+  BLOG DO WALDEMAR NICLEVICZ  
Depois da expedição ao Paquistão, como foi a volta ao Brasil.
 
 
 

Estimados Amigos!

Como é bom estar de volta ao Brasil, rever a Família, Amigos e curtir o Marumbi, aproveitando os dias de sol do inverno para escalar no meio da exuberante Floresta Atlântica.



O Brasil é de fato um lugar abençoado por Deus, e, se comparado ao Paquistão, onde estivemos dois meses, é um verdadeiro paraíso. A única coisa que sinto falta por aqui são umas montanhas mais altas, com um pouco de neve lá em cima, mas a exuberância de vida (biodiversidade) em nossa Serra do Mar compensa essa falta.

Também estou muito feliz por já ter retomado o ritmo agitado das palestras, eu deveria voltar ao Brasil só no dia 29 de agosto, mas foi só avisar que eu voltaria antes, que já fiz semana passada uma palestra em São Luiz do Maranhão (para a Cemar), uma ontem em São Paulo (para a Roche) e ainda esta semana estarei em Goiânia (para a Pioneer).

As palestras são importantes porque me ajudam a patrocinar as minhas expedições, graças às empresas que me contratam é que fomos para o Paquistão, e, como esse segundo semestre promete ser de muitas palestras, já vou garantindo a realização do meu próximo sonho: ano que vem vamos enfrentar um dos maiores desafios do alpinismo mundial, algo de dar arrepios, mas emocionante, você vai se surpreender!

Nossa volta para casa não foi fácil, o tempo ruim que nos castigou na montanha com tanta neve (que nos impediu de chegar ao alto dos 8.068m do Hidden Peak), despejou muita chuva nas altitudes inferiores e fez o rio Indo transbordar, provocando uma das maiores enchentes de toda a história do Paquistão, afetando mais de vinte milhões de pessoas e provocando pelo menos mil e seiscentas mortes.

A estrada de acesso a Skardu, que já estava muito precária, teve sete de suas pontes carregadas pelas águas do Indo e ficou completamente intransitável. O mau tempo também estava impedindo vôos regulares a Skardu, a cidade ficou isolada, estava faltando água e alimentos, e depois de irmos embora a situação ficou ainda pior.

Escapar por via aérea era a única esperança de mais de três centenas de turistas estrangeiros e de outras tantas famílias paquistanesas. Todos os dias, uma multidão se aglomerava no aeroporto, e depois de muito estresse voltava para o hotel ou para casa, desapontada com a notícia de que o único vôo comercial diário, que vem e volta de Islamabad, fora cancelado.

A Força Aérea foi acionada, e com muita sorte conseguimos embarcar num Hércules C-130, junto com mulheres, crianças e militares. Presenciamos uma situação que nunca havia visto, tanto era o desespero de alguns em entrar no avião: quando tentaram fechar a porta vimos deferirem socos e ponta pés na tentativa de conseguir um lugar, briga de verdade, choros de tristeza. A tripulação disse que a situação era crítica, que ninguém mais podia entrar, porque já estávamos com 20% de peso extra.

Eu e o Irivan, como sempre, parecemos que somos abençoados por Deus; antes mesmo de entrar no avião, um cara de macacão verde, cheio de bordados costurados nas mangas, leu em nossas bagagens nosso endereço reconhecendo o nome "Curitiba", dizendo "meu coração mora nessa cidade", ou seja, a namorada dele era curitibana. Que sorte a dele pela namorada, ou melhor, a nossa, pois ele era simplesmente o piloto do avião. Nesse momento tinha uns duzentos militares se amontoando na rampa que fica na traseira do Hercules, tentando entrar. O simpático Capitão Naveed nos convidou para entrar pela porta da frente, e lá fomos nós, colocamos a cabeça para dentro e tomamos um susto, porque o avião já estava lotado, nos apertamos no meio daquele povo, e Naveed disse "hei, aí não, venham para a cabine", assim fizemos um vôo de primeira classe, contemplando as montanhas diretamente da cabine.

Antes de voltar para o Brasil ficamos uma semana na Itália, esperando o vôo para o Brasil, encontramos o Abele Blanc e o Marco Camandona, com quem escalei o K2, e fizemos algumas pequenas escaladas, inclusive a do Dente do Gigante (4.013m) no maciço do Mont Blanc, e quando estávamos vendo televisão na casa de nossa amiga Maria Rostagno, em pleno noticiário da BBC, quem aparece? Sim, o Capitão Naveed falando sobre o resgate da população, vítima das enchentes no Paquistão.

Deixo algumas fotos de nossa "fuga" de Skardu e da bela escalada que fizemos do Dente do Gigante, na Itália.

Um forte abraço,

Waldemar Niclevicz

 
 
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Alpinista
 
Com 18 anos eu me mudei para a região de Itatiaia, onde morei por três anos. Foi lá que vim a aprender a usar o equipamento técnico, como cordas e mosquetões.

Nesta mesma época, 1985, eu realizei minha primeira grande aventura: uma viagem através da Bolívia e Peru, com o desejo de fazer o Caminho Inca a Machu Picchu. Foi uma viagem decisiva para a minha vida, respirei pela primeira vez o ar rarefeito das altas montanhas, pisei pela primeira vez na neve, apaixonei-me pela cultura e pelo povo andino. Não parei mais de viajar.

Obstinação, paixão e disciplina são as palavras que melhor definem Waldemar Niclevicz, o primeiro brasileiro a escalar o Everest, o K2 e os Sete Cumes do Mundo (a maior montanha de cada um dos continentes).

Também já escalou a Trango Tower (a maior torre de granito do mundo), O El Capitan e o Half Dome, além de 6 das 14 montanhas do planeta com mais de 8 mil metros: o Everest (8.848m), o K2 (8.611m), o Cho Oyo (8.201m), o Shisha Pangma (8.046m), o Gasherbrum (8.035m) e o Lhotse (8.501m).

 
 
 

2000
K2 (Paquistão) com 8.611 metros

1997
Carstensz (Nova Guiné) com 4.884 metros

1997
Mc Kynley (Alasca) com 6.194 metros

1996
Vinson (Antártica) com 4.897 metros

1996
Kilimanjaro (Tânzania) com 5.895 metros

1996
Elbrus (Rússia/Geórgia) com 5.642 metros

1995
Everest (Tibet / China) com 8.848 metros

1988
Aconcágua (Argentina) com 6.962 metros