Extremos
 
COLUNISTA MÁRCIO BORTOLUSSO
 
O lado sombrio e deplorável do Mercado de Aventura
 
texto: Márcio Bortolusso
9 de outubro de 2019 - 18:10
 
Nem tudo que reluz é ouro. Documentário promete revelar verdades inconvenientes do universo da Aventura, desmascarando inúmeras farsas vendidas como feitos originais e grandiosos.
 
 
  Márcio Bortolusso  

Documentário recruta colaboradores para uma das produções mais importantes, necessárias, aguardadas e ao mesmo tempo polêmicas e evitadas do universo das atividades ao Ar Livre.

“Basta, a situação chegou a um nível realmente inaceitável e precisamos nos unir para desmascarar muita coisa, pois a cada ano esta injusta engrenagem se torna maior, mais sólida e destrutiva, dando indícios que se nada for feito os profissionais mais capacitados, colaborativos e éticos da Aventura brasileira serão exterminados por uma cada vez mais organizada, articulada e criativa legião de ‘posers’, marqueteiros, alpinistas sociais e até charlatões, que dia após dia se apropriam de oportunidades alheias de forma desleal (acarretando inclusive a ruína de algumas louváveis carreiras), propagam condutas indignas de um verdadeiro aventureiro e - em grande parte às custas dos esforços de terceiros - enganam público, mídia e empresários através de inverdades e encenações muito bem arquitetadas”...

desabafa um respeitado e experiente montanhista que neste primeiro momento será mantido anônimo, mas ao lado de outras célebres personalidades nacionais e internacionais das
atividades ao Ar Livre promete fazer denúncias bombásticas, narrar histórias
inconfessáveis e revelar uma série de fatos até então muito bem camuflados.

Sem dúvida o “Circo da Aventura” é um tema extremamente polêmico e perigoso para um documentário, milhares de vezes proposto, mas sempre evitado pelos profissionais mais prejudicados por suas lastimáveis consequências: possibilidade de serem processados ou de portas serem fechadas (boicote em mídias, perda de patrocínios, etc.), risco de má interpretação e consequente imagens manchadas, desavenças com desgaste emocional, perda de fãs e até de amigos, etc. Evitado inclusive por mim diante do amargo preço que poderei pagar, por também exercer um trabalho como expedicionário e aventureiro, pela delicada e frágil posição de roteirista e diretor de tal ideia e até pelo risco de magoar grandes amigos e amigas que não compreenderem exatamente as minhas reais intenções e o quanto tais denúncias serão benéficas para todos personagens do nosso difícil segmento, profissionais honrados e isentos de qualquer crítica, mas que fazem parte do mesmo sistema a ser denunciado - donos de agência, guias, atletas, aventureiros, jornalistas, apresentadores de TV, etc.

Denúncias sempre fizeram parte dos meus artigos, nunca me omitindo à atitudes que gerassem prejuízo a um grupo, mas apesar de ter o Jornalismo de Aventura como o maior alicerce do meu trabalho (que também se desdobra em outros segmentos documentais - História, Fotojornalismo, Cinegrafia, etc.), desde 1995 que busco me manter o mais afastado possível deste controverso e, ao menos para mim, abominável assunto, sempre evitando me expor desnecessariamente, jamais tecendo comentários que em nada iriam contribuir com o desenvolvimento sustentável das atividades que tanto amo e desviando das centenas de discussões infrutíferas que constantemente assolam as minhas áreas de atuação.

Mas chega a ser contraditório defender que todos lutem contra qualquer forma de injustiça e ao mesmo tempo me manter indiferente quando eu também faço parte de uma história que está sendo covardemente manchada. Durante os meses de captação de recursos para o meu último projeto (6 Hard Xpeditions), em reuniões em importantes empresas, mídias e agências de propaganda constantemente questionavam eu e a minha companheira de profissão se já havíamos escalado o “Everest, a montanha mais perigosa do mundo” - comentário absurdo diante da realidade desta tão frequentada e mal tratada montanha, mas lamentavelmente um título que foi cunhado por anos e um roteiro que se tornou para os leigos uma espécie de obrigação no currículo de qualquer “aventureiro”. E após sutilmente e de forma bastante ética (evitando prejudicar o trabalho alheio, sem citar nomes, etc.) explicarmos com detalhes certos conceitos, fundamentos do universo da Aventura e a real graduação técnica e riscos desta popular montanha, alguns profissionais do Marketing sem querer nos revelaram uma série de inverdades que em surdina são frequentemente contadas por outros proponentes à patrocínio. Junto com diversos outros execráveis casos presenciados ou que me foram relatados nas últimas décadas, graves mentiras que lesam de forma direta milhares de praticantes.

Felizmente tivemos sucesso na venda do nosso projeto pois ele estava bem estruturado e possuía objetivos e um Plano de Mídia considerados originais e valiosos, mas com o passar do tempo novas situações inaceitáveis foram sendo divulgadas na imprensa e até “pregadas em minha porta”, dando-me provas de que as injustiças chegaram a um patamar intolerável nos bastidores do mercado brasileiro. Infelizmente muitos amadores e profissionais talentosos não possuem conhecimento ou condições de driblar este sistema, com reduzida probabilidade de aprovarem um projeto ou conseguirem um contrato de patrocínio frente à enormes barreiras formadas por concorrentes inescrupulosos e informações falsas plantadas por décadas.

Então, contrariando os meus mais sensatos planos de continuar desfrutando de uma vida pacífica e reservada e investindo um valioso tempo futuro que preferia direcionar em ações bem mais prazerosas e úteis, parei de me ausentar sobre este tema pois tornou-se impossível não solidarizar com tantos amigos e demais profissionais sendo injustiçados. Após anos de prejuízos coletivos, indignação e revolta de alguns dos maiores nomes da Aventura, fui forçado a aceitar o inevitável, a honrar os meus votos de lutar por justiça e pela informação honesta e fidedigna ao público, a parar de ignorar as infindáveis súplicas por soluções dos inúmeros colegas de trabalho frequentemente lesados e a acatar os anseios dos mais ilibados e experientes profissionais que há anos tratam deste inflamável e colérico tema apenas nos bastidores por receio de constrangimento, estresse ou mesmo represálias.

Indesejado por alguns e sonhado por muitos, pautado em uma imparcial e minuciosa investigação jornalística e tendo como cerne o inconformismo de icônicos profissionais que decidiram que já era hora de algo ser feito, enfim começa a ser produzido um documentário que busca revelar a mais sombria, condenável e lamentável faceta da elitista e milionária indústria das atividades ao Ar livre, tristemente cada vez mais norteada por sensacionalismo, notícias inverídicas ou estrategicamente manipuladas (exatamente, mentiras), ganância, egocentrismo, discórdia, entre vários outros reprováveis fatos que ano após ano causam danos de diversas maneiras e nos mais variados graus à milhões (eu disse MILHÕES!) de escaladores, remadores, ultramaratonistas, BASE Jumpers, canionistas, espeleólogos, mergulhadores, ciclistas, esquiadores, etc.

Para potencializar os seus resultados, tal denúncia também fará parte de um livro que será lançado em 2020 em comemoração aos meus 25 anos de carreira.

 
A cada dia aumenta o número de denúncias sobre crueldade contra animais cometidas por vulgo aventureiros, principalmente apresentadores de TV que se autoproclamam amantes da Natureza. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

PERSONAGENS, SINOPSE, ARGUMENTO E AFINS

Dentre os personagens que mais geram discussões e repulsa por parte dos aventureiros, destaque para um número cada vez maior de obcecados “recordistas”, “celebridades” e “conquistadores do inútil” (no pior sentido deste histórico termo), que apesar da limitada capacidade física e psicológica (quanto à arrojo, coragem, resistência, etc.), dos contraditórios discursos éticos (“amam os animais”, mas os violentam em suas produções) e da baixa experiência técnica em atividades ao Ar Livre (sem formação mesmo sobre assuntos básicos e muitas vezes dependentes de profissionais mais gabaritados), possuem um considerável conhecimento em Marketing e há anos causam um retrocesso de valores e conquistas duramente adquiridas ao aplicar um verdadeiro golpe em empresas, mídia e consequentemente no público, algumas das principais engrenagens deste até então indomável segmento - se aproveitam da falta de conhecimento técnico de jornalistas e dos seus fãs para vender aventuras de níveis medíocres como se fossem empreitadas de grande envergadura, inéditas e de alto risco.

Com denúncias devidamente comprovadas e durante um trabalho inédito e extenuante, o documentário cruzará uma enorme quantidade de depoimentos, documentos e imagens e pretende contar com renomados expedicionários, exploradores e outros especialistas, incluindo grandes nomes do Himalaísmo, do Alpinismo, do Andinismo e da Escalada em Rocha mundial; jornalistas e editores de algumas das mais antigas e conceituadas publicações de Aventura do planeta; figuras lendárias de diversas atividades extremas; representantes de algumas das mais antigas e respeitadas organizações esportivas e da Aventura (Alpine Club - 1857; National Geographic Society - 1888; The Explorers Club - 1904; UIAA - 1932; etc.); e fundadores das mais emblemáticas marcas do mercado Outdoor - com entrevistas extraordinárias abordando a farsa de certos recordes e de algumas produções televisivas, doping e outras atitudes antiéticas, apresentadores de TV que prestam desserviços para a sociedade (sem generalizar), expedições luxuosas que contrastam com a exploração da mão de obra local (incluindo empregados em regime de semiescravidão ou forçados a arriscar a vida pelo triunfo dos seus “patrões”), a cultura da exploração animal (éguas abortando ou mortas em competições; iaques, lhamas, burros e cavalos de carga assassinados ou forçados a trabalhar machucados; a cruel indústria da pluma de ganso, etc.), o desrespeito e a humilhação à hospitaleiros anfitriões, a hipocrisia com o lixo e com as condutas gerais de mínimo impacto, mentiras que já acarretaram a falência de centenas de profissionais, entre outros crimes, bizarrices e ações sensacionalistas de péssimo gosto.

Contrariando o desejo de muitos profissionais lesados, obviamente que o documentário não pretende apontar ou crucificar culpados em uma espécie de caça às bruxas. Muito pelo contrário. Após entrevistar os principais denunciados buscando os dois lados de cada história, o objetivo principal deste trabalho é desestimular futuras injustiças coibindo práticas desleais, antiéticas e/ou danosas e conscientizar todos os atores dos segmentos em questão a respeito dos internacionalmente difundidos - e em grande parte respeitados - princípios básicos de Ética e Mínimo Impacto para atividades ao Ar Livre. Contribuindo assim com o desenvolvimento realmente sustentável do universo Aventura, em especial no Brasil.

Enriquecendo tal proposta, o roteiro do doc também valorizará inúmeros profissionais brasileiros que por décadas sobrevivem de seus difíceis ofícios realizando a muito custo ações valorosas em benefício de toda a comunidade: escrevendo a história ao puxar o limite de suas atividades com real pioneirismo, abrindo importantes trilhas, rotas e setores para prática ou produzindo artigos científicos, livros, vídeos, revistas, sites, inventários, festivais, campeonatos, matérias, etc.

 
Com grande conhecimento em Marketing, algumas “celebridades da Aventura” esbanjam técnicas para camuflar suas limitações e hipervalorizar feitos nada extraordinários.
- Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

FALTA DE CULTURA, INEVITÁVEL DESORDEM E MALANDRAGEM

“O Brasil não tem cultura de Aventura!” Essa frase pode até incomodar alguns desavisados, mas não são necessários muitos argumentos para confirmá-la. Claro, se analisarmos tal vocábulo de forma literal, é óbvio que após os últimos 120 anos (e de olho em simbólicos e pontuais acontecimentos dos três séculos passados) os praticantes brasileiros de várias atividades ao Ar Livre já possuem uma identidade própria, uma história, algo para chamar de sua cultura. Mas me refiro aos hábitos das 27 unidades federativas da nossa nação comparados aos de países que após vários séculos desenvolveram uma verdadeira cultura de conquistas e recreação na natureza - a tal “vida outdoor”. Você pode até ter amigos aventureiros, mas dentre os mais de 210 milhões de brasileiros raros são os que já acamparam alguma vez na vida, subiram uma montanha, remaram, penetraram em uma caverna ou mesmo realizaram um simples mergulho de flutuação.

E é aí que está a raiz dos nossos problemas, por não termos estas atividades como tradição é compreensível que por falta de informação e comparação um público leigo (incluindo aqui muitos jornalistas e empresários) se encante com histórias floreadas, sobrevalorizadas e estrategicamente maquiadas - com a omissão do real nível de risco enfrentado, de créditos eticamente obrigatórios ou de detalhes que rebaixariam certas aventuras a um nível acessível a qualquer privilegiado detentor de boa renda e condicionamento físico.

Em comparação, ao contrário do que ocorre em nossas terras, em países como Espanha, Itália, França, Alemanha, Suíça, Canadá, Estados Unidos ou mesmo em vizinhos latinos como Argentina e Chile é bem mais difícil enaltecer mentiras convenientes e altamente prejudiciais perante as comunidades de praticantes e o público, principalmente pela formação cultural de seus povos e pela quantidade de verdadeiros especialistas e críticos a reprimirem qualquer tipo de exagero ou inverdade.

Tal dificuldade de construir uma falsa imagem de “ícone”, “lenda” ou “pop star” também é presente em certas atividades, como Surf de Ondas Grandes, Skate, B.A.S.E. ou Cliff Diving, que pouco permitem que terceiros viabilizem os feitos de aventureiros com pouca experiência (segurando a sua mão enquanto dropa uma muralha em Teahupo?o, mantendo o carrinho sob seus pés durante um No Grab 720, etc.) - de forma bem crua, ou o sujeito é verdadeiramente extremo ou simplesmente será apenas mais um praticante.

Mas em algumas atividades como Montanhismo existem “brechas” que permitem que meros mortais com insignificante currículo e limitado expertise também possam ostentar uma pomposa coroa de louros em poucos anos, mesmo que para adentrar o Panteão dos Deuses da Aventura se infiltre sorrateiramente pela porta dos fundos - sem convite, competência ou mínimo de mérito. Bastando para tal apenas uma boa dose de ambição, um dos tradicionais “golpes de marketing” que fazem parte da venda de muitos projetos esportivos e a contratação de profissionais realmente experientes que farão o trabalho mais difícil, pesado e arriscado (praticantes premiados, publicitários de grande talento, Assessores de Imprensa, guias, carregadores, etc.).

 
A ascensão da “montanha mais alta da Europa” representa bem a realidade dos “Sete Cumes”, circuito comercial mais custoso que difícil que é vendido por muitos aspirantes à fama como “expedições extremas e pioneiras”. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DO VERDADEIRO ESPÍRITO DA AVENTURA

Principalmente graças à hipervalorização da vivência “outdoor” em filmes e redes sociais como Instagram, a cada dia diversos indivíduos de outras áreas tomam ciência da boa imagem das atividades ao Ar Livre e rapidamente acabam se encantando e ansiando conquistar algumas das vantagens destes segmentos - o desafio e a superação de limites, as incríveis culturas e paisagens paradisíacas, os admiráveis valores de um surfista ou montanhista, a vida saudável junto à natureza ou quem sabe esse tal espírito de liberdade.

Até aí tudo bem, poderia ser uma boa maneira de difundir e valorizar a cultura da Aventura. O problema é que lamentavelmente, em tempos em que “ostentação” se tornou algo admirável e o imediatismo reina, muita gente quer bancar de “intrépido”, “forte”, “protetor do meio ambiente” ou especialista em algo (“Aventureiro Profissional”, “Transformational Leadership”, “Life Coaching Adventure”, “World Traveller”, entre outras “carreiras” modernas), mas poucos estão realmente dispostos a investir um considerável tempo, esforço e economias e a enfrentar as incalculáveis dificuldades e riscos comuns a cada especialização. E nesta incompatibilidade entre ambição e ausência de paciência e determinação é que surgem dissimulados e impostores, que mediante atalhos optam por se apropriar de certos valores especiais para impressionar e colher benefícios via dados maquiados e à custa do mérito alheio.

Pela ótica de alguns antropólogos, sociólogos e até cientistas políticos talvez isto seria visto como uma cruza negativa de “apropriação cultural” e “falsidade ideológica”, não apenas através de “aculturação” ou “assimilação” pela adoção de elementos específicos de uma cultura (valores, imagens, ideias, estilos, etc.) por membros de outra totalmente distinta, mas também pelo uso intencional de mentiras e da imagem e/ou identidade de determinadas profissões ou níveis hierárquicos como método para obter benefícios (status, ganhos financeiros, poder, crédito, etc.), geralmente acarretando dano à classe explorada. Já pela visão jurídica uma mentira inofensiva não teria importância no Código Penal brasileiro, mas quando afeta alguém ou um grupo de pessoas como ocorre (com prejuízo à honra, patrimônio, etc.) é configurada como crime. Ou seja, ao ler “farsante” neste texto na maioria dos casos você poderá interpretar como “criminoso”.

Acredite, casos equivalentes aos citados a seguir existem aos montes no mercado Aventura brasileiro. Mantendo a exclusividade das histórias do roteiro, hipoteticamente falando seria como um mergulhador iniciante contratar em Tiger Beach, nas Bahamas, uma das várias agências especializadas em passeios ecológicos ao lado de dóceis tubarões-tigre - algumas empresas que em décadas já guiaram de forma segura milhares de turistas - e depois deletar o guia e qualquer turista das imagens e vender um lucrativo programa para a TV dizendo que realizou “uma arriscada expedição em uma área remota na qual corajosamente se aventurou entre os maiores predadores da Terra”. Fazendo outro paralelo, caso o leitor ainda não tenha compreendido o grau das injustiças que serão denunciadas no documentário, seria como uma bailarina contratar um historiador (que passará anos pesquisando), um jornalista (que irá editar e reescrever as milhares de páginas de tal pesquisa), além de revisores, tradutores, diagramadores e vários outros profissionais do mercado editorial (que darão um belo formato em tudo) e ao final a tal contratante simplesmente publicaria um extraordinário livro fruto deste material sem dar qualquer crédito aos que realmente fizeram o trabalho mais difícil, ingrato e demorado. E como é comum, nossa notável bailarina-escritora além de colher todos os méritos de tal publicação ainda receberia prêmios, assinaria valiosos contratos (tomando o lugar de outros escritores mais capazes) e gozaria das inúmeras vantagens obtidas com a fama. Moral da história, é claro que não há problema em uma bailarina publicar um livro ou mesmo virar escritora, mas... ah, deixa pra lá, tenho certeza que se você tinha dúvidas agora já compreendeu.

 
Em grande parte explorados pela indústria dos recordes, responsáveis por realizar o trabalho mais técnico, duro e arriscado e verdadeiros heróis das milhares de excursões comerciais à montanhas como Everest e K2, sem os guias Sherpas 99% das ascensões não ocorreriam. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

Sempre repito que “não há aventura melhor ou pior”, que tudo depende dos valores, motivações e experiências de cada praticante, defendendo que muitas vezes uma aparentemente simples pedalada em família em uma tranquila trilha à beira mar pode inclusive ser mais emocionante, engrandecedora e gratificante para alguns do que muitas façanhas históricas. Mas convenhamos, ambas são coisas bem diferentes!

Então ultrapassa o exagero realizar aventuras repetidas, comerciais, populares e/ou guiadas e compará-las com verdadeiras jornadas sobre-humanas de superação e extremismo, como cruzar sozinho alguns dos mares mais furiosos remando minúsculas embarcações sem cabine; ainda na década de 1930, escalar pela primeira vez as temidas caras Norte dos Alpes lutando bravamente com a ajuda de arcaicos pitons e cunhas de madeira; mergulhar somente com o ar dos pulmões até profundidades inimagináveis para a Ciência; explorar por semanas uma face virgem do sinistro Latok 1 ou do também temido Lupghar Sar (negociando com cliffs e Big Bros entre assombrosos tetos, diedros e fendas entupidas de gelo); saltar de wingsuit sob condições meteorológicas ruins de um grandioso pilar de granito escalado na remota e gélida Ilha de Baffin; empreender sagas improváveis de ski até os polos Norte ou Sul na época em que ainda eram zonas inexploradas de um mapa em branco; solar vertiginosos paredões respeitados pelas cordadas mais competentes e bem equipadas; dropar ondas gigantescas formadas por ciclones; culminar as maiores montanhas da Terra abrindo rotas novas, sem o uso de polêmicas garrafas de oxigênio e por vezes no inverno e em solitário; descer um inóspito cânion com um caiaque dropando cachoeiras de dezenas de metros; entre tantos outros desafios históricos pioneiros e realmente para poucos mortais.

E é claro que também não há nada de errado quando jornalistas, modelos, apresentadores de TV e os tais “digital influencers” realizam e divulgam as suas aventuras para milhões de fãs. Volto a dizer, toda publicidade quando bem feita pode trazer benefícios diretos para a melhor compreensão das ainda em parte incompreendidas atividades ao Ar Livre. Mas tudo muda de cenário quando alguns espertos e espertas (não confundir com expertos), a maioria com ínfimo expertise em aventuras realmente extremas, distorcem os seus feitos omitindo informações cruciais para a correta análise do público e mídia, ocultando suas limitações técnicas, físicas e mentais e exagerando vários dados e acontecimentos, conseguindo desta forma se tornarem mais venerados e valorizados (proporcionando inclusive contratos milionários a alguns) enquanto verdadeiros esportistas e aventureiros da elite mal conseguem sobreviver em seus instáveis e difíceis mercados após tantos atropelos.

E a situação complica ainda mais quando alguns competentes aventureiros responsáveis por nortear suas atividades (alguns que inclusive criticaram por décadas este sistema de fraudes) acabam queimando os seus mais valorosos e tradicionais princípios ao se prostituir aos marqueteiros devido às inúmeras dificuldades do mercado (baixa renda durante décadas de subsistência mediante grandes esforços, poucas oportunidades de trabalho, concorrência desleal, economia instável, etc.), aceitando receber uma parcela mínima de remuneração, crédito e consequente fama em troca de participar como meros coadjuvantes nos exagerados recordes e produções dos seus temporários patrões (em milionárias séries de TV, palestras corporativas em grandes empresas, matérias, etc.) - em muitos casos praticamente carregando no colo os seus inexperientes clientes.

Por ganância ou por já terem perdido a noção dos honrados valores éticos de suas atividades, como fieis vassalos, ironicamente optam por ficar contra à sua própria classe ao rechaçar qualquer crítica aos seus desonestos empregadores. Tristemente, alguns conseguem manchar em pouco tempo uma extraordinária trajetória que construíram após décadas de singular labuta.

 
Infelizmente fraudes fazem parte da história das explorações e das atividades ao Ar Livre e as denúncias contra farsantes crescem no mesmo ritmo que brotam novos recordistas a cada temporada. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

FARSA NA AVENTURA, UMA LAMENTÁVEL PRÁTICA NADA ATUAL

Por mais decepcionante que seja para alguns românticos de primeira viagem, fraudes e farsantes sempre fizeram parte da história da Aventura. Com histórias que se tornaram clássicos da literatura sobre expedições, alguns casos são repletos de informações contraditórias, grandes lacunas e ausência de provas sólidas, como a até hoje controversa “conquista do Polo Norte” em 1909 reivindicada tanto por Frederick Cook quanto por seu rival Robert Peary - com financiadores concorrentes e após grande repercussão na mídia, para muitos pesquisadores essa foi a mais popular e lucrativa farsa da ciência moderna. Isso sem esquecer que em 1906 Cook já havia sido celebrado nas primeiras páginas dos jornais americanos como o primeiro a escalar o Denali, o pico mais alto da América do Norte... e três anos depois suas fotos de cume o denunciaram por ter escalado de fato apenas um pequeno pico localizado a umas vinte milhas da grandiosa montanha planejada.

Denúncias de fraude crescem no mesmo ritmo que brotam novos recordistas a cada temporada, umas são facilmente comprovadas, muitas apresentam fortes indícios e aguardam uma confirmação ou uma rara absolvição dos acusados pela comunidade e outras talvez jamais serão legitimadas, como a trágica primeira escalada do até então impossível Cerro Torre liderada pelo italiano Cesare Maestri em 1959, que até hoje divide opiniões entre uma legião de acusadores seguidora dos seus adversários verticais e uma minoria de defensores com fortes argumentos que também devem ser levados à sério. Detalhe, seu companheiro Toni Egger que poderia confirmar a sua versão... morreu durante a descida da montanha com a câmera e as supostas fotos do cume.

Provando que não são apenas inexperientes que se envolvem em escândalos de farsa, tão competente quanto Maestri, em 1990 o ousado e capaz alpinista esloveno Tomo Cesen alegou ter solado a enorme, cobiçada e aterrorizante face sul do Lhotse (8.516 m) em apenas 46 horas. Apesar de fechar bons contratos de patrocínio e até receber uma medalha nacional, infelizmente a sua escalada até hoje não é creditada pela elite do Montanhismo, que alega falta de provas concretas, uma série de inconsistências e fatos contraditórios. Se estava falando a verdade ou não, fato é que um dos mais fortes escaladores de sua época desapareceu na obscuridade desde então.

Rich Simpson é acusado por muitos de ser o Super Homem mais falastrão da história. Primeiramente o britânico publicou um inspirador vídeo (com treinamento, o dia da cadena, etc.) de sua louvável repetição da via Action Directe - primeiro 9a da história, até hoje uma das rotas esportivas mais respeitadas do mundo, escalada pela primeira vez pelo lendário Wolfgang Güllich em 1991. No entanto ele não contou com a incredibilidade de muitos e, se recusando a apresentar provas concretas (uma nova repetição pública ou o vídeo sem cortes) logo seus patrocinadores o deixaram e ele surpreendentemente abandonou a atividade que tanto amava e na qual era tão “talentoso” e migrou para atividades como Corrida e Boxe, aonde também teria se destacado - ele reinvindicou o tempo de “uma milha em menos de quatro minutos” em uma maratona sub 2:30 e um recorde de invencibilidade em um circuito amador de lutas. No entanto, nunca foram encontradas testemunhas do seu notável tempo na maratona na qual ele nunca se inscreveu ou qualquer adversário que tivesse lutado com ele.

Já em 2010 foi a vez da barraca cair para a alpinista (“turista de montanha” para alguns dos seus críticos) sul-coreana Oh Eun-Sun. Após ter conquistado em 2004 os midiáticos Sete Cumes - circuito estrategicamente adotado por muitos novatos ávidos por virar personalidade da Aventura rapidamente - ela alegou ter se tornado a primeira mulher a galgar todas as 14 montanhas com mais de 8.000 metros existentes, vencendo uma verdadeira corrida por tal título com a espanhola Edurne Pasabán e a austríaca Gerlinde Kaltenbrunner. Mas, além da Oh utilizar métodos considerados anti-éticos no Montanhismo - era criticada por usar vários guias e carregadores, oxigênio artificial na maioria de suas escaladas, cordas fixas, grandes estruturas de apoio e até helicópteros em algumas aproximações - após ascender o Kangchenjunga em 2009 ela prontamente foi desmascarada ao apresentar fotos falsas do cume que incluíam manipulação digital de outros escaladores. Para piorar, três dos seus quatro sherpas (peraí, deixa eu conferir... isso mesmo, ela era acompanhada por 4!) disseram que o seu grupo parou a 150 metros abaixo do cume devido a ventos fortes e baixa visibilidade, gerando a contestação da respeitada cronista e historiadora Elizabeth Hawley (do Himalaya Database) e levando a Federação Alpina Coreana a rejeitar oficialmente a sua alegação. Ao final Pasabán assumiu o trono vago e a atenção da mídia, embora a elite do Alpinismo merecidamente deu mais crédito para as impressionantes ascensões da reservada Gerlinde, que escalou todos os quatorze oito mil sem o uso de oxigênio engarrafado e por rotas bem mais técnicas e perigosas.

 
Fotos originais tiradas por clientes que realmente chegaram ao cume do Everest e abaixo as toscas montagens feitas pelo “esperto” casal de policiais Dinesh e Tarakeshwari Rathod na tentativa de se tornarem “os primeiros indianos a chegar no ponto mais alto da Terra”. - Arte produzida a partir de notícias públicas.
 

Dentre tantos casos, vamos falar de um mais recente, que divide opiniões entre engraçado, patético, curioso, surreal, triste e revoltante. Como já é sabido até por não montanhistas, ascender uma das rotas turísticas o Sagarmatha - também chamado de Chomolungma no Tibete ou “Everest” pelos que aceitam o popular nome impostor - apesar de ser algo tecnicamente fácil e de riscos em grande parte controlados é uma atividade que de fato pode proporcionar um período de dinheiro e fama para quem contribuir com as quase dez mil ascensões registradas nesta montanha (você não leu errado, acredite, esse é mais um dos números que muitos fazem questão de esconder). Pensando nisso, em 2016 o “esperto” casal de policiais indianos Dinesh e Tarakeshwari Rathod ficou famoso em seu país após se tornar “os primeiros indianos a chegar no ponto mais alto da Terra”. Mas a fama durou poucos meses, pois logo os “honrados” militares foram desmascarados e se tornaram uma piada de péssimo gosto que entrou para a história do Himalaísmo como uma das suas grandes farsas. Mesmo usufruindo dos muitos benefícios contratados por centenas de tantos outros turistas que se acotovelavam nas tradicionais filas indianas desta montanha (carregadores, oxigênio suplementar, cordas fixas, barracas pré-montadas, cozinheiros, etc.), a dupla esqueceu que o crime não compensa e, não tendo chegado ao cume com sabedoria, decidiram criar provas via Photoshop, falsificações tão ingênuas e amadoras que rapidamente viralizaram na internet - além de usar fotos de outras pessoas achando que nunca seriam descobertas (com roupas diferentes das suas) os malandros ainda utilizaram a mesma imagem para produzir dois cumes diferentes, com os figurantes congelados ao fundo exatamente de forma igual. Pior que serem proibidos pelo governo nepales de praticar Alpinismo no país por dez anos e de serem demitidos do departamento de polícia de Maharashtra, será a eterna vergonha pública entre os seus parentes, amigos e conterrâneos.

Dentre alguns dos vários casos internacionais, até o célebre explorador Sir Ranulph Fiennes, aclamado pelo Guinness Book of Records como “o maior explorador vivo do mundo”, se envolveu em um escândalo de farsa em 2012, indo parar na corte britânica após participar de uma viagem ao Equador filmada por um famoso canal de TV em que, em busca de “cenas mais emocionantes” para as câmeras, “acrobacias” foram realizadas para enganar o público com falsos “acidentes” e “resgates”, levando uma alpinista a se ferir de verdade durante uma batida de cabeça enquanto fingia uma queda em uma fenda de uma geleira e após um escorregão simulado em uma subida que ocasionou danos em seu pescoço. A vítima perdeu a ação por ter se voluntariado para fraudar tais cenas junto com toda a equipe, mas Ranulph amargou grande estresse neste episódio e até hoje a sua imagem se mantém manchada com este escândalo que teve grande cobertura de imprensa.

Na era das redes sociais online é cada vez maior o número de aventureiros que estão cansando de se omitir diante de tantos prejuízos e possíveis aproveitadores, o que está levando a uma cobrança maior por provas que legitimem certos feitos. Apenas detalhando um dos vários exemplos que serão abordados no documentário, em 2015 o alpinista alemão Martin Szwed alegou ter quebrado o recorde mundial de velocidade em ski solo para o Polo Sul, baixando a antiga marca de 730 milhas feitas em 24 dias para impressionantes 14 dias - cobrindo algo como duas maratonas por dia durante duas semanas enquanto puxava um trenó carregado! Uma duvidosa selfie de Szwed ao lado da famosa placa “Welcome to the South Pole”, registros de voo que contradizem sua história e uma marca tão assombrosa logo levantaram a suspeita do norueguês Christian Eide, antigo recordista que com ajuda da mídia e da opinião pública forçou o nosso The Flash polar a admitir que a foto em questão seria uma montagem photoshopada por “falta de uma câmera” em seu gran finale, gerando trágicas manchetes em meios de comunicação de todo o planeta e o colocando em uma vergonhosa situação perante a comunidade mundial e seus ex patrocinadores e antigos admiradores. Mas apesar de se recusar a dar maiores explicações e de apresentar provas concretas do seu triunfo (ele se nega até a divulgar os dados do seu GPS) Szwed continua firme: “estava lá, eu fiz o polo!”

"Tais casos são catastróficos para nós, como alpinistas e atletas extremos, e seu comportamento desafia a credibilidade de toda a nossa indústria", lamentou o renomado alpinista Ralf Dujmovits, que semanas antes havia guiado Szwed no Monte Vinson, montanha que fez parte de um outro midiático e polêmico projeto do suspeito recordista germânico - “escalar as sete montanhas mais altas da Terra” (sem informar seus patrocinadores e fãs é claro que centenas de pessoas já fizeram isto antes).

Indignado com tantos casos de charlatanismo na Aventura, o alpinista sueco Tom Sjogren lançou em 2002 o Adventure Stats (www.adventurestats.com), site exclusivamente dedicado a analisar alegações de fraude no universo da Aventura. Sobre a responsabilidade de cada explorador, Sjogren atesta que “alegações falsas espalhadas pelo mundo podem prejudicar a reputação de outros por difamação (...) e isto é realmente ruim, porque destrói toda a comunidade de aventura e destrói o espírito de exploração.” Antes de reivindicar um novo recorde ou registro ele conclui sabiamente que “ignorância não é desculpa, que é responsabilidade do explorador pesquisar cuidadosamente feitos históricos semelhantes e garantir que o seu website, press releases, etc., sejam justos e corretos”. Mensagem perfeita para os embusteiros que normalmente, ao serem desmascarados, com dissimulação acusam profissionais contratados ou usam da desinformação como artifício para uma fuga impune.

Mergulhando na psicologia e movido por profundas análises e questionamentos sobre o que leva homens e mulheres a trair os seus amigos, as suas comunidades e os princípios das suas atividades e a insistir em uma grande farsa até o último dos seus dias, em 2005 o explorador e escritor David Roberts lançou o livro “Grandes Engaños de la Exploración” (Ed. Desnivel, sem tradução para o Brasil), no qual narra impressionantes histórias orquestradas nos últimos 450 anos por dez aventureiros excepcionalmente competentes que “perseguiram a glória a todo custo”. Com um texto provocador e revelador a respeito da natureza humana, o autor demonstra “que as qualidades que levam uma pessoa próxima de seu objetivo pode ser, ao menos, as mesmas que o conduzem a fingir o êxito”.

No Brasil, uma das estratégias dos farsantes que mais gera bons resultados junto à patrocinadores, mídia e público é exagerar fatos ou títulos sobre os seus feitos que são desconhecidos da maioria do público e dos jornalistas mais desinformados. Como por exemplo um aventureiro dizer que mergulhou na “caverna mais difícil e perigosa do mundo” quando de fato ele sabe que (1) este título só é usado pelos mais sensacionalistas, (2) que comprovadamente existem outras formações também famosas com estatísticas mais elevadas que a sua cavidade “assassina”, (3) que a elite do Mergulho mundial é unânime em afirmar que ao redor do planeta também existem milhares de outras cavernas infinitamente mais técnicas e arriscadas que o seu já tão explorado espaço subterrâneo (visitado inclusive por muitos turistas anualmente através da companhia de experientes agências) e (4) que qualquer profissional sério sabe que tal tipo de afirmação não pode ser feita por ser algo impossível de ser avaliado com unanimidade (algo como querer eleger a caverna mais bonita do mundo).

E por mais que este exemplo possa parecer exagerado, acredite, como dizem alguns vendedores por aí, muitos inocentes acreditam pois a técnica “funciona que é uma beleza”.

 
Para muitos especialistas, alguns famosos aventureiros da TV - com destaque para os que apresentam séries sobre Sobrevivência - representam os maiores vilões da Aventura moderna, responsáveis por um verdadeiro desserviço ao incentivar uma legião de fãs à correr riscos desnecessários, maltratar animais e causar vários outros crimes ambientais. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

SÉRIES DE TV, TRAMPOLIM PARA AVENTUREIROS DE FAZ DE CONTA

Mas sem dúvida os campeões das fraudes são os famosos "aventureiros" que apresentam programas de TV, especialmente os de sobrevivência. Aqui neste artigo nem vou citar as centenas de encenações e absurdos presentes em programas como “Largados e Pelados”, que transformam o que seria uma curtição e um presente para qualquer aventureiro experiente (passar semanas de férias isolado em uma área inóspita sobrevivendo com recursos básicos) em algo sofrido, arriscado e sobre-humano. Muito menos vou me aprofundar na análise de casos absurdos que incendiaram as mídias ao redor do mundo, como o do apresentador do programa “Eaten alive”, Paul Rosolie, que após tentar ser comido vivo por uma anaconda (exatamente isso que você leu, simplesmente “para mostrar a experiência de entrar dentro do animal”), abortou a sua estúpida ideia ao sentir o seu braço sendo esmagado mesmo com a sua proteção especial e acabou perdendo credibilidade e virando piada entre seus fãs.

Faz parte da dinâmica da maioria das produções televisivas forjar situações para gerar mais dramaticidade e consequente audiência, porém, cegos pela fama e por contratos ainda mais milionários, muitas celebridades que conduzem estas atrações já perderam o limite da honestidade, da ética, do bom senso e do respeito por seus fãs.

Somente citando o apresentador internacional que coleciona mais denúncias de crimes ambientais e armações desmascaradas, o ex militar britânico e Chefe dos Escoteiros da Inglaterra Bear Grylls se consagrou como estrela dos populares reality show "À prova de tudo" e "No pior dos casos" e por recordes nada extraordinários como "subir o Everest com 23 anos" ou "realizar um jantar em uma mesa suspensa por um balão de ar quente à 25 mil pés".

Seus programas são considerados por uma legião de leigos ávidos por adrenalina barata como uma espécie de "Guia do Aventureiro Fodão" e por verdadeiros especialistas e praticantes mais éticos e experientes algo como um "Manual do que jamais deveria ser feito na natureza" . Citando apenas algumas de suas lorotas e embustes que incentivam técnicas patéticas que podem piorar situações de risco ou mesmo matar quem as imitar (desnecessariamente se molhar na neve sob risco de hipotermia ou correr por terrenos instáveis, beber urina, etc.), ele saltou sobre um “penhasco com lava mortal” que descobriu-se ter sido produzido com uma ilusão criada com brasas, fluido e uma máquina de fumaça; alegou ter feito uma jangada improvisada que na verdade foi construída por consultores; apesar de se vender como "um homem sozinho contra os elementos da natureza" ao final das gravações troca seu rústico bivaque improvisado por luxuosos hotéis (como o The Pines Resort at Bass Lake, com restaurantes, spa e outros confortos); tentou montar um "mustang selvagem" que na real era um cavalo manso alugado; finge estar lutando pela vida em áreas remotas quando em alguns casos está a cinco quilômetros de uma cidade e a duzentos metros de casas e ajuda; e, talvez uma das mais hilárias e revoltantes armações, escapou do “ataque de um urso faminto” que, segundo um especialista em sobrevivência presente nas filmagens, foi encenado com a ajuda de um membro de sua equipe fantasiado de fera. Apesar das incontáveis manchetes sobre suas farsas e de hoje amargar sérios boicotes e o cancelamento de contratos milionários... ainda assim segue amado por milhares de defensores que preferem não acreditar nas diversas provas contra ele.

Claro que há exceções, porém infelizmente muitos apresentadores brasileiros com experiência tão limitada quanto à deste patético apresentador irlandês se espelham nestes falsos heróis internacionais e promovem em nossas terras verdadeiras aulas de desinformação e condutas antiéticas. Com discursos politicamente corretos e aura de bons samaritanos, mas mentirosos da abertura aos créditos e totalmente contrários à correntes socioambientais mundialmente recomendadas como Leave no Trace, em nome do entretenimento cometem uma série de crimes ambientais e prejudicam todo o mercado. Para disfarçar, encorajam o público a ver indefesos animais como "predadores assassinos" e a frágil e já tão ameaçada natureza selvagem como o "inferno na Terra".

Além de abordar estes fatos com profundidade, o documentário também irá desmascarar a farsa dos digital influencers da Aventura que tem parte de sua fama vergonhosamente financiada através da compra de seguidores em sinistras “fazendas de likes” e de grandes investimentos em impulsionamentos - estratégias que lhes rendem milhões de seguidores e uma bela fatia dos investimentos que seriam destinados a profissionais mais capazes. Quem nunca foi seguido e desseguido várias vezes por robôs contratados por alguma celebridade marqueteira? Eu várias vezes nos últimos anos, inclusive por uma famosa apresentadora que ainda por cima engana o público ao autorizar funcionários a interagir com seus fãs se passando por ela. Certo que aventureiros do porte de Shackleton a essa hora estão dando pontapés nas tampas dos seus caixões.

Sem muitas referências éticas em mídias de grande alcance, o público está se tornando cada vez mais ignorante (no real sentido da palavra), não conseguindo diferenciar o que é original, verdadeiro ou correto - como exemplo, para muitos é justificável matar uma espécie rara e ameaçada de extinção durante um programa. Ainda mais preocupante, parte dos fãs imitam os seus ídolos (alguns até sonham em ficar tão famosos quanto eles), se tornaram fanáticos que idolatram qualquer das suas ações e ainda os protegem independente de inocência ou culpa da mesma forma que fazem com políticos populistas ou artistas musicais, apedrejando qualquer um que ouse denunciá-los. Mas tudo bem, escalador fanático, sempre gostei de pedras mesmo.

Como consequência, desinteresse e boicote aos bons profissionais e às produções mais realísticas e menos sensacionalistas.

 
Escalar as montanhas mais altas de cada continente pode ser uma experiência incrível e ser realizado de forma ética (sem exploração de trabalhadores ou animais, com mínimo impacto, etc.), o problema surge quando certos “recordistas” causam prejuízos diretos à outros praticantes ao inflacionar ou distorcer seus feitos em busca de maior reconhecimento ou benefícios. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

ESCREVENDO A HISTÓRIA OU DESTRUINDO UM VALIOSO LEGADO? A POLÊMICA DOS RECORDES MODERNOS

Embora ainda exista uma infinidade de propostas inéditas e selvagens a serem provadas, para alguns exploradores, após séculos os últimos grandes desafios da Humanidade já foram vencidos impulsionando a superação dos mais inquebrantáveis limites da raça humana - os mais áridos desertos e os mais tempestuosos mares foram cruzados de forma pioneira, profundidades submarinas ou subterrâneas inimagináveis foram alcançadas, as mais inóspitas e perigosas cordilheiras e cânions foram explorados, distâncias foram percorridas de uma forma nunca antes feita, etc.

Considerando desta forma a maior dificuldade e exigência técnica para se estabelecer nos dias de hoje novas marcas realmente pioneiras e de alto nível técnico, físico e mental e a acentuada proliferação de inexperientes e marqueteiros no universo da Aventura, é claro que iriam surgir recordes para os mais variados níveis de gosto, talento e/ou capacidade. Muitos um tanto questionáveis.

Obviamente que a valorização de cada feito deve ocorrer de forma democrática e se trata de interpretações pessoais baseadas em princípios concretos e subliminares, mas o documentário também provará como este tema também precisa de uma profunda revisão. Principalmente pois, cientes que o diferencial de cada projeto comercial representa metade do sucesso de certas ideias a serem vendidas para possíveis patrocinadores e apoiadores e compradas pela mídia popular e pelo público leigo, mercenários estão se especializando em criar novos recordes apenas visando lucro, status e fama e concebidos para que sejam conquistados mesmo por pretendentes sem talento e com escasso expertise. Por mais que desagrade uma legião de candidatos e sonhadores, para a elite da Aventura mundial não passa de um verdadeiro engodo comercial que afeta o futuro de todas as atividades ao Ar livre.

Além de afirmar que tristes casos como o da improvável travessia do Polo Sul feita por Martin Szwed prejudicam a boa imagem dos demais exploradores e ainda engana à todos, o respeitado aventureiro polar Eric Larsen desabafou que a busca por recordes inovadores “começa a soar um pouco ridícula, as apostas são reais: patrocínios altos, palestras, ofertas de livros”. Mas “é hora de fazer algo sobre isso!”

Contrariando antigos conceitos e valores dura e honradamente forjados pelos mais lendários exploradores e atletas, a seguir apenas alguns exemplos dos mais polêmicos recordes oficialmente registrados no discutível Guinness World Records:

- Sete Cumes e variantes de um mercado obsessivo e milionário: Se a cada dia cresce o número de detratores a este que é um dos recordes mais populares - aclamado (especialmente pelos menos experientes) e ao mesmo tempo criticado (pelos mais antigos e gabaritados profissionais) -, imagina se as mídias começarem a dar crédito às suas muitas variantes. Aventureiros tradicionais vão achar que é uma piada digna do humor do magnata texano Dick Bass, que ao lado do milionário Frank Wells (ex-presidente da Disney) cunhou a primeira versão do Seven Summits, selo comercial que simboliza a ascensão das montanhas mais altas de cada continente (feito já realizado por mais de 400 turistas e montanhistas), mas além do recorde nas maiores montanhas ainda foi criado um verdadeiro mercado de títulos e contratos milionários, com destaque para o Second Seven Summits (as segundas mais altas); o Third Seven Summits (as terceiras); o Triple Seven Summits (1ª, 2ª e 3ª); o The Explorers Grand Slam (ou Adventurers Grand Slam), que é a junção dos Sete Cumes com a caminhada até o Polo Sul e o Polo Norte; e, para quem quiser impressionar ainda mais, o True Adventurers Grand Slam, que ainda incluiria os polos Norte e Sul magnéticos da Terra - juro que não é fake news. O conceito original destes últimos recordes surgiu das louváveis viagens polares arrastando trenós que partiam da costa e por meses percorriam bravamente centenas de quilômetros de neve e gelo até os polos. Com o tempo atletas de menor capacidade para aventuras mais extremas começaram a transformar as lendárias expedições polares em uma espécie de gincana da Aventura, começando as caminhadas já bem perto dos polos (nos paralelos 89º - Last Degree) e tornando as viagens bem mais fáceis, curtas e menos penosas. Com o suporte de caríssimas agências de turismo, logo as portas se abriram para celebridades da TV, modelos e outros aventureiros literalmente de primeira viagem - hoje a maioria dos cerca de 70 “recordistas” que já concluíram as versões do Explorers.

 
Infelizmente o que já vinha sendo alertado desde a década de 1990 aconteceu, a massificação do Everest e a comercialização a qualquer custo dos “14 Oito Mil”. Entidades como UIAA, mídia especializada e a elite do Montanhismo denunciam que as maiores montanhas da Terra a cada dia estão sendo mais rebaixadas pelos governos e pelas agências ao nível de turistas abastados e inexperientes (grandes estruturas, guias obrigatórios, permissos caros, escadas, cordas fixas, oxigênio artificial, etc.), sistema que está expulsando os verdadeiros himalaístas. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

Infelizmente, o frenesi da indústria de recordes ao propor ainda o True Explorers Grand Slam - que neste caso incluiria também a ascensão dos “14 Oito Mil” (14 + 7 + 2) - favoreceu a operação comercial das montanhas com mais de oito mil metros de altitude da Terra, algo inimaginável há anos atrás em um cenário que até os anos 90 praticamente só era visitado por escaladores altamente experientes (com exceção do Everest), mas que a cada ano com a decotação destas até então temidas montanhas está se tornando palco para os mais variados sonhadores. Para se ter uma ideia, algumas agências já oferecem pacotes turísticos “com tudo incluso” e “para todos os níveis” para todos os 14 mil e, apesar da já grande estrutura armada e das várias críticas de entidades como UIAA e dos maiores nomes da comunidade mundial, algumas agências já declararam que em 2020 pretendem inclusive instalar escadas fixas no não tão mais temido K2, que já foi decotado ao ponto de 33 clientes, montanhistas e guias alcançarem o seu cume no mesmo dia e de permitir em alguns anos que 80% dos seus pretendentes chega-se ao cume (como comparação, a média do mais baixo e mais fácil Aconcágua é de apenas 30% de sucesso). Apesar de pouco discutido no Brasil (inclusive evitado por alguns), a lastimável “Everestização do K2” é um acalorado tema já discutido há vários anos por escaladores e jornalistas internacionais. Só resta lamentar aos que conhecem a dura história do Alpinismo e do Himalaísmo.

“Pra onde esse mundo vai?”, diriam os velhos exploradores do Ártico, da Antártica e do Himalaia. Para ter uma ideia de como a maior dificuldade destes recordes se resume na jornada comercial de cotas de patrocínio excepcionalmente caras, antes reservado a aventureiros com décadas de experiência em Alta Montanha e explorações polares de grande envergadura, os Sete Cumes já foram ascendidos em apenas 117 dias e até por um senhor de 69 anos (que depois completou seu currículo com o Puncak Jayaa ou Pirâmide de Carstenz aos 76 anos) e o longo e custoso The Explorers Grand Slam (Last Degree) já foi completado em apenas 139 dias e até 2017 a pessoa mais jovem a finalizar tal circuito tinha apenas 20 anos e declaradamente conhecimento extremamente baixo.

- Kilimanjaro, verdadeiro palco para os mais variados recordes: em 2015 e com 86 anos, Angela Vorobeva se tornou “a pessoa mais velha a escalar o Kilimanjaro”, o ponto mais alto da África (5.895 m). Uma das fáceis montanhas que formam os Seven Summits, o Kili também já presenciou bizarrices como “a entrega de pizza de maior altitude da Terra” promovida pela Pizza Hut e “a partida de críquete de maior altitude” (jogada por 88 minutos à 5.752 m na cratera de um vulcão, etc.);

- A mais alta montanha escalada com uma “perna de pau”: Acredite. Na real uma tranquila caminhada de menos de duas horas até o topo do Mount Baden-Powell (2,864 m). Eternizada no livro dos recordes;

- Maior escalada vertical em 24 horas: não vale rir ou blasfemar, mas este recorde foi para Will Levandowsk que durante um dia exato escalou como um hamster encarcerado um bloco de pouco mais de 3 metros 2.883 vezes alcançando a inacreditável marca de 8.880 metros (“alguns metros a mais que o Everest”);

 
Com cerca de 10 mil ascensões registradas, apesar de ainda manter faces e rotas dignas de aventuras verdadeiramente extremas, as vias mais populares do Everest transformaram este outrora grande desafio do Alpinismo mundial no “lixão mais alto do mundo” e em um verdadeiro palco para uma legião de “posers, marqueteiros, alpinistas sociais e até charlatões”. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

- “Everest”, fábrica de recordes: triste Sagarmatha/Chomolungma, o que fizeram contigo nestas últimas três décadas? Além dos tantos recordes e escândalos já bastante difundidos na mídia, para título de entendimento do seu real nível técnico (com respeito à determinação de tais empreendedores), a montanha mais alta da Terra já foi ascendida cerca de dez mil vezes (repito, “10.000”) das mais variadas formas, incluindo nesta lista um amputado das duas pernas, um cego, portadores de diabetes e, propositalmente para o Guinnes, um octagenário (Yuichiro Miura em 2013). A montanha também possibilitou o recorde da “mais alta mensagem de texto enviada” (uma estratégia de Marketing com boa exposição para uma empresa americana de telefonia) e inspira diversos outros títulos capazes de motivar bilhões e incomodar alguns milhares, como “subir a altura do Everest em uma máquina” de exercícios que simula o movimento de uma escalada durante 2h45 (“8.848 metros revezados entre oito mulheres”) e o tempo mais rápido para “subir a altura do Everest em uma parede de Escalada” (9h26);

- Já não se fazem mais Polos como antigamente: fato, apesar das facilidades modernas, tanto as mais altas montanhas quanto os polos oferecem desde desafios extremos (especialmente em zonas inexploradas) à roteiros um tanto mais suaves (já mapeados, mais protegidos, acompanhados por uma agência, etc.). Em se tratando de acessibilidade, “a pessoa mais velha a visitar o Polo Norte” turístico, a bordo do quebra-gelo nuclear Yamal, tinha 89 anos. Já “o casal mais velho a conquistar o Polo Norte” tinha 79 e 76 anos, que segundo o Guinnes, após serem baixados de helicóptero, esquiaram 6,39 km até o acampamento de gelo Barneo. Sem dúvida uma experiência fantástica para estes três jovens aventureiros, só não é correto chamar estas “viagens” e/ou “excursões” de “expedições” como muitos erroneamente divulgam por aí.

Mas que fique claro, não há problema nas pessoas quererem ascender o Everest ou as montanhas mais altas de cada continente (com ou sem oxigênio, cordas fixas, carregadores, etc.), o que pode ser uma experiência pessoal incrível e ser realizado de forma ética (sem exploração de trabalhadores ou animais, com mínimo impacto, etc.), o que não podemos tolerar mais são certos “recordistas” causando prejuízos diretos à outros praticantes ao mentir, inflacionar ou distorcer seus feitos em busca de maior reconhecimento ou benefícios.

Você também é do time dos que concordam que tais tipos de recordes ultrapassam o limite do admirável diante do real sentido da Exploração e da Aventura? Então sinto lhe dizer que no Brasil a forçada de barra está indo muito além, com conquistas cada vez mais vazias, nada pioneiras, patéticas, sensacionalistas e fraudulentas, algo como reclamar ser “a primeira brasileira com próteses de silicone a completar os Sete Cumes” (diante da existência de outras conterrâneas que já subiram tais montanhas de outras formas) ou então ostentar nacionalmente ser “o primeiro joseense a pisar no ponto mais alto da Terra” (ao invés de apresentar verdades mais esclarecedoras como ser “o 26º brasileiro” ou ter feito o “cume número 10.051” deste tão popular e impactado roteiro).

Volto a dizer, “não existe melhor ou pior, mas são coisas bem diferentes!”

 
Público, jornalistas e empresários leigos foram condicionados por décadas a acreditar que as aventuras mais difíceis e perigosas da atualidade são realizadas por “celebridades” nas maiores e mais famosas montanhas, desertos, oceanos e rios da Terra, no entanto as mais extraordinárias sagas de sobrevivência, superação, ousadia, bravura e capacidade técnica, física e mental são em sua maioria orquestradas por aventureiros de capacidade quase sobrehumana, longe das equipes de TV e em paragens extremamente mais remotas e mortíferas. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

E para deixar essa inversão de valores bem clara ao público, o documentário irá propor uma profunda reflexão sobre quem são os homens e mulheres que veridicamente forjaram e ainda escrevem a história da Exploração, da Aventura e do Montanhismo mundial, fazendo comparações cruas entre falsos heróis de ética e currículo comprovadamente questionáveis e seres de sabedoria e força física e mental singulares.

Apenas para citar alguns dos milhares de verdadeiros aventureiros que apesar de serem pouco conhecidos no Brasil se consagraram como figuras lendárias ao redor do planeta, recomendo aos leigos interessados em se aprofundar neste assunto uma pesquisa comparativa a partir das seguintes referências: Fridtjof Nansen*, Eduard Whymper*, Ernest Shackleton*, George e Ashley Abraham*, Amelia Earhart*, Bradford Washburn*, Lionel Terray*, Gaston Rébuffat*, Hermann Buhl*, Walter Bonatti*, Jacques-Yves Cousteau*, Reinhold Messner, Doug Scott, Jerzy Kukuczka*, Krzysztof Wielicki, Jeff Lowe*, Wojciech Kurtyka, Catherine Destivelle, Pipin Ferreras, Lynn Hill, Dan Osman* e ícones mais atuais ou ativos como Denis Urubko, Freya Hoffmeister, Herbert Nitsch, Laird Hamilton, Simone Moro, Mike Horn, Hansjörg Auer*, Steve Swenson, Antonio de la Rosa, Thomas Ulrich, Graham Zimmerman, Ueli Steck*, Rodolphe Sturm, Alex Honnold, Aleksander Doba, Rafa Ortiz, Ales Cesen, Steph Davis, Luka Straza, Tom Livingstone, entre tantos outros (* i.m. - in memoriam).

Não esquecendo das feras brasileiras que veridicamente puxam o limite da Aventura nacional (e mundial), destaque para Alexandre Portela, Andrea Moller, Beto Pandiani, Bob Burnquist, Carlos Burle, Carlos Zaith*, Equipe Bozo D' Água, Fábio Paiva, Fernanda Maciel, Gabriel Medina, Karol Meyer, Letícia Bufoni, Luís Roberto Formiga, Marta Empinotti, Maya Gabeira, Nicola Martinez, Pedro Barros, Pedro Oliva, Pepê Lopes*, Roberta Nunes*, Sabiá Tapajós e Sergio Tartari, só para citar alguns dos mais fortes e aclamados (* i.m.). E para não dizer que não falei de admiráveis profissionais da TV, citando apenas dois de vários outros também merecedores, sugiro a valorização de documentaristas honrados, talentosos e de vasta experiência como a jornalista Paula Saldanha e o saudoso biólogo Roberto Werneck, premiado casal referência no registro e na divulgação das riquezas naturais, culturais e étnicas do Brasil que em quatro décadas produziu um legítimo legado para as futuras gerações através de quase 50 livros e cerca de 800 documentários sobre importantes questões socioambientais - ao contrário do lamentável endeusamento de péssimos apresentadores que se exibem montando elefantes torturados, abraçando onças subjugadas, estrangulando indefesas cobras e enganando o público com produções “fakes”, alguns inclusive suspeitos de tráfico de animais, autuados várias vezes pelo Ibama e com graves denúncias internacionais.

Além de citarem e valorizarem muitos destes grandes especialistas da Aventura, os entrevistados darão “nome aos bois” e esclarecerão ao público alguns conceitos básicos que no Brasil são constantemente tratados de forma equivocada, muitas vezes intencionalmente em busca de algum tipo de favorecimento - diferenciação entre “excursionismo” e “expedições”, “Turismo de Aventura” e “atividades extremas”, “guiadas comerciais” e “autossuficiência”, riscos “desnecessários” e “assumidos”, “jornalistas que fazem aventuras” e “aventureiros documentaristas”, “dependência de profissionais contratados” e “mérito próprio”, etc. E, mais uma vez, insisto em deixar bem claro, não há melhor ou pior, mas há um enorme abismo de diferenças entre estes termos.

 
Muitas vezes uma aparentemente simples pedalada em família em uma tranquila trilha à beira mar pode inclusive ser mais emocionante, engrandecedora e gratificante para alguns do que muitas façanhas históricas. Mas convenhamos, ambas são coisas bem diferentes! - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

CANSADO DE INJUSTIÇA? VEJA COMO PARTICIPAR DO DOCUMENTÁRIO

“Procura-se corajosos (as) sem medo de falar a verdade!”

Acredito que este doc possa ser o início de um movimento de reavaliação de padrões, união e atitude ética. Penso que chegou a hora de todos que fazem parte do universo da Aventura terem coragem para se decidir sobre qual lado se posicionar. Muitos talvez não admitirão mais discursos a favor de iniciativas que valorizem sentimentos reprováveis como ostentação, superioridade e até machismo ou que causem sofrimento, humilhação, danos materiais ou financeiros à outros seres ou lugares e, ao mesmo tempo e de forma contraditória, a defesa da ética e do mínimo impacto, do verdadeiro espírito do Montanhismo, dos bons costumes e da volta dos reais valores de um amante da Natureza. É violentar a coerência querer se manter nestes dois lados ao mesmo tempo.

Se você conhece alguma história de injustiça ou trabalha com atividades ao Ar Livre e se sente prejudicado devido à desonestidade de terceiros seria ótimo marcarmos uma conversa. Basta enviar um email para contato@photoverde.com.br

Lembrando que as denúncias poderão ser anônimas ou assinadas e você também poderá colaborar indicando possíveis temas ou entrevistados.

O projeto ainda não tem prazo para ser lançado, mas as primeiras entrevistas e filmagens já estão sendo agendadas.

 
Triste e revoltante, a quantidade de denúncias de fraude e escândalos sobre a depreciação dos reais valores da Exploração e da Aventura estão transformando estas até então nobres atividades em um cenário para descrédito, deboche, ironia e falta de respeito, com prejuízo incalculável para todos os profissionais que honradamente vivem destes difíceis segmentos. - Arte produzida a partir de notícias públicas e depoimentos.
 

TODOS JUNTOS PELA AVENTURA NACIONAL

Sendo o mais sincero possível com você, respeitável leitor que chegou até este parágrafo, assumir a responsabilidade de produzir este documentário talvez seja a tarefa mais arriscada, complexa e valorosa da minha vida, principalmente pela chance de ser mal interpretado e abalar a estabilidade de uma carreira conquistada com muito custo - modéstia a parte e apenas para justificar um pouco mais o meu receio inicial, ao contrário de alguns aventureiros que infelizmente estão literalmente amargando dificuldades e tentando sobreviver diante de tantas puxadas de tapete, após quase 25 anos de dura jornada hoje comemoro a oportunidade de gozar de bons patrocinadores e manter as portas abertas em todas as mídias e empresas às quais trabalhei (com 100 % de satisfação em quase 25 anos).

Complicado falar de si mesmo, mas pela necessidade deste artigo arrisco a dizer que acredito que todas as centenas (talvez milhares) de pessoas que tiveram a oportunidade de me conhecer nestas décadas de ofício sabem do quanto valorizo a solidariedade no sentido mais profundo desta palavra, sempre incentivando o trabalho de outros profissionais e disposto a ajudar qualquer um que me procure - de concorrentes diretos à fãs literalmente desamparados - produzindo ações que gerem benefícios realmente coletivos, constantemente motivando desconhecidos e iniciantes e mensalmente dando dicas para velhos amigos ou estranhos sobre equipamentos, técnicas, formas de entrar ou evoluir em minhas árduas áreas de atuação, etc. (inclusive revelando valiosas infos e segredos comerciais produzidos a base de muito suor). Assim, apontar falhas no trabalho alheio para mim sempre será algo que de alguma forma me fere por dentro, mesmo se tudo e todos me incentivassem para tal.

Com base no fenômeno psicológico chamado "raciocínio motivado" - quando fatos interferem em nossas crenças e surpreendentemente nossos cérebros preferem dispensar qualquer prova concreta - infelizmente vivemos um momento em que inúmeros deixaram de lutar por uma justiça imparcial para todos e hoje chegaram ao cúmulo de preferir brigar entre os seus pela proteção de “políticos de estimação”, baseados simplesmente em legendas e em ideologias enquadradas no dúbio espectro político esquerda-direita. Assim, considerando exemplos como esse, imagino que alguns fãs e empresários mais desinformados ou menos comprometidos com o desenvolvimento da Aventura nacional provavelmente irão optar por continuar idolatrando seus falsos ídolos (mesmo com a apresentação de provas irrefutáveis), alguns até optando por me atacar (triste, mas tranquilo, faz parte e já estou preparado), ao invés de fazer uma reflexão profunda e de forma justa defender os bravos seres que realmente impulsionam os limites do esforço humano, homens e mulheres que rompem as barreiras do considerado impossível, que escrevem a nossa história e nos dão a chance de continuarmos existindo.

Se estou tomando uma decisão inteligente ao arriscar comprometer tudo que construí em prol de uma Aventura mais justa, pura, forte e solidária? Confesso que não sei e só o tempo dirá. Mas me tranquilizo ao saber que apesar de qualquer preço pago, como humilde porta-voz, enfim estarei dando forças e oportunidades a uma multidão de injustiçados que até hoje vivia amordaçada por um sistema cada vez mais opressivo e principalmente por acreditar que os profissionais mais competentes e honrados do Brasil se unirão nesta causa.

Tenho certeza que juntos poderemos fazer muita diferença nos próximos capítulos da nossa rica e original história. Mas claro, somente se estivermos realmente juntos nesta luta. Por isso eu conto com o seu apoio.

Para fechar, ao invés de encerrar este artigo com o meu tradicional “ótimas aventuras!”, desta vez vou emprestar algumas sábias palavras de Abraham Lincoln:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”

Abraham Lincoln

Obs. 1: As fotos, menções e cópias dos artigos que ilustram esta matéria são informações públicas que representam tanto fraudes e farsantes comprovados quanto casos e/ou profissionais denunciados pela imprensa e/ou comunidade que ainda estão sendo investigados;

Obs. 2: Este texto representa a opinião do seu autor e de seus colaboradores, não necessariamente a do Extremos.



Márcio Bortolusso é Explorador e Documentarista de Aventura, Natureza e Cultura Regional desde 1995 (www.photoverde.com.br - mais de mil ações divulgadas em mais de 500 mídias), recentemente realizou o projeto www.6hardxpeditions.com - que está sendo considerado por especialistas como “uma das maiores e mais extremas expedições multiesportivas já realizadas” - e desde 2006 é o único brasileiro patrocinado pelas renomadas marcas norte-americanas Gore-tex e Windstopper.

 
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• TMB + Abismos: R$ 100,00
• TMB + Everest: R$ 105,00
• TMB + Abismos + Everest: R$ 140,00
• Trekking Everest: R$ 45,00
• Entre Abismos: R$ 40,00
• Anuário 2017: R$ 67,00
• Anuário 2016: R$ 66,00

 
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