A Gigante China - Parte 2
da redação, Texto: Pablo e Karina
17 de janeiro 2014 - 16:00
 
 
 
  • Foto: Karina e Pablo
    Busão com poltronas tipo "sarcófago"!! — em Yangshuo, China. Foto: Karina e Pablo
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    E uma das cenas mais chocantes que vimos na China... Esse mercado na cidade de Yangshuo. É horrível, mas faz parte da cultura deles e temos que respeitar... Faz parte da viagem! — em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    A linda Yangshuo! " Foto: Karina e Pablo
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    Em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    Rolando a jogatina no meio da calçada... — em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    O centro de Yangshuo" Foto: Karina e Pablo
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    Em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    Avistando a cidade de cima. — em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    Passeio de canoa pelo Rio Li — em Li River Retreat, Yangshuo." Foto: Karina e Pablo
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    O Rio Li é rodeado de lindas montanhas" Foto: Karina e Pablo
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    O Rio Li é rodeado de lindas montanhas" Foto: Karina e Pablo
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    Butterfly Montain — em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    O Rio Li é rodeado de lindas montanhas" Foto: Karina e Pablo
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    Moon Montain.. paraíso para alpinistas! Alguém consegue achar o alpinista na foto?" Foto: Karina e Pablo
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    Nós nos divertimos como crianças e com as crianças que conhecemos nessa piscina de lama!" Foto: Karina e Pablo
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    Adoramos os chinesinhos!!! — em Yangshuo, China." Foto: Karina e Pablo
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    Uma das poucas cidades que vimos a China tradicional.. A linda e pacata Dehan. — em Dehang, China." Foto: Karina e Pablo
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    As Havaianas... ops.... As Chinesinhas...rss" Foto: Karina e Pablo
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    Um amiiguinho que fizemos... Toca aqui!! — em Dehang, China." Foto: Karina e Pablo
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    Karina aprendendo a tear. " Foto: Karina e Pablo
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    Comidas estranhas estavam por todo lugar..." Foto: Karina e Pablo
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    E os lindos terraços de arroz" Foto: Karina e Pablo
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    Em Dehang, China." Foto: Karina e Pablo
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    E os lindos terraços de arroz" Foto: Karina e Pablo
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    Em Dehang, China." Foto: Karina e Pablo
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    As impressionantes Montanhas Tianmen, com seus paredões intermináveis! Lá em cima a temida passarela de vidro! " Foto: Karina e Pablo
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    E a passarela de vidro! Embaixo dela um abismo — em Zhangjiajie, China." Foto: Karina e Pablo
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    Muito bom estar ali" Foto: Karina e Pablo
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    Templos no alto da Montanha Tianmen" Foto: Karina e Pablo
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    Templos no alto da Montanha Tianmen" Foto: Karina e Pablo
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    O teleférico mais alto da Ásia! " Foto: Karina e Pablo
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    Tianmen Cave" Foto: Karina e Pablo
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    Zhangjiajie National Forest Park. Montanhas que inspiraram o cenário do filme Avatar!" Foto: Karina e Pablo
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    Zhangjiajie National Forest Park " Foto: Karina e Pablo
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    Zhangjiajie National Forest Park " Foto: Karina e Pablo
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    Zhangjiajie National Forest Park. Montanhas que inspiraram o cenário do filme Avatar!" Foto: Karina e Pablo
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    Dois Avatar. " Foto: Karina e Pablo
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    Ficamos horas admirando as montanhas. " Foto: Karina e Pablo
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    Ponte natural. — em Zhangjiajie National Forest Park. " Foto: Karina e Pablo
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    Zhangjiajie National Forest Park " Foto: Karina e Pablo
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    Em Zhangjiajie National Forest Park. " Foto: Karina e Pablo
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    Em Zhangjiajie National Forest Park. " Foto: Karina e Pablo
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    Shanghai. " Foto: Karina e Pablo
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    Shanghai." Foto: Karina e Pablo
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    A deliciosa comida chinesa!" Foto: Karina e Pablo
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    Em Shanghai, China." Foto: Karina e Pablo
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    Galerinha "do mal" que conhecemos no centro de Shanghai. " Foto: Karina e Pablo
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    A enorme estação de trem de Shangai. Onde está Wally?? rss " Foto: Karina e Pablo
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    Descobrimos um ótimo meio de transporte na China" Foto: Karina e Pablo
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    Karina comemorando seu aniversário numa churrascaria brasileira em Shanghai. Matamos a saudade da comidinha lá de casa." Foto: Karina e Pablo
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    Com nossos amigos Ruy E Camila Ficks e o chef da churrascaria." Foto: Karina e Pablo
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    Em Shanghai, China." Foto: Karina e Pablo
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    O super Trem Bala!" Foto: Karina e Pablo
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    Lindo parque em Pequim." Foto: Karina e Pablo
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    Mais comida chinesa! Boa demais!" Foto: Karina e Pablo
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    Ninho do pássaro, das olimpíadas de Beijing 2008" Foto: Karina e Pablo
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    Ninho do pássaro, das olimpíadas de Beijing 2008" Foto: Karina e Pablo
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    O Cubo d'água! Fantástico! " Foto: Karina e Pablo
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    Cidade proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Dentro da Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Dentro da Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Dentro da Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Dentro da Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Dentro da Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    Cidade Proibida " Foto: Karina e Pablo
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    A Cidade Proibida vista de cima " Foto: Karina e Pablo
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    Em Beijing, China. " Foto: Karina e Pablo
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    Em Beijing, China." Foto: Karina e Pablo
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    Caronas são sempre benvindas! " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A fantástica e inesquecível Muralha da China " Foto: Karina e Pablo
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    A vizinha de Pequim, Pingyao! " Foto: Karina e Pablo
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    A vizinha de Pequim, Pingyao! " Foto: Karina e Pablo
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    Quero um capacete desses!! — em Pingyao, China. " Foto: Karina e Pablo
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    Como os chineses gospem em qualquer lugar, aqui era proibido! rsss " Foto: Karina e Pablo
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    Valeu Marcio Assis pela dica! Adoramos essa cidade! " Foto: Karina e Pablo
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    Em Pingyao, China. " Foto: Karina e Pablo
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    Hanging Temple em Datong. " Foto: Karina e Pablo
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    Grutas de Yungang " Foto: Karina e Pablo
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    Grutas de Yungang " Foto: Karina e Pablo
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    Grutas de Yungang " Foto: Karina e Pablo
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    China " Foto: Karina e Pablo
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    Buda " Foto: Karina e Pablo
 

Retornamos à China de trem até a cidade vizinha de Shenzen, onde visitamos Ryan, sobrinho do cunhado americano da Karina. Eles nos relatou sua experiência de três anos trabalhando na China, dividindo conosco histórias e fatos curiosos. Passamos o dia juntos e à noite Ryan gentilmente nos deixou na rodoviária, onde pegamos um curioso ônibus com destino à cidade de Yangshuo. Não há poltronas naquele estilo de ônibus, mas três corredores de beliches, onde as pessoas viajam deitadas, espremidas cada um no seu “sarcófago”. Já havíamos viajado deitados num ônibus na Índia, mas este era muito diferente. Talvez o objetivo desta disposição seja competir com os confortáveis trens. Tivemos outra experiência com este tipo de ônibus.

Certa vez viajando por um trecho mais interiorano da China, enfrentamos uma versão ultrapassada deste tipo de ônibus, sem ar condicionado e repleto de locais fumando. Foi bem cansativo, mas ao mesmo tempo divertido. Estávamos rodeados de senhores tentando conversar conosco. Um deles insistia falar em chinês comigo e eu respondia algumas bobagens em português, arrancando risadas da Karina, seguidas de risadas de nossos novos colegas. Há milhares de histórias engraçadas. Uma delas se passou num restaurante. Com muita dificuldade e risadas conseguimos pedir comida, embora o menu fosse todo em chinês. Depois de comermos e recebermos a conta, Karina perguntou onde ficava o toalete. A garçonete toda sorridente fez um sinal para aguardamos. Quando retornou nos entregou novamente a conta. Enfim, pagamos a conta e fomos embora sem ir ao banheiro.

A cidade chinesa de Yangshuo deveria ser supostamente “pequena”, entretanto, o conceito de cidade pequena na China é diferente do resto do mundo. Cidades com quase um milhão de habitantes são consideradas pequenas. De qualquer forma, Yangshuo é encantadora devido aos lindos montes que a cercam e os rios que a cortam. Provavelmente você já viu alguma foto ou cena de filme nesta região, na qual barcos de bambu descem um caudaloso rio rodeado de montanhas em forma de cone.

Tivemos bons momentos em Yangshuo. Descemos o rio Li de jangada, alugamos bicicletas, visitamos cavernas, águas termais, banho de lama, subimos montanha e muito mais. Nesta adorável cidade também visitamos o mercado municipal local, onde havia uma variedade imensa de legumes, vegetais, frutas e animais, vivos e abatidos. Porém, o que realmente nos deixou chocado foi encontrar cachorros e gatos expostos para consumo, especialmente, alguns cães abatidos e pendurados. Tentei desviar a atenção da Karina para ela não ver aquela cena, chamando-a para minha direção, mas distraída como é, quase esbarrou nos animais pendurados. Imediatamente, decidimos deixar o mercado e pegar fôlego do lado de fora. Levou algum tempo para nos recompormos daquela cena chocante.

Já havíamos percorrido várias cidades chinesas, mas ainda não havíamos encontrado resquícios da “China antiga”, ou seja, pessoas cultivando as antigas tradições chinesas. O pouco que vimos até aquela altura foram construções, as quais nos pareciam demasiadamente artificiais, construídas recentemente e totalmente desconectadas da modernidade que as cercavam. Depois de muita insistência e estrada, chegamos à cidadela de Dehang, onde habita uma minoria étnica chamada “Miao”. Dehang é um pequeno vilarejo, pacato e cercado de montanhas verdes. Detalhe, simplesmente ninguém falava inglês. Com mímica e jogo de cintura, conseguimos chegar lá e nos hospedar. O lugar era tão especial que decidimos ficar mais dias do que o planejado. Foram horas apreciando o povo local levando sua rotina. O vilarejo era tão pequeno que eles conversavam entre si de suas casas. Fizemos algumas caminhadas inesquecíveis entre terraços de plantação de arroz, nadamos nos rios cristalinos e mergulhamos em lindas cachoeiras.

Poderíamos passar longo tempo relaxando naquele vilarejo aconchegante. Com as baterias renovadas, era chegada a hora de seguir adiante. Fizemos tudo por conta própria, utilizando transporte público, visando controlar as despesas e experimentar a realidade dos chineses. Vale muito a pena viajar assim. Porém, mais do que nunca tivemos que nos virar com as mochilas pesadas. Carregá-las talvez seja um dos aspectos mais difíceis deste estilo de viagem, senão o pior de todos. Em verdade, elas nem são tão pesadas, mas elas se tornam cada vez mais pesadas na medida que o tempo vai passando e não chegamos ou encontramos nosso destino. Muitas vezes paramos em algum canto para descansar. Um fica com as mochilas e o outro vai na frente descobrir onde fica o hostel e como chegar lá mais rápido. Foi o que fizemos na cidade de Zhangjiajie, especialmente porque o calor estava intenso e sentimos os primeiros sinais das altas temperaturas que estavam por vir no verão chinês.

Seguindo a recomendação de algumas chinesas que conhecemos na viagem, fomos conhecer Zhangjiajie. Nunca havíamos ouvido falar deste lugar e os guias de viagem famosos não lhe davam qualquer destaque. Elas nos disseram que as “montanhas flutuantes” mostradas no filme Avatar foram inspiradas nas montanhas de um parque daquela região. Fomos conferir e definitivamente não nos arrependermos. Nossa primeira parada nesta região foi na Tianmen Mountain, cujo acesso se faz por meio de um imenso teleférico, o mais longo em montanha do mundo. Este teleférico percorre 7.455 metros e ascende 1.279 metros em altitude.

Um passeio, em dois estágios, por si maravilhoso e inesquecível. Do alto víamos uma estrada sinuosa, lembrando a lendária Estrada do Rio do Rastro em Santa Catarina. Fomos direto para o último estágio, deixando a visita da enorme “pedra furada” (Tianmen Cave) para o final. Quando se chega ao topo da montanha se tem a impressão de que não é possível ver a base de tão alto. Como a maior parte da montanha é de pedra de cartze, forma-se uma paredão reto sem fim. Logo iniciamos o trekking pelas passarelas suspensas ao redor da montanha. Parte destas lindas passarelas são de vidro, dando um frio na barriga. Tem-se a sensação de que se está suspenso no ar, num abismo. Todos se divertiam com gritos se propagando no ar, formando longos ecos. Muitas árvores crescem na horizontal nas fendas de imensos paredões verticais. Alguns pontos há cavernas, cada uma com uma história a ser contada. Nunca vimos nada parecido!

Ainda cruzamos uma pequena floresta para visitar dois lindos templos, haja vista se tratar de uma montanha sagrada para o budismo. Ao final de nosso passeio pelas montanhas Tianmen paramos para conhecer a Tianmen Cave, onde há uma pedra com um furo no meio que mede 131 metros de altura e 30 de largura. Embora já estivéssemos bem cansados, encaramos os 999 degraus para chegarmos até lá. Este número tem um significado especial para os chineses, ou seja, de subir ao palácio do céu. Trata-se de um espetáculo da natureza! Esta pedra ficou particularmente famosa em 2011, quanto o paraquedista (base jump) Jeb Corliss realizou um feito histórico. Ele saltou de um helicóptero numa altura de 1.800 metros, deslizando pelo céu numa velocidade superior a 120 km/h, vestindo apenas um macacão especial (wing suit). Ele conseguiu transpassar esta cavidade e em seguida abrir seu paraquedas e pousar com segurança.

Agora era chegada a hora de visitar as tais montanhas misteriosas do “Zhangjiajie National Forest Park”, elegido patrimônio mundial pela Unesco em 1992. Seriam elas realmente tão intrigantes a ponto de inspirar aquelas lindas imagens do filme Avatar? Novamente havia hordas de turistas chineses logo cedo. Caminhamos rápido e deixamos boa parte deles para trás. Havia vários macacos no caminho, não muito amigáveis e prontos para assaltar nas bolsas dos turistas atrás de comida. Perder a comida tudo bem, o problema é que às vezes eles levam a mochila toda para o topo das árvores. Um dele ameaçou atacar a Karina, dando-lhe um susto e tanto.

O parque é realmente lindo, caminhamos entre as árvores, cruzados riachos, mergulhei no rio gelado e subimos os dois mil degraus intermináveis! Chegamos até o topo das montanhas esbaforidos. Depois de um lanchinho, fomos caminhar pelas passarelas para apreciar a visão panorâmica do parque e de suas curiosas montanhas. Melhor olhar as fotos e ver por si mesmo a beleza única desta região. Foram horas de caminhada entre um mirante e outro, sempre acompanhados de muitos turistas chineses de todas as idades. A maioria maciça deles se valeu do elevador e dos ônibus que interligam os principais pontos turísticos. A infraestrutura e acessibilidade na China é algo fora do comum.

Novamente havia apenas nós de turista estrangeiro e um ou outro gato pingado. Por isso, muitas vezes erámos parados para tirar fotos junto com eles. Eles são engraçados, com seus hábitos peculiares. Exaustos, depois de mais de seis horas caminhando, fomos dormir num hostel dentro do parque nacional de forma a aproveitar melhor a região. Valeu a pena, especialmente conhecer o local chamado “a um passo do paraíso”! A chuva e os ventos moldaram este imenso parque, construindo montanhas em forma de imensos pilares. Muitas vezes a base é mais fina que o cume, criando um cenário único e especial. Há um planalto de perder de vista com esta formação, coberta com árvores que muitas vezes parecem penduradas nas encostas.

Deixamos a parte central da China e suas montanhas e rumamos em direção ao litoral, à costa do pacífico (Mar da China Oriental). Foram 22 horas de trem até chegar a Shanghai, a segunda maior cidade chinesa, cuja região metropolitana comporta mais de 20 milhões de habitantes. Shanghai é gigante em muitos sentidos. Lindos arranha-céus à beira mar (com destaque à famosa Torre Pérola Oriental), muitas lojas, luxo, lembrando em parte Hong Kong. Lá está o porto mais movimentado do mundo, bem como a capital financeira do mundo oriental. Contrapondo-se à modernidade, no coração da “cidade velha” passeamos no lindo templo taoísta, na região do chamado “Templo da Cidade de Deus”. Mas novamente nos deparamos com uma estrutura criada para o turismo, tirando o brilho e a alma desta longa tradição. Aparentemente a maior parte da tradição milenar e religiosidade chinesa se perdeu completamente com a implantação do regime comunista e especialmente após a trágica revolução cultural.

Nesta cidade vivemos uma experiência, no mínimo, curiosa. Fomos vítimas de um golpe, o “golpe do chá”. O golpe foi tão bem aplicado que levamos muito tempo para descobrir. Para ser mais exato, enquanto escrevíamos este texto finalmente paramos para tirar “a pulga detrás da orelha”. Chegamos a suspeitar que havia algo errado, mas nunca realmente havíamos pesquisado a respeito. Bem, suscintamente foi assim. Um grupo de quatro jovens chineses (em tese também turistas) nos pediu para tirar uma foto e assim começou um papo animado. Depois de entrosados, eles nos convidaram para participar da “cerimônia do chá”, para qual eles estavam a caminho. Como adoramos este tipo de experiência “cultural”, aceitamos o convite e seguimos aquele simpático grupo até uma sala onde eram servidos chás especiais.

De fato, existe esta tradição chinesa. Eles foram transparentes desde o início, inclusive nos mostraram os preços. Mas a situação é tão bem orquestrada que seguimos adiante sem nos dar conta de que “a conta” seria uma facada. Havia todo um protocolo para cada tipo de chá, tudo delicadamente servido por uma mulher vestida com trajes típicos, a qual era supostamente oriunda de uma região tradicional da China. Conversamos, rimos e saboreamos deliciosos chás. Quase caímos para trás quando recebemos o preço. Tudo foi dividido entre os presentes, mas mesmo assim gastamos muito além do esperado. Fomos embora chocados com o que havíamos gastado, porém satisfeitos por ter conhecido pessoas tão agradáveis e vivido uma experiência típica chinesa. Pesquisando agora na internet, lemos relatos de pessoas que passaram pela exata mesma experiência. Não há como continuar acreditando na naturalidade dos fatos, mas sim num estelionato chinês. Mas será mesmo que era um golpe, eles pareciam tão bacanas?

Revendo todos os fatos agora, novamente nos vemos diante de situações negativas seguidas de experiências positivas. Na mesma cidade onde ocorreu o golpe, fomos conhecer um casal de brasileiros que vivem há três anos na China. Eles são amigos de amigos e nós havíamos nos falado apenas via facebook. Logo de início, Ruy e Camila nos trataram como amigos íntimos, no estilo solícito e amável brasileiro. Não foi preciso muito tempo para nós nos sentirmos à vontade e próximos daquele apaixonado casal. Eles são modelos e realizam trabalhos independentes na China. Tivemos uma agradável noite! Descobrimos muita coisa curiosa a respeito da profissão deles e da vida na China. Nos dias seguintes acabamos dormindo no apartamento deles, com direito a café da manhã no estilo brasileiro.

Estávamos nos sentindo tão à vontade que decidimos passar o aniversário da Karina ao lado deste simpático casal. Eles nos levaram numa churrascaria brasileira, onde nos deliciamos com comidas típicas da terrinha. Havia um garçom chinês e outro gaúcho, lógico. Oh coisa boa! Até o chefe de cozinha fomos conhecer. Um baiano figura e bom de papo. Talvez seja quase um pleonasmo falar “baiano bom de papo”. Adoramos os nordestinos! Ele, além de cozinheiro, é mestre e professor de capoeira. Coisas de brasileiros pelo mundo. Para fechar o dia cantamos parabéns pra Karina, com direito a bolo, beijinho e brigadeiro. Ela ficou muito feliz e emocionada, pois jamais imaginara que logo na China teria um aniversário à moda brasileira, com pessoas tão especiais.

Shanghai é um bom ponto de apoio para conhecer várias cidades interessantes na região. Todas as cidades são conectadas por trem e alguns com trem bala. Foi lá que pela primeira vez viajamos num trem que ultrapassa a velocidade de 300 km/h! Shanghai é rodeada de cidades interessantes. Vale muito a pena pegar o trem cedo, parar numa cidadezinha histórica, alugar uma bicicleta e rodar o dia todo. Foi o que fizemos na cidade de Suzhou, chamada de “Veneza chinesa”. Na base da mímica e risadas, alugamos duas bikes, estilo “barraforte” antigas e enferrujadas, de um senhor mais velho ainda, o qual interrompeu sua roda de gamão para sorridentemente nos atender. Mesmo com guidão torto e a outra quase sem freio, rodamos horas pela cidade, parando nos canais, templos e demais atrações da cidade. Houve um momento em que paramos numa praça, atraídos por uma música típica. No centro da praça havia um grupo enorme de idosos dançando músicas lentas. Uma verdadeira “balada” da terceira idade à luz do dia. Nós nos divertíamos observando eles e fomos convidados a entrar na dança. Até arriscamos uns passinhos para diversão daqueles velhinhos em boa forma.

Rumamos agora à capital chinesa, a cidade olímpica de Pequim (Beijing). Uma viagem terrestre de 1200 quilômetros percorrida em menos de 5 horas, graças ao fantástico trem bala. Sem dúvida, Pequim é uma cidade chinesa que merece ser visitada. Não só por tudo aquilo que ela representou no passado, mas também por aquilo que ela se transformou. Uma cidade imensa, porém criteriosamente interligada por linhas de metrô e ciclovias. Exploramo-la das duas formas e tivemos ótimos momentos por lá. Pedalar sem pressa pela plana Pequim é uma delícia. Percorremos assim os principais pontos turísticos e nos perdemos intencionalmente nas ruelas dos bairros tradicionais, parando para nos deliciar com a culinária chinesa e aplacar o intenso calor com muitos sorvetes. Curiosidade: os chineses entregam e recebem dinheiro (ou outro documento importante) com as duas mãos, em sinal de respeito.

Há muito para se visitar e descrever. Eis alguns pontos de destaque:

Praça Tiananmen, a maior praça pública do mundo, cercada por edifícios com grande significado político, onde se situa o Portão da Paz Celestial. Nesta praça Mao Tse Tung anunciou a criação da República Popular da China. Também ficou internacionalmente conhecido pelos protestos estudantis pró-democracia de 1989, reprimidos duramente pelos militares, levando a morte de milhares de estudantes. Nos dias que sucederam o massacre, um jovem desarmado invadiu esta praça e se colocou diante de uma fileira de tanques de guerra. Esta imagem ganhou destaque nos maiores jornais do mundo, chegando a ser eleito pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do século XX, porém ele continua anônimo, ganhando assim o nome de “O Rebelde Desconhecido”.

A Cidade Proibida, um impressionante complexo de muralhas, templos, pátios, obras de arte e arquitetura que remontam os tempos da “China antiga”. A Cidade Proibida foi um palácio imperial por cinco séculos. Este imenso complexo (maior palácio do planeta) ganhou esse nome em virtude de apenas o imperador, sua família e empregados poderiam adentrar as muralhas. É necessário no mínimo um dia inteiro de caminhada para visitar superficialmente suas instalações. É cansativo e, às vezes, irritante dividir espaço com os turistas chineses obcecados por fotografia.

O Templo do Céu, um enorme parque arborizado, onde se encontram lindos templos taoístas, construídos em 1420 para cerimônias de agradecimento pelas colheitas e pedidos de intercessão celestial para plantações futuras. Os chineses locais realmente desfrutam do local. Há muita música, crianças soltando pipas, idosos jogando uma espécie de gamão, peteca e muito mais. Novamente nos deparamos com música e cantorias. Uma banda se reuniu para tocar e pessoas começam a chegar para ajudar no coral. O grupo cresceu e certo ponto havia mais de 200 pessoas cantando, um espetáculo surgido espontaneamente, exalando paz e alegria ao seu redor.

Outro ponto imperdível é o complexo olímpico (“Olympic Green”), onde estão as impressionantes obras arquitetônicas: “Ninho de Pássaro” (Estádio Nacional) e o Cubo d'Água (Parque Aquático). O apelido do estádio, onde foram realizadas provas de atletismo e futebol, originou-se das suas estruturas de ferro e aço, que se cruzam e entrelaçam, semelhante a um ninho de pássaro. Já o parque aquático é revestido de três mil gigantescas bolhas de plástico translúcidas, criando uma imagem magnífica. Se não bastasse, há um sistema de iluminação capaz de emitir 16 milhões de tonalidades de cores, criando um espetáculo de luzes. Valeu a pena esperar o cair da noite e testemunhar o momento mágico em que as luzes são acesas e as cores vão se alternando conforme o som de uma música. Emocionante!

Assim como na Índia, a culinária chinesa ficará para sempre marcada em nosso paladar. A milenar culinária chinesa é conhecida em todo mundo e pode ser encontrada em todos os cantos do mundo. Estávamos curiosos para saboreá-la in loco. Seria ela a mesma que conhecemos em nosso país de origem? Não, ela é ainda melhor na China. Nem poderia ser diferente, pois os chineses adoram comer bem e são rígidos com produtos frescos, especialmente legumes. Porém, o famoso “rolinho primavera” foi difícil de encontrar e não nos pareceu um item tradicional por lá.

As opções nos cardápios são incríveis. O menu mais se parece com um livro ilustrado. Obviamente que boa parte das opções são iguarias chinesas impensáveis para nosso paladar ocidental, tais como cérebro de porco, vísceras de muitos animais, língua de pato, sapo, cachorro e por ai vai. Nós nos limitávamos aos pratos tradicionais e aqueles com legumes. Os chineses se fartam, pedem muitos pratos ao mesmo tempo, comem e bebem muito. Aliás, acompanhar os chineses num drink dizem ser arriscado. Eles bebem até cair e parar no caminho pode ser ofensivo. Desta experiência conseguimos escapar.

Visitar Pequim novamente nos remetia às aventuras de Marco Polo. Um dia quem sabe iremos refazer o percurso feito por este incrível aventureiro. O local da atual Pequim foi escolhido e construído pelo grande conquistador mongol Genghis Khan, após destruir a antiga cidade. Foi nesta nova Pequim que Marco Polo residiu por muitos anos na corte do imperador Kublai Khan, neto do Gengis Khan. Neste período toda a China ficou sob o controle mongol. Bem, falaremos mais sobre os mongóis no próximo texto quando abordaremos nossa experiência na Mongólia.

Nossa última grande experiência partindo de Pequim foi visitar a Grande Muralha da China. A única construção do homem que se pode ver da lua. Trata-se de um grande projeto de defesa militar iniciado há mais de 2.000 anos e empreendido por sucessivos impérios chineses, visando defender a China unificada das invasões dos povos do norte, especialmente dos poderosos mongóis. A Grande Muralha é considerada uma das maravilhas do mundo. Esta magnífica obra atravessa desertos, montanhas sinuosas e planaltos, por quase 9.000 km! Há muito mistério e lendas a respeito da construção do muro. Acredita-se que os trabalhos na muralha ocuparam a mão de obra de cerca de um milhão de operários, entre soldados, camponeses e prisioneiros. O resultado da construção demonstra a sabedoria e tenacidade do povo chinês.

Há muitos pontos para se visitar a muralha. Seguindo os sábios conselhos do amigo Marcinho, optamos por um setor mais distante e longe da horda de turistas. Fomos com um ônibus local para Jinshanling. Foi uma grande aventura! O ônibus nos deixou na rodovia principal após quase três horas de viagem e passamos a caminhar por uma estrada secundária deserta. Cansados de caminhar, conseguimos uma carona na caçamba de um caminhão (os chineses são muito solícitos). Assim iniciamos nossa caminhada num setor onde pretendíamos caminhar até outra mais conhecida e de lá retornar de ônibus, conforme experiência do nosso amigo. Porém, chegando lá descobrimos que aquela opção estava fechada há dois anos. Assim subimos a muralha e caminhamos sob ela por algumas horas sem destino certo. Abstraímos as incertezas e mergulhamos naquele cenário idílico. Construções que atingem sete metros e meio de altura e sete de largura, subindo e descendo montanhas verdejantes, como uma calda de um gigante dragão chinês. Ficamos um bom tempo ali, abraçados, em silêncio, deleitando-se daquela paisagem inesquecível, num chamego romântico.

Seguimos caminhando no topo da muralha por horas, num cansativo, porém recompensador, sobe e desce. Finalmente, nós descemos, a pé (sempre), num ponto onde havia um teleférico, com a esperança de encontrar um ônibus que nos levasse de volta para Pequim, até porque naquela noite faríamos uma viagem de trem até Pingyao. Qual não foi nossa surpresa ao descobrimos que não havia ônibus naquela região. Todos chegavam ali apenas com vans e ônibus turísticos. Imediatamente nossa estratégia foi passar um óleo de peroba na cara e pedir carona. Descobrimos que havia um ônibus de turistas que seguiria em breve para Pequim. Falamos com o motorista que nos explicou que aquele veículo tinha sido fretado por uma família chinesa e que nada poderia fazer. Sensibilizado com nossa expressão preocupada, o mesmo motorista veio até nós e sugeriu que falássemos com o líder da excursão. Foi o que fizemos, mas o fulano simplesmente deu as costas para nós e entrou no ônibus. Ficamos chocados e frustrados. Entretanto, não muito tempo se passou até que uma jovem chinesa desceu do ônibus e nos ofereceu carona. Explicou que seu tio (líder da excursão) não falava inglês, mas que éramos muito bem vindos. Fomos recebidos pela família sorridente e até água mineral gelada recebemos. Exemplos assim não faltaram na curiosa China.

Conseguimos assim pegar o trem noturno para Pingyao e dormir no seu balanço gostoso. Basta dois segundos de trem em movimento para Karina cair no sono profundo. Quando criança, ela deve ter sido balançada, pois o mesmo acontece com ônibus. Pingyao é uma cidade cercada de muralhas, a qual ainda preserva um incrível patrimônio arquitetônico de centenas de anos. Visitamos toda a cidade de bicicleta nos poucos dias que passamos por lá, percorrendo sítios arqueológicos, museus e ruelas típicas. Nunca nos cansamos de observar a curiosa cultura chinesa, como, por exemplo, os gafanhotos engaiolados. Os gafanhotos na cultura chinesa representam muito atributos como longevidade, felicidade, boa sorte, abundância e especialmente a fertilidade. Embora Pingyao realmente valha a visita, ainda recordaremos do vilarejo Dehang como o local que nos fez sentir na China antiga, a China do nosso imaginário.

Nosso último destino na China foi a cidade de Datong, onde visitamos as Grutas de Yungang e o Hanging Temple (Templos em Suspensão). Este período era começo das férias chinesas e os trens estavam lotados. Em função disso tivemos dificuldade de encontrar cabines com camas para viajar à noite, obrigando-nos a viajar a noite toda sentados, amontoados com os chineses locais. Dureza!

Nas mediações de Datong há importantes obras sagradas para o budismo. As Grutas de Yungang são encantadoras. Elas foram escavadas em pedra maciça, formando 50.000 imagens de budas com mais de 1.000 anos de idade, algumas gigantes e bem conservadas. Diferentemente dos demais turistas, ávidos por fotografias, dedicamos alguns momentos para reverenciar aquele espaço sagrado, conectarmo-nos com o divino e enviar boas energias para família e amigos. Já o Hanging Temple, construído em um penhasco do Monte Heng, infelizmente estava interditado e não pudemos subir. Esta montanha é considerada uma das cinco montanhas sagradas para o budismo. O visual é estonteante, lembrando o fascinante “Tiger Nest” (ninho do tigre) do Butão.

Retornamos a Pequim para encarar nossa odisseia no trem transiberiano! Chegar à Mongólia não foi uma tarefa fácil, especialmente porque decidimos pegar o “trem dos locais” e não o tradicional trem dos turistas. Porém, esta história ficará para o próximo relato, o qual em breve também será publicado aqui no Extremos.

 



XieXie (Obrigado)!

 



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• Recomendamos a leitura do livro da Sonia Bridi: Laowai
• Mapa do roteiro: http://www.tripline.net/trip/China-34730043776110068AF7E1D06C61888E
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