Início da cicloexpedição
Texto: Nicholas Allain Saraiva
27 de outubro 2013 - 9:10
 
 
 
  • Foto: Nicholas Allain Saraiva
    No Camboja. Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Minha companheira de viagem." Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Kao Tao, na Tailândia. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Kao Tao, na Tailândia. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Kaula Lumpur " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Acampando na Tasmânia. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Sumatra, Indonésia. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Melbourne, Austrália. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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    Em Sidney, Austrália. " Foto: Nicholas Allain Saraiva
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No Camboja Foto: Nicholas Allain Saraiva

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Meu nome é Nicholas, tenho 37 anos, sou formado em ecologia, escalador, montanhista e ciclista de carteirinha desde criança. No começo de abril deste ano comecei uma viagem com objetivo de completar uma volta ao mundo de bicicleta, pedalando por aproximadamente 30.000 km e uns 35 países. Comecei a pedalar pela Tasmânia, no sul da Asutrália e estou agora no norte do Laos, rumando para o Vietnam e sul da China, meus próximos dois destinos.

O cicloturismo com certeza vem da paixão pela bike que tenho desde infância - sobretudo mountain bike. A bike como meio de transporte e locomoção urbana, esporte, saúde, catalisadora de amizades e adrenalina, ferramenta anti-estress, magnífico instrumento de contato com a natureza, inclusão social, e muito mais.

A ideia de fazer uma viagem de bike ao redor do mundo ronda meus pensamentos desde adolescente, mas só teve início prático em meados de 2011. Eu já tinha feito algumas pequenas e médias viagens de cicloturismo (duração de até um mês) pelo Brasil e América do Sul, mas andava meio parado nos últimos anos, me dedicando a outros esportes, projetos e ao trabalho. Há mais ou menos uns três anos, as condições estavam favoráveis e eu tinha de ir. Marquei a saída para janeiro de 2012, onde teria tempo a vontade para me desligar dos trabalhos e encerrar os compromissos, para planejar a viagem, organizar equipamentos e treinar.

Além do desafio, queria (e ainda quero) buscar conhecimento, contato com a natureza, conhecer lugares e paisagens que povoam meu imaginário, além de poder ver o mundo com os meus olhos e tirar minhas próprias conclusões a respeito dos países, culturas, religiões, povos e o que mais eu encontrar pela frente. Me considero muito crítico em relação às mídias e ao senso comum desta nossa sociedade adoentada, de modo que acredito que grande parte daquilo que recebemos de informação é distorcido e tendencioso, principalmente quando se tratam de lugares e temas com forte carga de estereótipos, como Oriente Médio, África, a questão da violência, do conforto e da segurança, entre outros.

Porém em dezembro de 2011, algumas semanas antes da data da partida tive um acidente de moto que me tirou de circulação por um tempo e os planos tiverem se ser adiados por um ano. Tive nove fraturas, incluindo algumas articulações importantes como tornozelo e punho, o que me levaram a ficar dois meses de cadeira de rodas e muletas e a dedicar boa parte do meu tempo em 2012 a fisioterapias e recuperação. Um mês depois do acidente estava eu em cima da bike novamente, pedalando com uma perna só na bike instalada em cima do rolo! Os médicos e fisioterapeutas disseram que a bike e os esportes de modo geral ajudaram muito no meu processo de recuperação, e em quatro meses eu estava voltando a pedalar pro trabalho, nadar e mais um pouco fui voltando para as trilhas. Em janeiro deste ano participei do Transandes Challenge, no Chile, que foi o test-drive final para ver se eu estava remendado e aguentaria cair na estrada.

Após várias mudanças e incertezas de inicio de roteiro, resolvi começar pela Austrália por ser um lugar novo para mim, também porque tenho uns bons amigos lá e seria um bom país para me aclimatar com a nova vida na estrada - amigável ao cicloturismo e com boa infraestrutura para apoio neste começo de viagem. Deixei também para comprar os alforges e alguns equipamentos de camping na Austrália, por ter um mercado com mais opções que no Brasil.

Como não tinha onde deixar guardadas as coisas de casa por todo este tempo, me desfiz de uns 90% do que eu tinha e sobraram apenas 6 caixas com as coisas mais pessoais, além de uma outra bike, uma Epic Full que eu adoro! Sei que tem aquele papo que não devemos nos apegar aos bens materiais e tudo mais, mas eu realmente adoro aquela bike, é um parque de diversões que não vou me desfazer tão cedo! Apertei tudo no porta malas do carro e peguei a estrada com destino ao interior de São Paulo, onde ficarão guardadas na casa do meu pai por alguns anos.

Agora, quase seis meses após o início da jornada, é interessante lembrar o trabalho de desapego e desligamento durante os preparativos da expedição, desde a escolha dos poucos bens materiais que eu iria guardar para quando voltar, até o desapego final ao travesseiro em Melbourne, na última noite de sono antes de pegar o vôo para a Tasmânia. Acho que até aquela noite ainda não tinha caído a ficha que eu estaria a caminho de viver em cima de uma bike pelos próximos três anos, que aquele sonho antigo estava agora se materializando e o pior: não seria nada fácil! Vem aquela voz na cabeça dizendo, vai mermão, você não queria? Agora toma!

Foi muito interessante este processo, desde a despedida de Brasília até o dia de cair na estrada e sermos só eu e a bike no mundão, com a missão de voltar pra casa. Achei revigorante, fazia tempo que eu não dava esta chacoalhada! Foram sucessivas fases de desapegos, um processo de ir abrindo a mão e expandindo os limites de confortos criados ao longo dos anos, não apenas conforto físico, mas financeiro, material, de segurança e pessoal.

Diferente da maioria dos viajantes que relatam que largaram trabalhos estressantes que não aguentavam mais ou de jovens ainda sem carreira profissional, eu gosto muito da minha profissão e os trabalhos que desenvolvia na Ecooideia, a cooperativa onde eu trabalhava e que apoia este projeto - o que dificulta um pouco mais por este lado também. Por isto, pegando o gancho dos trabalho que vinha desenvolvendo no Brasil nos últimos anos e dos meus interesses pessoais, tenho feito durante a viagem observações e escritos a respeito da questão socioambiental e do contato da tradicionalidade com a modernidade nas zonas rurais que tenho passado. São temas hoje muito importantes que fogem ao conhecimento ou interesse da maioria dos urbanos, mas que estarão cada vez mais em voga nos próximos anos, haja visto o aumento da incidência de conflitos socioambientais como Belo Monte e a questão indígena no Brasil. Parafraseando um velho pescador que conheci em Juruti Velho, no interior do Pará, o mundo está ficando pequeno. Pra quem se interessar, eu escrevo um pouco mais sobre este assunto no meu site e deverei explorá-lo um pouco mais nas próximas matérias também.

Muitos perguntam sobre planejamento e tenho que confessar que não tenho as coisas muito planejadas não.

Preparei bem toda a parte de equipamentos com material de primeira, peças, bike, mas tenho apenas uma vaga noção para onde ir e não faço a mínima onde vou ficar todas as noites! Obviamente tenho uma lista de lugares que gostaria de conhecer, como os Himalaias, Alpes, pirâmides do Egito, sudeste asiático, Yosemite e muitos outros, mas sei que alguns deles terão de ficar para a próxima aventura.

Dia 17 de novembro completou seis meses do primeiro dia de pedal em Hobart e percorri cerca de 7500 km, passando por sete países (Austrália, Malásia, Indonesia, Tailândia, Cambodia e Laos). Tenho mantido um site com noticias da estrada, dicas de cicloturismo, review de equipamentos, mapa do trajeto e muitas fotos legais dos lugares que estou passando (voltaaomundo.eco.br) e a partir de agora tentaremos manter estas notícias no portal Extremos. Acompanhem, divulguem, questionem, pedalem! Até a próxima!