3º dia - De Álftavatn a Emstrur: 16km de muita chuva e vento
da redação na Islândia: Elias Luiz
5 de setembro de 2012 - 10:45
 
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  • Foto: Elias Luiz
    O visual assim já é lindo, imagine com sol! Pronto para mais um dia de trekking. Foto: Elias Luiz
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    Traçando o nosso roteiro do dia." Foto: Elias Luiz
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    Deixando o conforto da cabana para trás, sem saber o que nos esperava esse dia." Foto: Elias Luiz
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    Início da trilha, ao lado a cabaninha de ducha. Custa 500 coroas islândesas o banho quente (R$ 8,30). " Foto: Elias Luiz
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    A cor verde esmerada das montanhas" Foto: Elias Luiz
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    Parada para reagrupar a equipe, muita chuva ao fundo." Foto: Elias Luiz
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    Hoje não teve escapatória, todos tiveram que atravessar o rio." Foto: Elias Luiz
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    O visual começa a mudar, o verde vai ficando para trás." Foto: Elias Luiz
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    Um dia cinzento, tanto no céu como na terra." Foto: Elias Luiz
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    Começa a chuva e o forte vento. O chão é composto de pedriscos." Foto: Elias Luiz
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    Os russos tomam a dianteira e eu logo vou atrás. A forte chuva e a lente da máquina molhada resultartam nessas fotos não tão nítidas." Foto: Elias Luiz
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    Finalmente chegamos nas cabanas. Um dia para não se esquecer." Foto: Elias Luiz
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O visual assim já é lindo, imagine com sol! Pronto para mais um dia de trekking. Foto: Elias Luiz

 

Acordar aqui é um sonho, com o lago e as montanhas a nossa volta dá vontade de ficar aqui alguns dias descansando. Mas novamente depois de um café da manhã reforçado, começamos o dia que seria de 16km, bem mais tranquilo que os 24km de ontem.

Logo de início começamos a subir a encosta de uma montanha verde esmeralda e quando chegamos praticamente ao topo a vista de toda região era magnífica. Começamos a descer pelo outro lado onde bem abaixo um rio deixava a paisagem ainda mais bonita. Avistamos alguns carneiros e também muita blueberry na encosta da montanha.

Paramos a beira do rio e nesse momento já começava a chover, e desta vez eu não tinha opção, o rio era bem largo, o jeito foi tirar as botas e colocar a sapatilha de borracha e atravessar. A água gelada chega a doer os pés e todos atravessam o rio gritando ou de dor ou pelo choque térmico. Do outro lado o mesmo procedimento de sempre, enxugar os pés e tentar tirar os pedriscos para que durante a caminhada eles não machuquem o pé.

A chuva foi apertando aos poucos deixando o céu cada vez mais cinza, o terreno em que caminhávamos também era preto com pequenas pedras, o dia hoje estava muito estranho. Depois de uma rápida parada para um lanche chegamos em uma enorme planície com aqueles pedriscos que é usado para asfaltar as ruas, isso deve ser resquícios de alguma antiga erupção. A paisagem era diferente e bonita.

O vento começou a ficar cada vez mais forte, estimo que devia estar próximo de 100km/h, em alguns momentos ele chegava a nos derrubar, paramos e fizemos um semi-circulo e agachamos por um tempo para esperar o vento diminuir, mas foi em vão, ele continuava muito forte. Depois de alguns minutos levantamos e continuamos, agora em fila indiana bem próximo um do outro, para assim tentar cortar o vento que estava contra nós. Olhei no relógio e pelo meus cálculos ainda restavam 2 horas de caminhada.

A chuva não era tão forte, mas o verto fazia tudo ficar pior e mesmo com a calça e blusa anorak, percebia que tudo estava sendo molhado. Para piorar, a minha mochila não vem equipada com capa de chuva, é daquelas que você precisa comprar uma capa extra para proteger da chuva e essa capa nunca vem com um ponto para prender na mochila, você apenas coloca por cima dela e protege muito bem em uma situação normal. O que estávamos enfrentando era atípico e por duas vezes a minha capa voou, por sorte a pessoa que estava atrás logo pegou, fui obrigado em meio a tempestade e o vendaval guardar a capa da mochila no bolso e ir sem proteção nenhuma, e não fui o único a sofrer com isso.

O vento contra com a chuva na cara diminuía ainda mais o nosso ritmo, estávamos caminhando muito lentamente e a situação realmente não era brincadeira, já estávamos mais que uma hora enfrentando essa situação. O casal de russos que iam logo a minha frente começou a conversar com o guia e percebi que eles estavam perguntando sobre o rumo e a distância que faltava para o próximo acampamento. Em nosso grupo, o casal de russos, o suíço e eu, eram os que sempre tínhamos um rítmo melhor no trekking, por isso Laurent, o guia, consentiu que o casal fosse a frente, e como eu vinha logo atrás e ele também disse que poderia ir, mas os russos já estavam uns 20 metros a minha frente, isso seria fácil de tirar se não fosse a situação que enfrentávamos, resolvi arriscar, qualquer coisa eu poderia parar e esperar o grupo de trás me alcançar. Logo consegui alcançá-los e em um ritmo bem mais rápido logo não conseguíamos mais ver o nosso grupo, infelizmente o suíço estava no final do outro grupo, por isso não nos acompanhou.

Aqui na Islândia as trilhas são muito bem demarcadas com um postinho de madeira com a ponta pintada indicando a trilha a ser seguida. E assim nós três fomos seguindo, depois de uns 50 minutos de caminhada escutei os russos gritando a minha frente, e logo avistei as cabanas.

- Estamos salvos, encontramos a cabana - gritavam os russos

Lógico que era brincadeira, mas realmente estávamos felizes por chegar a segurança das cabanas. O dia foi muito tenso e poder desfrutar de um lugar seco e uma boa janta, seria um luxo sem igual.
Este realmente foi o pior dia de trekking que já enfrentei na vida, nem na Patagônia, famosa pelos seus ventos tive um dia assim, mas valeu a pena e sempre esses dias mais difíceis são os que iremos lembrar com mais carinho.