Esperando pelo Mont Blanc
da redação, Manoel Morgado
1 de julho de 2012 - 17:05
 
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    Lisete Florenzano e Manoel Morgado Foto: Manoel Morgado
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    Esperando pelo Mont Blanc" Foto: Lisete Florenzano
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Lisete Florenzano e Manoel Morgado Foto: Manoel Morgado

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Escrevo este boletim sentado na varanda de meu hotel em Chamonix olhando as nuvens passarem vagarosamente por cima do Mt Blanc, a mais alta montanha da Europa Ocidental. Neste momento deveríamos estar a caminho do cume, mas a previsão do tempo, normalmente confiável, talvez nos tenha pregado uma peça. Tanto para ontem como para hoje a previsão foi de ventos de 80 a 90 km/hora inviabilizando nossa escalada nesses dias. Agora estamos esperando um ou dois dias para ver o que acontece. Mas, é desesperador olhar para as montanhas em um dia perfeito e não estar lá. De qualquer forma, decidimos que dia 2 de julho vamos para as montanhas de qualquer forma. Se estiver bom tempo seguimos para o Mt Blanc, caso contrário para alguma montanha mais baixa. Estamos prontos para ir mais alto já que passamos 3 dias escalando acima de 3000 metros nos dias anteriores. E sobre esses dias que gostaria de contar para vocês.


Saímos de manhã cedo rumo a Champex na Suíça, ao redor de 80 km daqui. O dia estava lindo e a viagem foi maravilhosa. Em nossas mochilas carregávamos botas duplas, crampons, ice axes, bastões de caminhada, roupas de frio e comida para dois dias já que na primeira noite iríamos dormir e comer em um dos magníficos abrigos de montanha da Suíça.

Deixamos os dois carros no estacionamento e pegamos um sky lift que nos deixou a 2200 metros de altitude. De lá, com nossas mochilas bastante pesadas seguimos por 3 horas por uma linda trilha ganhando gradualmente altitude até chegarmos no abrigo. Ele tinha ao redor de 6 quartos com 6 colchões no chão ou em beliches cada um e uma sala de refeições onde o simpático guardião nos serviu um delicioso jantar.

Na manhã seguinte seguimos para o bivac hut, um outro abrigo de montanha, mas desta vez sem guardião e sem refeições, mas mais uma vez, impecável. A caminhada do dia anterior havia sido por uma trilha de terra, mas neste dia colocamos nossas botas duplas e crampons e seguimos pelo glaciar. O tempo havia mudado e quando chegamos no refúgio, após 4 horas de escalada, estávamos ensopados. Descansamos um pouco, almoçamos e saímos mais uma vez para o gelo para fazer um treinamento de resgate em cravasses e parada de quedas. Fomos dormir cedo já que combinamos de acordar as 3 da manhã para sair as 5 para escalar duas montanhas, uma de 3400 metros e outra um pouco mais alta. Porém, o mal tempo do dia anterior só se intensificou durante a noite e quando acordamos podíamos ouvir o vento uivando em nossas janelas que composto pela chuva que caia não dava ânimo de sair do conforto do hut. Resolvemos esperar mais algumas horas para ver o que acontecia e as 7 da manhã, apesar da chuva continuar e a visibilidade estar bem pequena, o vento havia melhorado e resolvemos iniciar nosso dia. Nos equipamos e nos encordamos e cruzamos o glaciar rumo a uma montanha de 3400 metros chamada Tete Blanche. Seguimos por entre um terrível nevoeiro com pouquíssima visibilidade e sempre debaixo de uma chuva que em pouco tempo nos deixou encharcados apesar dos Gore Tex. Subimos uma parede de 45 graus que nos levou a um passo entre dois vales e de lá começamos a escalada do Tete. A parte final em rocha foi bastante desafiadora e quando chegamos no topo mal conseguíamos ver um ao outro.

No final foi um dia mais de treino de escalada em mal tempo do que realmente um prazer nas montanhas. Mas, para o Gilson que está a caminho do Everest passando pelo McKinley antes mais uma etapa de aprendizado.

Quando chegamos de volta o hut o transformamos em uma favelona com roupas secando por toda a parte. Jantamos e fomos dormir cedo depois de um dia bastante longo e cansativo.

Ao acordarmos tivemos pela primeira vez a noção da beleza do lugar onde estávamos. O sol brilhava em um céu azul escuro sem uma nuvem. A neve brilhava ao nosso redor em picos magníficos. Com pesar descemos de volta ao carro, uma caminhada linda de cinco horas de duração com pena por não ter tido um dia como este para escalar. Mas, o Mt Blanc nos esperava ou assim imaginávamos...
Agora, a tarde, volto da Casa dos Guias em Chamonix com mais informações. Apesar de daqui de baixo parecer estar bom, lá em cima realmente o vento está fortíssimo e hoje o único grupo que subiu teve de descer por causa do vento. Amanhã a previsão é de 120 km/hora. Então, nada a fazer a não ser esperar. Quem manda é a montanha...