Extremos
 
COLUNISTA ROBERTA ABDANUR
 
Até quando?
 
texto de: Roberta Abdanur
4 de março de 2016 - 23:58
 
Frase publicada por Marina Menegazzo (a esquerda) em seu Instagram 3 semanas atrás:
"Algun día en cualquier parte, en cualquier lugar indefectiblemente te encontraras a ti mismo, y ésa, solo ésa, puede ser la mas feliz o la mas amarga de tus horas".
 
  Roberta Abdanur  

Há muito tempo, eu e tantas mulheres ao redor do mundo questionamos isso, e lutamos com todas as forças por nossos direitos; 

Até quando seremos alvo de violência e seremos desrespeitadas?
Até quando “viajar sozinha” será visto como algo negativo?
Até quando duvidarão do nosso potencial?
Até quando seremos julgadas pelo nosso espirito aventureiro?
Até quando tentarão acabar com os nossos sonhos e nos silenciar?

Essa semana, a chance de descobrir o mundo de duas viajantes argentinas, foi interrompida.  Marina Menegazzo, 22, e Maria Jose Coni, 21, estavam de férias em Montañita, Equador, e foram encontradas assassinadas por dois homens, depois de uma busca desesperada de suas famílias. O ministro equatoriano da Segurança, confirmou que as mortes incluíam também agressão sexual. 

Então explodiram comentários tão sem fundamentos sobre à “falta de cuidado” das meninas, isso é mais um dos exemplos incontáveis de casos que coloca o foco sobre o comportamento "questionável" das vítimas, mas nunca perguntam o suficiente sobre os assassinos, os tornando até invisíveis. Questionaram sobre o perigo para duas mulheres que viajam “sozinha”. Como assim? Se estavam em duas, como estavam "sozinhas"? Ou seja deu a entender que precisavam da companhia de um homem para que elas estivessem protegidas. E qual o problema se estivesse sozinhas, sem nenhuma companhia, por que teria de ser visto como algo irresponsável ou causar insegurança? Será que eu tenho o direito de viajar sozinha pra onde bem entender? Será que eu tenho o direito de poder treinar corrida em uma estrada de terra, de shorts, sozinha e, principalmente, em paz?! A cada dia que passa podemos perceber o quanto uma grande parte da sociedade é inconsequente e machista. 

A violência  machista não será impedida ao dizer às mulheres para tomarem “cuidado”.

O problema não é o que fazemos com nossos corpos, nos vestimos, o problema é que eles estão convencidos de que nossos corpos não nos pertencem, e o que é pior, que são sua propriedade. Esta construção enraizada como a peste nas profundezas do inconsciente coletivo está nos custando a vida, como dessa vez custou a das duas meninas, seja do hemisfério sul ao norte, seja no ocidente quanto no oriente.

Por isso continuamos lutando, sem nos calar, e compartilhar a nossa voz!

Porque eu não quero viver em um mundo que se adapta e se acomoda com as piores ideias de que há uma “cultura dominante”.

Eu não quero que as mulheres se renunciem às viagens e experiências. Muitas não tem direito se quer a educação, existem países que para as crianças e mulheres a educação passou de um direito a um crime. Meninas de 8 anos sujeitas a casamento forçado, ou as de 8 meses submetidas a mutilação. Sem contar o trafico de mulheres e tantos outros absurdos.

Eu não quero me acostumar com a idéia de que ser mulher é perigoso, de deixar de descobrir os mais incríveis lugares, de contemplar a natureza e de VI(VER). 

Eu não quero mais ouvir: “você é mulher, e viaja o mundo todo sozinha, não tem medo?” ou “mas sozinha, nos Himalayas?”, “Mas você é uma menina, e é montanhista, não é perigoso?”, “Uma mulher, trabalhando na África sozinha?”, “Nunca te fizeram nada?” Já conheci 60 países, a maioria sozinha, e sempre me questionam isso. Hoje sei que as minhas viagens, não são apenas para mim, ou para a ajuda humanitária e desafios pessoais, é também principalmente para todas aquelas mulheres que um dia foram silenciadas, que perderam a chance de descobrir o mundo, ou de se quer poderem sair de casa e tiveram seus sonhos destroçados. E sim, rumo aos 100 por elas!

Vamos juntas compartilhar nossa voz, dar um basta na violência contra as mulheres, desbravar esse Universo de possibilidades, unir forças por igualdade, até quando chegar um dia que nada poderá tirar a nossa liberdade.

Roberta Abdanur
colaboração Aninha Afonso

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