Extremos
 
COLUNISTA MANOEL MORGADO
 
Lycian Way
 
texto e fotos: Manoel Morgado
25 de maio de 2015 - 12:45
 
Manoel Morgado e Kathy Gonzalez no início da trilha Lycian Way.
 
  Manoel Morgado  

Em um mundo tão explorado e visitado, cada vez é mais difícil encontrar lugares ainda não invadidos pelo turismo de massa. Estava buscando ideias na internet sobre trekkings desconhecidos no mundo para oferecer para nossos clientes quando me deparei com um trekking de 500 quilômetros na Turquia chamado Lycian Way. Apesar de estar viajando sem parar por mais de 25 anos guiando meus grupos ou fazendo minhas viagens e expedições particulares e conversando com gente de todo o mundo, nunca havia escutado de trekkings de longa duração na Turquia. Me aprofundei em minhas pesquisas por internet e descobri que não só existe o Lycian Way mas muitas outras trilhas variando em extensão de 200 a 800 quilômetros!! As quatro mais importantes foram abertas por uma britânica radicada na Turquia chamada Kate Clow.

O que li sobre a Lycian Way chamou minha atenção imediatamente. Ela é a junção de pequenas estradas de terra, trilhas de pastores e trilhas de cabras passando por vilarejos isolados as vezes descendo até o mar e outras subindo até 1800 metros onde, nesta época, ainda há neve. Lindas vistas da costa, ruinas lycias, gregas, romanas e bizantinas, florestas de pinheiros acabam de compor esta variada experiência.

Meu ano normalmente se divide em seis meses de viagens guiando meus grupos, quatro meses para fazer minhas expedições particulares e dois meses de viagens de pesquisa para desenvolvimento de novos roteiros. Tinha o mês de abril livre para uma viagem de pesquisa e para minha felicidade vi que era uma das melhores épocas do ano para fazer a Lycian Way. Durante o verão as temperaturas são proibitivamente altas, durante o inverno as partes mais altas das montanhas estão cobertas de neve, então a primavera e o outono, abril, maio, outubro e novembro são os meses ideais. Comprei um mapa, um guia e embarquei com a Kathy Gonzalez para Istanbul.

     
     

Após dois dias explorando uma vez mais esta fascinante cidade, mistura geográfica e cultural da Europa e da Ásia, voamos para Fethiye e de lá começamos nosso trekking. A ideia era fazer a trilha completa até Antalya, uma das principais cidades desta parte da costa conhecida como “Riviera Turca”. Apesar de não haver altitudes significantes, o terreno é muito acidentado com uma média de 600 metros de subidas e descidas a cada dia e com isso normalmente as pessoas fazem a trilha completa em 30 dias de caminhada incluindo alguns dias de descanso, com uma média de 20 quilômetros ao dia.

Como não havíamos conversado com ninguém que havia feito a trilha e o guia era um pouco obscuro sobre a necessidade de levar barraca, decidimos sair com todo o equipamento de camping e mais comida para 5 dias. Com mochilas bastante pesadas iniciamos nossa caminhada e imediatamente nos deslumbramos com a paisagem e com a trilha. Por todo o dia caminhamos basicamente sozinhos encontrando apenas um outro casal que iria fazer parte da trilha. No decorrer dos próximos dias encontramos com mais alguns trekkers e a maioria deles também estavam fazendo apenas parte do caminho e se espantavam quando contávamos que nosso plano era fazer a trilha toda. Alguns deles já haviam vindo em outros anos fazer parte dela e estavam fazendo em estágios.

Ao chegarmos no vilarejo onde dormiríamos nos deparamos com uma série de pousadas, algumas bem simples e outras mais confortáveis com piscina e simpáticos bangalôs. Cansados mas extremamente contentes com as lindíssimas vistas da costa com uma das águas mais transparentes do planeta dormimos um sono reparador.

Após nosso café da manhã típico turco com azeitonas, queijo feta, tomates, pepino, chá, pão, manteiga e geleia saímos para outros 20 quilômetros de mais uma trilha lindíssima.

     
     

Após alguns dias de caminhada com a mochila muito pesada e de conversar com outros trekkers chegamos a conclusão de que não necessitaríamos do equipamento de camping a não ser por uma árdua travessia de três dias pela parte mais alta de toda a trilha, pelas montanhas. Com a ajuda do simpático dono da pousada onde estávamos mandamos uma bolsa com este equipo para a cidadezinha ao pé da parte onde precisaríamos acampar e seguimos leves e felizes.

Lycia tem uma longa história e suas ruinas contam parte desta história. Existem relatos desta região e de seu povo desde a época do antigo Egito tendo sido um estado independente por partes de sua história mas também tendo sido colonizada e dominada pelos persas, gregos e romanos. Durante nosso trekking vistamos as imponentes ruinas de Patara, Olympos, Xantos, Myra, Simena, Alakilise, Belos e Letoon. Grandes teatros gregos, templos dedicados a vários deuses romanos que depois foram transformados em igrejas bizantinas, antigas cidades lycias em diferentes estados de conservação.

Aproveitamos a chegada a pequenas e charmosas cidades da costa como Kalkan e Kas para descansar e aproveitar um pouco o mar, apesar de que em abril a água ainda estava um tanto fria para nadar. Também fizemos um lindo passeio de kayak oceânico até as ruinas de uma cidade que foi submersa por conta de um grande terremoto 1800 anos atrás.

Depois de 22 dias de caminhada e de ter percorrido 70% do caminho decidimos saltar a última parte e passar alguns dias na Capadócia. Havíamos atingido meus dois objetivos, desfrutar desta linda parte da Turquia e montar uma viagem maravilhosa com os dez mais bonitos dias do Lycian Way para oferecer aos nossos clientes em maio de 2016!

     
     

Manoel Morgado,
Toda arrecadação da venda do livro: Manaslu, Em busca dos meus limites
será revertida para a campanha de Ajuda ao Nepal

 
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