Extremos
 
COLUNISTA GUILHERME CAVALLARI
 
Douglas Tompkins, o visionário da Patagônia
 
Texto: Guilherme Cavallari
9 de dezembro de 2015 - 11:06
 

Hendrik, Juliano, Guilherme, DOUGLAS TOMPKINS, Eduardo, Alessandro, Alessandra e Antonio no Parque Patagonia, durante em 2013.
 
  Guilherme Cavallari

Estou de luto. Ontem, 8 de dezembro de 2015, terça-feira, morreu o norte-americano Douglas Tompkins (1943-2015) de hipotermia depois que seu caiaque virou no Lago General Carrera. Tompkins chegou a ser levado de helicóptero a um hospital, mas não resistiu. Ele tinha 72 anos e ficou famoso no meio empresarial outdoor por ter fundado a marca The North Face. Tompkins foi um grande montanhista e fez parte da equipe que abriu a clássica Via dos Californianos, em 1968, no Monte Fitz Roy, em El Chaltén, na Argentina.

Quem leu meu livro TRANSPATAGÔNIA, PUMAS NÃO COMEM CICLISTAS sabe bem como estou me sentindo agora. Tompkins é um capítulo importante do livro. Sua atuação pela preservação de áreas naturais na Patagônia é única e exemplar, embora também seja controversa. Ele fundou a Consevación Patagónica com sua esposa, Kris Tompkins, e adquiriu uma imensidade de terras. Seu padrão de preservação ambiental segue a escola da Deep Ecology (Ecologia Profunda), fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess (1912-2009) em 1973.

Douglas Tompkins e a Conservación Patagónica adquiriam terras estrategicamente localizadas entre áreas naturais já protegidas como parques e reservas. Uma vez compradas, as terras eram preparadas para receber ecoturistas e turistas de aventura – velhas trilhas eram refeitas, áreas de acampamento instaladas, zonas altamente impactadas eram restauradas. Rapidamente a fauna e a flora davam sinais de recuperação. E depois de montada toda a estrutura de recepção do tipo certo de turista, Tompkins e sua fundação doavam as terras ao governo local com a única imposição de que fossem transformadas em parques nacionais e anexadas aos parques e reservas já existentes.

Mas nem tudo era um mar de rosas para Tompkins na Patagônia. Sua estratégia de aquisição de terras para conversação ambiental caminha contra a economia extrativista local, contra as fazendas de pecuária, mineradoras, piscicultura industrial, etc. Acusado de “destruir a cultura local”, traduzida na criação de gado e ovelhas, para “salvar a fauna, identificada pelo puma”, Tompkins chegou a ser apontado como “criador de pumas”. Uma acusação sem sentido. Mas ele e seu grupo foram diretamente responsáveis pelo aumento não somente do número de pumas na Patagônia, mas também de todos os demais animais da pirâmide alimentícia natural.

Tive o privilégio de usufruir das terras protegidas por Tompkins mais de uma vez em minhas andanças pela Patagônia, como no caso da Expedição Parque Patagônia que organizei em 2013, quando inclusive pude apertar a mão desse grande homem. O mundo perdeu um visionário e alguém que realmente fazia a diferença.

Estou de luto, embora também alimente o sentimento de que Tompkins viveu uma vida plena, cheia de realizações, morreu cercado de amigos – inclusive Yvon Chouinard, seu companheiro na antológica escalada do Fitz Roy em 68 e fundador da marca Patagonia – fazendo o que mais gostava: esportes de aventura.


Guilherme Cavallari,
autor de 18 livros sobre esportes e turismo de aventura, entre eles o recém-lançado “Transpatagônia, Pumas Não Comem Ciclistas”, tenta levar uma vida simples nas montanhas da Mantiqueira. Também colabora como colunista do Extremos desde 2010.

 
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