Uma caminhada pelo Himalaia
da redação, Jus Prado
14 de julho de 2011 - 10:38
 
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O TECO-TECO - Partindo para Lukla.
 

Há cerca de 2 meses interrompi os relatos sobre a incrível caminhada rumo ao Campo Base do Everest em 2010, mas foi por um bom motivo, acompanhava por aqui a reta final das notícias sobre os brasileiros no Everest e, hoje, ainda em ritmo de muita comemoração do imenso sucesso da Expedição Everest 2011, retomo o entusiasmo para escrever a próxima parte desta jornada espetacular.

O diário desta viagem vocês encontram aqui, e em breve haverá também um livro desta aventura pelo Himalaia!

 
Chegada a Phakding
   
 
Namche Bazar 3.440m  
   
 
Nagarjun Peak 5.200m  
   

Mas eu vim para compartilhar num breve texto a plenitude deste momento que passou, e como passa rápido, mas faz parte. Tudo é impermanente, por isso precisamos aproveitar e viver cada dia o presente, a presença e as coisas que estão acontecendo agora, pois só o hoje é que existe e é o instante em que podemos recomeçar.

É difícil resumir essa caminhada num amontoado de palavras e não existem símbolos que descrevam a imensidão de cada passo que demos, de cada pessoa que encontramos, de cada paisagem que vimos, de cada sensação e emoção que sentimos.

Percorremos quilômetros passando por diversos vilarejos, começando pela chegada em Lukla após um vôo alucinante num teco-teco, o mais engraçado foi a aeromoça passar pelo corredor minúsculo oferecendo balas e algodão. O algodão era para colocar nos ouvidos e a bala para ajudar na descompressão devido à altitude. Que idéia! rs. Caí na risada e depois caí no sono pelo embalo do vôo, são cerca de 45 minutos. Acordei pouco antes de pousar, não tinha como perder esta cena! Pouso perfeito numa pista inclinada a uns 10 graus...ufa...chegamos! Em Lukla já é perceptível o ar gélido das montanhas e é hora de sacar os casacos da mochila.

Fomos bem recebidos pelo Ram, nosso guia nepalês, seu aprendiz Rames e mais dois carregadores que eu não me recordo o nome, mas os apelidamos carinhosamente de Justin Bieber e Batatinha.

De Lukla (2.860m) caminhamos cerca de 2h30 em direção a Phakding (2.650m) nosso primeiro pernoite. Todos estavam bem e em processo de aclimatação e adaptação ao ambiente e também a rotina de andar, descansar, comer, se hidratar, andar de novo, descansar, se hidratar, se instalar no lodge, tirar as coisas da mochila, dormir, acordar, colocar as coisas na mochila, comer, se hidratar bastante, andar ...bom, deu para entender. rs

Então, neste processo todo passamos por Namche Bazar, a capital Sherpa, que está a cerca de 3.440m onde ficamos uns 2 dias entre caminhadas de aclimatação e um certo conforto oferecido pela infra-estrutura do vilarejo que tem lodges com banho quente, lojas, internet, telefone, mercado e etc. Na primeira noite passei muito mal do estômago, tive muitas cólicas intestinais e não consegui dormir, mas fui medicada e bem cuidada pelo guia e pelos companheiros de caminhada. No segundo dia que também seria de aclimatação eu fiquei descansando e me recuperando da noite anterior e também rezei muito para que melhorasse logo e pudesse prosseguir! Ainda bem que ouviram minhas preces não passei mais mal e segui agradecendo com o grupo para Tengboche a 3.860m.

 
A natureza ajuda na caminhada
   
 
Cara a cara com o Everest  
   
 
Cho La Pass  
   
 
Vale de Gokyo
   
 
Estreando o Lodge  
   
 
Hora da despedida em Lukla  
   

Em Tengboche assistimos a um jogo de futebol bem, digamos, diferente. Monges budistas com suas vestes suando a careca em um jogo bem perna-de-pau mais muito divertido a quase 4 mil de altitude! Hilário! E pior, no fim da tarde estava um frio e uma neblina que não enxergava nem um palmo a frente! rs.

Dingboche (4.300m) foi o próximo destino e lá subimos o Nagarjun Peak (5.200m) para aclimatar. Durante a subida contemplamos uma vista maravilhosa das belas montanhas recortadas da cordilheira do Himalaia, depois do meio-dia o tempo começava a virar e aí não via mais nada, foram assim quase todos os dias.

Em Lobuche (4.920m) tivemos que nos separar, o Edi passou mal e a decisão foi aguardar para ver como ele reagiria aos sintomas de náuseas e falta de ar.

Segui com o Elias, o Agnaldo, o Ram e o Rames para Gorak Shep (5.180m). Avistamos o glaciar do Khumbu e cada vez mais nos aproximávamos da deusa mãe! O dia estava perfeito, limpo como nunca vimos antes, chegando no vilarejo recarregamos as energias e fomos subir o Kala Patar (5.550m). Que subida dura, mas persistimos até o fim! Vale à pena! Parte do nosso objetivo de viagem cumprido: avistamos o Monte Everest, a montanha mais alta do mundo, com seus 8.848m!
No dia seguinte fomos ao Base Camp e tocamos os pés da montanha reconhecendo o quão pequenos somos diante da magnitude da natureza, porém, não somos separados dela. Fazemos parte de um todo, também fazemos parte da deusa mãe! OM.

Logo reencontramos com o restante do grupo e unidos continuamos a jornada, agora para cruzar o Cho La Pass e chegar ao Vale de Gokyo.

Estava com uma sensação de missão cumprida, cabeça feita e a disposição para caminhar por alguns momentos me faltaram, a caminhada foi a mais intensa, cerca de 9h, mas me surpreendi com esse passo, acho que foi o que mais me impressionou nesta viagem. Sem palavras para descrevê-lo.

Depois do passo pernoitamos em Thangnak ou Tagnag (4.140m) e estreamos um lodge novinho, já logo deixamos uma camisa do Brasil assinada e presa lá na parede do refeitório!

Seguimos para o Vale de Gokyo, esse lugar é espetacular de maravilhoso! Por causa do tempo não deu para subir o Gokyo Ri, mas já estávamos em estado de êxtase de tanta beleza. Pura contemplação, não precisava de mais nada, só queria estar ali.

Agora é pegar o caminho de volta. A cada passo de volta nos sentíamos ainda melhor, estávamos muito bem aclimatados. Em Dhole (4.040m) pernoitamos e no dia seguinte chegamos em Namche Bazar (3.440m) novamente e então pudemos tomar banho! Sim, depois de Namche, nada de banho, 13 dias de lenços umedecidos, mas, de boa. rs

De Namche para Phakding e depois Lukla, pegar o vôo de volta para Kathmandu foi dureza, demorou muito até conseguirmos embarcar, mas embarcamos ainda no mesmo dia e levo comigo saudades desta experiência enriquecedora.

Muito obrigada! OM SHANTI SHANTI (OM PAZ PAZ)