+  BLOG DO WALDEMAR NICLEVICZ  
 
Salto Angel, início da escalada
 
 
 

Estimados Amigos!

Siga o relato da nossa fantástica expedição ao Salto Angel, a cachoeira mais alta do mundo. Clique aqui para ver os relatos anteriores.

Bem, depois da chegada até a base do Salto Angel, não perdemos tempo e já começamos a escalada.

Enquanto parte da equipe ia enfrentando os primeiros metros do paredão de 1.100m de altura, a outra parte ia transportando equipamentos e comida até a base da parede, e, aos poucos, enchendo nossas garrafas pets com um total de 220 litros de água, a ser usada durante os dias que ficaríamos pendurados.

Adotamos um estilo bem conservador durante a nossa escalada, queríamos garantir o sucesso da expedição sem sofrer o risco de potenciais acidentes, algo bem fácil de acontecer nessa parede que é considerado o “big wall” mais difícil do mundo.

Embora quiséssemos fazer toda a escalada em livre, logo no início ficou claro que seria muito difícil, pois a rocha estava molhada em vários lugares, mas o maior problema é que a rocha é muito abrasiva, afiada, com muitos blocos soltos, ou seja, em qualquer manobra arriscada as cordas poderiam sofrer cortes e grandes blocos de pedra poderiam vir abaixo com um de nós agarrado neles. Fomos pelo caminho da prudência, com muito cuidado, em um estilo “artifo-livre”, ou seja, íamos tocando em livre (sem se apoiar nas proteções) mas quando necessário entrávamos em artificial (apoiando-se nas proteções, em fitas e estribos), para, logo que possível, seguir novamente em livre. Mesmo assim foi uma escalada super tensa, adrenalina pura!

Quem atacou a parede logo no inicio foi o Chiquinho, seguindo pela saída original aberta pelos espanhóis em 1990, um 4º cheio de mato e bem escorregadio. Serginho foi atrás e eles chegaram debaixo do primeiro grande negativo, lançaram uma corda para baixo e o Ed subiu para resolver o problema, não sem levar o primeiro susto da escalada. Tudo parecia indo bem, 7a sobre rocha molhada, A2 na virada do teto e... lá foi o Ed voando uns 10 metros para baixo! A corda novinha, de 11mm, uma das melhores do mundo, Edelweiss, sofreu um bom corte. Dali para cima, quem guiava somente se encordou com cordas duplas, bem mais seguro.

Essa primeira etapa da escalada durou 4 dias, tempo necessário para chegarmos até a altura do nosso primeiro acampamento suspenso, que montamos a 370 metros de altura da base da parede. Até lá foram 11 esticões, lances de até 7c e A2+ super expostos, mais uma queda de 10 metros cinematográfica (do Val), e muita, muita alegria de todos da equipe, quando finalmente estávamos prontos para nos mudarmos para a parede, onde ainda ficaríamos 13 dias suspensos, mas isso é história para a próxima atualização.

Aproveite a vida, encare desafios, boas escaladas!

Grande abraço,

Waldemar Niclevicz

 
ABÓBODA - A grande abóboda do Salto Angel, vista de uns 100m da base da parede, que na verdade não aparece na foto (está cerca de uns 100m para baixo). Essa foto mostra bem a primeira etapa da escalada (sistema de chaminés à esquerda da foto), que se desenvolveu pela rocha escura, que tem essa cor justamente porque recebe quase sempre as águas da cachoeira. Nós tivemos muita sorte, chegamos até o lugar do nosso primeiro acampamento quando a parede estava relativamente seca, já no dia em que fomos montar nosso primeiro acampamento, nos encharcamos até a alma, pois tinha chovido na noite anterior e o Salto Angel estava “bombando”..
Foto: niclevicz.com.br
 
 
GRANDE CHAMINÉ - Val na parada e Chiquinho guiando o início da “grande chaminé”, que mais poderia ser definida como uma “pequena caverna”, pois é gigantesca.
Foto: niclevicz.com.br
 
 
SUSTO - Chiquinho e Sérginho na parada, e o Ed prestes a encarar o primeiro grande teto, e o primeiro grande problema - e susto - da escalada.
Foto: niclevicz.com.br
 
 
ACAMPAMENTOS - Foto muito boa para se ter uma noção desse belo sistema de fendas e chaminés, os blocos são bem soltos, mas a escalada fluiu bem pois o tempo estava ajudando, a rocha estava praticamente seca onde batia sol. O “acampamento 1” fica do lado inferior esquerdo da foto, o “acampamento 2” fica logo acima do sistema de chaminés, quando a rocha muda de cor, não usamos nenhum desses lugares para acampar, seguimos logo para o “acampamento 3” – esses lugares foram definidos pelas expedições anteriores, são apenas pequenos degraus ou plataformas no paredão, o único realmente confortável é o acampamento 3. Você vai ver o que é ficar dormindo pendurado na próxima atualização.
Foto: niclevicz.com.br
 
 
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Alpinista
 
Com 18 anos eu me mudei para a região de Itatiaia, onde morei por três anos. Foi lá que vim a aprender a usar o equipamento técnico, como cordas e mosquetões.

Nesta mesma época, 1985, eu realizei minha primeira grande aventura: uma viagem através da Bolívia e Peru, com o desejo de fazer o Caminho Inca a Machu Picchu. Foi uma viagem decisiva para a minha vida, respirei pela primeira vez o ar rarefeito das altas montanhas, pisei pela primeira vez na neve, apaixonei-me pela cultura e pelo povo andino. Não parei mais de viajar.

Obstinação, paixão e disciplina são as palavras que melhor definem Waldemar Niclevicz, o primeiro brasileiro a escalar o Everest, o K2 e os Sete Cumes do Mundo (a maior montanha de cada um dos continentes).

Também já escalou a Trango Tower (a maior torre de granito do mundo), O El Capitan e o Half Dome, além de 6 das 14 montanhas do planeta com mais de 8 mil metros: o Everest (8.848m), o K2 (8.611m), o Cho Oyo (8.201m), o Shisha Pangma (8.046m), o Gasherbrum (8.035m) e o Lhotse (8.501m).

 
 
 

2000
K2 (Paquistão) com 8.611 metros

1997
Carstensz (Nova Guiné) com 4.884 metros

1997
Mc Kynley (Alasca) com 6.194 metros

1996
Vinson (Antártica) com 4.897 metros

1996
Kilimanjaro (Tânzania) com 5.895 metros

1996
Elbrus (Rússia/Geórgia) com 5.642 metros

1995
Everest (Tibet / China) com 8.848 metros

1988
Aconcágua (Argentina) com 6.962 metros