul e São José dos Ausentes.

Nos desfiladeiros da Corvo Branco

No outro dia, saímos logo pela manhã para mais um dia de pedal pela região. Nosso próximo destino era a imponente Serra do Corvo Branco. Seguimos por estradinhas secundárias cruzando dezenas de pontes de madeira e pequenas propriedades de agricultura familiar. A simpatia dos colonos era convidativa. Paramos então para tomar um suco numa pequena propriedade adepta da agricultura orgânica. Conhecemos pessoas corajosas, que se opõem à estrutura dos grandes mercados e do sistema de alta produção pelo cultivo convencional, respeitando a terra e seus ciclos e ganhando em qualidade de vida.
Depois do deleite, partimos para o último lance que se revelava em uma grande e extenuante subida. Quase no cume, a montanha se abriu em uma enorme fenda, talhada na rocha, para a passagem da estradinha SC 439, que segue entremeando paredões de rocha com 90 metros de altura. A estrada liga o município de Urubici a Grão- Pará e despenca a partir do alto da serra em um incrível desnível exposto abruptamente em curvas e caracóis. O caminho exibindo grandes abismos é um prato cheio para quem curte um pouco de adrenalina, pois a cada curva a paisagem desaparece e o vazio se expõe em despenhadeiros. Diz-se que essa sequência de curvas faz tremer as pernas até dos mais audaciosos. A serra recebe esse nome, em homenagem a uma ave de extrema beleza, o urubu-rei, chamado de corvo branco nessa região, o qual supostamente foi avistado por ali pelos primeiros desbravadores.
  À direita da estrada, que corta a Serra em direção ao litoral, temos o Parque Nacional de São Joaquim e à esquerda o Campo dos Padres. Em 2006, iniciaram estudos para a implementação de uma nova Unidade de Conservação por ali, o Parque Nacional do Campo dos Padres. A área ajudaria a proteger a enorme riqueza de ecossistemas e a grande variedade de espécies de plantas e animais. A região está inserida no bioma Mata Atlântica, um dos mais ameaçados em todo o mundo, com apenas 7% da sua área original.

Pedal até o Morro da Igreja

Outro trajeto ímpar para cicloturistas mais animados é a subida ao Morro da Igreja, que é feito a partir de Urubici. São 15 km de estrada de chão e mais 17 km de asfalto em uma subida interminável, que algumas vezes envolve o ciclista na neblina, criando uma atmosfera insólita e misteriosa. Devido à altura, é possível romper as nuvens e avistar um grande tapete branco, se estendendo aos pés da montanha até a linha do horizonte. Para quem quer poupar energia, há a opção de subir de van para se soltar em 17 km numa descida na sua mais pura essência. Mesmo com o sol a pino, uma jaqueta corta-vento é indispensável para a empreitada.
O frio é inevitável, pois está na própria origem do nome Urubici, que em tupi-guarani significa “mãe das águas frias".
  Vale encarar o agouro, entretanto, para se encantar pelos vales verdejantes, as matas de araucárias e centenas de caminhos e trilhas que recebem os viajantes com os mais diferentes propósitos. Lá encontram refúgio em meio à natureza, onde a saúde do planeta parece não estar ameaçada. Pelo menos, por enquanto.

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