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Ao Redor do Manaslu
 
 
 

Se o trek do Dolpo encantou por seu isolamento e lindas paisagens áridas do platô tibetano, meu próximo trek, ao Redor do Manaslu, foi deslumbrante pela variedade de paisagens. Após ter ouvido falar na sua beleza por anos, finalmente no ano passado eu tive a oportunidade de fazê-lo pela primeira vez. Mesmo sendo em agosto, época das chuvas e quase sem visibilidade alguma ainda assim amei o que vi.

 
 

Desta vez estava indo na época correta, outubro, com as monções já em seu final e céus azuis, ou pelo menos isso era o esperado. Saímos de Katmandu em um ônibus local privativo, mas mesmo assim bastante dilapidado. Nenhum outro tipo de veículo poderia enfrentar as estradas que tínhamos pela frente. Logo após 2 horas de viagem avistamos nossa montanha, o Manaslu, a oitava mais alta montanha do planeta, chamada de "O Bracelete" pelos tibetanos. Por 15 dias percorreríamos o caminho que circunda o Manaslu e todos, eu, a Lisete e nosso grupo de clientes, 4 brasileiros e 3 americanos, estávamos muito entusiasmados com o que tínhamos pela frente. A cada curva as montanhas apareciam no horizonte e parávamos para fotografar. Depois de 7 esburacadas horas chegamos a Arunghat, o ponto de partida para a caminhada, um agitado vilarejo hindu que serve como ponto de abastecimento para toda esta região. O calor estava fortíssimo, afinal estávamos a apenas 600 metros de altitude e a cada riachinho que cruzávamos aproveitávamos para molhar a cabeça e o boné. Este é um dos grandes atrativos deste trek. Como o trek começa a 600 metros de altitude, cruza um passo a quase 5000 metros e desce novamente até menos de 1000 metros nessas duas semanas de caminhada se faz um corte vertical por grupos étnicos diferentes, com religiões e hábitos distintos além de passarmos por uma variedade enorme de eco sistemas desde sub tropical como o que estávamos neste primeiro dia calorento até vegetação alpina do passo.

Nossa trilha seguiu por vários dias o vale do Budhi Kandaki que com o passar dos dias foi transformando-se de um calmo rio largo que descia preguiçosamente por entre margens arborizadas em um rio de águas turbulentas que descia em grandes cachoeiras e sobre o qual cruzávamos de uma a outra margem por pontes cada vez mais precárias. Após o quarto dia pela primeira vez nos deparamos com bandeiras de oração e chortens (nome tibetano de stupas, relicários) sinal de que entravamos em aérea budista. Deste ponto em diante a cada quilômetro de trilha encontrávamos lindos manis (muros de pedras com inscrições religiosas). Os vilarejos foram assumindo cada vez mais a arquitetura tradicional tibetana com casas de teto plano usados para secar os grãos e muros de pedra com portas e janelas minúsculas (os demônios não sabem abaixar a cabeça, razão das portas pequenas...).

Ao nos aproximarmos do passo, o tempo que até então tinha se comportado bem virou e uma nevasca persistente fez com que temêssemos por nossos planos. Esperamos por 3 dias em Samdo e no último minuto quando já tínhamos até contemplado a possibilidade de fretarmos um helicóptero para voltar a Katmandu, magicamente o sol saiu e em 24 horas não havia nem mais sinal na neve que pouco antes cobria tudo. Com muita disposição enfrentamos o passo de 4960 metros fazendo a subida em 5 horas. O frio estava muito intenso aumentado ainda mais pela vento que soprava inclemente. Infelizmente a Lily sentiu-se super mal na descida e não melhorou no dia seguinte. Ao examiná-la 30 horas depois do passo encontrei sinais de pneumonia e/ou edema pulmonar de altitude. Esses dois diagnósticos são muito difíceis de diferenciar principalmente na montanha sem qualquer exame subsidiário. Achei mais seguro pedir um resgate por helicóptero e no dia seguinte para grande tristeza de todos a vimos partir na companhia da Monica que estava com o tornozelo machucado da descida e resolveu acompanhá-la.

Nosso último dia e meio de trek foi pela trilha ao redor do Annapurna, a trilha mais antiga e popular do Nepal. Acostumados como estávamos de ter a trilha só para nós já que o trek do Manaslu não recebe muitos trekkers foi um choque de repente estar rodeados de centenas de trekkers, carregadores e mulas. Ver o contraste nos fez apreciar ainda mais o que vivemos nessas duas semanas tão especiais.

Depois de três meses guiando cinco grupos, um na China, outro na Rússia, Tanzânia e dois no Nepal estava muito feliz com o resultado, mas também extremamente cansado. Guiar significa se dar, atender a mil pedidos e necessidades, estar disponível. Estava pronto para um período de tempo só para mim e para a Lisete. E fomos para a Tailândia escalar em rocha...

 
 
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Guia e Alpinista
 
 
Dividir minhas experiências com as pessoas!

- Este é o objetivo destes artigos e foi uma das motivações que me levou, 13 anos atrás, a começar a guiar pessoas em lugares que amo, para entrar em contato com culturas que admiro e realizar atividades que fazem com que enfrentemos desafios e ampliemos nossos limites. Sempre procurei direcionar minha carreira profissional para que estivesse em harmonia com o estilo de vida que almejo.

Para mim trabalho e prazer se combinam de forma quase indestingüível. Isso me permite viajar doze meses por ano, seis meses guiando grupos pelo mundo, principalmente na Ásia e o restante do ano viajando pelos lugares dos meus sonhos. Então, se assim como eu você é um viajante habitual ou apaixonado por relatos de viagens, poderá encontrar aqui informações, impressões, dicas, bibliografia e videografia, sobre os lugares por onde viajo.

Venha comigo explorar alguns dos mais fantásticos destinos deste planeta!
 
 
 

2009
Cho Oyu (China) com 8.201 metros