Extremos
 
7 CUMES GUSTAVO ZILLER
 
Sobre metas, desafios e realização
texto: Gustavo Ziller
6 de julho de 2016 - 10:05
 
Gustavo Ziller. Foto: Victor Affaro
 
  Roberta Abdanur  

Esporte é competição. Clássica frase dita incansavelmente por um treinador de natação que tive lá nos idos de 1900 e vovó. Quer outra clássica? Natação é um esporte individual. Ou atletismo. Ou montanhismo. Não, não é.

Corta para 2016.

Você já leu aqui no Extremos a espetacular notícia sobre a Tháis Pegoraro, que bateu o recorde brasileiro de tempo ao escalar o 7CUMES em um ano e nove dias, ou 375 dias. Rosier Alexandre também teve sua conquista divulgada aqui, e encerrou seu projeto 7CUMES com a chegada ao topo do Everest. Rosier completou a sequência de montanhas em 10 anos e 4 meses, ou 3.778 dias – o que, acredito, significa que ele tenha ficado mais solto em relação a prazos. Ele queria concluir o roteiro. E concluiu.

Eu, assim como a Thaís, determinei um prazo mais ousado para completar o circuito. Isso me mantém focado. Isso torna tudo mais desafiador (pra mim) e não abre margem para distração. Características que preciso manter para funcionar à minha maneira.

Mas, não se engane, ao contrário do antigo treinador de natação e de inúmeros outros, montanhismo não é esporte de competição, mas de contemplação, e não é esporte individual, mas de coletivo. Prazos são importantes para atingir a meta, mas às vezes a meta, quando se trata de uma profunda experiência de vida, pode ser alcançada em tempos mais flexíveis (Manoel Morgado, por exemplo, levou mais de 20 anos). O que vale é o que faz cada um querer imergir em tais desafios. E como contá-los para família, amigos e para você, leitor.

Por isso, é sempre reconfortante assistir a conquista de alguém, especialmente quando esse alguém tem objetivos semelhantes aos nossos. Para cada um, o desafio pode levar determinado tempo. Para cada um, o caminho será de um jeito, mas para todos será uma ‘experiência extraordinária’.  E, fatalmente, quem se compromete com o 7CUMES passará por transformações profundas, por contatos intensos e extremos em relação ao físico e ao emocional.

Você entra na jornada de um jeito, e sai de outro. É inevitável.

Na montanha, você será obrigado a (re)conhecer e a lidar com seus limites, precisará interagir com o ambiente, terá que entender como seu corpo e seu psicológico funcionam diante de situações extremas e vai depender de gente, muita gente. De preparadores físicos aos guias mais experientes passando por Sherpas, pilotos de helicóptero e carregadores. Não há tempo ou recorde que elimine a conquista coletiva. Montanhismo é gente, montanhismo é reflexão.

Que leve uma vida inteira!
Que seja em apenas um ou dois anos!
Simplesmente, que seja.

Com base nisso, brado um grito retumbante de parabéns à Thaís e ao Rosier, pela determinação, coragem, força e pela inspiração. Assistir às suas conquistas – no momento em que se vive esse desafio, ainda com metas e prazos para cumprir –, fortalece e ajuda a manter o foco. Acompanhar essa realização é combustível pra alma. De qualquer pessoa.

Coletivo focado na divulgação das conquistas de pessoas extraordinárias é bom pra indústria, pro esporte, pro país, pros que chegam e pros que vão.

 

Avante, sempre!
Gustavo Ziller

 
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